A CRISE ESCONDIDA DA CHINA — DESEMPREGO E EMPRESAS QUEBRANDO
0Enquanto o mundo aplaude a ascensão da China como uma super potência, a realidade dentro do país conta outra história. Jovens formados estão abandonando seus diplomas para limpar chão, não porque eles querem, mas porque eles não têm escolha. A chamada geração do futuro, a geração Z chinesa, tá desistindo do sonho do escritório, porque o sonho se tornou um pesadelo, salários baixos, jornadas sufocantes e um mercado de trabalho que simplesmente não tem espaço para eles. Ao mesmo tempo, os preços estão caindo, o poder de compra dos chineses diminui. empresas gigantes fazendo guerra de preços para tentar vender e a economia parece entrar numa armadilha que quase ninguém consegue sair. Essa é a crise que o governo não quer te mostrar. A crise que tá corroendo quase tudo que a China construiu nas últimas décadas. E nesse vídeo você vai conhecer de uma vez por todas as faces da crise que vem atacando a China nos últimos anos. E eu vou te explicar o por que isso é tão preocupante. Meu nome é Simon, esse daqui é o Rota asiática. E bora pro vídeo. [Música] A China adora números e mais ainda adora controlar quais números o mundo pode ver. Quando a taxa de desemprego entre os jovens ultrapassou 21% em 2023, o governo simplesmente parou de divulgar os dados. E desde então ninguém sabe com muita precisão quantos jovens chineses estão sem trabalho. E esse silêncio diz muita coisa. A justificativa oficial foi de que o método de cálculo precisava ser ajustado. Mas o que realmente precisa ser ajustado é a realidade, porque o que tá acontecendo com jovens chineses não cabe dentro dos números oficiais. Milhões de jovens se formam todos os anos nas universidades chinesas, mas o mercado de trabalho não tem como absorver esse volume. E os empregos que existem pagam mal, cobram demais e oferecem muito pouco em troca. Zang Bow é um exemplo disso. Engenheiro civil, formado por uma universidade reconhecida, conseguiu um emprego formal logo após se formar, mas poucos meses depois abandonou tudo e foi trabalhar como faxineiro, porque ele preferiu ganhar o mesmo ou até mais limpando casas do que se submeter a uma rotina esmagadora no escritório sem perspectiva nenhuma. E ele não é uma exceção, ele é o reflexo de uma geração que cresceu ouvindo que estudar é o caminho pro sucesso, mas agora descobre que o diploma não garante nada, que estabilidade é um privilégio para poucos e que no final das contas trabalhar com as próprias mãos pode ser menos humilhante do que aceitar ser explorado num cubículo com ar- condicionado. Muitos desses jovens fazem parte da chamada geração aqueles que decidiram deitar e não fazer nada. Mas a mídia, tanto da China quanto fora dela, costuma interpretar isso como preguiça ou rebeldia. O que eles esquecem é que essa geração tá simplesmente reagindo a um sistema que não entrega aquilo que prometeu. E o mais curioso, em muitas regiões da China, principalmente nas grandes cidades como Pequim, Shangai, Shengen, a competição por empregos formais é muito brutal. Já nas áreas rurais ou cidades menores, a falta de oportunidade é tão grande que os jovens muitas vezes nem tentam. Ou migram para trabalhos braçais ou ficam parados em casa dependendo dos pais. Isso quando a família tem alguma renda. Essa desigualdade regional aprofunda ainda mais a frustração, porque para muitos estudar e se esforçar não leva a lugar nenhum. Futuro parece bloqueado e a única saída possível é desistir dele. O governo tenta esconder esse colapso silencioso com discursos de otimismo, números maquiados, mas a realidade tá nas ruas, nas casas, nos apartamentos minúsculos, onde jovens dividem espaço e contas, torcendo para que o próximo trabalho pague o arroz da semana. A geração que deveria sustentar o futuro da China tá sendo forçada a abandoná-lo antes mesmo de começar. Enquanto o mundo enfrenta o fantasma da inflação, a China tá presa no oposto, a deflação. Mas o que é isso exatamente? A deflação é quando os preços dos produtos começam a cair constantemente. E por mais que isso pareça uma coisa boa, tipo, opa, tudo mais barato, na prática isso daqui é um veneno pra economia, porque quando os preços caem demais, as pessoas começam a adiar as compras esperando que os produtos fiquem ainda mais baratos no mês seguinte. E aí isso se torna um efeito dominó. Menos pessoas comprando, empresas vendendo menos, lucros despencando e a resposta das empresas é quase sempre a mesma. Demitir. Isso cria um ciclo vicioso muito grande. Mais desemprego, menos consumo, mais queda nos preços e mais desemprego. E é exatamente isso que tá acontecendo com a China. Um exemplo claro disso é o que tá rolando no setor de carros elétricos. As montadoras chinesas estão em guerra. Empresas como a Bid e a Xiaomi estão reduzindo os preços dos seus carros ao máximo, até abaixo do ponto de lucro, só para conseguirem vender. E por quê? Porque elas produziram demais, porque o governo incentivou demais. E agora, com o mercado interno fraco e as exportações barradas ou dificultadas por tarifas de outros países, essas empresas estão encalhadas com estoques enormes e sem muita saída. O resultado disso é uma guerra de preços insustentável. Empresas menores quebrando, lucros evaporando e milhares de empregos em risco. A China vive um paradoxo cruel. Ela produz como se o mundo inteiro fosse consumir, mas a sua própria população não tem dinheiro nem confiança para gastar tanto. Essa é a armadilha da deflação. É silenciosa e cada vez mais difícil de escapar. O governo chinês sabe que precisa aumentar a demanda interna, mas a confiança dos consumidores está abalada devido a crises imobiliárias, desemprego, envelhecimento da população. Isso tudo faz com que as pessoas cada vez mais tentem poupar ao invés de consumir. Os principais líderes da China se comprometeram nessa terça-feira aumentar a regulamentação de cortes agressivos de preços pelas empresas chinesas. Ou seja, eles vão tentar controlar essa diminuição de preços agressiva. Mas isso não parece tanto a cara da China, sinceramente. O governo chinês tem priorizado historicamente as exportações e o fortalecimento da indústria, muitas vezes as custas do consumo interno. Exportação, economia e dinheiro estrangeiro é mais importante do que os consumidores de dentro da China. Desde as reformas de Denin, a China se consolidou como a fábrica do mundo, com políticas de câmbio desvalorizado, subsídios industriais e zonas econômicas especiais voltadas paraa exportação. O crescimento econômico chinês a partir de 78 foi impulsionado por essa estratégia focada em exportações, com a desvalorização da moeda, como eu falei, e incentivos ao investimento estrangeiro nessas zonas especiais. Isso tudo permitiu a importação de mais máquinas e equipamentos para modernizar a indústria chinesa, enquanto o mercado interno enfraquecido era protegido por medidas artificiais e políticas. Então, ao longo da história recente, a China sempre priorizou vender os seus produtos pro resto do mundo, o famoso crescer para fora. E o foco era exportar mais, produzir mais e manter os preços mais baixos do que qualquer concorrente internacional. Mesmo que isso significasse sacrificar o poder de compra do próprio povo. Durante anos, essa estratégia funcionou. O país cresceu, atraiu indústrias, acumulou reservas bilionárias, se tornou a fábrica do mundo. Mas isso teve um custo, um custo que tá batendo a porta. Lá atrás, esse modelo criou uma sociedade que trabalha muito e consume pouco. Um sistema que concentra riqueza no topo, enquanto a base se sustenta com salários baixos, jornadas longas e pouquíssima proteção social. A consequência foi um país que cresceu economicamente, mas onde a maioria da população nunca sentiu esse crescimento no bolso. E hoje o cenário tá ainda pior. O mesmo modelo que transformou a China numa potência tá agora puxando o freio de mão do próprio crescimento. A população tá envelhecendo, os jovens estão sem emprego. O mercado imobiliário entrou em colapso, as famílias estão endividadas e com medo de gastar. E as empresas sem saída estão travando guerras de preços que só pioram a crise. Ou seja, o que antes foi o motor da economia se tornou um problema estrutural. A China cresceu para fora, mas acabou esquecendo de crescer para dentro. E essa conta tá sendo paga pelos jovens de hoje, infelizmente. Durante décadas, a juventude chinesa foi ensinada a seguir um caminho muito claro, estudar muito, entrar numa boa universidade, conseguir um emprego de escritório, obedecer o seu chefe, crescer na empresa e repetir esses ciclos até a aposentadoria. Só que essa promessa simplesmente desmoronou. Hoje, milhares de jovens formados estão dizendo não a essa vida, não porque são preguiçosos, mas porque eles estão exaustos. Muitos estão desistindo das vidas comuns e procurando áreas como entregas, serviços manuais, empreendedor ou até mesmo viver de bicos. E ainda que isso soe libertador, e em muitos casos pode até ser, isso também é um reflexo de algo muito maior, o fracasso do modelo chinês atual em oferecer futuro e dignidade paraa sua própria juventude. Porque quando jovens mais bem preparados da sociedade estão fugindo das empresas e desistindo do caminho tradicional, alguma coisa tá muito errada. Essa nova geração não quer mais repetir os mesmos erros do passado, mas também não sabe muito bem para onde seguir. A combinação é perigosa. Famílias endividadas até o pescoço e preços caindo mês após mês. Esse é o cenário perfeito para um tipo de crise silenciosa e duradoura, a estagnação. Foi o que aconteceu com o Japão nos anos 90. Uma bolha imobiliária estourou, a população parou de consumir e a economia passou décadas travada. Crescimento perto de zero, salários congelados e uma juventude sem perspectiva. Isso parece familiar. A China parece que tá seguindo o mesmo caminho, só que numa escala maior. E com uma geração inteira, mais conectada, mais instruída, mais consciente, cada vez mais desencantada com tudo isso. Do lado de fora, a China parece invencível. fábricas, exportações, tecnologia, influência global, mas por dentro ela tá ferida, uma juventude desiludida, um sistema que já não funciona como antes, uma economia que parece forte, mas que tá cada vez mais desequilibrada, desigual, instável. A China ainda é poderosa, mas ela também é humana. É importante lembrar disso. Nem tudo é só crescimento econômico e números bonitos. Se o país vai conseguir se reinventar, bom, a gente não sabe ao certo, mas eu particularmente creio que a China não vai ter um fim tão cedo. Eles são um povo que se adaptou e sobreviveu aos piores momentos da humanidade. Então, talvez isso seja só mais um ciclo. O preocupante é que o tempo das soluções fáceis já passou e o que resta agora só o futuro vai nos dizer. Antes de encerrar esse vídeo, eu queria agradecer de coração pelos 100.000 inscritos aqui do canal. A gente lutou muito para chegar aqui. Nossa, cada vídeo, cada roteiro, cada comentário, cada like, tudo isso foi construído com muito esforço, com verdade também, com sinceridade e com vocês aqui do nosso lado. Então, esse canal não é só meu, ele é nosso aqui da comunidade e eu sou eternamente grato por tudo que a gente já conquistou. E isso daqui é só o começo, tá? Então, muito, muito obrigado pelos 100.000 inscritos. Se você caiu de paraquedas nesse vídeo aqui, se inscreve aí no canal também e comenta embaixo que tipo de conteúdo vocês gostariam de ver aqui também. Muito obrigado por assistir até aqui. Novamente, gratidão pelos 100.000 inscritos e a gente se vê nesse vídeo que tá aparecendo aqui na sua tela. [Música]