A MOOCA TEM MEDO | Da velha Antarctica ao Juventus, será que potencial do bairro será desperdiçado?
0O maior complexo Fabril tombado da cidade, o da Antártica, vazio há 30 anos. Um clube centenário recentemente transformado em sociedade anônima de futebol, uma empresa SAF, um quarteirão inteiro, a antiga sede da imprensa oficial do estado, leilo recentemente para maior incorporadora do país. E um boom imobiliário que não causa gritaria, nem a repercussão de outros bairros mais ricos, mas bem menos históricos. E ao contrário de Moema ou Pinheiros, cheio de conjuntos novos do Minha Casa, Minha Vida. O que esperar do futuro imediato da Moca, o bairro que é dono do sotaque mais característico de São Paulo. [Música] A Moca tem a segunda maior renda per capta da zona leste. E o segundo maior IDH só perde pro tatuapé. E como se está verticalizando agora, poderia evitar os erros e não repetir os prédios medonhos do vizinho Jardim Analha Franco. Em tese, a Moca teria o potencial de ser o melhor bairro da região e um dos mais bonitos de São Paulo, até porque esbanja patrimônio histórico e identidade que escassiam nos bairros mais ricos de São Paulo. Moca tem bandeira, brasão e hino. Ao contrário de alguns bairros que não t um único imóvel histórico de fato, mas que lutam por tombamentos de conveniência, a Moca tem dezenas de construções realmente centenárias. Esta Avenida Presidente Wilson era Faria Lima há 120 anos. Todos os armazéns com o ouro da época, o café ficavam por aqui. Seus ricos comerciantes também. Várias das marcas nacionais mais reconhecidas nasceram ou cresceram aqui. Antártica, alpargatas, Açúcar União, óleo e azeites Maria, biscoitos do Chem, Vente Silva, Grosellias Milane, Lorenzete, Arno, Fogões Continental, Tecidos Labor, Brinquedos, Glaslit. O que sobrou desse passado? Poucos paulistanos conhecem a Moca ou vêm para cá com alguma frequência. O bairro não virou destino. Ao contrário, há um certo êxodo. Muitos moquencers precisam trabalhar fora do bairro e fora da região, ou também estudar fora ou vão atrás de entretenimento, de esportes a shows, de teatros, de gastronomia também fora do bairro. Mas a Moca é pertinho do centro. A paróquia de São Januário, ao San Janaro, fica apenas 2,5 K da Praça da Sé. Mas o abandonado Parque Dom Pedro e o esvaziado BRZ, especialmente à noite, nos finais de semana, com aqueles shoppings caixotões e máfias variadas, são feridas, cicatrizes que distanciam a moca do resto de parte da cidade. Dentro das consultorias gratuitas que este canal oferece para melhorar as cidades, vamos por partes para defender o futuro da Moca. Consertar o Parque Dom Pedro e Povo Albrás são fundamentais para aproximar a moca do centro. Ah, e o novo Juventus, que cara vai ter? O clube completou 100 anos em 2024 e já chegou a ter 100.000 sócios nos anos 80. Hoje são menos de 1000. E uma assembleia com menos da metade deles aprovou a transformação do clube em sociedade anônima de futebol com o investimento de 20 milhões de reais na sede e 480 milhões no futebol. Com 20 milhões fica difícil fazer algum milagre. Dizem que a capacidade do estádio vai passar de 5.000 para 15.000 1 torcedores. Mas o diabo também está nos detalhes. Como será esse estádio? Terá um contorno amigável com a vizinhança, movimentando as ruas e dando segurança, mesmo em dias sem jogo? Ou será tão triste hóspito como os arredores do Itaquerão? Será uma fortaleza intransponível, cercada de estacionamentos por todos os lados? Há estádios do mundo inteiro que revitalizam cada esquina. Sabemos que CEOs de grandes empresas, banqueiros, donos de universidades particulares, de hospitais, normalmente não dão a mínima pra arquitetura e pro entorno. Por isso, temos que cobrar e nos inspirar com bons exemplos pelo mundo. Mas já existe uma crise de confiança ao redor dos novos donos. do Juventus. Os moradores da Moca não gostam de fofoca, mas alguns moquêncers já me sussurraram que o clube talvez vá parar na mão de chineses ou de PCC ou de crime organizado. E não é que a empresa que encabeça a SAF, a gestora Reag, foi envolvida nas investigações da Polícia Federal com lavagem de dinheiro do PCC. Sim, foram comprados aí diversos postos de gasolina usando fundos da gestora. É cedo para cravar a responsabilidade dos cabeças da Reag. Vamos esperar as investigações, mas o estrago ao nome do Juventus foi feito. Outra mola fundamental pro salto da Moca é o antigo complexo da Antártica, construída em 1892, quando ainda era cervejaria Bavária e pertencia à família Stupacov. vendida para Antártica em 1904, que só mudou sua sede da água branca para Moca em 1920. Muita espuma jorrou até 1995, quando houve a fusão com a Brama. E há 30 anos, isto aqui tá ocioso. Em 2019, o complexo foi vendido para Prevent Senior. Especula-se que surge um complexo paraa terceira idade, mas nesses 6 anos nada começou. No mundo inteiro, antigas fábricas deram lugar para complexos multiuso espertos, com residenciais, sedes de empresas, universidades, entretenimento e que são lindos, dando vários retornos à cidade, inclusive financeiros. Mas a Privente já demonstrou que manja de arquitetura o que eu entendo de golfe, ou seja, nada. Tem até hospital deles inspirado na estética Dubai, pobres velhinhos doentes. Será que desta vez a Priventa irá atrás de conhecimento para fazer algo bem feito? Eu tentei falar com a assessoria da empresa, mas eles nem me retornaram, mau sinal. E o governo do estado leilo a antiga imprensa oficial, um quarteirão inteiro, mas pensando só no caixa. Como 99% dos governos brasileiros, não houve um questionamento sobre o que seria feito ali. A qualidade do projeto nunca conta como desempate em concorrências públicas. E a Cirela arrematou o prédio e o terreno de 24.000 m² por R 150 milhões deais. Infelizmente, em décadas de atividade, a Cirela nunca demonstrou o menor apreço por arquitetura ou urbanismo, até em bairros muito caros, onde o metro quadrado é uma fortuna. Será que eles vão ser mais cuidadosos desta vez? Porque legado paraa Cirela para se não envolver o que eles deixam na cidade. Olha só este empreendimento imenso da Cirela em Pinheiros. O tera, olha essa calçada. O prédio é recuado e tem até cancela. Você só chega de carro. Imagina se todo o prédio de São Paulo tratasse a calçada assim, desse as costas pra rua e meio que se escondesse como se fosse um condomínio fechado? Até porque há outras centenas de prédios também em Pinheiros que não tem essa cara de fortaleza. Só que ao contrário do que muito moquencer pensa, o bairro não está inchado. Pelo contrário, tem menos moradores hoje do que 1980. É, as famílias encolheram, então mais unidades são necessárias para brigar menos gente. A casa de antigamente tinha oito pessoas, 10 pessoas e hoje você precisa ter quatro apartamentos para também ter 10 moradores. O problema é que quase tudo construído nos últimos 40 anos na Moca tem uma arquitetura grotesca. Ou seja, quem reclama agora parece não ter se preocupado com a arquitetura quando comprou seu imóvel. Os que estão há muito tempo e os recém-chegados são cúmplices de não estar nem aí pra paisagem urbana. Olha esses muros, olha essa esquina. Quem vai ter coragem de andar aqui à noite ou até durante o dia? Mas olha, no mesmo quarteirão tem prédios que não tem murão. Será que isso é inseguro para alguns? Só que ao contrário da Vila Madalena ou da Vila Mariana, tem muito minha casa, minha vida sendo construído aqui. É, os bairros que mais reclamam estão reclamando do luxo. Muita gente na Moca reclama da qualidade dessas dezenas de conjuntos habitacionais em construção. E acho que não é só por classo. Como o bairro vai ficar com construções tão mal feitas? Imagina construir centenas de apartamentos com dinheiro garantido pela Caixa Econômica Federal, com clientes desesperados para ter sua casa própria, mas não conseguir gastar meia hora mais na prancheta para dar uma variada nas cores ou na entrada ou no formato? Será que quem ganha tanto dinheiro público federal com clientela cativa não poderia dar alguma contrapartida pra cidade, pro bairro? Como serão essas ruas? Como serão essas esquenas? Os bairros mais disputados da cidade de Pinheiros a Jardins de Santa Cecília Bela Vista tem um raro mix de vida gastronômica e residencial. De muitos empregos a boa infra. De vida de rua a serviços nos horários mais estendidos. A Moca vai conseguir entrar para esse reduzido clube ou vai continuar sendo um bairro dormitório para muitos? A moca tem um valor inestimável que não dá para ficar registrado em vídeo ou com drone, que é a doçura das pessoas. Aqui ainda existe senso de comunidade. As pessoas se cumprimentam no elevador, se ajudam e adoram o comércio local. Mas é uma pena que São Paulo, até os ditos preservacionistas, mal guardem fotos da avó. A gente não valoriza história e não investe. A Moca foi este grande bairro de imigrantes italianos, espanhóis, quando o Brasil atraía de fato muitos imigrantes lá atrás. Mas que empresa italiana hoje investe na Moca? Até o hospital Matarazo teve que ser salvo por um francês. Então, é difícil pensar na responsabilidade de quem nasceu e cresceu aqui e fez fortuna e que dê algo de volta paraa Moca. Mas de novo, tudo isto aqui se tivesse em Buenos Aires, sim, na falida Argentina, para não falar de Nova York ou na cidade do México, já seria um bairro fantástico. É, e preservado. Esses prédios aqui com o crescimento da moca vão virar pó. E você que gosta de arquitetura e urbanismo e que já se inscreveu aqui no canal, comenta aqui que futuro você imagina paraa Moca, que outras atividades e usos você daria para tantos prédios históricos. Aviso, nem tudo deve virar museu ou centro cultural, até porque o museu da imigração é pouquíssimo visitado. É, os números não mentem. O que que a gente pode fazer e como a gente pode exigir projetos melhores de arquitetura para que esse bairro continue crescendo, mas há que saiba respeitar seu passado e que fique belo ele merece.