Por que tão poucos brasileiros vivem no Tocantins?
0imagine um estado do tamanho da Alemanha mas com a população de um bairro da zona leste de São Paulo esse é o Tocantins um dos estados brasileiros menos conhecidos e menos populos do país com aproximadamente 1,6 milhões de habitantes representa menos de 1% da população total do Brasil apesar de ser territorialmente maior do que 16 estados brasileiros para colocar em perspectiva o estado é maior que o Paraná Santa Catarina e Rio Grande do Sul mas tem uma população muito menor que qualquer um deles se compararmos com seus vizinhos imediatos veremos uma disparidade ainda maior o Pará Norte possui cerca de 8,7 milhões de habitantes o Maranhão a Nordeste tem aproximadamente 7,1 milhões goiás ao Sul abriga 7,2 e até mesmo Mato Grosso que também é pouco povoado tem 3,5 milhões de habitantes mais que o dobro da população tocantinense o mais curioso é que o Tocantins não é um estado isolado geograficamente ele está localizado no centro do país possui rios importantes como Tocantins e Araguaia e a sua capital Palmas é uma cidade planejada e moderna então por que tão poucos brasileiros escolhem viver no estado mais jovem da federação para entendermos o baixo povoamento do Tocantins precisamos considerar sua recente criação o estado nasceu apenas em 1988 e após se desmembrar o norte de Goiás foi oficialmente instalado em primeiro de janeiro de 89 isso significa que o Tocantins é mais jovem que muitos dos seus habitantes possuindo apenas 36 anos isso é até um fato curioso seguindo a pirâmideária do Brasil pelo menos 48% da população é mais velha que o Tocantins mas voltando antes do seu desmembramento a região que hoje compõe o Tocantins era conhecida como norte goiano e historicamente sofreu com o isolamento e o abandono político durante séculos essa região foi marginalizada no contexto nacional e mesmo dentro do próprio estado de Goiás cujo desenvolvimento se encontrava ao sul no período colonial norte goiano teve a sua primeira onda significativa de povoamento durante o ciclo do ouro no século XVII os bandeirantes paulistas em busca de ouro indígenas para escravizar fundaram os primeiros assentamentos na região como natividade Porto Nacional e Arraias contudo quando o ciclo do ouro diminuiu por volta de 1800 a população da região entrou em declínio muito chegando quase à extinção o que restou foi uma economia de pecuária extensiva em várias áreas de baixíssima densidade populacional e aí sem um produto de exportação de alto valor a região ficou estagnada economicamente por mais de um século com poucas estradas infraestrutura precária e isolamento quase completo do restante do país a geografia do Tocantins também contribuiu para seu histórico de baixo povoamento o estado está situado em uma zona de transição entre a Amazônia e o serrado com predominância desse último o clima é marcado por duas estações bem definidas uma chuvosa entre outubro a abril e a outra seca de maio a setembro com temperaturas constantemente elevadas que podem ultrapassar facilmente os 40º durante boa parte do ano essa combinação de calor intenso e longos períodos de seca torna a agricultura desafiadora sem irrigação adequada junto a isso solos do sererrado historicamente considerados pobres inadequados para o cultivo dificultaram a instalação de uma nova economia no estado ainda assim geograficamente mapas antigos já mostravam o isolamento da região porque o rio Tocantins principal via de acesso era interrompido por cachoeiras como a de Taboca dificultando a navegação até o interior as rotas terrestres também eram precárias e existiam apenas algumas trilhas o que isolava a região de qualquer centro importante mesmo quando o ouro foi encontrado os mapas das zonas mineradoras coloniais mostravam apenas pontos pequenos e dispersos ao norte goiano em contraste com as outras regiões muito povoadas do Nordeste e do Sudeste e para dificultar mais o povoamento existiam muitas áreas indígenas do Tocantins principalmente de povos como Xerente Xavante e Carajá o que dificultava ainda mais o avanço da colonização diferente de outras regiões com rios grandes como os amazônicos ou o São Francisco no Nordeste que serviram como verdadeiras estradas líquidas para a interiorização do povoamento os rios tocantinenses nunca cumpriram plenamente esse papel integrador além disso enquanto estados litorâneos se beneficiam das facilidades do comércio e comunicação através dos portos marítimos o Tocantin sempre dependeu de rotas terrestres para se conectar ao restante do país até a construção da rodovia Belém Brasília na década de 60 ou seja até 1960 podemos dizer que o estado era completamente isolado de certa forma outro fator determinante para o baixo povoamento do Tocantins foi a ausência de ciclos econômicos suficientes para atrair grandes massas de pessoas diferente de Minas Gerais que tiveram um grandíssimo ciclo do ouro ou São Paulo com café ou até estados amazônicos com o ciclo da borracha o Tocantins nunca experimentou um boom econômico capaz de atrair massas tão grandes só pequenos ciclos do ouro na região portanto a economia regional baseava-se principalmente na pecuária extensiva atividade que por sua própria natureza ocupa grandes extensões de terra com pouquíssimas mãos de obra as vastas fazendas de gado que se estabeleceram na região empregavam o número reduzido de trabalhadores muitas vezes apenas suficiente para manejar os rebanhos essa característica econômica é semelhante ao que vimos no caso do Piauí onde também a predominância da pecuária extensiva contribui para o baixo povoamento e isso é mundial estados onde predomina a pecuária tende a ter menos população como nas planícies centrais dos Estados Unidos ou até nos pampas argentinos quando comparamos com Goiás o seu estado de origem percebemos que o sul goiano se beneficiou da proximidade com São Paulo em Minas Gerais além da chegada das ferrovias no início do século XX que impulsionou significativamente o seu desenvolvimento o norte atual Tocantins por outro lado permaneceu isolado e sem nenhuma infraestrutura inclusive ferroviária até meados do século XX a região era praticamente inacessível e a verdadeira transformação começou apenas com a construção da ferrovia Belém Brasília perto da BR153 que tinha como parte do plano de integração nacional do governo de Jcelino Kubicheque e isso criou um corredor de desenvolvimento ao seu redor não por acaso as principais cidades do estado atualmente se localizam às margens ou próximas a essa rodovia e a ferrovia Norte Sul projetada para integrar as regiões brasileiras e estimular o desenvolvimento do centro do país só se tornou operacional no Tocantins no século XX enquanto estados mais ao sul e ao litoral desfrutavam de malhas ferroviárias desde o século XIX podemos dizer que as coisas começam a mudar com a criação de palmas em 1989 como a capital planejada do novo estado marca um ponto de inflexão na história do povoamento a cidade foi concebida com a inspiração em Brasília em três décadas Palmas cresceu de zero para aproximadamente 300.000 habitantes tornando-se a capital que mais percentualmente cresce no Brasil portanto o baixo povoamento do Tocantins é resultado de uma complexa combinação de fatores históricos geográficos e econômicos o seu isolamento histórico clima desafiador tardia infraestrutura de transportes e comunicações e a predominância apenas da pecuária criaram condições que não favorecem nada aquele estado ao mesmo tempo a sua juventude como estado autônomo significa que muitas das políticas de desenvolvimento regional são relativamente recentes tanto é que Palmas tem menos de quatro décadas de resistência o Tocantins representa em muitos aspectos o Brasil profundo que permaneceu à margem dos grandes ciclos de desenvolvimento nacional focados prioritariamente no litoral e posteriormente nos estados do Sul e Sudeste sua história de ocupação tardia e esparsa reflete os desafios da interiorização brasileira e os desequilíbrios regionais que persistem até hoje enquanto o estado continua a buscar seu lugar no contexto nacional explorando seu potencial agrícola turístico com atrações como o Jalapão e logístico como ponte entre norte e centro-ul permanece como um dos exemplos mais claros de como o Brasil ainda tem vastos territórios à espera de uma ocupação mais efetiva e um desenvolvimento que verdadeiramente integre todas as suas regiões yes