Angra 3: O impasse de quatro décadas da usina nuclear
0o concreto de Angra 3 já sobreviveu ditaduras hiperinflações escândalos e trocas de governo o que ele nunca viu mesmo foi um reator nuclear funcionando ali 40 anos depois do início das obras cerca de 65% da usina tá construída o Brasil já desembolsou em torno de R$ 12 bilhões deais e ainda gasta mais ou menos 220 milhões por ano só para manter o canteiro de obras com segurança refrigeração e vigilância técnicos do setor alertam que sem uma definição do que fazer esse custo pode subir para mais de R 1 bilhão deais por ano à medida que os equipamentos envelhecem as estruturas se degradam nem Spotlight eu vou te explicar porque o projeto começou e por que ele parou tantas vezes porque que há quem defenda terminar a obra e quem defenda desmontar tudo e principalmente porque a decisão final já não é mais técnica mas sim política e financeira e neste momento o governo Lula não parece que tem como resolver [Música] isso a história de Angra 3 começa em 1975 com o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha a usina foi iniciada nos anos 80 mas nunca saiu do papel por causa de sucessivas paralisações olhando pra história recente a obra foi retomada em 2010 mas aí parou em 2015 com a Lava Jato em 2022 uma nova tentativa de retomada mas aí em 2023 outra paralisação dessa vez por causa de um impasse com a prefeitura sobre o licenciamento ambiental da usina enquanto isso lá fora no exterior a energia nuclear voltou pro radar a guerra na Ucrânia escancarou a dependência da Europa do gás russo e o mundo saiu em busca de fontes com fornecimento estável e limpa ao mesmo tempo os data centers que alimentam a inteligência artificial estão exigindo um fornecimento constante e enorme de energia aqui no Brasil a matriz elétrica é 85% renovável mas também é cada vez mais intermitente essa é uma palavra importante quando o sol se esconde ou o vento para de ventar o sistema precisa ligar térmicas fósseis que são mais caras e mais poluentes é nesse contexto que a proposta de concluir Angra 3 volta a circular só que os custos e as dúvidas também voltam [Música] quem defende a conclusão da usina destaca um ponto central angra 3 agregaria 105 MW de capacidade de geração contínua no sistema elétrico brasileiro isso dá quase 10% da capacidade de Taipu é uma geração contínua mesmo que funciona de dia e noite sem depender de clima a localização dela também pesa a usina fica no Sudeste perto do maior centro consumidor do país o que reduz perdas de transmissão e ajuda a religar o sistema em caso de blackout tem ainda o argumento ambiental apesar da polêmica os ininas nucleares não emitem CO2 durante a operação o que reforça as metas de descarbonização e por fim o lado estratégico o Brasil é um dos poucos países que domina todas as etapas do ciclo do combustível nuclear abandonar Angra 3 pode significar uma perda de décadas de conhecimento técnico e enfraquecer o programa nuclear nacional olha mas os argumentos contrários também são robustos o estudo mais citado feito pelo BNDS projeta que a energia de Angra 3 custaria R$ 653 por MWh isso dá mais de três vezes o custo médio da energia solar ou eólica contratada recentemente além disso concluí a obra exigiria pelo menos R bilhões deais já desmontar a estrutura custaria 21 bilhões a diferença é pequena né mas olha ela pode crescer rapidamente se houver novos atrasos ou estouros no orçamento o que entre nós é bem comum de acontecer em grandes projetos como Angra 3 outro ponto é o próprio projeto da usina ele foi concebido nos anos 70 passou por atualizações mas segue preso a um modelo defasado frente às tecnologias mais modernas outra coisa importante também não existe até hoje um repositório definitivo para resíduos radioativos de alta atividade e a usina tá numa área montanhosa com riscos de deslizamentos e rotas de evacuação frágeis para muitos críticos insistir em Angra 3 é apostar no modelo ultrapassado centralizado caro difícil de financiar isso no momento em que o mundo tá apostando numa matriz mais distribuída limpa e barata só que aqui no Brasil a decisão final não depende apenas da engenharia não é um debate só técnico ela passa cada vez mais pela política e pelo [Música] caixa uma virada importante nessa história toda foi a privatização da Eletrobrass a privatização veio com a condição de que a Eletrobras investisse na usina só que nesse ano a empresa conseguiu um acordo com o governo é o seguinte a União ganhou mais dois assentos no conselho de administração e a Eletrobras agora não tem mais que botar dinheiro em Angraz ou seja com a privatização que aconteceu no governo Bolsonaro e com esse acordo mais recente já no governo Lula o modelo de financiamento de Angra 3 simplesmente entrou em colapso a eletronuclear empresa que controla Angra 1 2 e 3 permaneceu pública mas ficou com uma estrutura mais frágil sem capacidade de investir sozinha enquanto isso o próprio governo Lula não consegue se entender internamente o Ministério de Minas Energia defende a conclusão da obra como forma de reforçar a segurança no sistema já os ministérios da Fazenda e do Planejamento alertam pro possível impacto na tarifa e claro no orçamento público o Conselho Nacional de Política Energética que é quem deveria decidir tá adiando indefinidamente um posicionamento final e o impasse se agrava porque o espaço no planejamento energético tá sendo ocupado por outra fonte as térmicas a gás leis aprovadas no Congresso nos últimos anos incluíram dispositivos que obrigam a contratação de usinas térmicas em regiões muitas vezes sem infraestrutura de gás são os famosos jabutis isso força o governo a priorizar projetos que podem até ser menos eficientes mas que são politicamente mais articulados deixando energia nuclear de lado resultado cada ano de incerteza encarece o projeto desgasta os equipamentos e desmobiliza as equipes técnicas como resumiu o ministro Alexandre Silveira Angra 3 virou um mausoléu que suga recursos vivos concluir Angra 3 é caro tecnicamente complexo e politicamente difícil mas abandonar também custa em reais em reputação e em capacidade industrial mas manter tudo parado talvez seja o pior dos mundos e essa conta no final chega para todo mundo via tarifa o Brasil pode concluir desmontar ou continuar empurrando mas uma coisa é certa não decidir é também uma escolha e talvez a mais cara delas [Música]