A dívida pública é insustentável, há risco de calote?
0a dívida pública do Brasil continua em tendência de alta se aproximando de 90% do PIB E com esse dado vem as perguntas: qual é o máximo de dívida que um governo pode assumir A partir de que nível o endividamento se torna insustentável em que o país corre o risco de quebrar Estaria o Brasil perto desse momento Poderia ocorrer o calote da dívida pública Pois eu recebo esse tipo de pergunta com alguma frequência Então é importante esclarecermos a real situação da dívida nacional e que o governo pode fazer para pagá-la ou não Porque realmente analisando o gráfico da dívida sobre o PIB ele assusta Chegamos em 97% do PIB no auge da pandemia depois houve uma queda substancial para próximo de 80% até abaixo do nível pré-pandemia Mas nos últimos 18 meses a dívida não para de subir e neste momento o último da advogado está no patamar de 88,3% Aqui é importante esclarecer também que o critério utilizado é a dívida bruta do governo incluindo os títulos em carteira do Banco Central dividido pelo PIB E claro que este nível de dívida elevada a gente se pergunta qual é o limite Pois a verdade é que há dois tipos de calote Um país pode simplesmente decretar a moratória da dívida e anunciar para os seus credores que não vai mais pagar a dívida ou vai aplicar um desconto porque não consegue repagá-la Nos últimos 30 40 ou 50 anos esse tipo de calote costuma acontecer na dívida externa dos países que é aquela denominada numa moeda estrangeira normalmente alguma moeda forte ou menos fraca como dólar libra esterlina E o país decreta que não está em condições de repagar aquela dívida ou simplesmente não paga dívida ou precisa refinanciá-la e acessa algum empréstimo emergencial com fundo monetário internacional Banco Mundial enfim ou tenta renegociar com os seus credores É o que aconteceu com o Brasil já na década de 80 com o México e mais recentemente e em várias instâncias com a Argentina Porque esses países quando assumem uma dívida denominada em moeda estrangeira não conseguem imprimir a moeda local para repagar essa dívida Ela está denominada em dólares Apenas o Banco Central Americano OED pode imprimir dólares Na dívida interna aquela emitida na moeda do próprio país é muito mais difícil ocorrer esse tipo de calote E na verdade o que acontece é um calote não oficial em que os países pagam com inflação imprimindo moeda para repagar aquela dívida que foi emitida anteriormente Mas muitos não entendem esta mecânica Mas como assim o país paga via inflação Ou ele dá o calote via inflação que é uma espécie de uma forma de enganar os credores pagando a dívida com uma moeda que perdeu muito valor Pois eu vou exemplificar aqui com gráficos para que fique bem claro o conceito de como um país pode pagar a dívida ou dar o calote via inflação E o exemplo que eu vou mostrar para vocês é um caso de um país que começa com 100% de dívida sobre PIB numa economia que não cresce em termos reais então está estagnada 0% de crescimento real mas tem uma inflação de 2% ao ano Portanto o PIB nominal é 2% mas como a inflação também é de 2% o crescimento real é zero estagnação e assumindo que o país não emite mais nenhuma dívida ao longo desse período apenas começa com aquele montante emitido como é que este nível de inflação vai corroendo o valor real da dívida Pois aqui temos então o gráfico com o PIB nominal com eixo da esquerda mostrando o crescimento de 2% A dívida 0% ela foi emitida não está mais crescendo Mas a relação dívida PIB que de 100% em 14 anos chega a 76% dívida PIB por conta de uma inflação de 2% Então a inflação de 2% ao longo de 14 anos come 24% do valor real da dívida e apenas por meio da inflação sem o país nem precisar crescer ele está correndo o valor real e assim diminuindo o nível de endividamento sobre a economia E qual é a lógica por trás disso pô À medida que a inflação vai ocorrendo o dinheiro vai perdendo o valor imaginando por exemplo 100 unidades monetárias em Dzer 14 anos depois com uma inflação anual de 2% esses R$ 100 seriam cerca de R$ 132 unidades monetárias Então a grosso modo este é o nível de desvalorização do dinheiro Para pagar aqueles R$ 100 você agora precisaria de R$ 132 seria a inflação do período Então R$ 100 em deo equivalem a R$ 132 14 anos depois Portanto se eu emitir uma dívida de R$ 100 em Dzero 14 anos depois eu consigo pagar ela muito mais facilmente por conta da desvalorização do dinheiro porque o dinheiro perdeu o poder de compra E é isso que significa então pagar a dívida via inflação É muito mais fácil eu gerar 100 de atividade econômica ou de arrecadação 14 anos depois do que R$ 100 lá em dezembro quando a dívida foi emitida porque o dinheiro perdeu o valor Então esse é o efeito da inflação no endividamento de o país agora um exemplo mais extremo mas até mais próximo da realidade brasileira o que acontece com o endividamento quando a inflação anual é de não 2% mas 4% ao ano Aí o efeito é ainda mais drástico e em 14 anos o endividamento cai de 100% para 58% Então a dívida real foi comida em 42% porque R$ 100 14 anos depois 100 unidades monetárias a uma inflação de 4% ao ano equivaleria a cerca de mais de 170 unidades monetárias Então é muito mais fácil 14 anos depois gerar atividade econômica gerar receita de 100 unidades monetárias agora que o dinheiro se desvalorizou e muito Então é dessa forma que em termos reais o peso da dívida cai a inflação come o real valor das dívidas e é a forma pela qual os países historicamente pagaram as suas dívidas ou refinanciaram as dívidas ou diminuíram o nível de enividamento em relação à economia especialmente depois da Segunda Guerra foi que aconteceu na Europa com os Estados Unidos também em que o nível de endividamento estava muito elevado e parte da solução não foi a única foi também inflação Também houve crescimento econômico houve um pouco de ajuste fiscal mas são vários fatores e quando a dívida chega num patamar muito elevado normalmente o que ocorre então essa combinação mas também há a inflação E no caso de países desenvolvidos quase sempre a dívida é como eu mostrei aqui neste gráfico em que ela é emitida com uma taxa de juros pré-fixada e não há correção monetária Então o dinheiro vai perdendo o valor mas a dívida não é corrigida Por isso que dá esse efeito drástico de queda do nível de endividamento em que a inflação corrói o valor real da dívida O problema é que no caso brasileiro nós não emitimos apenas dívida pré-fixada Até hoje boa parte do nosso endividamento público está indexada em títulos que pagam a taxa Selic então taxa pósfixada ou taxa flutuante e títulos também pagam a variação da inflação E eu vou mostrar aqui este gráfico a gente vê eu já mostrei em vídeos passados mas a gente consegue entender a magnitude de como a nossa dívida está engessada e pagar via inflação a dívida brasileira não é tão simples também ocorre mas não na mesma magnitude que é possível em países desenvolvidos em que a maior parte da dívida emitida está com taxa pré-fixada sem correção monetária Então aqui o Brasil fevereiro de 2025 último dado aqui divulgado que que nós temos Quase metade da dívida 48% é taxa flutuante Aqui é a LFT o tesouro Selic letras financeiras do tesoura Depois temos 28% que é índice de preço então as ntnbs ou tesouro e PSA quase tudo praticamente tudo é isso E depois apenas 20,5% é do tipo pré-fixado que seria o mais fácil de pagar via inflação e apenas 4,2% aqui que é atrelado ao câmbio denominado na moeda estrangeira Só a título de curiosidade se a gente voltasse lá em 2002 praticamente metade da dívida estava atrelada ao câmbio e ali o Brasil corria sim o risco de quebrar Agora não Agora o câmbio é uma parte quase desprezível Metade é Selic metade 1/3 quase é índice de preço e 20% é taxa flutuante E vejam como este perfil de dívida por indexador foi piorando ao longo dos últimos 14 anos e especialmente 2024 e 25 em que a dependência do governo de taxa pós-fixada flutuante índice de preços aumentou Então isso por que que é um problema e por então que é mais difícil para o governo brasileiro pagar a dívida via inflação Porque quando a inflação sobe no Brasil qual é a ferramenta que o Banco Central tem para combater a inflação Taxa de juros Agora estamos aqui nos aproximando de 15% ao ano Pô então o Banco Central aumenta a taxa de juros e logo reflete no peso da dívida por conta do juros embutido nessa dívida que é taxa flutuante atrelada SELIC e é quase metade da dívida brasileira Então a inflação pode logo impactar já o endividamento do Brasil A outra parte aqui 1/3 ou quase 1/3 são os títulos atrelados à inflação Então quanto mais a inflação sobe mais esse custo vai impactar na dívida também porque o governo vai ter mais este fardo agora da inflação paga uma taxa de juros aí sim préfixada mais a variação da inflação Então a gente pode dizer que quase 80% ou 75% da dívida brasileira ela está relativamente indexada e não é tão simples pagar essa dívida via inflação Então esse calote não oficial no caso brasileiro hoje é uma via bem menos factível do que já foi no passado e do que ainda é para países desenvolvidos Além disso nossa dívida também é muito curta O vencimento médio é de 4,08 anos e da dívida interna apenas é baixo disso 3,94 Isso quer dizer que ela precisa ser rolada 100% da dívida a cada 4 anos é também um peso maior e impõe uma necessidade maior de caixa do governo porque ele precisa refinanciar essa dívida constantemente ou muito mais rapidamente do que seria no caso por exemplo da Inglaterra da Alemanha ou do Japão que conseguem emitir dívidas mais alongadas Então isso aqui também é uma complicação adicional pro Brasil e para pagar via inflação Ainda assim a verdade é que de tempos em tempos a diminuição do endividamento público via inflação acaba acontecendo especialmente em momentos mais extraordinários como foi o caso da pandemia E é isso que eu quero mostrar para vocês agora em alguns gráficos pra gente entender a magnitude do que aconteceu porque a inflação ajudou a diminuir aquele endividamento que chegou em 97% vamos lá novamente aqui ó 97% foi a dívida no auge da pandemia e depois voltou aqui para o nível de 80% É uma queda substancial quando muitos imaginavam que iria ultrapassar 100% E por que imaginavam isso porque estavam extrapolando o passado recente no futuro e sem entender essa mecânica do endividamento da circulação de moeda e da inflação no nível de endividamento E é o que eu vou mostrar agora no próximo gráfico então que podemos ver agora o M2 que é o agregado monetário que considera papel moeda emitido mais depósitos à vista depósito a prazo depósito de poupança Então eh a massa monetária o dinheiro em circulação na economia para mim é é seria a métrica eh que contempla os principais instrumentos de dinheiro da economia do Brasil e do mundo também Então M2 que é uma métrica eh global Pois bem que que nós vemos aqui que em meados de 2020 finalzinho de 2020 o crescimento anual do M2 então a variação anual do M2 disparou para mais de 30% Estávamos ali num patamar que rondava 5 a 10% durante bom tempo aqui ó dentro desta banda de 5 a 10% de crescimento anual E aí na pandemia simplesmente disparou E por que que disparou este e M2 em parte pelas linhas emergenciais expansão do crédito pelos bancos também de certa forma eh instruídos pelo próprio governo federal Então houve uma expansão de crédito emergencia emergencial linhas de crédito junto com um profundo déficit fiscal também para bancar o gasto emergencial da pandemia auxílios emergenciais auxílio Brasil Bolsa Família enfim Então houve vários auxílios e aquele profundo déficit que foi financiado em parte com dívida em parte foi eh um misto de inflação monetária expansão do dinheiro como a gente tá vendo Então aqui é o M2 Agora a gente pode analisar não o M2 mas sim a dívida mobiliária então a variação anual da dívida pública que a gente pode notar que veio um pouquinho depois o pico de variação veio um pouquinho depois aí já em quase meados de 2021 chegando em quase 15% a variação anual da dívida pública total E agora os dois gráficos Então primeiro vem expansão monetária e quase em para em simultaneamente também o crescimento da dívida emitida pelo governo mas não é imediato vem um pouco depois E o impacto disso na atividade econômica é simplesmente brutal porque é mais dinheiro em circulação é crédito bancário é auxílio emergencial é transferência de renda e que as pessoas recebendo esse dinheiro às famílias e às empresas começam a gastar na economia gerando atividade econômica e turbinando o PIB da economia E a métrica que eu vou mostrar agora é o PIB nominal Como a gente pode ver aqui então termos então temos o PIB nominal que chegou em quase 20% ao ano e que foi recorde nos últimos 25 anos superando até mesmo o crescimento que tivemos ali depois da grande crise financeira em 2010 Esse patamar foi superado e veja como então foi um aumento súbito do PIB nominal por conta de mais atividade econômica no Brasil E aqui os três gráficos contrastados PIB nominal dívida pública e a relação dívida PIB E a gente pode ver então primeiro que acontece a dívida pública que sobe Então o nível de dívida emitida sobe fortemente portanto sobe o nível de devoida PIB até porque houve uma queda de atividade nos primeiros meses então aumentou o endividamento e caiu o PIB O efeito foi quase 100% de PIB só que logo depois houve o efeito contrário O PIB turbinou o crescimento da dívida arrefeceu até chegou aqui depois perto de abaixo de 5% E o resultado foi uma queda do endividamento público que se aproximou novamente de 80% só que agora volta a subir e se aproxima de 90% Por quê Porque a atividade econômica já não está no mesmo patamar que estava antes especialmente lá de 202122 E a dívida segue crescendo e se encontra ainda com crescimento de 13% ao ano Por isso que o endividamento público brasileiro ainda continua elevado Então eu mostrei aqui o M2 o endividamento público e o PIB nominal e a relação dívida PIB E claro que o último dado que eu preciso mostrar é o nível de preço a inflação que seria o poder de compra da moeda que isso aparece por último Primeiro vem a expansão do dinheiro depois vem a emissão de dívida aí vem a atividade econômica as pessoas empresas gastando esse dinheiro e a medida que o dinheiro vai se filtrando por todos os setores impactando os preços relativos e diluindo o poder de compra do dinheiro é sim que isso se reflete nos índices de preços ao consumidor como a gente pode finalmente ver aqui no IPCA que é o último gráfico a chegar no seu pico que foi lá em finalzinho de 22 quando a inflação chegou em 12% no Brasil e depois voltou a cair mas continua num nível de 5% que é um nível elevado Então esse é um pouco do fenômeno de como a inflação pode corroer o nível de endividamento de um país e como no caso brasileiro é mais difícil pagar a dívida ou dar o calote de inflação porque ela está muito indexada E o que que pode acontecer Quais são os cenários possíveis assim qual é o limite e e cenários prováveis Por conta de todas as reformas que foram feitas no Brasil nos últimos anos especialmente com o Plano Real seria necessário muitos retrocessos para que o Brasil conseguisse imprimir dinheiro como fez a Argentina para que o Brasil conseguisse o Banco Central financiando diretamente o Tesouro nacional coisa que não é mais possível também Serão necessários vários retrocessos para que o Brasil pagasse essa dívida via inflação gerando uma inflação do tipo 15 20 25 30% como foi no caso da Argentina Então é bem pouco provável esse cenário precariam ser leis revogadas assim são tantos passos para trás que não vejo como factível pelo menos não horizonte de 2 3 a 5 anos mas o futuro quem sabe hoje não parece nada factível Portanto o cenário mais provável é algum ajuste fiscal que será necessário por bem ou por mal ele será necessário O governo já vem admitindo que possivelmente para 2027 algum ajuste é necessário independentemente do governo porque vai faltar dinheiro o arcabolso é insuficiente e o governo então vai sendo forçado a pelo menos gastar menos ou controlar alguma coisa o seu orçamento E na prática isso já está acontecendo depois de tantas reações negativas do mercado opinião pública de analistas as pessoas influentes e quem tem a alguma voz do governo e consegue trazer algum pragmatismo o resultado é que hoje fevereiro de 2025 também o último resultado que foi divulgado o resultado primário do governo já está aqui praticamente zerado 23 foi um déficit abaixo de 2% e o déficit nominal em 10% e agora já voltou para um patamar um pouquinho mais razoável Claro que com juros nesses níveis de quase 15% o peso o serviço da dívida ainda está muito elevado Mas é um ótimo sinal ver que pelo menos o resultado primário está voltando a ser zerado E é um pouco da realidade se impondo mesmo a este governo que é mais populista mais assistencialista e que gostaria de gastar muito mais mas não está sendo possível Então na prática algum ajuste já está ocorrendo O ideal a forma eh recomendável de repagar uma dívida seria o misto de controle das contas públicas ajuste fiscal de verdade e a economia crescendo em termos reais Esse seria o cenário mais benigno mas o governo não controla crescimento e muitas das suas ações acaba inibindo o crescimento regulação burocracia ainda que impede mais investimento impede atração de capital estrangeiro insegurança jurídica enfim o famoso custo Brasil tudo que você já sabe eu não vou aqui chover novamente no molhado mas esse seria o cenário ideal o Brasil crescendo fortemente com ajuste fiscal para que o nível de endividamento voltasse a cair aí não apenas em oito em 80% mas até menos do que isso porque novamente a nossa dívida ainda ela é muito muito custosa ela é muito curta então é sempre um peso maior nas contas públicas esse nível de anvidamento com essa taxa de juros e com esse prazo de dívida tão curto Mas enfim então essa é a forma pela qual os países pagam a sua dívida ou dão o calote não oficial via inflação No Brasil hoje está tudo muito mais engessado tanto o orçamento quanto a dívida Não é tão fácil pagar via inflação Então o governo vai precisar fazer sim o dever de casa apertar o cinto como em parte já parece que está fazendo Claro que esse fechamento aqui do déficit primário foi também com arrecadação maior não é controle tanto de despesa é deixaram de gastar tanto e arrecadaram mais O ideal seria gastar menos e diminuir também a carga tributária Mas enfim esse é outro assunto Espero que tenha ficado claro agora o que significa pagar via inflação e se o Brasil corre risco de calote Na minha ótica não não corre esse risco no curte no curto curtíssimo prazo E para pagar de fato via inflação como vimos na década de 80 e 90 antes do plano real seriam necessários muitos retrocessos que hoje vejo bem difícil de passar Acho que não é o cenário base então não dá para baixar a guarda Sempre monitorando acompanhando mas não vejo um cenário catastrófico no curtíssimo prazo Espero tenham gostado Compartilhem esse vídeo se 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