A vez dos gamers no campo de batalha “Double Kill: +1000 points”
0Caros amigos, bem-vindos a mais um episódio de hoje no Mundo Militar. Neste vídeo falaremos sobre a gamificação da guerra e de como a geração que nasceu e cresceu jogando videogames está se destacando nos campos de batalha modernos. A guerra na Ucrânia desde o início da invasão russa tem sido um cenário de inovações e militares constantes com uma das mais intrigantes tendo sido a introdução de sistemas de gamificação para melhorar a eficácia das Forças Armadas ucranianas. Em agosto de 2024, o exército ucraniano lançou o Arm of Drones, uma iniciativa apoiada pelo governo que incluiu um sistema de pontos baseado no desempenho dos operadores de drones. A ideia era simples, recompensar aqueles que causassem maiores danos ao inimigo com pontos, que poderiam ser depois trocados por equipamentos de combate mais avançados, como novos drones. Essa abordagem teve uma grande influência nas operações, pois ao contrário de outros tipos de combate em que as vitórias podem ser difíceis de medir, o uso de drones permite uma verificação precisa de cada destruição realizada, pois tudo é registrado pelas câmeras dos próprios drones, garantindo que cada ação é documentada e validada de forma clara e precisa. Mas como funciona exatamente esse sistema? Vamos imaginar que um operador de drone destrua um blindado T90M, o mais moderno dos veículos de combate russos em operação na Ucrânia. Ele seria recompensado com pontos suficientes para sua unidade receber 15 novos drones mais avançados. Essa estratégia também otimiza os recursos da Ucrânia, que não tem uma quantidade infinita de drones. Apesar de ter produzido mais de 2 milhões de drones em 2024, com a previsão de produzir cerca de 4 milhões agora em 2025. Esse sistema de pontos não apenas motiva os operadores a se concentrarem em alvos de alto valor, mas também garante que as unidades que estão causando mais impacto no campo de batalha recebam rapidamente novos recursos. Isso cria um ciclo de feedback positivo, onde a eficácia no combate leva a uma maior capacidade de resposta e a continuidade das operações. Um exemplo de sucesso na implementação desse sistema é a unidade ucraniana, conhecida como Birds of Maguiar. Formada em 2022 e inicialmente estruturada como uma pequena unidade de drones de reconhecimento e calibração de disparos de artilharia, ela cresceu e evoluiu, acompanhando as mudanças no emprego de drones, transformando-se em um regimento completo no final de 2024. Sob o comando do carismático Robert Brod, mais conhecido pelo codnome Maguiar, essa unidade destruiu uma quantidade brutal de armamentos russos. representando 8% do total de blindados destruídos pela Ucrânia até o momento. E por isso, em abril de 2025, a unidade alcançou o topo da tabela de pontos, ultrapassando os 16.000 pontos acumulados, mantendo-se na liderança da tabela desde então. O sucesso do Birds of Maguire é um reflexo claro de como a gamificação pode aumentar a eficiência em tempo de guerra. Com esse sistema de pontos que premia a destruição de tanques e outros alvos estratégicos, também tendo o impacto psicológico muito positivo, com a competição saudável entre as unidades, criando um ambiente de constante melhora e adaptação, onde cada ação conta e onde a performance dos operadores é constantemente monitorada. A introdução do Brave One Market em abril de 2025 marcou outra fase importante desse sistema. Esse mercado virtual permite que as unidades de combate adquiram equipamentos diretamente, sem passar obrigatoriamente pelos processos tradicionais de aquisição do exército que podem ser lentos e burocráticos. Através desse sistema, os combatentes podem trocar os pontos acumulados por drones, armamentos e outros equipamentos necessários para as operações. Além disso, os comandantes agora têm uma visão mais clara e detalhada de todos os ataques feitos no campo de batalha, já que cada operação é registrada manualmente pelos operadores de drones com vídeos anexados como prova. Isso permite uma análise em tempo real e a distribuição de recursos onde são mais necessários, aumentando a eficiência e a capacidade de resposta das forças ucranianas. E já que estamos falando em o poder de moldar a natureza do combate de maneira estratégica. No início, o sistema atribuía apenas dois pontos pela eliminação de um soldado russo, o que gerava pouca motivação para os operadores. No entanto, a partir de ajustes, esse número foi elevado para seis pontos. O resultado? As unidades começaram a destruir mais soldados russos, levando a um forte aumento no número de baixas inimigas. Por outro lado, com o aumento da pontuação por eliminar operadores de drones russos, esses novos alvos se tornaram mais valiosos do que os próprios blindados, gerando um foco maior nesse tipo de alvo. Essas mudanças ilustram como a gamificação pode ser ajustada conforme as necessidades táticas de um conflito, com a flexibilidade para adaptar a pontuação e os objetivos estratégicos, podendo de fato influenciar diretamente os rumos da batalha e as escolhas dos combatentes no campo. Por exemplo, se a Ucrânia decidir criar um fim de semana mais dedicado à destruição de blindados, basta ajustar a atribuição de pontos, reforçando os pontos atribuídos para a eliminação de veículos. No entanto, a guerra de videogame, como está sendo chamada, também está gerando críticas de diversos setores. Desde a Guerra do Golfo, muitos críticos apontam que esse tipo de abordagem que recompensa os combatentes com pontos por matar pode desumanizar os conflitos. Além disso, a preocupação de que essa gamificação enfraqueça a hierarquia militar e descentralize o controle sobre os suprimentos tem sido levantada. O receio é de que a militarização do conceito de jogo faça com que a guerra perca a seriedade e a ética tradicionais. No entanto, é importante destacar que o uso de métricas quantitativas como a contagem de corpos não é uma novidade nas guerras. Durante a guerra do Vietnã, por exemplo, os Estados Unidos usaram o número de mortes como um indicador de sucesso no campo de batalha. Hoje, a geração de soldados que cresceu jogando videogames vê a gamificação como uma evolução natural dessa ideia, transformando a guerra em um processo mais objetivo, porém não menos perigoso. À medida que a guerra na Ucrânia se desenrola, vemos um novo modelo de combate emergindo. A utilização de drones combinada com sistemas inspirados em videogames está mudando a forma como as batalhas são travadas e como os combatentes se relacionam com a guerra. A gamificação traz uma série de benefícios como maior eficiência e resposta mais ágil, mas também levanta questões éticas e morais que merecem reflexão. O futuro da guerra já está sendo desenhado no campo de batalha ucraniano. A pergunta que fica é: até onde essas inovações vão influenciar os conflitos no futuro e até onde irá a guerra de videogame? [Música] [Música] [Música]