Por que os Aviões evitam o Atlântico Sul mas não o Norte?

0
Share
Copy the link

esse é um mapa que mostra os voos comerciais que estão ocorrendo agora no planeta independente do horário que olhar sempre verá que o Atlântico Norte está cheio de aviões e o Atlântico Sul não enquanto o Atlântico Norte fervilha com uma média de 18.000 voos semanais conectando Europa e América do Norte o Atlântico Sul registra apenas uma dúzia de voos semanais entre toda a África e a América do Sul o mais intrigante é que a distância entre o Brasil e a África Oal é surpreendentemente pequena fortaleza estava apenas 3.200 km de Casa Blanca no Marrocos para colocar em perspectiva brasileira isso é menos que a distância entre Manaus e Porto Alegre cidades que tm voos regulares diários por que então existe uma disparidade tão grande porque o céu do Atlântico Sul parece ser uma zona evitada pelos aviões comerciais a primeira surpresa está nos números reais das distâncias recife está quase tão próximo de várias capitais africanas como está de Brasília por exemplo a capital pernambucana fica apenas 2850 km de Bissal na Guinné Bissalu enquanto a distância até a capital federal é de 2130 km a diferença é de apenas 720 km menos que a distância entre Rio de Janeiro e Salvador e se olharmos para o mapa global descobrimos que Salvador está mais próximo de lagos na Nigéria do que Vancouver no Canadá mesmo assim existem voos regulares entre o Brasil e Canadá e praticamente nenhum entre Brasil e Nigéria apesar da Nigéria ter 220 milhões de habitantes e ser a maior economia africana belo Horizonte está a 8.200 km de Paris uma rota que funciona perfeitamente com vários voos semanais essa mesma distância cobriria toda a África Ocidental partindo do Nordeste brasileiro conectando potencialmente dezenas de países africanos e aqui está um fato que pode surpreender muitos brasileiros o Atlântico Sul já foi a principal rota de aviação intercontinental do mundo durante os anos de 1920 e 1930 mais aviões cruzavam Atlântico Sul do que o Norte o marco histórico aconteceu em 22 quando aviões portugueses completaram o primeiro voo transatlântico da história partindo de Lisboa e chegando ao Rio de Janeiro fazendo escalas estratégicas 5 anos depois em 1927 pilotos franceses fizeram o primeiro voo em escala no Atlântico Sul conectando da cara até Natal em 21 horas a escolha pelo Atlântico Sul não era casualidade o clima tropical oferecia condições meteorológicas mais estáveis que o temperado Atlântico Norte ventos alíos regulares facilitavam a navegação aérea primitiva as tempestades eram menos frequentes e intensas e aí Natal se tornou um trampolim das Américas recebendo dezenas de voos internacionais mensalmente entre 1930 e 39 três grandes companhias europeias operavam rotas regulares pelo Atlântico Sul a francesa Aer Postali a alemã Luftanza e a italiana Alitoria o aeroporto dos Guararapes e Recife era considerado mais movimentado da América do Sul em termos de tráfego internacional natal tinha uma grande infraestrutura com o Brasil sendo a porta de entrada para a América do Sul a interrupção dessa era dourada tem uma explicação política profunda com aão da Segunda Guerra Mundial em 39 as rotas civis foram militarizadas bases aéreas brasileiras como Natal e Recife se tornaram pontos estratégicos para operações aliadas no teatro africano e europeu em 45 a geopolítica mundial havia mudado drasticamente a África permaneceu sob o domínio colonial europeu até 1960 e 1970 enquanto o Brasil consolidava sua independência econômica e política as antigas rotas coloniais que conectavam metrópoles europeias a suas colônias africanas não incluiam conexões horizontais entre a África independente e a América do Sul independente frança Reino Unido Bélgica e Portugal redesenharam suas redes de transporte aéreo para conectar as suas capitais diretamente as suas possessões africanas não havia interesse estratégico entre facilitar conexões entre a América do Sul e África por conta disso quando a descolonização africana finalmente aconteceu na década de 70 e 80 o mundo da aviação já havia se reorganizado os países africanos recém independentes herdaram sistema de transporte orientados para a Europa não para a América do Sul o Brasil por sua vez já havia direcionado suas rotas internacionais para a América do Norte e Europa seguindo fluxos econômicos estabelecidos anteriormente os padrões migratórios globais explicam muito sobre a escassez de voos no Atlântico Sul profissionais qualificados se movem constantemente em direção às economias mais desenvolvidas criando assim fluxos que fazem sentido economicamente tanto é que um engenheiro formado pela Universidade Federal do Pernambuco por exemplo tem melhor expectativas salariais emigrando obviamente para a Alemanha ou Canadá do que para Ghana ou Senegal um médico nigeriano ganha mais trabalhando em Portugal do que no Brasil esses movimentos fazem com que não tenha sentido as populações desse países subdesenvolvidos irem para outros países subdesenvolvidos entre Brasil e África o fluxo é mínimo em ambas as direções brasileiros não emigram para a África em números significativos e africanos escolhem preferencialmente Europa ou América do Norte o turismo entre os continentes é quase inexistente também sem massa crítica de passageiros as companhias aéreas não conseguem viabilizar rotas regulares as poucas rotas que existem entre Brasil e África demonstram exatamente como fatores econômicos e culturais determinam a viabilidade de conexões aéreas a Angola Airlines opera voos entre São Paulo e Luanda porque Angola é um dos países africanos mais ricos em petróleo com PIB per capita três vezes superior à média continental assim como trabalharam durante o bom do petróleo dos anos 2000 criando laços familiares e de negócios que sustentam a demanda mínima a South African Airways consegue manter a rota São Paulo Jeanesburgo porque a África do Sul concentra 40% do PIB de toda a África sub-saariana joanesburgo é o centro financeiro continental atraindo executivos brasileiros do setor de mineração e agronegócios a classe média sul-africana também tem poder aquisitivo para turismo internacional e a Ethiopia Airlines também voa para São Paulo não por demanda direta Brasil e Etiópia mas como parte da sua estratégia se tornar um hub de aviação africana a companhia opera essa rota com prejuízo muitas vezes subsidiada pelo governo Etiluppe como investimento em soft power cabo Verde mantém uma conexão com o Brasil exclusivamente devido aos laços linguísticos e históricos aproximadamente 300.000 descendentes cabo verdeos vivem no Brasil principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro criando uma demanda específica para essa rota familiar sem essa diáspora a rota seria praticamente inviável para entender completamente a situação do Atlântico Sul ainda assim é necessário examinar porque o Atlântico Norte é tão intensamente trafegado estados Unidos e Europa compartilham não apenas prosperidade econômica mas integração profunda construída ao longo dos quatro séculos universidades americanas têm campes na Europa bancos europeus tm sede nas Américas corporações operam grandes redes entre os continentes o inglês funciona como uma língua franca perfeita entre os continentes sistemas jurídicos são compatíveis também as moedas podem ser convertidas e as culturas empresariais são similares isso sustenta dessa maneira negócios turismo educação e imigração dessa forma o Atlântico Sul vazio é um lembrete poderoso de que a proximidade geográfica não garante conexão apesar de Fortaleza estar mais próxima de vários países africanos que de várias capitais europeias um cearense tem infinitamente mais motivos para viajar para Portugal do que pro Senegal isso vai mudar quando as economias africanas amadurecerem quando as classes médias se expandirem e quando os laços comerciais se estabelecerem aí sim o Atlântico Sul finalmente ganhará suas rotas aéreas até lá ele permanece como testemunho de que a aviação comercial é movida pelo dinheiro o Brasil está geograficamente posicionado para ser a ponte natural entre a América do Sul e África e talvez no futuro Recife e Fortaleza recuperem o seu papel talvez como novos portões de entrada para a América do Sul m

Comments

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *