A evolução das aves: Os dinossauros que sobreviveram.

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Feche seus olhos e preste atenção nos sons ao 
seu redor, você muito provavelmente vai conseguir ouvir de perto ou de longe, um dinossauro.
Olhando para o céu diurno, não demora muito até que você veja, sobrevoando, de 
perto ou de longe, um dinossauro.  A ciência entende que os dinossauros não 
morreram, eles na verdade são um grupo animal comum e praticamente onipresente até hoje.
Existem aves predadoras com as mais diversas estratégias, aves filtradoras, marinhas, 
polinizadoras, insetívoras, generalistas, carniceiras, entre muitos outros 
nichos que ocupam hoje, com uma imensa variedade anatômica e comportamental.
Tendemos a achar que elas surgiram e se   diversificaram só depois da extinção dos 
dinossauros não-avianos, mas na verdade, elas são um grupo até muito antigo de dinossauros, 
que surgiu ainda durante o jurássico, mais de 80 milhões de anos antes da extinção, tendo convivido 
com outros tipos de dinossauros por muito tempo. Mas porque temos tanta dificuldade 
de vê-las como o que são?  Isso provavelmente tem a ver com a forma com 
que imaginamos os dinossauros, pautados em obras de Hollywood, mas hoje isso vai mudar quando 
conheceremos os dinossauros mais próximos das aves e que características compartilham com elas.
É olhando para as aves, seus sons, suas cores, seus comportamentos, que seremos 
capazes de extrapolar muitas   coisas sobre seus parentes dinossauros.
Ao final dessa jornada, eu espero que fique muito mais evidente e fácil de perceber que 
as aves são só mais um grupo de dinossauros, cuja evolução vai te surpreender.
Você também vai entender como elas   atravessaram o apocalipse ecológico do fim do 
cretáceo e conhecer os muitos papéis que elas desempenharam durante a era dos mamíferos.
Se prepare para nunca mais ver uma galinha da mesma forma, essa é 
a história da evolução das aves. Esse documentário foi patrocinado pela 
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Agora vamos descobrir a história espetacular da evolução das aves.
O avestruz africano é o maior dinossauro vivente. Pesando até 130kg e medindo quase 3 metros de 
altura, essas aves são tão grandes e poderosas que são até mesmo usadas como montarias.
Seus pés estranhos com um dedo grande   e um pequeno são extremamente eficientes 
para a corrida, podendo chegar até 70km/h. Ao contrário do que muitos pensam, não 
são os casuares e sim eles, as aves mais perigosas do planeta, sendo responsáveis por 
cerca de 3 fatalidades humanas anualmente. Avestruzes, emas, emus, kiwis, casuares e 
tinamiformes formam o grupo das aves paleognathas. Os avestruzes, curiosamente, ainda 
retém duas garras nos seus dedos, que ficam escondidas sob as asas.
Eles são o grupo mais basal dentre os dinossauros viventes, que significa que na árvore genealógica 
dos grandes grupos, que chamamos de cladogramas, eles são a primeira linhagem que se divide.
Isso não significa que eles são mais primitivos, mas significa que todas as outras aves são mais 
aparentadas entre si do que com os paleognathos, já que compartilham um ancestral comum 
mais recente, cujos descendentes formam o grupo irmão dos paleognathos, os neognathos.
Entre eles estão os trochilideos, os beija-flores. Eles são uma família endêmica das américas, 
o que significa que eles só ocorrem aqui.  Por incrível que pareça, não 
existem beija flores no velho mundo. Eles têm as habilidades de vôo mais sofisticadas 
que já evoluíram em qualquer vertebrado, sendo capaz de manobrar com precisão pra qualquer 
direção, até mesmo de ré e acelerar rapidamente. Seu tamanho minúsculo e habilidades 
de vôo permitiram que ele explorasse o   nicho de alguns insetos: a polinização.
É provável que eles sejam alguns dos menores dinossauros que já existiram, com 
a menor espécie sendo o beija-flor cubano, com pouco mais de 3cm quando adulto.
O estarrecedor contraste entre a forma, o tamanho e o hábito do maior e do menor dinossauro 
vivente é um exemplo didático da amplitude da ocupação de nichos dos dinossauros atuais.
No meio do caminho entre um avestruz e um   beija flor, existem muitas formas de 
viver que foram exploradas pelas aves, que são hoje o grupo de vertebrados terrestres 
mais diversos, com mais de 10 mil espécies, em comparação com as cerca de 6 mil de mamíferos.
Mas como isso aconteceu? Como os dinossauros, na forma das aves, 
sobreviveram e se diversificaram nesse novo mundo? Como chegaram nesse patamar de diversidade 
e em tantas formas fantásticas?  Para entender isso, como sempre, 
precisamos voltar no tempo. Aristóteles propôs que as aves tinham muito do 
elemento ar, e por isso, voavam com facilidade. Por mais que a história não seja tão simples, 
como veremos, ela tem um fundo de verdade. Em 1869, 10 anos depois da publicação de 
“A origem das espécies” de Charles Darwin, Thomas Huxley propôs que as aves se originaram 
dentro da linhagem dos dinossauros, a partir de análises do archeopteryx, cujo nome 
significa “asa antiga”, por muito tempo, a “ave” mais antiga conhecida pela ciência.
Para Huxley, se tratava claramente de um animal com características intermediárias entre 
os dinossauros terópodes e as aves atuais; Mas suas ideias visionárias demoraram mais 100 
anos para serem acatadas pelo consenso científico. A maioria dos naturalistas e primeiros 
biólogos evolucionistas acreditavam que   as aves tinham um ancestral comum com dinossauros, crocodilos e outros repteis, mas cujas 
origens eram problemáticas e enigmáticas. Foi só muito mais recentemente que os 
paleontólogos e biólogos evolucionistas   chegaram à conclusão, a luz de muitos 
fósseis impressionantes, de que na verdade, as aves se originaram dentro da linhagem dos 
dinossauros, e são, portanto, dinossauros. Na biologia, não existe sair de um grupo.
Uma vez dentro de uma linhagem,   não é possível trocar de ancestrais, assim como 
aves ainda são literalmente dinossauros, nós, mamíferos e todas as aves, repteis e anfíbios 
ainda somos tetrápodes, descendentes de peixes sarcopiterígios, nunca deixaremos de ser.
Como veremos, muitas das características que hoje vemos como únicas das aves, na verdade eram 
compartilhadas com outros grupos de dinossauros. Uma história evolutiva que remonta centenas 
de milhões de anos no passado profundo. Como qualquer ser vivo, a história das aves começa 
com a origem da vida, mais de 4 bilhões de anos atrás, mas nós não precisamos voltar tanto.
O início do triássico é um ponto chave para começar a entender como e quando 
as aves se tornaram o que são.  Bem vindos ao início da era mesozoica, 
a chamada era dos dinossauros, mais de 250 milhões de anos atrás.
Mas ainda não existe nenhum dinossauro, apesar de seus pequenos ancestrais já existirem.
A linhagem deles ainda vai se dividir de outras linhagens de arcossauros nos 
próximos milhões de anos.  O mundo é um lugar relativamente 
silencioso, sombrio e fétido. Todos os continentes do planeta 
estão reunidos na grande pangeia,   que dificultava a entrada de umidade no vasto 
interior continental, formando desertos e biomas áridos na maior parte da terra seca.
A vida no planeta Terra acabou de passar pela maior extinção de sua história, quando 
uma série de catástrofes se combinaram   para tornar o planeta quase inabitável 
para a vida complexa e multicelular. Estima-se que na grande morte entre o permiano e 
o Triássico, mais de 80% das espécies desapareceu, em um armagedon ecológico muito 
mais grave do que o que eliminou os   dinossauros não avianos, 66 milhões de anos atrás.
Os primeiros grupos animais a repopular o planeta, nos primeiros 20 milhões de anos do triássico, 
não eram os dinossauros e sim uma variedade de outras linhagens de repteis e sinápsidos 
dicinodontes, que são mais próximos dos mamíferos. Pouco antes do fim da dominância desses 
bichos estranhos do começo do triássico,   surgiram os primeiros dinossauros.
O ancestral comum de todos os dinossauros é pequeno e bípede, com um formato 
de corpo muito parecido com o dos terópodes, os dinossauros carnívoros, que mantiveram o 
plano corporal mais parecido com o ancestral, ou seja, evolutivamente basal.
Outras linhagens de dinossauros, como os saurópodes, subverteram quase tudo sobre 
essa forma inicial dos dinossauros, se tornando colossais, quadrupedes e herbívoros, ou seja, 
formas corporais evolutivamente mais derivadas. Mas eles só deixaram de ser pequenos e bípedes 
quando um evento de mudanças climáticas extremas, o chamado evento pluvial do carniano, provocou 
uma substituição de fauna que deu início a verdadeira era dos dinossauros.
Durante o carniano, uma época do   período triássico da era mesozoica, choveu 
anormalmente por mais de um milhão de anos, reconfigurando todos os biomas do planeta.
Ambientes mais florestados e exuberantes tomaram conta por um breve período 
de tempo, geologicamente falando.  Por essas pontes de vegetação que se formaram no 
que antes eram desertos áridos, os dinossauros se espalharam por todos os continentes e 
passaram a ocupar muitos nichos, papéis   ecológicos antes ocupados pelos animais grandes 
extintos pelas mudanças climáticas bruscas. Do meio para o final do triássico, se 
estabeleceram os grandes grupos animais   que dominariam o mesozoico, principalmente os 
dinossauros, pterossauros e sinápsidos cinodontes, que dariam origem aos mamíferos verdadeiros.
Esses três grupos têm algo curiosamente em comum, que provavelmente evoluiu independentemente 
em cada grupo, um tipo de coincidência que   chamamos de convergência evolutiva:
Uma estrutura fibrosa de queratina que sai da pele e forma um tipo de 
cobertura e isolamento térmico no animal.  Nos cinodontes, esses são 
os pelos, como os que temos. Nos pterossauros, essas são as picnofibras, 
que cobriam grande parte de seu corpo E nos dinossauros, essas são as protopenas, que 
darão origem as penas como as das aves, no futuro. Mas muito antes delas existirem, um outro 
grupo de vertebrados já havia sido o   primeiro a dominar os céus: os pterossauros.
Eles não são dinossauros, porque se tratam de uma linhagem que se dividiu antes da existência 
do ancestral comum de todos os dinossauros, mas são seu grupo irmão, formando 
o grande clado avemetatarsalia. Existe alguma discussão sobre a 
origem de protopenas e picnofibras,   enquanto uns defendem que se tratam de estruturas 
evoluídas independentemente, outros imaginam que não seria tão difícil que o ancestral 
desses dois grupos já tivesse algo parecido, tendo sido conservado por ambas linhagens, 
apesar de poder ter sido perdido por algumas. Mas o vôo dos pterossauros é muito diferente do 
das aves, porque suas asas são muito diferentes. Enquanto as aves tem os dedos das mãos 
fusionados e usam as penas como sustentação, os pterossauros tinham apenas um quarto 
dedo extremamente forte e alongado, que sustentava uma membrana de pele formando a asa.
Quando em terra firme, esse quarto dedo se voltava pra trás e pra cima, permitindo que os demais 
dedos formassem uma pata dianteira bastante útil para escalar e andar.
A maioria dos pterossauros se   alimenta de pequenos animais e durante todo o 
mesozoico eles foram os principais predadores aéreos, o que faz deles personagens muito 
importantes na história da evolução das aves. Porque elas surgiram e viveram muito tempo 
sobre a opressão e dominância dos pterossauros. Durante o cretáceo eles cresceram até 
tamanhos inconcebíveis, como os Azdarchideos,   que se tornaram os maiores animais voadores 
de todos os tempos, da altura de uma girafa e com a envergadura de um pequeno avião. A primeira grande divisão na genealogia dos 
dinossauros é entre os ornitísquios e saurísquios. E aqui, existe uma confusão.
Porque ornitísquio significa   “bacia de ave”, mas as aves fazem parte dos 
saurísquios, que significa “bacia de réptil” Vamos entender mais pra frente o que 
causou essa confusão no fascinante   processo da evolução das aves.
Dentro dos saurísquios existem dois grandes grupos: Os terópodes e os saurópodes.
Os terópodes são os dinossauros bípedes carnívoros em sua maioria, por mais que muitos grupos tenham 
deixado de ser carnívoros dentro dos terópodes. Os saurópodes são os dinossauros 
herbívoros pescoçudos, que variavam   muito mais em tamanho do que em hábito.
Do outro lado do cladograma dos dinossauros, temos os ornitísquios, que são todos os outros 
dinossauros, como estegossauros, anquilossauros, iguanodontes, ceratopsianos e hadrossauros.
Eles são lindos, eles são ótimos, mas não foi aqui que a história das aves se desenrolou, então 
focaremos no seu grupo irmão, os saurísquios.  Os dinossauros saurísquios tem muitas 
características em comum, especialmente duas que se tornaram definitivas 
para as aves: os ossos pneumáticos   e os sacos aéreos, dando razão a Aristóteles.
Ossos pneumáticos são ossos repletos de bolhas de ar, que os fazem muito leves e resistentes, 
sendo capazes de se torcer mais sem quebrar. Vemos isso nos ossos ocos das aves atuais.
Muito diferente dos ossos mais   densos dos dinossauros ornitísquios.
Já os sacos aéreos eram grandes extensões do sistema respiratório alojadas na cavidade 
celomática e se ramificando pelo esqueleto. Eles são capazes de fazer trocas químicas 
e térmicas em uma superfície muito maior   do que os pulmões simples de mamíferos, por 
exemplo, mas eles também são muito eficientes por outra razão, além da maior área de contato.
Sua organização permite que o fluxo de ar que passa pelo pulmão principal seja unidirecional, 
permitindo que eles sempre estejam respirando ar novo, diferente de nós que nunca conseguimos 
trocar 100% do conteúdo do nosso pulmão a cada inalação, com nossos sistemas bidirecionais.
Isso fez dos saurisquios animais excelentes na regulação térmica e com respirações que permitiam 
um alto grau de atividade mesmo em baixos níveis de oxigênio, como eram os do triássico.
As mesmas adaptações que permitiram a agilidade ímpar dos terópodes que os estabeleceu como 
predadores dominantes durante todo o mesozóico, foram capazes de permitir a existência 
dos maiores animais de todos os tempos,   os titanossauros sul americanos colossais.
Os sacos aéreos e esqueletos leves certamente foram elementos chave na evolução de tamanhos 
monumentais como o de Patagotitan, permitindo a termorregulação e aliviando o peso do animal.
Um mamífero do mesmo tamanho seria muito mais pesado e basicamente inviável em terra firme.
Mas os mesmos sacos aéreos e ossos pneumáticos tem um papel fundamental na 
capacidade de voar das aves. Chegamos ao jurássico, momento em que 
muitos grupos famosos de dinossauros   se estabelecem e se diversificam após uma 
nova grande extinção no final do triássico. O jurássico durou de 201 até 145 milhões de anos 
atrás, se estendendo por 56 milhões de anos. É do meio para o final dele que a parte mais 
definitiva da evolução das aves aconteceu. Nesse período de cerca de 20 milhões de anos, 
temos muitas linhagens novas surgindo e se diversificando dentro de um grupo muito 
importante dos dinossauros terópodes:   os Coelurossauros tyrannoraptores.
Todos os dinossauros não avianos com penas conhecidos pertencem a esse 
grupo, assim como todas as aves.  É verdade que estruturas queratinosas parecidas 
com penas simples e cerdas rígidas são conhecidas em outros grupos de dinossauros, como 
o ornitísquio Kulindradromeus, um   parente relativamente distante das aves.
Mas penas parecidas com as de aves só são comuns dentro do grupo dos coelurosauros.
As penas como conhecemos hoje são feitas da mesma matéria das nossas unhas e cabelos, 
também muito presente na pele: queratina. Nelas, se forma um tubo oco de queratina 
muitas vezes incorporado no próprio osso, formando uma série de buraquinhos 
característicos nos braços das aves.  A base desse tubo é o cálamo, 
que dá suporte a raque. Dele, se estendem filamentos chamados barbas, 
que também se ramificam nas chamadas bárbulas, cheias de pequenos ganchos que formam 
uma estrutura plana e muito leve.  A evolução das penas passou por muitos estágios 
até o aparecimento das penas penáceas atuais, com as aves retendo principalmente quando filhotes, 
algumas das formas mais simples de pena, como as plumas.
O que havia começado como algo muito parecido   com um pelo se tornou algo totalmente diferente.
É incerto quando essa estrutura inicial se originou, se no ancestral de 
todos os avemetatarsalios,   de todos os dinossauros ou de todos os terópodes, 
tendo surgido independentemente nos demais grupos. Isso é difícil de dizer principalmente porque 
são conhecidos muitos grupos cujas impressões   de pele revelam que eles eram cobertos por 
escamas, o que não implica na ausência de penas ou penugem em outras partes do corpo.
Um desses animais é simplesmente o dinossauro mais famoso de todos os tempos: Tyrannosaurus rex.
Ele faz parte da primeira linhagem que se divide dentro do grupo dos tyrannoraptores: 
tyrannosauroidea, predadores de   diversos tamanhos muito abundantes no 
cretáceo da América do Norte e Ásia. Eles são mais próximos de qualquer ave do 
que do Giganotosaurus ou do Spinosaurus, porque compartilham com elas um 
ancestral coelurosauro mais recente.  Tyrannosaurus rex é o predador terrestre mais 
pesado conhecido pela ciência e sabemos que ele conviveu com aves que já pertenciam a grupos 
modernos, indistinguíveis das que conhecemos hoje. Isso quebra completamente a ideia de 
que as aves evoluíram apenas depois que   os dinossauros morreram, mostrando que 
elas são só mais um tipo de dinossauro. A segunda linhagem que se dividiu 
na grande árvore genealógica dos   dinossauros mais próximos das 
aves é o dos compsognatídeos. Esse pode não ser um grupo natural, 
com sua validade evolutiva tendo   sido contestada nos últimos anos, 
embora esteja longe de ser resolvida. Um dos membros mais importantes 
desse grupo problemático de   dinossauros pequenos é Sinosauropteryx.
Encontrado na China e descrito em 1996, ele foi o primeiro dinossauro não aviano 
confirmadamente coberto com uma penugem, graças a sua extraordinária preservação.
As estruturas dessas penas simples estavam praticamente intactas até mesmo 
no nível microscópico, o que permitiu que cientistas comparassem os formatos das células 
de pigmentos que conferem as cores ao animal, os melanossomas, com os de aves viventes.
O resultado espetacular desse estudo foi a inferência das cores reais de Sinosauropteryx em 
vida, um feito inédito na história da ciência. Segundo essas análises ele era 
ruivo com anéis brancos na cauda e com uma mancha preta no rosto.
Pode ser muito diferente dos dinossauros que   costumamos imaginar, mas levando em consideração 
o amplo e escandaloso espectro de cores ostentadas pelos dinossauros viventes, faz todo sentido.
Desde então, a mesma técnica tem sido usada para procurar e comparar melanossomas 
fossilizados em alguns dos fósseis mais   bem preservados do mundo, para determinar 
as cores em vida de outros animais. Um deles é psittacosaurus, um 
parente mais antigo do triceratops,   outro dinossauro chinês muito abundante.
Um fóssil em específico foi preservado com tamanha precisão, que também foram observadas 
cerdas queratinosas rígidas na cauda e a primeira cloaca fossilizada de dinossauro conhecida.
Suas cores eram contra sombreadas, dominadas por um bege com bolinhas 
pretas e um rosto mais escuro. Borealopelta, um nodossauro canadense mumificado 
considerado um dos dinossauros mais bem preservados do mundo, tinha um corpo avermelhado.
Sinosauropteryx promoveu uma revolução na nossa   compreensão sobre os dinossauros, 
sendo o primeiro de uma nova era. Mas enquanto tyrannoraptores como os 
tyrannosauroides tendiam a ter braços curtos,   o exato oposto era verdade para seu 
grupo irmão: os maniraptoriformes.  Eles são animais com os braços e mãos 
extremamente musculosos, bem desenvolvidos e com ossos do esterno peitoral fusionados 
criando região de anexação de musculatura. A primeira linhagem a se dividir dentro dos 
maniraptoriformes são os ornithomimosauria, grupo irmão dos maniraptores.
Os ornithomimossauros mais famosos   são os parecidos com Galimimus e Ornithomimus.
Eles possuíam uma penugem densa parecida com a dos avestruzes, como indivíduos com 
marcas de penas bem preservadas evidenciam. Um dos maiores Ornithomimossauros 
foi Deinocheirus, um dinossauro   gigante encontrado na Mongólia, que viveu no 
cretáceo, cerca de 70 milhões de anos atrás. Com cerca de 11 metros de comprimento, ele era 
quase tão longo quanto um tiranossauro rex e tinha os maiores braços dentre qualquer dinossauro 
terópode, com mais de 2,40 de comprimento, que terminavam com garras.
Ele se alimentava de plantas   aquáticas com seu bico reto semelhante ao de 
Hadrossauros, e como outros ornitomimossauros, tinha uma cauda que terminava com uma vértebra 
achatada chamada pigóstilo, o que indica que ele tinha penas anexadas em formato de leque 
no fim da cauda, assim como as aves atuais. A linhagem irmã dos Ornitomimossauros é a dos 
maniraptores e dentro deles, a que primeiro se divide é a dos Therizinossauros, que são 
grupo irmão, por sua vez, dos pennaraptora. Os therizinosaurideos são um grupo muito peculiar 
de maniraptores herbívoros, que chegaram, como no caso do próprio Therizinosaurus, a 
tamanhos colossais, com mais de 5 toneladas. Suas garras são as maiores conhecidas, 
com mais de 1 metro de comprimento,   podendo ser ainda maior em vida, 
com uma cobertura queratinosa. Elas provavelmente tinham vários usos, 
como auto-defesa mas também para puxar os galhos mais altos até o alcance de sua 
cabeça pequena e pescoço longo e móvel. Uma das maiores provas da imensa 
plasticidade evolutiva dos terópodes.  É na linhagem dos maniraptores que os ossos do 
púbis se voltam para trás, adquirindo um padrão semelhante ao que deu o nome aos dinossauros 
ornitísquios, criando toda essa confusão.  É por isso que as aves pertencem ao grupo dos 
saurísquios, ou “bacia de réptil”, enquanto os outros dinossauros são ornitísquios, ou “bacia 
de ave”, mesmo sendo muito distantes das aves. Eles têm 2 braços fortes com 3 dedos e um 
pulso articulado, com um osso carpal semilunar, permitindo movimento de dentro pra 
fora, mas não de cima pra baixo.  Os maniraptores se originaram do meio para o 
final do Jurássico, mas prosperaram de fato, durante o cretáceo, por mais de 80 milhões 
de anos até o fim da era dos dinossauros. Até os Therizinossauros, encontramos dinossauros 
densamente emplumados, mas ainda com penas simples e cerdas queratinosas, mas a partir dos 
pennaraptores, seu grupo irmão, encontramos penas tão complexas quanto as que conhecemos hoje, 
as chamadas penas penáceas, que dão nome ao grupo. A primeira linhagem a se dividir dentro 
dos pennaraptora são os Oviraptores, um grupo extremamente diverso e 
abundante durante o período cretáceo. Do pequeno Caudipteryx, do tamanho de um 
peru, até o imenso Gigantoraptor com 8 metros de comprimento, existiam oviraptores 
de todos os tamanhos, caracterizados por um bico queratinoso curto e uma crista na cabeça.
Eles tinham asas e rabos com penas em formato de leque muito parecidos com os que existem hoje 
nas aves, embora eles certamente não voassem. Isso pode parecer paradoxal, porque significa 
que as asas surgiram antes do voo, portanto, sua origem não tem nada a ver com ele.
Mas temos evidências sólidas dessas penas   em oviraptores, preservadas maravilhosamente.
As penas surgiram originalmente cumprindo outras funções, entre as principais, 
isolamento térmico e exibição. Sabemos que entre as aves atuais, a exibição 
é uma parte muito importante do cortejo e do acasalamento, fazendo com que muitas delas 
desenvolvessem padrões exuberantes e até pouco práticos, como é o caso do pavão, um dos exemplos 
mais didáticos do imenso poder da seleção sexual. Oviraptossauros provavelmente dançavam e tinham 
cores chamativas para agradar parceiras, mas sabemos que eles também eram pais superprotetores.
Prova disso está em um fóssil incrível de um oviraptor adulto deitado sob um ninho que por 
muito tempo foi interpretado como pertencente a um protoceratops, outro dinossauro 
herbívoro comum naquele tempo e local.  O esqueleto acima do ninho foi interpretado 
como um ladrão de ovos que morreu soterrado, literalmente o que significa 
“Oviraptor” ladrão de ovos.  Mas análises do conteúdo desses ovos 
mostraram pequenos bebês oviraptores, provando que era um dos pais chocando o ninho e o   protegendo da tempestade de areia, 
muito provavelmente com suas asas. O que prova que muito antes de ser usada para 
o voo, as asas já tinham diversas funções. O grupo irmão dos oviraptores dentro 
dos pennaraptores são as paraves, em grande parte pequenas e arborícolas, 
mas com algumas exceções importantes. Elas são caracterizadas pelos dedos longos, 
punhos bem articulados e metatarsais fusionados, início de uma tendência de fusão 
nos ossos das mãos que se tornará   característica das aves atuais.
As paraves se dividem entre os esquisitíssimos scansoriopterygideos e os 
eumaniraptores, ou verdadeiros maniraptores.  Os scansoriopterygideos foram uma experiência 
paralela dos dinossauros paravianos com o voo, no fim do jurássico.
Eles não duraram muito tempo,   o que é uma pena, porque esses podem ser alguns 
dos dinossauros mais bizarros que já existiram. Yi Qi, encontrado na China e tendo vivido 
cerca de 160 milhões de anos atrás, era um dinossauro paraviano arborícola, 
que vivia muito provavelmente de capturar pequenos insetos e vertebrados.
Ele tinha mãos longas com um   terceiro dedo extremamente alongado e 
um osso do pulso ainda mais alongado, que dava suporte para uma membrana de pele que 
formava uma asa muito parecida com a dos morcegos. Esses dinossauros perderam as asas parecidas 
com as das aves para desenvolver uma asa membranosa capaz de facilitar o deslocamento 
desse animal entre as copas das árvores.  O fato de que scansoriopterigydeos descendem 
de animais com asas avianas e terminaram como planadores eficientes de asas convergentes 
com as de morcegos é um grande argumento a favor da não-linearidade da evolução.
Eles não faziam voo batido, mas eram bons escaladores e planadores eficientes, uma 
experiência evolutiva breve, mas notável. Do outro lado na família das paraves 
estão 3 grupos cujos relacionamentos   evolutivos ainda são muito debatidos: 
Aviale, dromeosauridae e troodontidae O debate é basicamente qual linhagem se dividiu 
primeiro, ou seja, A- se uma delas é mais aparentada com as aves do que a outra, ou B se 
são tão aparentadas quanto, por compartilharem um ancestral comum mais recente.
Os troodontídeos algumas vezes são posicionados mais próximos das aves do que os 
dromeossauros, formando o grupo Averaptora. Outras vezes, eles são posicionados mais perto dos 
dromeossauros, formando o grupo Deinonychosauria. Eles foram um grupo de dinossauros 
carnívoros de pequeno a médio porte que   persistiu do final do jurássico, quando 
se originaram até o fim do cretáceo. Eles foram alguns dos dinossauros não-avianos 
com os maiores quocientes de cefalização,   ou seja, maiores cérebros em relação ao 
corpo, que leva os cientistas a imaginar que eles tinham uma inteligência acima da 
média e padrões comportamentais complexos. Essa é uma característica compartilhada com 
as aves, que são os dinossauros com os maiores cérebros proporcionalmente, de longe.
A ideia de dinossauros carnívoros   super inteligentes inspirou a ficção 
científica, como no caso do famoso dinossauróide, criatura de Dale Russell, que 
de forma totalmente antropocêntrica imagina o caminho que a evolução desses dinossauros poderia 
ter tomado caso o meteoro não tivesse caído.  Mas não existe fundamento científico nenhum na 
ideia de que as espécies inteligentes tendem a   ficar cada vez mais inteligentes, e muito menos 
que elas fiquem parecidas com uma forma humanoide. Já do lado dos dromeossauros, temos 
alguns dos representantes mais famosos   de todos os dinossauros, como velociraptor.
Eles são chamados popularmente de raptores, mas o nome dromeossauro significa lagarto corredor.
Eles foram alguns dos carnívoros de pequeno e médio porte mais comuns 
durante o período cretáceo.  Alguns dos menores, como microraptor, 
tinham o tamanho de um pombo, portavam quatro asas e provavelmente planavam 
entre os topos das árvores usando elas.  Microraptor é um bicho muito especial, porque 
é um dos que sabemos as cores reais em vida, sendo preto iridescente, um brilho metálico 
que variava do roxo até o azul e o esverdeado. Já o velociraptor por exemplo, era muito 
diferente do que os filmes nos mostram,   sendo aproximadamente do tamanho de um ganso.
Mesmo pequenos, é possível que caçando em grupos, eles fossem capazes de abater animais 
muito maiores do que eles mesmos.  Mas existiram dromeossauros de tamanhos 
comparáveis aos de Jurassic Park, como Utahraptor, que podia ser mais alto do que um ser humano.
Eles possuíam um dedo poderoso e curvado   para cima com uma garra afiada.
Isso porque se a garra ficasse no chão, ela certamente seria desgastada e perderia 
o corte, fazendo com que eles andassem,   funcionalmente, apenas sobre dois dedos.
Suas asas provavelmente serviam como estabilizadores, isolantes térmicos e exibição 
para atrair parceiros e repelir inimigos. Dromeossauros e Troodontídeos são os 
dinossauros paravianos mais aparentados   ao grupo que contém todas as aves e 
seus parentes mais próximos: avialae. Esse grupo também é uma bagunça.
Conhecemos em avialae várias famílias basais,   embora ainda não esteja claro exatamente como 
elas se posicionam nas filogenias e o grande grupo Ornithothoraces, que abordaremos em breve.
Elas têm em comum uma tendência a ter poucos ou nenhum dente, uma cauda muito curta, um quarto 
dedo no pé que desce e se alonga formando um tipo de polegar opositor muito útil para o 
hábito de empoleirar e penas assimétricas, que certamente tinham um formato 
aerodinâmico por uma boa razão.
  Os aviale estavam experimentando e 
sendo bem sucedidos no voo, hábito que se tornou característico das aves, para nós.
Mas como ele começou, ainda é muito debatido. As duas hipóteses mais disputadas são do chão pra 
cima e das árvores para baixo, mas evidências mais recentes têm apontado na direção da última.
Hoje sabemos que grande parte dos primeiros aviale eram animais arborícolas, bons 
escaladores com suas garras e corpos leves, mas capazes de planar habilmente de uma árvore 
até a outra usando suas asas aerodinâmicas, de forma muito semelhante aos microraptores.
Esse é o caso de archeopteryx, o antigo dinossauro que inspirou as ideias de 
Thomas Huxley, mais de 150 anos atrás. Ele era pequeno e possuía claramente 
duas asas com três garras nas mãos, sugerindo que ele fosse um escalador e planador.
Isso é sustentado pela anatomia dos ossos do seu peito, que não tem nem de longe o 
espaço de ancoragem muscular necessária   para sustentar o voo batido como das aves atuais.
Esse também era o caso de Anchiornis, que pertence a outra família basal dentro dos aviale.
Esse dinossauro chinês é especial, porque conhecemos ele através de muitos fósseis, 
vários deles maravilhosamente preservados. Sabemos que eles também tinham quatro asas, 
com suas pernas sustentando um segundo par   estabilizador, penas ao longo de toda a cauda 
e uma garra curvada como a do Velociraptor. Fomos capazes também de inferir suas cores 
em vida, sendo ele preto com alguns detalhes vermelhos na cabeça, e as asas com 
manchas brancas e extremidades pretas. Chegamos finalmente as Ornithothoraces, 
grupo que se originou no início do cretáceo, mais de 100 milhões de anos atrás, 
a partir daqui, fica muito difícil   distinguir os grupos extintos dos grupos modernos.
Praticamente todas as características avianas mais fundamentais eram compartilhadas por todos os 
membros desse grupo, como as penas penáceas, o pigóstilo, a perda de dentes na mandíbula, o 
aumento dos olhos e dos cérebros e uma quilha   expandida, uma superfície óssea no meio das 
costelas que dá espaço para músculos peitorais fortes capazes de levantar e manter o voo batido.
Essa é a característica que dá nome a esse grupo, Ornithothoraces significa peito de ave.
Foi o que permitiu que elas fossem as primeiras aves propriamente voadoras, de forma elegante 
e sustentada por longos períodos de tempo. Elas se dividem em dois grandes grupos irmãos: As 
euornithes, que significa “aves verdadeiras” e as enantiornithes, que significa “aves opostas”.
Como o nome sugere, todas as aves viventes fazem parte das euornithes, que também inclui 
as linhagens extintas mais próximas delas. Mas durante todo o cretáceo, as 
aves mais diversas e abundantes   eram as enantiornithes, surpreendentemente.
Muitas delas tinham perdido muitos ou todos os dentes, mas algumas outras, como Cratoavis, tinham 
pequenos dentes cortantes e garras nas asas. Ele viveu 115 milhões de anos atrás, 
no que hoje é o Ceará, sendo uma das mais antigas aves conhecidas do Brasil.
As aves enantiornithes ocupavam a maioria dos nichos arborícolas, muito comuns 
durante o cretáceo, sendo as verdadeiras   desafiadoras dos pterossauros até o 
último dia da era dos dinossauros. Talvez isso explique porque caminhando para o 
fim do cretáceo, começamos a ver uma diversidade cada vez menor de pterossauros de pequeno e médio 
porte e o aparecimento de pterossauros colossais, como Quetzalcoatlus, o maior animal voador de 
todos os tempos, com 14 metros de envergadura, conhecido como girafa voadora.
Eles podem ter sido influenciados   pela forte competição com as primeiras aves, 
provando que elas já estavam mudando o mundo e eram extremamente comuns e abundantes durante 
os últimos 100 milhões de anos do mesozóico. Parando pra pensar, as aves estiveram presentes 
por quase metade da era dos dinossauros, e são uma linhagem muito antiga, dezenas de 
milhões de anos mais antiga do que os famosos triceratops e tyrannosaurus, que existiram durante 
os últimos dois milhões de anos do cretáceo. Mas enquanto as enantiornithes dominavam 
os céus, as euornithes patrulhavam o chão das florestas e os cursos de água.
Por alguma razão, talvez a competição nos   céus com as enantiornithes e os pterossauros, 
as euornithes frequentemente se associaram a água, seja ela doce ou salgada.
Muitas das espécies de euornithes   do mesozoico eram bem capazes de voar, mas 
provavelmente passavam grande parte do seu tempo na beira de rios, pescando ou buscando 
pequenos invertebrados para se alimentar. Uma das linhagens de euornithes que mais 
se adaptou para uma vida semi aquática,   foi a que deu origem a Ichthyornis, que tinha um 
hábito semelhante ao de aves marinhas modernas, mas com um bico repleto de dentes verdadeiros, 
diferente de qualquer ave vivente. Esse fóssil, conhecido a muito tempo, 
também foi um dos grandes argumentos que   ligavam as aves aos dinossauros, sendo 
a primeira ave com dentes descrita. Mas Ichthyornis ainda podia voar, 
muito diferente dos Hesperornithes,   como Hesperornis, que assim como os pinguins, 
abandonaram o voo e se tornaram aves nadadoras. Mas diferente dos pinguins, sua 
propulsão vinha das patas traseiras,   e eles tinham membros dianteiros vestigiais, 
muito pequenos e praticamente inúteis. Porém isso os fazia muito ágeis na água, o que 
permitia que eles caçassem peixes e moluscos, voltando para a terra pra se reproduzir.
Finalmente, chegamos ao grupo que contém   todas as aves viventes, chamado simplesmente aves.
A primeira grande bifurcação é entre as linhagens chamadas Paleognathas e Neognathas, que 
significa palato antigo e palato novo, em referência a certas características 
do céu da boca e do crânio dessas aves.  Entre as paleognathas estão as maiores e 
mais pesadas aves viventes, mas no passado, existiam paleognathas muito maiores, como 
Aepyornis, conhecido também como Vorombe ou ave elefante de Madagascar, que foi possivelmente 
a maior ave que já existiu, com quase uma tonelada, e provavelmente foi extinta pela 
ação humana aproximadamente mil anos atrás. Também pertenceram a esse grupo os Moas, 
as aves mais altas que já existiram, endêmicas da Nova Zelândia, também sendo 
extintas pela exploração dos seus ovos   pelos seres humanos, cerca de 600 anos atrás.
Com exceção dos tínamos, todos esses bichos são aves terrestres que perderam a habilidade de voar 
em algum ponto, surpreendentemente em vários casos de convergência evolutiva, já que é provável 
que os ancestrais comuns entre elas voassem. Segundo análises do relógio molecular, 
esse é um grupo que pode ter se originado   mais de vinte milhões de anos antes da 
extinção dos dinossauros não avianos. Do outro lado na família das aves, estão os 
neognatha: de longe o grupo mais diverso de aves, incluindo todas as outras aves conhecidas.
Neles, a linhagem mais antiga, a que primeiro se divide, é a dos Galloanserae, os parentes dos 
patos e das galinhas, como eles mesmos, os gansos, cisnes, perus, pavões, entre muitos outros.
Eles são algumas das aves domésticas mais comuns, mas são uma linhagem que 
já era comum no fim do cretáceo,   com representantes muito parecidos com galinhas, 
como asterornis, e com patos, como vegavis. O grupo irmão aos Galloanserae é o incrivelmente 
diverso Neoaves, com mais de 9 mil das cerca de dez mil espécies de aves viventes.
As neoaves são uma grande bagunça filogenética, com dezenas de grupos que abarcam grande 
parte da diversidade das aves, muitos desses   grupos se originando no final do cretáceo 
e começo do cenozóico, depois da extinção. 60% da sua diversidade está representada no 
grande grupo dos Psittacopasseres que inclui os psitacídeos como papagaios e os verdadeiros 
pássaros da ordem superdiversa Passerine. Entre eles estão as aves com os padrões de canto 
mais complexos e habilidades vocais mais absurdas, como os papagaios e corvos que são capazes de 
imitar muitos sons, incluindo a voz humana, tornando-os capazes até mesmo de falar, o que 
prova que dinossauros não precisam se tornar   humanoides para serem inteligentes.
Representantes dessas três linhagens, os paleognathos, os galleoanserae e as neoaves, já 
existiam, alguns há muito tempo no dia fatídico em que um asteroide de cerca de 10km de largura 
atingiu a península de yucatan, onde hoje é o México, a mais de 40 mil km por hora.
A explosão mudou pra sempre o destino da vida no planeta terra, eliminando todas as 
florestas em incêndios globais e levantando uma nuvem de poeira de rocha tão brutal que levou 
séculos para que o céu ficasse limpo novamente. Décadas de escuridão e oscilações climáticas 
extremas deram um fim em mais de 65% das espécies animais que existiam na face da terra.
As enantiornithes, antes dominantes,   perderam totalmente as árvores onde viviam, sendo 
completamente extintas em consequência disso, já que as florestas e topos de árvores foram os 
ambientes mais impactados e cuja recuperação mais demorou depois da extinção.
Mas as humildes euornithes,   associadas aos cursos de água, tiveram uma 
chance de sobreviver e em seguida, prosperar. Diferente das florestas, que são 
ecossistemas que dependem da fotossíntese,   a água doce tem sua cadeia trófica baseada 
principalmente na decomposição de matéria orgânica, uma fonte muito mais segura de energia.
Estudos revelam que os ambientes de lagos rios e riachos foram os menos afetados 
pela extinção, perdendo poucas   espécies em comparação com outros ambientes.
Isso também pode explicar a sobrevivência de crocodilos e de algumas tartarugas.
Mas assim que os ecossistemas começaram   a se reestruturar, as aves imediatamente 
começaram a exploração de papéis ecológicos novos, se diversificando e se 
tornando até hoje, o grupo mais   numeroso em espécies de vertebrados terrestres.
Muitas aves interessantes evoluíram desde então, por mais que essa seja chamada a era dos 
mamíferos, já que esses tomaram conta da megafauna na maioria dos lugares.
Incluindo uma das maiores aves   voadoras de todos os tempos, pelagornis, que se 
extinguiu cerca de 2,5 milhões de anos atrás. Essa ave marinha gigantesca provavelmente 
é parente dos galloansearae e ele portava pseudodentes, pequenas estruturas no 
bico que lembram dentes, mas não são. Ou os Palaeeudyptinae, pinguins gigantes 
quase da altura de um ser humano que   dominavam o oceano polar sul do planeta 
até cerca de 10 milhões de anos atrás,   antes da antártica se congelar completamente.
Durante os primeiros 20 milhões de anos da   era dos mamíferos, uma família de aves gigantes 
também provavelmente aparentado com as galinhas   e patos se ocupou da herbivoria, comendo plantas 
e sementes com um imenso bico, como Gastornis. Eles se parecem superficialmente com 
os dromornitideos australianos que   viveram mais de mais de 10 milhões de 
anos depois da extinção de Gastornis e existiram até poucos milhares de anos atrás.
Fica evidente, pela quantidade de aves que se tornaram gigantes, herbívoras e incapazes 
de voar, que elas estavam completamente aptas para competir com os mamíferos mesmo nos 
nichos em que eles estavam mais estabelecidos. Talvez a maior prova da “continuidade” da era dos 
dinossauros seja a existência das aves do Terror, um outro grupo de aves gigantes e 
não-voadoras, mas dessa vez próximas das siriemas sul americanas e hipercarnívoras.
Elas usavam seus bicos extremamente afiados e pescoços fortes para abater suas presas e rasgar 
a carne até mesmo em movimento, com auxílio das suas garras parecidas com de dromeossauros.
Elas eram alguns dos predadores de topo nos   ecossistemas sul americanos até 
cerca de 2 milhões de anos atrás, quando nosso continente deixou de ser uma ilha.
Elas reinavam supremas aqui, mas se espalharam por todo o mundo, em especial na América do 
Norte, com o soerguimento do ístimo do Panamá, que conectou as Américas e permitiu o 
chamado grande intercâmbio americano,   quando duas faunas completamente diferentes 
se encontraram pela primeira vez. Se não fosse por isso, é provável que 
aqui na América do Sul, ao invés de   onças como grandes predadoras, teríamos 
dinossauros, na forma das aves do terror. Durante o eoceno, uma nova ordem de 
mamíferos se originou, desafiando as   aves no seu breve monopólio sobre os céus: os 
chiropteros, comumente chamados de morcegos. Hoje, eles representam mais de 1400 espécies com 
diversos hábitos, desde os famosos hematófagos vampiros, até os frugívoros e insetívoros.
Eles são os primeiros mamíferos, e ao que saibamos, os primeiros sinápsidos como um todo a 
evoluir o voo de forma tão elegante e sofisticada, chegando a ser até mais ágeis do que as aves.
Isso porque suas asas são formadas pelos 5 dedos de suas mãos, o que dá nome ao grupo, 
mas também significa que eles têm um controle muito preciso do formato das suas asas, sendo 
capazes de manobrar de forma muito rápida. Muitos outros mamíferos tem membranas entre os 
membros, como os esquilos saltadores e colugos, que são planadores arborícolas exímios, o que 
também é de uma certa forma comum nos repteis. Durante a história, vemos vários exemplos 
de membranas e asas membranosas, como a dos pterossauros, scansoriopterigydeos e morcegos, 
que convergiram para um tipo de asa semelhante. Mas as asas das aves são únicas, algo 
ímpar e sem comparação na história da vida. Com todos os prós e contras das asas com penas, 
elas deram certo e se tornaram o normal para nós, mas na verdade, são as aves que tem 
as asas estranhas e não os morcegos.  Um grupo de morcegos também 
desenvolveu a habilidade de se ecolocalizar, percebendo o ambiente 
de forma tridimensional a partir do eco   de pequenos cliques emitidos pelo animal.
Esses verdadeiros sonares biológicos são fundamentais para sua estratégia de caça 
noturna, capturando insetos em pleno ar. Tudo isso porque eles estão praticamente 
confinados a escuridão da noite pela   dominância opressora das aves durante o dia.
De uma certa forma, as aves são hoje para os morcegos, o que os pterossauros já foram para as 
aves: um grupo de vertebrados voador mais diverso e mais abundante que chegou antes e dominou 
os principais nichos ecológicos disponíveis. Hoje, as aves ocupam uma imensa variedade de 
nichos, como os pinguins pescadores marinhos, os flamingos filtradores, os avestruzes comedores 
de sementes, os beija flores polinizadores, as garças pescadoras de água doce, os passarinhos 
insetívoros e generalistas, os gaviões e águias carnívoras e os urubus carniceiros.
Mas de todos os exemplos possíveis e imagináveis para começar uma revolução 
científica e existencial na humanidade,   Charles Darwin escolheu os pombos.
Ele começa sua obra “A Origem das Espécies” de 1859, abordando a domesticação 
de plantas e animais, pavimentando o caminho para a sua ideia de descendência com modificação.
Uma parte significativa desse primeiro capítulo é o texto “Pombos domésticos, 
suas diferenças e origem”.  O ponto que Darwin estava se dedicando a 
construir é o de que essas diferenças entre raças de pombos eram fruto da seleção artificial, 
não existiriam sem a intervenção humana, assim como raças de cachorros, gatos, porcos, vacas 
e praticamente todos os vegetais que comemos. Tendo esse mecanismo bem aceito, descrito 
e compreendido, era apenas uma conclusão   lógica que a mesma coisa acontecia com os 
animais selvagens, na escala da seleção natural. Pense sobre isso: o primeiro capítulo do livro 
que é considerado por muitos a segunda obra mais importante da história da humanidade foi 
inspirado e se dedicou primeiramente aos pombos. Tudo isso começou com o pombo-da-rocha, uma 
espécie praticamente idêntica a variedade urbana, que habita os rochedos nos 
litorais do mar mediterrâneo.  Ela é uma, de 300 espécies de columbiformes, a 
família de aves a qual todos os pombos pertencem, que inclui até mesmo o extinto Dodô, ave grande 
e incapaz de voar, endêmica das ilhas Maurício. E o pombo da rocha pode, à primeira vista não 
se destacar dentre a diversidade e sucesso   cosmopolita dos seus parentes mais próximos, 
a não ser por uma habilidade especial, que por acaso acabou sendo uma vantagem 
no mundo que o ser humano produziu. Enquanto a maioria das aves coletam cuidadosamente 
pelos de animais, galhos, folhas cortadas com precisão pelo bico ou até mesmo barro com saliva 
para montar seus ninhos elaborados, os pombos são reconhecidamente péssimos montadores de ninhos.
Mas isso não é nenhuma burrice e sim reflexo de sua inteligência elegante e econômica.
Porque gastar tempo e energia montando   ninhos se as ranhuras estáveis das 
rochas servem tão bem como incubadoras? Da nossa perspectiva, elas aparentam ser 
capazes de nidificar em qualquer lugar, seja na janela, no batente, no vão do 
telhado, no ar condicionado do prédio.  Isso é porque o pombo-da-rocha, como 
o nome denuncia, é um animal que se adaptou para se reproduzir em penhascos a 
beira mar e ambientes rochosos verticais. Esse é um animal generalista, capaz de se 
alimentar de praticamente qualquer coisa   que esteja disponível, além de pais dedicados que 
alimentam seus filhotes com um vômito nutritivo, fazendo com que eles cresçam rápido.
Esses pombos, originalmente europeus   e Norte-africanos, foram domesticados muitas 
vezes nos últimos milênios, tendo sido levados   com eles para todo o mundo nos últimos 5 séculos.
A partir daí, alguns criadores podem ter soltado   intencionalmente ou não alguns indivíduos que 
deram origem a populações ferais, que logo   provaram o seu potencial como espécie invasora, 
se reproduzindo prolificamente nas cidades.  Mas não é a presença dos pombos, em si, por 
mais incômodos que eles possam ser, que é o real problema, e sim a devastadora ausência 
de diversidade que a sua onipresença denuncia. Se só vemos pombos nas cidades é 
porque elas só são atraentes para eles.  Sem as árvores, arbustos, cursos d’agua 
e vegetação nativa, praticamente todas as aves desaparecem e a cidade cria 
uma nova condição, muito semelhante   aos penhascos verticais desérticos que o 
pombo-da-rocha chamava originalmente de lar. As cidades não só simulam a vida original do 
pombo-da-rocha, como são muito melhores para eles. Como animais generalistas, eles se aproveitam 
de nossos restos desperdiçados de comida,   amplo espaço para nidificação e ausência de 
predadores naturais, por mais que muitos projetos de extermínio sejam comuns e até necessários.
Nas cidades, os pombos encontraram uma vida incomparavelmente mais fácil do que na natureza.
O resultado é que os maiores centros urbanos do mundo estão completamente abarrotados 
de pombos e quase nenhuma outra ave. Durante a construção das cidades, o 
que era um bioma natural, passa a ser   um antroma, um bioma antropomorfizado, ou 
seja, um bioma construído pelo ser humano. Eles, assim como os biomas agrários, destroem os 
ambientes que a maioria das aves habitam, mas cria condições para a proliferação de certas espécies 
generalistas, que podem se tornar invasoras. Talvez esses sejam os grupos de aves 
que terão mais sucesso daqui pra frente,   durante o antropoceno, um pequeno vislumbre 
dos próximos passos na evolução das aves. A relação direta de ancestralidade e 
descendência entre aves e dinossauros   não-avianos tem sido explorada pela 
ficção científica, de forma especial no projeto de Andy Frazer, os novossauros.
Ele criou raças hipotéticas de dinossauros domésticos criados a partir da reativação 
de genes adormecidos no DNA de aves atuais,   que conferem as características dinossaurescas.
Embora pareça absurdo, e seja de fato muito   difícil, isso não tem nada de impossível, 
inclusive, em alguma escala já foi feito. Experiências com engenharia genética na vida real 
foram capazes de ativar os genes responsáveis pela formação de dentes em embriões de aves.
Por mais que o experimento tenha sido bem   sucedido, o nascimento desses embriões 
modificados esbarra em questões éticas. Mas sabemos que muitos outros genes de 
características ancestrais, além dos dentes,   como as garras e a cauda longa, ainda 
existem no genoma de todas as aves. Mas independente do que a engenharia genética 
seria capaz de fazer com as aves no futuro, olhando para o passado delas, 
aprendemos uma lição de humildade.  Tendemos a ver a evolução como um processo de 
aperfeiçoamento, algo planejado e predestinado, mas ela não é nada disso.
A única finalidade da evolução   é a sobrevivência imediata da geração vivente e 
sua prole, em um jogo de vida ou morte que uma vez perdido, é game over permanente.
Não existe reestart pra extinção.  Tudo que as aves precisaram e usaram para se 
tornarem capazes de voar, evoluiu muito antes, em outros grupos, servindo outros propósitos.
Conhecer os ancestrais e parentes próximos das aves na genealogia dos dinossauros 
nos permite perceber que nelas,   poucas coisas são exclusivas, e muitas 
das características que percebemos hoje como avianas, são compartilhadas 
com outros grupos de dinossauros.  Isso transforma não só a forma 
como imaginamos os dinossauros, mas também a forma como vemos as aves.
Eles não são as criaturas reptilianas   estupidas e lentas que a cultura pop sugere, mas 
criaturas inteligentes, dinâmicas e adaptáveis. Os dinossauros não morreram, eles são um grupo 
antigo e persistente na face desse planeta, que têm cantado todos os dias por eras e muito 
provavelmente vai continuar por aqui muito depois da extinção da nossa própria espécie.
Para conhecer mais do passado do nosso planeta, eu tenho duas sugestões:
Você pode se tornar membro   do canal e assistir o curso “Evolução, terra 
e tempo”, aulas de temas chave muito úteis para vestibulares que eu organizei para entender 
melhor a evolução biológica e a história natural  Ou você pode conhecer nossa biblioteca 
de sugestões de livros no nosso site, onde separei livros que mudaram minha vida ou 
serviram de inspiração e referência para os   documentários do canal, como a ascensão e queda 
dos dinossauros, que eu usei como referência importante deste vídeo, link na descrição!
Muito obrigado por acompanhar até o fim,   se inscreva, compartilhe com os 
amigos e tenha uma ótima vida.

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