Por que Tantos Brasileiros vivem na Flórida, mas não na Geórgia?
0A Flórida briga uma das maiores populações brasileiras fora do Brasil. Estima-se que cerca de 300 a 500.000 vivem no estado americano, principalmente cidades como Miami, Orlando, Fort Lunderdale e Bocaraton. Em algumas regiões como Pampono Beach e certas ares de Miami, você encontra mais placas em português do que inglês. Para você ter uma ideia, a Flórida tem mais brasileiros do que países inteiros, como Uruguai ou Paraguai. O estado se tornou praticamente uma extensão do Brasil, com supermercados vendendo produtos brasileiros, restaurantes especializados em comida mineira e gaúcha e até mesmo agências de turismo que operam exclusivamente para o público brasileiro. Mas aqui fica a questão interessante. A Geórgia, o estado vizinho da Flórida, tem características econômicas similares. Um clima subtropical, custo de vida mais baixo e está a apenas algumas horas de distância. Atlanta é uma das cidades que mais cresce nos Estados Unidos com oportunidades de emprego em abundância. Mesmo assim, a população brasileira na Geórgia é insignificante se comparada com a da Flórida. Então, por que os brasileiros escolhem massivamente a Flórida, mas praticamente ignoram a Geórgia, o que torna um estado tão atrativo para a nossa imigração, enquanto o outro permanece quase invisível? O que temos que entender primeiro é que a Flórida foi colonizada inicialmente pelos espanhóis e isso faz toda a diferença. No século X se tornou uma das primeiras regiões da América do Norte a receber influência ibérica. Essa presença espanhola deixou marcas profundas na cultura local. Ao longo dos séculos, a Flórida passou por disputas entre espanhóis, britânicos e americanos, mas manteve uma forte conexão com a América Latina, reforçada especialmente a partir do século XX, com a chegada massiva de imigrantes cubanos ou outros de Porto Rico e outros países latino-americanos que viam a Flórida com uma porta de entrada, já que o país também tinha essa cultura espanhola. Já a Geórgia teve um caminho diferente, já que foi colonizada principalmente por britânicos a partir de 173. O estado desenvolveu uma identidade cultural mais aliada ao sul anglo-americano, com influências britânicas e protestantes fortes. Até hoje, a cultura da Geórgia é marcada por valores sulistas, música country, igreja batista e uma estrutura social menos aberta à influência latina. Essas diferenças históricas acabaram moldando o ambiente social de cada estado. E aí, quando os brasileiros começaram a emigrar em grande número nos anos 80, a Flórida já oferecia uma atmosfera latina, o que não acontecia na Geórgia. Mas isso está bem longe de explicar o ponto central desse vídeo, porque existem muitos outros fatores. Em 1980, o Brasil passava por uma das piores crises econômicas da sua história. Aquela década, se comparada a 1990 e 2000, ficou conhecida como década perdida, com a economia crescendo muito pouco. A inflação estava destruindo o poder de compra da classe média, o desemprego crescia drasticamente e muitas famílias brasileiras buscavam alternativas no exterior. Os Estados Unidos então representavam estabilidade econômica e oportunidades que o Brasil não conseguia oferecer na época. Mas por que, especificamente a Flórida se tornou o destino escolhido? A resposta está em uma combinação de fatores geográficos, econômicos e culturais. A proximidade geográfica foi fundamental. A Flórida é o estado americano mais próximo do Brasil, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste, de onde vem a maioria dos imigrantes. Os voos diretos entre São Paulo, Rio de Janeiro e Miami começaram a ser oferecidos regularmente a partir dos anos 80, facilitando não apenas a imigração, mas também o vai e vem constante entre os dois países. O clima tropical e subtropical da Flórida também pesou na decisão. Pros brasileiros acostumados com calor, praias e um estilo de vida a hora livre, a Flórida oferecia algo familiar. Já Geórgia é um estado em que alguns casos até neva e tem um clima um pouco diferente da Flórida. E a geografia da Flórida é surpreendentemente similar às regiões brasileiras, o que facilitou ainda mais a adaptação dos imigrantes. O estado possui uma extensa costa atlântica com praias de areia branca que lembram o litoral nordestino do Brasil. O interior da Flórida é dominado por um bioma de savana tropical, com pastagens, lagos e áreas alagatiças que se assemelham ao pantanal brasileiro, a região dos Everglades, como é conhecido, com seus pântanos e vegetação exuberante. E isso não acontece em outros estados. Para você ter uma ideia, se os brasileiros tivessem escolhido outros estados, enfrentariam condições climáticas completamente diferentes. Em Nova York, por exemplo, os invernos chegam facilmente a -10º. com neve abundante e temperaturas que permanecem abaixo de zero por meses. No Texas, apesar do calor, as variações de temperatura são extremas também, podendo ir de 40º no verão para menos 5 no inverno. Na Califórnia, embora o clima seja mais ameno, as regiões mais acessíveis economicamente ficam no interior, onde o clima é seco e desértico, muito diferente do tropical brasileiro. Já estados como Illinois ou Michigan tem invernos rigorosos com temperaturas que chegam aos -20º, algo impensável para a maioria dos brasileiros. Mesmo a Geórgia que tem um clima subtropical registra temperaturas próximas de zero no inverno em Atlanta, contrastando com Miami, onde a temperatura raramente desce abaixo dos 15. Enquanto outros estados americanos representavam adaptações climáticas, a Flórida sempre permaneceu com estilo de vida semelhante ao litoral brasileiro. E uma vez estabelecida, a comunidade brasileira na Flórida cresceu através do que os sociólogos chamam de efeito de rede. Ada brasileiro que se estabelecia com sucesso no estado atraía mais familiares, amigos e conhecidos, criando um ciclo de crescimento exponencial, onde a partir de uma pessoa, outras pessoas vão até o local. Esse processo criou uma infraestrutura específica para atender a população brasileira. Surgiram supermercados especializados em produtos brasileiros, restaurantes que serviam comida típica, salões de beleza com técnicas brasileiras, escolas que ensinavam português e até mesmo sistemas de envio de dinheiro para o Brasil. A concentração brasileira também atraiu investidores diretos do Brasil. Empresas brasileiras começaram a abrir filiais na Flórida para atender tanto o mercado local quanto para facilitar negócios com o resto do mundo. Bancos brasileiros estabeleceram agências de Miami, companhias aéreas aumentaram os voos e até mesmo os veículos de comunicação brasileiros criaram versões para o público da Flórida. Com o tempo, certas regiões da Flórida se tornaram verdadeiros enclaves do Brasil. Pompa no bit ficou conhecida como pequeno Brasil, para você ter uma ideia, onde é possível viver falando apenas português. Essa concentração facilitou ainda mais a vida dos novos imigrantes que encontravam a estrutura pronta para recebê-los. E já sabemos agora o porquê da Flórida, mas por não a Geórgia? Bom, enquanto a Flórida se torna um íã para brasileiros, a Geórgia seguia um caminho completamente diferente. Apesar de estar geograficamente próxima e ter vantagens econômicas. Em alguns casos até maiores que a Flórida, o estado nunca conseguiu atrair uma população brasileira significativa. E o principal motivo é a história. Quando a Geórgia começou seu grande desenvolvimento econômico, especialmente a Atlanta, a comunidade brasileira na Flórida já estava consolidada. Os anos de 1990 e 2000, o período de maior crescimento de Atlanta coincidiram com a estabilização da comunidade brasileira na Flórida. Por isso, os novos imigrantes preferiam ir para uma estrutura já pronta. E outra coisa que pesou é a ausência de voos diretos. Enquanto Miami mantinha conexões regulares com várias cidades brasileiras, a Atlanta não desenvolveu essas rotas. Para um brasileiro vindo direto do Brasil, era muito mais prático chegar diretamente em Miami do que fazer conexões pra Atlanta. Hoje, por exemplo, existe a rota direta entre São Paulo e Miami de 6.500 km. Como eu já disse antes, tendo o Rio de Janeiro, essa tem 7.000 km, Brasília 6.400 00 e Belo Horizonte 6800, todas facilitando muito a chegada. Já Atlanta, sem esses voos, exige conexões, muitas vezes com Miami ou Nova York, o que aumenta o trajeto em até 900 km ou mais, dependendo da escala. A Geórgia também não desenvolveu as mesmas políticas de atração de investimentos que a Flórida implementou. Miami se tornou a porta de entrada da América Latina e o estado criou incentivos para isso. Já a Geórgia não focou em incentivos para a imigração de latinos, e sim em outros setores e mercados. Os principais países latinos com mais imigrantes na Flórida são Cuba, que está ali perto, com cerca de 2,6 milhões de cubanos, e Porto Rico com 850.000. Aí depois vem a Colômbia, depois o México, Venezuela, República Dominicana e depois o Brasil. Você pode ver que não é só uma questão do Brasil, e sim uma questão da América Latina inteira. Ironicamente, a Jorge teve várias oportunidades de atrair brasileiros, mas perdeu o timing. Nos anos 2000, quando a Atlanta estava crescendo rapidamente, oferecendo oportunidades excelentes, houveram movimentos contra o incentivo da imigração latina para o estado. No mesmo período, a Atlanta também sediou as Olimpíadas de 1996, evento que poderia ter sido uma vitrine para atrair mais brasileiros. Mas na época, o Brasil estava se recuperando da crise de 1990 e a imigração estava diminuindo temporariamente. E quando a economia brasileira se estabilizou nos anos 2000, pela Geórgia ter políticas antiigração, os brasileiros preferiram mais uma vez ir para a Flórida. Portanto, o fato disso acontecer está enraizado na história da imigração da Flórida. Hoje essa concentração se perpetua através das famílias, infraestrutura cultural e oportunidades econômicas específicas que só existem nesse estado. E esse é o verdadeiro motivo pelo qual tantos brasileiros vivem na Flórida, mas não na Geórgia.