A DOENÇA mais MORTAL da HISTÓRIA

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Essa pilha de arroz na minha frente representa as 10 bilhões de pessoas 
que nasceram entre 1901 e os anos 2000, o famoso século XX. E você talvez seja uma delas. Aproximadamente 5 bilhões dessas 
pessoas ainda estão vivas. Mas hoje eu vou falar dessa outra metade, que corresponde às 5 bilhões de 
pessoas que morreram no século passado. Dessas, 500 milhões de pessoas morreram de doenças cardíacas. Outras, 500 milhões morreram 
de doenças cardiovasculares. O câncer levou outras 500 milhões de pessoas. E causas humanas, como acidentes e guerras, levaram um bilhão de pessoas. Humanos, doenças cardíacas e câncer ainda estão entre as principais 
causas de morte hoje em dia. E das 2,5 bilhões de pessoas 
que restaram na pilha, 1 bilhão delas morreram de causas diversas. E aqui nós temos um último monte de arroz 
que representa 1,5 bilhões de pessoas. Se essas 1,5 bilhões de pessoas 
tivessem ficado doentes, hoje em dia, praticamente nenhuma delas teria morrido. A principal causa de morte do século XX foi 
quase completamente resolvida pela humanidade. Essas 1,5 bilhões de pessoas morreram de 
doenças infecciosas, principalmente infecções pulmonares como a tuberculose. Mas o foco desse vídeo é a varíola, que sozinha matou 300 milhões dessas pessoas. A varíola é, em números, a 
doença mais mortal da história. E ela marcou tanto a história da humanidade 
que nós fizemos de tudo pra destruí-la. E de fato nós conseguimos. O último caso registrado de varíola 
aconteceu em outubro de 1977. E dois anos depois, em 1979, a OMS anunciou 
que ela tinha sido erradicada no mundo todo. Até hoje a varíola é a única doença humana 
completamente erradicada do planeta. Mas como nós fomos capazes de resolver 
a principal causa de morte do século XX? Nós não sabemos ao certo quando a história da 
varíola começa, mas nós sabemos que ela foi longa. O registro mais antigo encontrado é o da 
múmia do faraó Ramsés V, que apresenta marcas características da 
infecção por varíola no rosto. Uma vez infectado, o primeiro sinal é febre, 
seguida de dores de cabeça, vômito e diarreia. Em alguns dias, bolhas de pus preenchem o corpo. Uma em cada três pessoas infectadas 
não viveria para contar a história. E nem mesmo as que sobreviviam estavam 
livres de uma vida com sequelas, que incluíam perda de visão ou desfiguramento. A varíola não discriminava. Ela ceifava igualmente a vida de 
faraós, reis e pessoas comuns. Quando foi introduzida no Novo Mundo pelos 
conquistadores espanhóis por volta de 1520, a doença se espalhou rapidamente e de maneira 
ainda mais letal entre a população nativa, que não tinha nenhuma imunidade prévia. Alguns historiadores estimam que cerca de 
90% da população nativa do Novo Mundo morreu em decorrência de doenças trazidas 
pelos exploradores, incluindo a varíola. Impérios inteiros foram dizimados, 
e não só na América Central. E ao longo dos próximos séculos, se 
tornou a doença mais mortal da história. É até difícil de explicar pra você, 
que vive hoje em um mundo com vacinas, o quão desastrosa era a nossa 
relação com essa doença. Mas existe um motivo pelo qual a varíola não está na sua lista de preocupações diárias. A saga da doença mais mortal da história também é uma história de como a humanidade se uniu de maneira inédita 
pra vencer um inimigo milenar. E como muitas vezes na ciência, a nossa 
história começa com bons observadores. mas há milênios já se sabia que pessoas infectadas por varíola não contraíam 
a doença uma segunda vez. Mas foi na China, durante o 
primeiro milênio da Era Comum, que nós tivemos os primeiros registros de pessoas 
sendo voluntariamente infectadas como prevenção. A ideia era simples. Crostas das feridas que apareciam em indivíduos 
que apresentavam a doença de forma mais moderada eram colhidas e, depois de um 
processo quase ritualístico, eram administradas nasalmente para outras pessoas. 
E essa prática foi conhecida como variolação. Embora funcionasse em alguns casos, ela era extremamente perigosa, porque era 
impossível de controlar a intensidade da infecção. E como as pessoas contraíam 
varíola, elas também se tornavam transmissoras. E aqui eu preciso lembrar que, nesse 
ponto da história, a humanidade não sabia da existência de 
micro-organismos, muito menos de vírus. Tava bem longe disso, inclusive. O destino da humanidade só começou a mudar 
de verdade no século 18, quando o inglês Edward Jenner fez avanços importantes 
no entendimento da doença. Tendo sido inoculado quando criança em um 
procedimento bem arriscado, o Edward decidiu estudar tanto medicina 
quanto a doença mais a fundo. Ele ouviu relatos de que pessoas infectadas 
com a varíola bovina se tornavam imunes à varíola humana. A varíola bovina era um tipo de varíola 
que infectava principalmente vacas, mas que também podia infectar humanos. Só que diferente da varíola tradicional, a 
bovina era muito menos agressiva, e a pessoa infectada geralmente conseguia se recuperar. As duas doenças eram diferentes, mas 
por algum motivo uma criava imunidade para a outra. Então ele teve uma ideia. E se nós 
usássemos as feridas de uma pessoa infectada com a versão bovina 
da varíola para criar imunidade? Pelo menos em teoria, isso seria muito 
menos perigoso do que a varíolação feita com a doença original, que podia até ser letal. Para testar essa hipótese, em 1796, Jenner fez o procedimento em um 
menino de 8 anos chamado James Phipps, que se recuperou como esperado. E pra ter certeza do resultado, dois meses depois, 
o procedimento foi feito novamente no garoto, só que dessa vez com a versão normal da varíola. E como esperado, ele estava imune. Ele foi a primeira pessoa da história a adquirir 
imunidade a varíola sem contrair a doença. Esse caso deu origem ao nome que nós usamos até hoje, 
inclusive, vacina, que vem do latim, vacca. Jenner foi o responsável não só por provar 
que era possível adquirir imunidade para varíola sem contrair a doença, como também 
pôde usar essa técnica para imunizar diversas pessoas, incluindo seu próprio filho. Mas uma curiosidade histórica 
interessante é que ninguém na época conseguia explicar 
por que isso funcionava. A resposta veio quase meio século depois, quando nós finalmente entendemos e provamos 
que micro-organismos éramos verdadeiros responsáveis por diversas doenças. Para você entender o que 
Edward Jenner não conseguia, imagine que o nosso corpo 
funciona como uma grande cidade. E o sistema imune é o sistema encarregado de 
defender o território de invasores perigosos. Diariamente, soldados vigilantes, que são 
as células do nosso sistema imune, patrulham cada rua e cada esquina da cidade, prontos para 
identificar qualquer ameaça que ultrapasse as muralhas e portões de proteção, que 
no seu corpo, é a pele ou as mucosas. Quando um inimigo desconhecido 
invade, os soldados da linha de frente reconhecem e entram em ação, 
capturando e neutralizando o invasor. Mas a defesa não para por aí. Essas células também enviam sinais de alerta, 
convocando reforços especializados para elaborar uma estratégia mais precisa. Esses generais do sistema imune 
estudam um invasor e produzem armas e estratégias específicas para combater 
o agente invasor com máxima eficiência. Para evitar que invasores semelhantes consigam 
entrar futuramente, o sistema imune armazena informações sobre o inimigo, criando 
uma espécie de memória de guerra. Se o mesmo agente tentar invadir novamente, 
o exército já vai estar preparado, reagindo de forma mais rápida e poderosa. É como se o corpo tivesse um manual de 
defesa baseado na experiência anterior, garantindo proteção duradoura. E assim, o sistema imune não só nos defende 
no presente, mas também se adapta para vencer batalhas futuras, mantendo a nossa cidade, 
que é o seu corpo, seguro e em equilíbrio. E é essa memória do sistema imune 
que permite que as vacinas funcionem, coisa que Edward Jenner jamais 
entenderia naquela época. As vacinas modernas contêm os chamados antígenos, 
que diferente do que o Jenner usava, são pedaços inofensivos do vírus ou bactéria. Esses antígenos às vezes podem ser exemplares 
mortos do micro-organismo responsável pelas doenças ou uma versão enfraquecida dele, 
ou ainda só um pedaço do organismo. O importante é que esse pedaço inofensivo seja o suficiente para ensinar o nosso corpo 
a se proteger daquele tipo de ameaça. E o resultado? Quando o corpo encontra o verdadeiro vírus 
ou bactéria, ele já está preparado para combatê-lo antes que a doença se instale. Graças ao esforço de incontáveis pesquisadores 
que nós entendemos a imunidade humana e doenças infecciosas. E com isso nós criamos vacinas para nos defender 
da principal causa de morte da história. E qual foi uma das primeiras coisas que nós 
fizemos com essa tecnologia médica revolucionária? VINGANÇA! Nós usamos vacinas para destruir 
completamente uma doença infecciosa. No começo do século 19, algumas regiões na 
Europa começaram a estabelecer vacinação obrigatória contra a varíola. E no começo do século 20, várias dessas 
regiões tinham eliminado a doença da região. E mesmo onde ela não tinha 
sido completamente erradicada, o sucesso da vacinação era claro como o dia. Em 1950, a Organização Pan-Americana da Saúde criou um esforço que eliminou a 
varíola na maior parte dos países da América, com exceção da Argentina, 
Brasil, Colômbia e o Equador, e o que todos esses países tinham 
em comum eram comunidades remotas em que não era tão fácil de vacinar todo mundo. Mas o sucesso dessa e de outras campanhas 
possibilitou imaginar um mundo sem a doença. E isso fez com que, em 1958, o então ministro 
da saúde soviético, Viktor Zhdanov, propusesse eliminar a varíola do mundo todo, criando 
um esforço internacional para levar a vacina até os cantos mais remotos do planeta. Quando a ideia foi proposta, existiam aproximadamente 50 
milhões de casos anuais da varíola. De maneira lenta e metódica, todos os lugares 
que eram focos da doença foram literalmente cercados, com médicos vacinando a população, 
pra criar uma barreira imunológica até que os casos naturais se resolverem 
e as pessoas serem vacinadas. E alguns anos depois, em outubro de 
1977, a última pessoa a contrarir a versão mortal da doença foi registrada. E por fim, em dezembro de 1979, uma comissão internacional certificou a erradicação da varíola, 
a doença mais mortal da história da humanidade. E de novo, é difícil deixar 
claro o quão incrível isso é. Há menos de um século atrás, infecções 
eram literalmente a coisa mais perigosa do planeta. As doenças mais perigosas do século XXI, 
como câncer e doenças cardíacas, só são a principal preocupação de sistemas de saúde 
hoje por conta do quanto as vacinas reduziram casos mais graves de doenças infecciosas. Hoje ninguém precisa se preocupar com varíola, 
mas um século atrás, você provavelmente conheceria alguém que teve a doença. E quem sabe você 
até teria perdido alguma pessoa próxima. É difícil estimar quantas vidas as vacinas 
salvaram desde que foram inventadas. Mas uma coisa é certa. Foi só por causa delas que a humanidade se 
tornou livre da doença mais mortal da história. Muito obrigado e até a próxima.

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