a GROENLÂNDIA vai ficar RADIOATIVA por um SEGREDO MILITAR
0-Você está na Groenlândia e percebe
que ela é uma ilha muito fria, mas não tão radioativa. E o que é aquilo?
-De repente um grupo de americanos avança com um carro pelo norte desabitado da ilha.
-Em um certo ponto, os americanos param, descem do carro e afundam seus pés na neve densa.
-Então, logo eles passam a marcar o lugar com bandeiras de localização,
provavelmente para se começar um acampamento de poucos dias, como pesquisadores.
Ou pelo menos era o que estava parecendo. Na verdade, aqueles americanos não eram
pesquisadores nem civis, mas sim funcionários do exército americano. E eles começam a cavar.
(som de pá cavando) -Logo depois chegaram mais soldados do
exército com grandes escavadeiras que faziam grandes buracos na neve.
-Pouco tempo depois, grandes e profundas trincheiras estavam sendo feitas,
mas o que estava acontecendo? Era algum tipo de experimento para pesquisar o solo?
Aquilo não era um experimento para pesquisar o solo, muito menos um lugar para
uma curta estadia, aquela era a construção da cidade subterrânea Camp Century. E isso foi
o começo da história nuclear da Groenlândia. Vinheta
As dramatizações presentes neste vídeo são ficcionais e inspiradas em fatos reais.
-Camp Century foi um projeto americano da construção de uma cidade subterrânea,
no interior da camada neve que cobre a Groenlândia, uma ilha pertencente à Dinamarca.
-O Camp Century foi uma base americana na Groenlândia que foi construída no fim da década de
mil novecentos e cinquenta durante a guerra fria, e sua construção foi de certa forma complexa.
-Os Estados Unidos pretendia ter uma base na Groenlândia, porém, o solo com milhares de
camadas de neve e o frio extremo dificultava a criação de uma base sobre a neve.
-Além disso, as tempestades de neve severas eram perigosas, e a neve acumulada
poderia soterrar as instalações construídas. Portanto, a decisão, foi construir uma
cidade submersa devido a vários fatores que os americanos viam como vantagem, um deles era a
construção usar a própria neve como matéria prima. Naquela época, já se sabia que a neve possui
excelentes propriedades para isolar o frio e que podia ser usada para fins de construção.
Como os esquimós, que a utilizam há séculos para construir iglus e outros tipos de abrigos.
No entanto, os americanos tiveram que desenvolver novas técnicas para utilizar a neve em larga
escala e poder manipular grandes volumes de neve. Além disso, outra vantagem percebida
pelos americanos era a de camuflagem, por estarem na guerra fria, todas as instalações
americanas eram visadas como alvo, portanto era importante que elas fossem de difícil localização.
Porém, existiam também algumas desvantagens, como precisar de uma fonte de energia
potente para manter a temperatura amena no interior da cidade subterrânea.
Levando tudo isso em consideração, eles passaram a colocar em prática a construção do Camp Century.
-Cavaram as grandes trincheiras onde seriam colocadas as casas de madeira
e os centros de pesquisas. -E depois que todos os materiais
necessários estavam dentro das trincheiras eles iniciaram o processo de cobrir
com neve, isolando o Camp Century totalmente. -O interior do Camp Century funcionava da
seguinte maneira: Uma trincheira principal larga para o acesso de veículos, e uma série de
trincheiras paralelas, nas quais os edifícios e outras estruturas seriam alojados.
A instalação tinha capacidade para abrigar cem pessoas durante todo o ano,
e deveria ter uma vida útil de dez anos, caso tivesse uma manutenção adequada.
-E por incrível que pareça, se você de repente acordasse um dia dentro de certas instalações do
Camp Century, você poderia achar que estava em uma típica casa americana. Mas sem janelas.
-Você poderia pensar até que está no estado de Nova Iorque, e não no subsolo
do extremo norte da Groenlândia. -A cidade subterrânea era composta
por dormitórios; Cozinha e refeitório; banheiros; Salão de recreação e teatro;
Biblioteca; Laboratórios científicos; Oficinas de equipamentos e manutenção;
e vários outros prédios administrativos. -Além disso, eles construíram uma pequena
ferrovia subterrânea para testar se um trem rodaria sem dificuldade. A intenção
era ampliar a ferrovia ao longo dos anos. Já as construções de dentro do Camp
Century deveriam ser pré-fabricadas e serem feitas de materiais o mais leves possível.
-Já a produção de água era feita por meio de um poço cavado no gelo. O poço foi feito derretendo
a camada superior de gelo até encontrar água. Além disso, para evitar o congelamento
da água armazenada, os tanques e as tubulações deveriam ser aquecidos, bem
como as áreas de convivência. Tudo deveria ser aquecido eletricamente… Mas como
eles levariam energia elétrica até lá? Seria necessário quilômetros e quilômetros
de fio pra conectar a cidade ao resto dos Estados Unidos, o que seria inviável. Então, os americanos decidiram levar pra ilha sua
própria fonte de energia: um reator nuclear. -Porém, naquela época, a manipulação do material
radioativo era bem precária e negligente, os operadores manipulavam os materiais radioativos
sem equipamentos nem o cuidado de hoje. -Olha esse cara pegando essa barra
contendo meio quilo de urânio com a mesma roupa que um mecânico troca um pneu. -Sem contar que o local onde o reator
se localizava dentro do Camp Century era bem próximo de onde as pessoas dormiam. O que é mais uma fragilidade na
segurança radiológica do lugar. Ou seja, esse reator nuclear
poderia causar um acidente nuclear, poderia deixar a Groenlândia radioativa!
Mas, por que em primeiro lugar esse reator estava lá? Por que havia americanos num lugar tão
inóspito na Groenlândia querendo fazer uma cidade? A presença militar americana na Groenlândia
não era nenhum segredo. Ela se dava por conta de um acordo entre os Governos americano
e dinamarquês. A intenção era a defesa da Groenlândia, e o acordo autorizava três “áreas
de defesa” operadas pelos americanos na ilha. O objetivo oficial do acampamento, conforme
explicado às autoridades dinamarquesas, era testar várias construções sob condições
em baixas temperaturas, explorar problemas práticos com um reator nuclear, além de apoiar
experimentos científicos na camada de gelo. Em troca os americanos aprendiam mais sobre
técnicas de construção e sobrevivência no gelo e o mais importante de tudo: eles ganhavam quase total
liberdade de ação dentro das suas instalações. Isso abriu uma brecha pra que os
americanos pudessem fazer mais do que o combinado com o governo
dinamarquês. Tudo em segredo, e isso era a real intenção dos Estados
Unidos na Groenlândia desde o início. Durante os anos cinquenta, os Estados Unidos era
um dos personagens principais da guerra fria, na qual ocorria a corrida armamentista. E pensando
nisso os Estados Unidos decidiram criar o que ficou conhecido como o Projeto Iceworm.
-O projeto Iceworm consistia em implantar detectores de mísseis na Groenlândia, visto
que ela estava em um lugar geograficamente estratégico, entre os Estados
Unidos e a então União Soviética. -Portanto, caso a União Soviética enviasse mísseis para atacar os Estados Unidos, os
detectores na Groenlândia avisariam os americanos um pouco mais cedo e daria pra
eles alguns minutos para eles contra-atacarem. Isso parece pouco, mas é extremamente necessário
que a guerra fria não esquentasse, ou seja, que as duas potências nucleares não
jogassem bombas nucleares uma na outra. Afinal de contas, não basta que as duas potências
tivessem armas capazes de destruir uma a outra, é preciso, além disso, conseguir
responder rapidamente a um ataque inimigo. -Sem essa capacidade, os
Estados Unidos, por exemplo, poderiam ter todo o armamento nuclear
possível, mas se fossem atacados primeiro, eles seriam destruídos, e não poderiam
contra-atacar a União Soviética. Sem uma rápida forma de retaliar, o incentivo
maior é pra que a União Soviética ataque antes. Porém com uma rápida forma de retaliar,
o incentivo é que a União Soviética NUNCA ataque. Afinal, se ela fizer isso saberá
que terá uma resposta imediata antes de suas bombas explodirem nos americanos.
-Enquanto bombas soviéticas voam até os Estados Unidos, bombas americanas já
estão voando até a União Soviética. Essa é a destruição mútua assegurada, e
isso faz com que a guerra nunca aconteça, pois caso acontecesse, seria o fim das
duas potências, e talvez o fim do mundo. Por isso os americanos também
queriam que além de rádios, deixassem bombas nucleares na Groenlândia,
um lugar mais próximo do inimigo. O projeto Iceworm pretendia incluir
seiscentos mísseis sob o gelo, e todo o sistema deveria ser lançável entre vinte
e sessenta minutos, dependendo das circunstância. Já a área total na qual o projeto pretendia ter
cobriria oitenta e três mil quilômetros quadrados. E seriam necessários cerca de onze mil
soldados para operar e defender o sistema. Tudo isso era muito ambicioso, mas o Governo
dinamarquês nunca teve conhecimento do Projeto Iceworm. Na verdade, o projeto permaneceu em
segredo até mil novecentos e noventa e sete. Embora seja um exagero descrever o Camp Century
como um pequeno modelo para o grandioso Iceworm, ele foi, sem dúvida, um campo de testes crucial
para algumas de suas principais técnicas. Porém, diversas coisas deram
errado no Camp Century, o que fizeram com que o projeto
Iceworm não fosse colocado em prática. A principal delas foi a decisão inicial: fazer um acampamento aquecido no interior na
neve. A temperatura do interior do Camp Century, mesmo que não fosse exorbitante,
era maior do que a do exterior. E isso fez com que o interior
das trincheiras derretesse e alargasse numa velocidade considerável, o que
ameaçava a estrutura de todo o acampamento, não só de deformar em algumas áreas mas de
desabamento e soterrar todo o acampamento. Com isso, as operações no Camp
Century só continuaram até mil novecentos e sessenta e sete, quando a base
foi abandonada e realizada uma desativação mínima. Ao invés deles retirarem todas as instalações
e materiais, os americanos retiraram apenas as instalações superficiais, deixando diversos
lixos para trás, um deles extremamente perigoso. Lembra do reator nuclear? Ele foi um dos que
foi deixado para trás, pois se pensava que, por estar abaixo de milhares de camadas
de neve, ele não seria perigoso. Porém na década de sessenta, a comunidade
científica reconheceu que a Camada de Gelo da Groenlândia é mais sensível às forças
climáticas do que se pensava anteriormente. Isso somado às crises climáticas
presentes no planeta, ameaçam o derretimento dessas camadas de neve que cobrem
o reator, ameaçando expor ele para a natureza. Pesquisas mostram que o reator nuclear pode
emergir até o final desse século, o que ameaçaria tornar a Groenlândia radioativa, devido a forma
como tal reator se comportaria exposto ao ar.







