A REAL SITUAÇÃO DA CRACOLÂNCIA – ARTHUR DO VAL
0Eu fiz, cara, inúmeros vídeos na Cracolândia, inúmeros, né? Eh, hoje a Cracolândia, então a gente precisa de pessoas que tenham coragem de emplacar essa luta. Você quer ver outra coisa também, cara? Até você falou de São Paulo, eu eu eu fiz, cara, inúmeros vídeos na Cracolândia, inúmeros, né? Eh, hoje a Cracolândia meio que acabou. Você fala, solucionou o problema 100%, ainda não, porque existem várias várias reformas estruturais, tem que se fazer, plano diretor, etc, etc, etc. Mas hoje você passa, por exemplo, na rua dos Gusmões, você passa ali na na na do lado da General Zor, você passa em frente à estação da Luz, você vê que não é mais como era antes, cara. E sem alarde, você viu que foi feito um negócio sem alarde e e meio que em pouco tempo. Uhum. Então dá para fazer, cara. Mas a Cracolândia assim foi meio que espalhada também, né? Aquele local onde ficava aquela quantidade de gente, mas a galera continua assim, o problema, o problema dos usuários nas ruas não foi resolvido isso. Mas a cracolândia em si, o acúmulo de usuários, a concentração, ele era um problema por si só, porque o acúmulo, a concentração de usuários, ela gera outras coisas que a claro, a gente tá num dilema aqui, né? Claro, não é, não falando que é o ideal, mas entre você ter 400, 500 usuários concentrados numa rua ou ou parte desses usuários espalhados e você poder tratá-los de forma pulverizada, é mais é mais estratégico você tratar o problema de forma pulverizada sempre. Uhum. Né? Por exemplo, quando tinha a cracolândia gigantesca e virava o fluxo, é isso que chamava virou o fluxo, irmão. Não tinha, não tinha o que fazer. Você tava lá trabalhando com a sua, eu lembro de um de um caso, o cara tava numa HR, aqueles caminãozinhos, o cara tava trabalhando, mano, virou o fluxo, destruir o camião do cara. Você vai fazer o quê? Não tem o que fazer. Agora você tem quatro, cinco caras ali, pera aí. Você controla muito mais fácil, né? É outra coisa, fica muito mais difícil você usar essas pessoas como peça de propaganda para assistência social barata. Então, se você tem uma ONG que você faz uma fila de gente para tomar tua sopa, a foto fica bonita, aí o Júlio Lancelote vai lá e abraça o [ __ ] e [ __ ] como ele é maravilhoso. Não, quando você pulveriza o atendimento é diferente. Primeiro que é como deve ser feito. Segundo que eh eh você dificulta utilizar essas pessoas para peças eh propagandas dessa de propaganda dessa galera. Então é o que eu tô falando, quando você tem um pouquinho de vontade, você resolve. O crime organizado no Brasil, vou te dizer, cara, é um problema gigantesco que eu não acho que a solução seja tão complexa. Ela é trabalhosa, mas ela não é complexa. É diferente, por exemplo, você fala assim: “O que que é mais difícil resolver? A carga tributária brasileira ou o crime organizado?” É lógico, a carga tributária, a carga tributária é tudo muito complexo. Se eu tirar um centavo aqui, mano, aumentou o teu que aí já, cara, mas aí tem a casa, nossa cara, é tudo tudo muito complexo. O crime organizaron não é tão complexo, cara. Mas aí você acha que acho que a na minha opinião você tá subestimando o problema no sentido de que você falou que a corrupção é o problema, o pior problema para ser resolvido e e é graças à corrupção que a gente tem o crime organizado do jeito que a gente tem. Então teria que resolver que teria que resolver primeiro o crime organizado ou algum mais ou menos é que eu acho que é o seguinte, é como se vamos supor, vamos supor que você tá com 41º de febre, você vai morrer. Você vai morrer, você precisa resolver aquela febre. Ah, mas por que que você tá com febre? Sei lá, porque você tá com uma unha encravada. Tô dando um exemplo. Isso realmente pode acontecer. Sim. Você tem que resolver a unha cravada. É óbvio que sim. Só que se você tá com uma febre de 41º, mano, joga. Você tem que ser jogado imediatamente numa banheira de gelo. Então você resolveru o problema do 41º de febre, não é complexo. Você joga você numa banha de giro, beleza, aí é o encravado, agora nós vamos tratar. Então vai precisar de cirurgia, precisar de antibiótico. Então novamente eu vou pegar da cracolândia e depois falar do crime organizado. Quando eu falo de cracolândia, eu sempre falei isso. Para você resolver de fato cracolândia, você precisa de reformas estruturais. Você precisa reformar o plano diretor, por exemplo. Uhum. O plano diretor ele tem que ser mais permissivo. Enquanto você ficar empurrando pessoas paraa periferia, você vai produzir pessoas que estão fora das melhores áreas da cidade para atendimento de educação, de saúde, de cultura, de segurança, etc. Então, plano diretor, lei de zoneamento, você não vai resolver o centro enquanto você tiver imóvel no centro pronto, o imóvel tá bom, o imóvel tá, só que você não pode usar porque a lei de zoneamento daquele lugar impede que a vocação daquele imóvel seja explorada. Então vou dar um exemplo. Você foi para Barcelona. Barcelona você tem muito imóvel tombado que é utilizado como balada, museu, pizzaria. Tá. Às vezes você tem uma casa que era uma casa de um magnata que [ __ ] ela tá tombada e aquilo lá tem uma vocação para ser, sei lá, um uma casa de shows. Não pode porque os reonamentos não permitem. Então aquela casa fica abandonada. E ó, eu vou dar um absurdo que é fora da um exemplo que é fora da cracolândia. Você lembra da casa da EB, né, que era no Morumbi? Eu não vou saber agora o valor, mas eu acho que na época ela foi estimada em R milhões de reais, algo assim. É um elefante branco. Quem é que vai pagar R$ 40 milhões deais uma casa que foi construída, imagino eu, nos anos 70, 80, uma arquitetura já antiga. Aham. Um lugar onde você não pode construir um prédio, você não pode fazer um serviço ali e se você comprar aquela casa, você vai ter que demolir construir outra casa ali. Então você aquilo aquilo vira numa área nobre da cidade que é o Monumbi, um elefante branco por causa de lei burocrática do zoneamento. Então você tem, você não vai resolver cracolândia enquanto você não resolver zoneamento. Isso é verdade. Então pletor zoneamento. Outra coisa, pulverização da assistência social. Isso é outra coisa que eu sempre falei, você não resolve problema de morador de rua concentrando essas pessoas no centro da cidade. Contrário, você tem que pulverizar. De onde você vem, cara? Vem de Carapicuíba. Você tem que atender o cara em Carapicuíba, porque quem tira ele da assistência é a família, é o professor, é o amigo. E você tira ele de Carapicuíba, trata ele no centro de São Paulo, aí você isolou ele mais ainda. Aham. Né? Isso também não é da minha cabeça. Você vai ler qualquer estudo de qualquer eh lugar do mundo onde se trata de assistência social, o cara fala: “O laço afetivo é fundamental pro cara sair da situação que ele está.” Sem dúvida. Eram cinco. Ah, le esqueci o outro. Esquecendo o quarto, mas o quinto é repressão. O quinto é de fato você fazer a a repressão e falar o seguinte: “Irmão, você cometeu crime, um abraço, cara. Você vai se ferrar, né? E ainda mais no Brasil que você tem sim a figura legal da internação compulsória. Já existe previsão legal, é dentro da lei. A lei permite que você faça interação compulsória, só que você tem uma repressão informal do sistema jurídico hoje que se alguém, se algum médico assinar, né, ó, estou internando barba aqui compulsoramente. O médico responde depois por ter eh cárcere, sei lá, cárcere. É, não, não é, Carlos, mas assim, o o o poder público vai para cima desse médico. Então você precisa de um prefeito ou de um governador com coragem falar o seguinte, ó, eu estou mandando você, médico barba, internar- ele compulsoriamente. A responsabilidade é minha, você vai assinar que você é o médico, mas eu estou mandando você, você vai acatar uma ordem direta do governador. Vai processar, processa a mim. Se você é alguém com coragem para fazer isso, aí você começa a resolver o problema. Sim. Vamos levar agora pro crime organizado. É a mesma coisa, cara. O crime organizado não acho que é um problema pequeno, acho que é um problema grande, mas simples. É, como eu te falei, a mesma lógica que eu faço. Imagina que você tem uma casa cheia de lixo, você precisa tirar o lixo. Não é uma coisa pouco trabalhosa, mas não é uma coisa complexa. Você não precisa de um time de especialista. Não, não, não, cara. Você leva as pessoas ali, limpa aquela casa. É a mesma coisa com crime organizado. Você tem territórios no Brasil que são dominados pelo crime organizado. Você precisa retomar esses territórios. E os profissionais para essa retomada, eles estão prontos. Você vai conversar com as forças policiais, você vai conversar com o exército, você vai conversar com a Polícia Federal. Os caras sabem tudo. Eles, cara, eles têm o mapa de cima da da da do morro do alemão, um dos mais complexos. O cara fala: “Ó, eu sei exatamente essa rua aqui mora não sei quem. Essa rua aqui tem esse problema. Aqui tem uma curva que o cara se esconde aqui, aqui tem um esconderijo aqui. Aqui o os caras sabem tudo, tá? Por que não faz?” Porque o cara fala: “Se eu fizer, eu vou responder depois criminalmente por ter, sei lá, dado um tiro num cara que tava com fuzil na mão, né?” Então, novamente, eh, eu não acho que é um problema de complexidade operacional. Existe alguma, mas ela não é tão complexa quanto outros problemas. Entendi. Aí você falou: “Ah, mas e a corrupção?” Aí de fato, eh, você primeiro resolve a febre, primeiro você retoma esses esses territórios, prende as pessoas do crime urbanizado e aí você trata de corrupção. Vou dar um exemplo para você de al Salvador, que a gente sempre usa. O cara fez uma uma uma coisa radical lá. Ele falou o seguinte: “Irmão, se você tatuou o nome de uma facção, você vai preso”. Ah, depois eu vou ver o que você fez. Primeiro eu vou te prender. Depois vou ver o que você fez. Você morreu na tua lápide, tal símbolo de uma facção. Eu vou mandar um cara com martelo quebrar a tua lápide. Nós não vamos ostentar símbolos de facções aqui. Depois a gente vê o que faz. Aí teve até um vídeo do Noma de Raí, tá ligado? Eu vi a tua teu re. É, o cara foi lá, ele falou: “Velho, olha isso aqui. O cara foi num lugar que o cara fazia lanche, mano. Quanto tempo você tá aqui? Você 30 anos.” Ele e agora que eu tô trabalhando para caramba, velho. Agora não tem crime, agora os turistas conseguem vir. falou: “Cara, você jamais conseguiria vir aqui, ainda mais com essa câmera na mão.” Isso. Olha aí, você tá aí, velho. Tô tô vendendo lanche aqui para você. Tava onde queimaram o ônibus, né? Então, exatamente, né? Que que inclusive é isso é uma coisa e para você ver como como isso faz parte de peça de propaganda. Nos anos 90 foi gravada a série dos sopranos. Um dos sonhos que o Tony Soprano tem é justamente isso. Ele tá num ônibus e as pessoas falam assim: “Tá com fogo no ônibus e quem sair vai ser metralhado”. Eles fizeram exatamente isso em El Salvador. É uma peça de propaganda, cara. Exatamente como nos sopranos. Então assim, cara, os caras eles eles reproduziram na vida real uma cena de uma série. É eh tá muito nítido que isso é uma demonstração. Então vamos para cima, vamos acabar com isso.