O JESUS QUE NUNCA SORRI

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[Música] [Música] Gra [Música] [Música] Recentemente, uma série de vídeos têm viralizado no TikTok. A maioria deles mostram um Jesus pouco convencional. Diferente da imagem do Salvador amoroso, que geralmente é retratado em pinturas e no imaginário popular, a maioria dessas imagens se refere à tradição ortodoxa, uma das mais antigas formas de retratar Cristo. Nas antigas pinturas ortodoxas, Jesus raramente exibe qualquer traço de emoção humana. Seus olhos parecem fixos. Seu semblante não se altera, ele não ri, não chora, não se distrai. Há uma rigidez quase divina em sua expressão, como se o artista quisesse apagar tudo o que é terreno. E há uma razão para isso. Esse Jesus não venho para entreter, mas para salvar. Ausência de sorriso reflete o peso de uma missão impossível, carregar os pecados de uma humanidade que o odiaria e caminhar para a morte, sabendo que esse era o seu destino desde seu nascimento. [Aplausos] Por conta dessas pinturas, uma comunidade no TikTok começou um novo debate acerca do assunto. Seria o Jesus convencional uma grande farsa? Seria ele um homem mais sério, de poucas palavras e firme em suas ações? Ou um Jesus amoroso, sorridente, como ele é retratado em representações mais modernas. O argumento em geral é que em várias passagens dos Evangelhos, o comportamento de Jesus parece distante, quase impenetrável. O primeiro argumento dessa comunidade está no livro de Mateus. Ele conta o momento em que um discípulo se aproxima e pede permissão para enterrar o próprio pai antes de segui-lo. Jesus o interrompe sem piedade e diz: “Segue-me e deixe os mortos sepultarem os seus mortos”. Nenhum mestre comum diria isso. É uma frase cruel para os ouvidos humanos. Há também um episódio da mulher cananeia. Ela implora que Jesus cure suas filhas, mas ele responde com frieza: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. É uma fala dura e quase humilhante. Ele a compara a um cão por não ser judia. Pesado, né? Mas lembra que esse é apenas o versículo e logo mais eu vou explicá-lo. Em outra ocasião, ao se aproximar de uma figueira sem frutos, ele a amaldiçoa nunca mais como alguém fruto de ti. E a árvore seca na mesma hora. Mesmo com sua família, Jesus mantém distância. Quando avisam que sua mãe e seus irmãos o esperam, ele responde: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” e aponta para os discípulos: “São aqueles que fazem a vontade do meu pai”. No capítulo 6 do livro de João, temos um dos discursos mais polêmicos e enigmáticos de Cristo, o chamado discurso do pão da vida. Nele, Jesus diz algo que choca a todos que o ouviam. Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Imagine o impacto dessas palavras para um público judeu. Naquela cultura, beber sangue era uma das maiores proibições religiosas. Mas Jesus fala de comer a sua carne e beber o seu sangue como condição para a salvação. É um discurso que rompe completamente com a lógica humana e religiosa da época. O resultado é imediato. As pessoas começam a murmurar até seus próprios discípulos. Não os 12 apóstolos, mas os muitos que o seguiam começaram a se escandalizar. Eles dizem: “Duro é este discurso. Quem o pode ouvir? Jesus percebe isso, mas não muda o tom, não suaviza suas palavras, não tenta explicar de forma agradável ou simbólica. Ele apenas responde: “Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o filho do homem? subir para onde estava primeiro. Então o texto diz: “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram atrás e já não andavam com ele.” E é neste ponto que ocorre uma das frases mais marcantes do Evangelho. O momento em que resume o caráter implacável de Cristo diante da rejeição. Então disse Jesus aos 12: “Querei vós também retirar-vos? Nem um pedido, nem uma tentativa de convencimento, apenas a pergunta seca e direta. Ou seja, ele não esperava aprovação social alguma para falar a verdade, nem mesmo de seus discípulos. Por mais que ela doesse e irritasse as pessoas em sua volta, ele falava o que tinha que falar. Mas talvez um dos momentos mais duros seja quando ele repreende Pedro, o discípulo que mais o amava. Ao tentar impedi-lo de morrer, Pedro é cortado pela frase: “Para trás de mim, Satanás”. É brutal. Jesus não vê ali um amigo preocupado, mas uma tentação para ele, qualquer tentativa de desviá-lo da cruz é diabólica. Nenhuma emoção humana pode interferir na missão divina. Nas palavras contra os fariseus, Jesus também não mostra piedade. Ele o chama de sepulcros. Caiados, belos por fora, mas cheio de podridão por dentro. Denuncia os religiosos hipócritas que se escondem atrás de aparências. Suas palavras são lâminas, afiadas, diretas, cortam um orgulho humano sem anestesia. [Música] Durante as bodas de Caná, sua mãe o chama dizendo que o vinho acabou e ele responde: “Mulher, que tenho eu contigo?” A frieza dessas palavras ecoa como uma separação simbólica entre o humano e o divino. Jesus, ao se dirigir a Maria dessa forma, demonstra que o laço entre eles não é mais o de mãe e filho, é o de criador e criatura. Quando Jesus entra no templo de Jerusalém e encontra o pátio transformado em um mercado, ele fica profundamente irado. Homens vendiam bois, ovelhas e pombas. Cambistas trocavam moedas sagradas por dinheiro comum. E o local que deveria ser o centro espiritual do povo, havia se tornado um símbolo da corrupção religiosa. Então, em um gesto completamente contrário à imagem do Jesus manso e pacífico, ele faz um chicote de cordas e parte para cima deles. Expulsa os comerciantes, derruba mesas, espalha o dinheiro pelo chão. E há ainda o episódio em que ele amaldiçoa as cidades que o rejeitam. Corazim, Betssaida e Cafarnaum, junto com sua famosa frase: “Não penseis que vim trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas a espada”. A vida de Jesus, na maior parte permanece envolta em silêncio e mistério. Dos 12 aos 30 anos, quase nada sabemos. Os evangelhos omitem completamente seu cotidiano, suas ocupações, seus pensamentos, suas dúvidas. É um iato de décadas, um vazio que a história não preenche. O menino de Belém, o carpinteiro Nazaré, o futuro Messias, tudo isso desaparece na narrativa. Esse silêncio cria um efeito perturbador. Ele nos mostra um homem cuja existência não pode ser completamente compreendida. A ausência de informações nos força a encarar um enigma. O que ele fazia nesses anos? Com quem? convivia, como pensava e como se preparava para o peso que carregaria. [Música] E mesmo quando ele entra na vida pública, ainda assim há uma aura de mistério. Cada palavra que pronuncia é carregada de significado. Cada gesto parece ter múltimas camadas de intenção. quando amaldiçoa a figueira, quando expulsa os cambistas do templo, quando repreende os discípulos ou fariseus, ele está revelando algo sobre o mundo e sobre si mesmo que vai além do entendimento humano comum. Talvez depois de tudo isso você pense que Jesus era uma pessoa assustadora, até mesmo difícil de ser encarada nos olhos, pois ele sabia até mesmo o que você estava pensando. E de fato, ele é a figura mais enigmática da história. Mas tudo o que ele fala, por mais grosseiro que pareça nos dias de hoje, tinha um significado. E eu vou explicar agora. Mas primeiro você precisa entender que tudo o que você vê no mundo e acha valioso nele para Jesus, isso não significa absolutamente nada. dinheiro, luxo, fama, mulheres, poder. Tudo isso é mundano e nada disso faz sentido para o ser que ele era. Você estivesse vivendo para sempre na eternidade, você acharia graça nas coisas desse mundo. Por isso, um homem como ele, que viveu a eternidade é muitas vezes incompreendido, pois as pessoas estão completamente presas a esse mundo. O episódio em que ele não deixa um dos seus seguidores enterrar seu pai, a primeira vista parece rúde ou cruel, mas o discípulo, ao ser chamado por Jesus, é convidado a entrar na vida eterna. Aquele que tem um propósito eterno, que transcende costumes humanos, tradições ou laços familiares. E nesse chamado não há espaço para diamentos. Voltando ao episódio que ele compara a mulher com viralata, o cachorro. Na cultura judaica da época, cachorro era um termo depreciativo para estrangeiros. Para qualquer ouvinte moderno, soua humilhante. Mas é exatamente esse choque que faz o episódio tão profundo. Jesus não está simplesmente sendo rude. Ele está testando a fé da mulher, expondo sua persistência e sinceridade. Ele não oferece compaixão imediata. Ele quer ver se ela realmente acredita no poder dele e se mantém firme diante da rejeição aparente. E é aí que a história se transforma em algo quase filosófico. A mulher não se intimida e responde: “Sim, senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Essa resposta é pura fé, humildade e inteligência. Ela reconhece a autoridade de Jesus e aceita a dureza da fala sem recuar. E é justamente por isso que ele a elogia e concede o pedido. A sua filha então é curada. Quando Jesus amaldiçou a figueira, nunca mais coma alguém fruto de ti. Parece injusto, afinal é uma árvore. Ela não fez nada de errado. Mas a ação não é literal. A figueira representa aqueles que aparecem vivos por fora, mas estão espiritualmente vazios por dentro. Folhas verdes sem frutos, uma aparência de vida sem essência. Ou seja, neste exato momento, você pode estar vivo por fora, mas não está dando frutos. Israel naquele momento histórico se comportava de forma semelhante, religiosamente verde por fora, templos cheios de atividades, rituais, normas e cerimônias, mas espiritualmente vazio por dentro, sem arrependimento verdadeiro, sem frutos de justiça ou fé genuína. Então, amaldiçoar a figueira não é um ato de impaciência contra uma árvore qualquer, mas uma representação dramática e simbólica do julgamento que recairia sobre um povo que parece vivo, mas está espiritualmente morto. Ah, onde mais você vê isso hoje em dia, né? E quando ele diz, quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Em seguida, ele aponta para os discípulos que o rodeiam e diz: “São aqueles que fazem a vontade do meu pai”. Essa resposta é uma negação radical da vida doméstica. Ela mostra que para Jesus laços de sangue não determinam prioridade, nem mesmo o vínculo com sua mãe que o criou. A família física para ele é secundária diante da missão divina. O critério que define quem é o próximo ou importante não é herança genética ou amor natural aos títulos familiares. É obediência à vontade de Deus. Jesus ensina que o verdadeiro amor não pode se limitar à família, aos amigos ou aos que nos tratam bem. Ele aponta uma verdade desconfortável. Até os gentios e publicanos, considerados pelos judeus como pessoas ímpias e corruptas, tratam bem aqueles que amam. Jesus está dizendo que a moral humana é insuficiente. Ser bom apenas com quem é próximo ou conveniente é fácil e comum. E até os maus fazem isso. O desafio que ele impõe é universal e absoluto. Devemos agir com bondade e justiça, mesmo quando não há reciprocidade, mesmo com os inimigos, mesmo com aqueles que nos desprezam. Essa postura revela que Jesus não se limita ao comportamento social esperado. E quando ele foi supostamente grosseiro com sua mãe, também é preciso interpretação. Essa resposta causa estranhamento até hoje. A forma como ele se dirige à própria mãe, chamando-a de mulher, sua frio e até ríspida. Mas o peso dessa fala vai muito além da aparência. Na cultura judaica da época, o termo mulher não era ofensivo, mas vindo de um filho, rompia com o tom íntimo e familiar que se inspiraria. É como se Jesus estivesse naquele momento se desligando do papel de filho terreno para assumir definitivamente o papel de filho de Deus. Ele não fala como um homem comum falando com sua mãe. Ele fala como Messias, lembrando que é um propósito maior em curso. E ao dizer: “Ainda não é chegada a minha hora”. Ele deixa claro que seus atos não seriam movidos por emoção, afeto ou obrigação familiar, mas pelo tempo divino. Mas mesmo assim ele a obedece, transformando a água em vinho. Então os argumentos que Jesus era um cara sombrio e assustador caem por terra. E apesar de ele ser um homem muito firme, que não se importava em desagradar os outros, também demonstrava várias vezes atos gentis e amorosos. Quando os fariseus trazem uma mulher pega em adultério, prontos para apedrejá-la, Jesus simplesmente diz: “Aquele dentre vós que está sem pecado, seja o primeiro a tirar a pedra. É uma cena de misericórdia pura. Além disso, ele toca leprosos, cura cegos, conversa com prostitutas e senta-se à mesa com cobradores de impostos, gente que era rejeitada por toda a sociedade. Nenhum mestre judeu faria isso, mas ele fazia sem hesitar. Mesmo sabendo que seria traído, Jesus lavou os pés de todos os discípulos, inclusive os de Judas, e em diversos outros momentos se mostrou ser um homem gentil. Em João 11, há um versículo mais curto e talvez um dos mais poderosos de toda a escritura. Jesus chorou. Ele sabia que Lázaro ressuscitaria minutos depois, mas ainda assim chorou. Isso revela algo profundo. Ele não chorava pela perda em si, mas pela dor humana, pela tristeza das irmãs, pelo sofrimento que a morte causa aqueles que amam. É o pranto da empatia. Ele se comoveu com o luto humano. Então, essa figura de Jesus totalmente assustador não faz muito sentido. Mesmo assim, não existe nenhum versículo que diga explicitamente que Jesus sorriu ou riu. Nenhum. Isso não significa que ele nunca tenha sorrido. Jesus é retratado frequentemente chorando, advertindo, ensinando ou sofrendo, mas nunca rindo. E isso não porque ele fosse incapaz de alegria, mas porque sua vida inteira foi vivida com um propósito maior que o prazer momentâneo. Ele carregava um fardo insuportável. Cada passo seu era consciente, como se sabesse que o destino final é a cruz. Quando ele fala, “Se possível, pai, afasta de mim esse cálice, demonstra que ele não queria isso, mas mesmo assim estava fazendo a vontade de Deus”. Alguns estudiosos interpretam essa ausência como intencional. Os evangelhos não quiseram mostrar um Jesus mundano, leve ou jovial, mas um Messias consciente do abismo humano, cuja compaixão era profunda demais para expressarem riso simples. Ainda assim, há insinuações sutis de ternura e alegria, mesmo sem risos descritos. Por exemplo, quando ele acolhe as crianças, há um clima de afeto, de calor humano. Ele as abraça, impõe as mãos e as abençoa. É impossível imaginar essa cena sem um semblante gentil, talvez até um sorriso ou quando ele transforma água em vinho nas bodas de Caná. Um gesto simbólico de celebração e de alegria compartilhada. Ainda que o texto não diga que ele sorriu, o contexto é de festa, comunhão e vida. No fim, talvez o verdadeiro milagre não esteja em vê-lo sorrir, mas entender o porquê do seu silêncio. que entre todas as expressões possíveis de Deus na terra, ele escolheu a mais humana de todas, a dor. [Música] my [Música] don’t que mesma virgem [Música]

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