A ascensão e a queda moral da VALE: A empresa que dividiu o País
0A Vale é hoje a quinta maior empresa do Brasil em valor de mercado. Uma gigante que despeja bilhões em dividendos, mas também carrega nas costas as maiores tragédias ambientais da história do Brasil. No vídeo de hoje, você vai entender porque a Vale é uma gigante do mercado e ao mesmo tempo uma das empresas mais criticadas do país. E já te adianto que essa história tem Segunda Guerra Mundial, tem tragédia com T maiúsculo e polêmicas dignas de novela das. Seja muito bem-vindo ao canal. Eu sou Júlia Petrônio e você está na UVP Capital. [Música] Para entendermos de verdade o que é a Vale, a gente precisa lembrar de muito antes dela ser a gigante global que ela é hoje. A história começa num cenário que parece filme. Segunda a Guerra Mundial, o mundo em apuros, o nosso Brasil humildemente no meio de um jogo geopolítico pesado. Em 1942, enquanto a guerra estava rolando, Getúlio Vargas, que era o presidente do Brasil na época, tentava se equilibrar em uma corda bamba diplomática. De um lado, nossos aliados: Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética, e do outro lado, o eixo: Alemanha, Itália e Japão. Enquanto isso, Vargas, com sua habilidade política, mantinha o Brasil oficialmente neutro, mas jogando para os dois lados. Enquanto vendia borracha e café para os Estados Unidos, permitia que simpatizantes alemães circulassem livremente no país. O plano deu certo até não dar mais. Ainda em 1942, submarinos alemães afundaram navios mercantes brasileiros, deixando mais de 600 vítimas e fazendo com que Vargas fosse pressionado pela população. Eles precisavam ver alguma resposta e ela veio. O Brasil declarou estado de beligerância contra Alemanha e Itália, que é praticamente uma declaração de guerra. Foi então que nossos aliados identificaram um gargalo estratégico, que seria praticamente o motivo da existência da Vale. Eles precisavam de ferro, muito ferro. E quem tinha ferro, muito ferro, isso mesmo, o Brasil. O minério brasileiro era especialmente valioso por dois motivos: qualidade altíssima e custos lá no chão. Para comparar com o ferro dos Estados Unidos, as jazidas da região de Itabira em Minas Gerais tinham teor de ferro acima de 65% de pureza, enquanto que os norte-americanos tinham de 30 a 40%, ou seja, mais ferro e mais eficiência. Só que tinha um problema. Quem explorava essa região era a Itabira Iron or Company, uma mineradora britânica fundada lá em 1911. E daí veio a solução diplomática, criar uma nova empresa estatal brasileira com capital nacional e apoios técnicos americanos. Assim nasce a companhia Vale do Rio Doce através do decreto lei número 4352 assinado pelo próprio Vargas em 1eo de junho de 1942. O nome foi inspirado no rio Doce que corta Minas e Espírito Santo e que por séculos foi caminho de tropeiros, bandeirantes e agora minérios. A Companhia Vale do Rio Doce foi criada com um propósito claro, garantir o fornecimento de minério de ferro para os aliados durante a guerra apenas. O estado brasileiro ficou com 51% das ações e o restante ficou dividido entre investidores privados e parcerias internacionais. Inclusive, já de início, tiveram engenheiros e suporte logístico direto dos Estados Unidos. A primeira parte do plano estava feita. Agora precisávamos que o minério chegasse ao mar. Mais uma decisão ambiciosa foi tomada, a construção da estrada de ferro Vitória a Minas ou EFVM, que ligava o interior de Minas ao porto de Tubarão no Espírito Santo. Um projeto ridiculamente grande na época, mas se fosse feito, seria perfeito estrategicamente falando. Isso porque era a rota do ferro brasileiro para o mundo. E quem estava no meio de tudo isso? A gigante companhia Vale do Rio Doce, atual Vale. E parando para pensar, uma empresa nascida no meio de uma guerra a partir de um acordo geopolítico, tendo base em jazidas herdadas de uma mineradora antiga, isso explica muito sobre a vale. Não é à toa que mesmo depois de décadas ela continuaria sendo tratada como uma peça chave na economia brasileira. Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, a companhia Vale do Rio Doce tinha cumprido seu papel, mas o Brasil queria mais. O país estava em um novo momento, industrialização acelerada, crescimento urbano disparado e um discurso de progresso embalado por Brasil, país do futuro. Nesse futuro, o minério de ferro era indispensável. Era ele que abasteceria as ciderúrgicas, construiria ferrovias, portos, viadutultos, praticamente tudo. E a Vale, como estatal, virou peça central nesse desenvolvimento, recebendo fortes investimentos públicos para ampliar a capacidade produtiva e logística. E uma curiosidade legal, foi nessa época que nasceu a estrada ferro Carajás, que corta o norte do Brasil, ligando a região de Paraupebas, no Pará, ao porto de São Luís, no Maranhão, mais de 800 km de trechos cruzando florestas, rios e comunidades. E essa estrada tem um destaque especial por permitir que geólogos da Vale, anos depois, em 1967, descobrissem a maior reserva de minério de ferro de alto teor do planeta, no sudeste do Pará. Uma mina tão rica que diziam parecer uma montanha de ferro puro a céu aberto. E esse foi um dos maiores empreendimentos da mineração já feitos no hemisfério sul. E junto com toda essa expansão, felicidade para todo lado, é claro que também teria os lados ruins de tudo isso. Ainda nos anos 70 vieram as críticas ambientalistas alertando sobre o impacto das minas em áreas de florestas nativas e inúmeras denúncias de impactos socioambientais. E para completar, estávamos em regime militar. que convenhamos, não era o melhor momento para ouvir críticas sociais ou ambientais. A ordem era clara: crescimento a qualquer custo e isso era feito com excelência. Passando para os anos 80, com a redemocratização do país, a empresa já era uma gigante nacional, com presença em vários estados, milhares de funcionários e uma infraestrutura de transporte que parecia um país dentro do Brasil. Mas por trás disso tudo, boatos e críticas continuavam a surgir contratos e burocracias duvidosas utilizadas por governos como instrumento político e um custo operacional que incomodava cada vez mais o Ministério da Fazenda. E foi nos anos 90 que tudo mudou. Sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, o clima era outro. A palavra da vez era privatizar. A companhia Vale do Rio Doce, junto com empresas como a Telebáas, Embraer e CSN, entrou na lista de ativos a serem vendidos ao setor privado. O argumento era: “O estado não deve explorar minério, telefone ou avião.” Mas no caso da Vale não foi bem assim. Em 1997, o Brasil estava de olho no futuro, a internet começando a chegar nas casas, a moeda estabilizada com o real e atitudes modernas para o país. Mas modernizar, segundo a crítica da época, significava vender o que era do estado. E no topo da lista lá estava a companhia Vale do Rio Doce, que em tese era uma estatal muito valiosa, mas na prática enfrentava críticas constantes e sofria o discurso comum da época, que era: “O governo não tem que explorar minério, tem que cuidar da saúde, educação, segurança, assim deixando os outros assuntos como mineração para o setor privado.” Então, em 6 de maio de 1997, a empresa foi leiloada na bolsa de valores do Rio de Janeiro e o preço de venda 3.3 R bilhões deais, que na época parecia muito dinheiro, mas se parar para colocar na ponta do lápis era suspeito. Só as reservas de minério de ferro da empresa valiam mais de R$ 90 bilhões deais e ela ainda tinha ferrovias, portos, terminais, minas e estava alocada em diversos estados. Sem falar da presença internacional em crescimento. Muita gente ficou revoltada. sindicalistas, intelectuais, trabalhadores da própria Vale, todos alegavam que a empresa foi entregue de bandeja ao capital privado. Nisso, houveram protestos, greves, paralisações, até mesmo uma CPI no Congresso, mas o desfecho foi à venda. O consórcio era liderado pelo grupo Valear, que incluía o Bradesco, a Preve, fundo de pensão do Banco do Brasil, e a Mitsui, companhia japonesa com foco diversificado. E assim começava uma nova fase na empresa, a companhia Vale do Rio Doce. privada. Várias mudanças foram feitas rapidamente. Cargos políticos foram cortados, linhas deficitárias foram desativadas, investimento em mais tecnologia e automação entraram em cena. A empresa estava se transformando numa máquina de eficiência operacional com apenas um objetivo: lucrar. E lucrou. Nos anos seguintes, a Vale se expandiu como nunca. Passou a operar em mais países, aumentou a produção e se tornou uma das maiores exportadoras do planeta. As críticas não pararam, em vez disso aumentaram. Para muitos, a Vale perdeu o senso de missão pública e se tornou uma empresa multinacional, sem rosto, preocupada apenas com os acionistas e deixando de lado os trabalhadores, comunidade e os impactos ambientais. E foi nesse contexto que 10 anos depois, em 2007, a empresa deixou de se chamar oficialmente Companhia Vale do Rio Doce e passou a ser apenas Vale SA. O nome mais curto, clean, global e corporativo, pronto para brilhar no mercado internacional, mas a sede pelo lucro e expansão sem freio deixou lacunas que estavam prontas para serem preenchidas, mas pelo desastre. Tudo ia bem no gráfico da Vale, lucros, expansão global, acionistas felizes, mas fora do gráfico, rachaduras estavam se formando literalmente. No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão da Mineradora Samarco rompeu em Mariana, Minas Gerais. Em minutos, 62 milhões de m cbicos de lama tóxica desceram o Vale do Rio Doce, destruindo tudo pelo caminho e deixando 19 vítimas fatais. Cidades como Bento Rodrigue foram varridas do mapa e o Rio Doce, aquele que batizou a empresa lá em 1942, foi envenenado pela própria. A Samarco era uma joint venture da Vale com a mineradora angloaustraliana BHP Brillton. E assim iniciou o empurra empurra. Uns diziam que a Samarco era uma empresa independente, outros que a Vale não operava diretamente na barragem, mas nada colou. A imagem da Vale foi ferida com duras críticas, tanto no Brasil quanto no exterior. As promessas de reparação vieram, mas demoraram a acontecer. As indenizações foram lentas, parciais e contestadas. O desastre de Mariano virou por anos o maior desastre ambiental da história do Brasil, mas não demorou muito para ser superado. Em 25 de janeiro de 2019, em uma sexta-feira, a barragem da mina do córrego do feijão em Brumadinho, também em Minas Gerais, se rompeu. E adivinha? Dessa vez não tinha joint venture, não tinha outra empresa. A barragem era totalmente responsabilidade da Vale. O rompimento liberou quase 12 milhões de m³ de rejeitos, atingindo diretamente o refeitório da empresa, comunidades vizinhas e deixando 272 vítimas fatais. Centenas de famílias destruídas, funcionários soterrados, animais que não tiveram chance de sobrevivência e uma cidade inteira marcada para sempre. A tragédia de Brumadinho foi pior, não somente pelo número de vítimas ou pelo impacto ambiental desastroso, mas também por ser uma negligência reincidente. A empresa sabia dos riscos. Relatórios internos alertavam a estabilidade da barragem, mas não foi corrigido a tempo e dessa vez as críticas foram bem piores. As ações da Vale despencam nos dias seguintes, perdendo mais de R bilhões de reais em valor de mercado, levando embora também a confiança dos investidores sem previsão de volta. iniciaram processos, investigações, reportagens, denúncias, diretores foram presos, auditores terceirizados foram questionados e a Vale foi obrigada a repensar toda a sua governança e segurança operacional com a pergunta: Como uma empresa que lucra bilhões não consegue garantir a segurança das suas operações? A resposta era lógica: pressão por resultados, falta de fiscalização e uma cultura corporativa cega a realidade local, como quem olha só o gráfico e ignora o chão da fábrica. Então, a empresa adotou novos padrões de segurança, criou comitês independentes, refez seu modelo de gestão de barragens e até mesmo iniciou programas de reparação social e ambiental. Também criou iniciativas de escuta com comunidades, intensificando a fiscalização com sensores, monitoramento remoto e auditorias. Essas duas tragédias, Mariana e Brumadinho, são capítulos centrais da história da Vale, colocando a empresa diante de um dilema. Ou muda radicalmente ou carrega para sempre a marca do descaso e fracasso. O acordo de reparação integral de Brumadinho continua em andamento com aproximadamente 75% dos compromissos acordados concluídos até o primeiro trimestre de 2025, em linha com os prazos previstos. Além disso, R$ 3.9 bilhões deais já foram pagos em indenizações individuais e desde 2021, ao menos um familiar de todos os empregados falecidos próprios e terceirizados obteve o acordo de indenização. A Vale investirá ainda bilhões para fechar nove barragens até 2035. Já na questão ambiental, foram reflorestados 23 haares de áreas diretamente impactadas pelo rompimento e pelas obras emergenciais, incluindo áreas protegidas como reservas legais e áreas de preservação permanente, com o plantil de aproximadamente 30.000 mudas de espécies nativas da região. Ao todo, cerca de 297 haares foram impactados, sendo 140 de área florestal. Por incrível que pareça, a Vale continuou extremamente lucrativa, mesmo em meio aos escândalos. Em 2023, a empresa lucrou mais de R bilhões deais. Grande parte disso vem do mesmo produto de sempre, o minério de ferro. Hoje ele representa mais de 80% da receita da empresa. E sabe quem compra quase tudo? Nossa cliente de sempre, a China. A Vale tem na China a maior demanda. Então, se a economia chinesa desacelera, o mercado já começa a suar frio. Se a China espirra, é capaz da Vale pegar gripe e o investidor ficar de cama. Isso faz com que a empresa se diversifique, investindo em níquel, cobre, carvão e até energia, mas nenhum deles chega perto do peso do ferro. E vale lembrar que quando o assunto é mineração global, a gigante joga no mesmo campo das nossas concorrentes, Rio Tinto e BHP. As três estão ali disputando o topo do ranking de produção de minério de ferro no mundo. Mas tem um pequeno detalhe, mesmo produzindo praticamente o mesmo volume, o valor de mercado da Vale gira em torno de 230 a R$ 250 bilhões deais. Isso é bem abaixo do que valem suas concorrentes internacionais, que ultrapassam a casa dos R$ 500 bilhões deais. E quanto aos investidores, bem, a Vale virou sinônimo de bons dividendos. Muita gente segura a ação só pelos rendimentos recorrentes. Nos últimos anos, a Vale tem sido uma excelente referência, já que em 2021 distribuiu cerca de R$ 40 bilhões deais só no primeiro semestre e no total do ano ficou próximo dos R 65 bilhões deais em dividendos e recompras de ações. Isso representa quase metade do valor de mercado da empresa. Sem falar que o dividend variou entre 8 e 12% ao ano, o que é um baita atrativo para quem gosta de renda passiva. E falando em renda passiva, aqui no Brasil é possível investir na Vale pelo ticker Vale 3. Mas antes de sair investindo por aí, você precisa saber o que está fazendo. Concorda comigo? O que acontece galera, é que todo mundo quer fazer dinheiro. Isso é um fato. Mas ninguém quer ficar rico devagar. Todo mundo quer apertar um botão e pronto, dinheiro na conta. Mas adivinha só? Esse botão não existe, pelo menos a gente nunca viu. Agora, se você quer aprender do jeito certo, sem mágica, sem promessas vazias, sem mimimi, entra no site.com.br, clica no botão e faz a sua análise de perfil. É um questionário simples, com poucas perguntas. E olha, se você tiver coragem de investir agora, mesmo quando o mercado tá cheio de gente com medo, a UVP vai te mostrar uma estratégia sólida, passo a passo para construir um patrimônio de verdade. Mas vamos ser realistas, né? Se você ganha um salário mínimo e acha que vai sair da plataforma direto para uma Ferrari, olha, não vai rolar não. Mas agora se você ganha mais de 4.500 por mês, aí dá pra gente construir algo. Com 15.000 ou 50.000, o processo é ainda mais rápido. Mas não é loteria, é estratégia. Clica, preenche o questionário e comece agora, porque a gente tá começando uma nova turma e pode te ensinar a investir com estratégia no Brasil e no mundo inteiro. A empresa está se estruturando em projetos biosustentáveis. Atualmente em mais de 20 países, grande parte do esforço da Vale está em reduzir a propagação de CO2 dos seus transportes, tanto em ferrovias, sendo elas 100% elétricas, quanto em navegações, por meio do programa Ecohipping. Além disso, desenvolveram o primeiro mineraleiro de grande porte do mundo, equipado com velas rotativas, que permite por ano uma redução de até 3.4.000 1000 toneladas de CO2 equivalente em cada navio. Isso acontece também no meio de produção. Por exemplo, agora utilizam o bricket, uma lenha de alta qualidade em vez de minérios de ferro, ajudando na diminuição de gases na produção de aço e a areia sustentável que aumenta a segurança das operações nas barragens. também atuando na segurança do trabalho. Antes os empregados precisavam trabalhar em áreas de risco, o que está gradativamente mudando. Atualmente possuem 72 equipamentos autônomos em quatro estados do Brasil, desempenhando essas funções em áreas de risco. E algumas de suas metas para as próximas décadas são aumentar o número de mulheres em posição de liderança, investir em mais sustentabilidade, apoiar a retirada de 500.000 pessoas da pobreza extrema através do trabalho. Colaborar com as comunidades indígenas vizinhas a todas as operações da Vale na elaboração e execução de seus planos. Cortar 15% das emissões de sua cadeia de valor e tornar-se carbono zero até 2050. A Vale pode ter nascido no meio de uma guerra, crescido como símbolo de progresso e sobrevivido há muitas crises no decorrer dos anos, carregando marcas profundas de lama, tragédia e decisões questionáveis. é uma empresa que, ao mesmo tempo que gera bilhões em lucro, também desperta discussões sobre a responsabilidade. Mesmo assim, é uma das empresas mais valiosas do país. Amada por alguns e criticada por muitos, mas ignorada por ninguém. A Vale pode não ser perfeita e talvez nunca seja. Mas enquanto a China continuar comprando minério e o Brasil continuar crescendo, ela seguirá sendo um ponto de interesse para qualquer investidor atento, até porque ela é praticamente um resumo do Brasil, rica em recursos, cheia de potencial e com um histórico difícil de discutir num jantar de família. 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