Afinal, por que conhecemos tão pouco dos oceanos?
0[Música] Os cientistas conhecem muito mais sobre a Lua e Marte do que sobre os oceanos, que constituem a maior fronteira desconhecida do planeta. [Música] Enquanto centenas de missões espaciais vasculham o espaço extraterrestre, chegando aos confins do sistema solar, apenas 26% do fundo dos mares foram mapeados, a maior parte em áreas costeiras. Esse percentual é pouco representativo, levando-se em conta que os oceanos cobrem 71% da superfície do planeta. Para se ter uma ideia, a área não mapeada do fundo dos mares equivale a quase o dobro da extensão de todos os continentes somados. Ainda ao contrário da lua, que já foi totalmente mapeada, menos de 1% do solo oceânico já foi explorado com veículos remotamente operados, como já ocorreu com o solo lunar. A tecnologia para operações no fundo do mar ainda precisa avançar muito para permitir a exploração mais detalhada. Por exemplo, não existem trajes de Aquanauta que permitam mergulhar abaixo de 700 m e os que existem até essa profundidade travam os movimentos como se fossem uma armadura medieval. Some-se a isso o fato de que a luz solar penetra somente até 200 m. Após essa profundidade, há uma escuridão total, onde vivem espécies bem pouco conhecidas. [Música] A profundidade média dos oceanos é de 3800 m, mas existem pontos muito mais profundos. Um deles visitado por um cineasta. [Música] Entre os pontos mais profundos nos oceanos, destacam-se a fossa de Porto Rico, no Atlântico, com 8.376 m, a fossa de Java no Índico com 7.290 m e a recordista, a fossa das Marianas, no Pacífico, o ponto mais profundo dos oceanos, com 10.924 m. Em 2012, o cineasta James Cameron, diretor do filme Titanic, realizou uma experiência única a bordo do submersível Dipa Challenger. Ele desceu a 10.908 m de profundidade nas fossas marianas. A descida durou cerca de 2 horas e Cameron descreveu o local como uma paisagem lunar. O próprio Cameron ajudou a desenhar o Deep Sea Challenger projetado para suportar a violenta pressão da água naquela profundidade. A expedição resultou na produção de um documentário em parceria com a National Geographica. [Música] Os oceanos constituem os maiores reservatórios de biodiversidade do planeta. E mais, toda a vida acima da superfície depende dos mares. E a palavra chave para descrever esse sistema é fitoplâncton. Um conjunto de organismos microscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando nas águas. Essa é a definição clássica para a fitoplâncton, os microseres aquáticos responsáveis por cerca de 50% do oxigênio disponível na Terra. Comparando, a Amazônia produz apenas 9% do oxigênio que garante a vida no planeta. Além dos oceanos, esses organismos também povoam os rios, lagos e córregos e são constituídos por uma enorme diversidade que inclui, entre outros, as algas, bactérias e até os sargaços de dimensões maiores. Além de sua importância como fonte de oxigênio, o fitoplâncton encontra-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos, servindo de alimento para uma infinidade de espécies dos mares e rios. Na tentativa de recuperar o tempo perdido e acelerar o mapeamento dos oceanos, a ONU lançou o projeto CBED 2030. Com ajuda de institutos de pesquisa e do setor privado, o projeto tem a missão de mapear todo o fundo dos mares até o final desta década. [Música] O custo estimado para a realização do CBED 2030 é de 5 bilhões de dólares, algo em torno de R bilhões de reais. Muito pouco comparando-se, por exemplo, com 7 bilhões 800 milhões de dólares que a NASA vai gastar com uma das próximas missões dela à lua. A meta principal é contribuir para a sustentabilidade dos oceanos, tendo em vista o papel vital dos mares para a humanidade. A fim de facilitar a execução, o projeto dividiu os oceanos em áreas prioritárias de estudo, que são o Oceano Pacífico, o Ártico e o Pacífico Norte, o Atlântico e o Índico e os mares ao redor da região sul do planeta. Entre os recursos utilizados incluem-se navios de pesquisa de instituições científicas e satélites dos Estados Unidos e países da Europa Ocidental. [Música] O primeiro acordo alcançado entre os países participantes da conferência da ONU para os Oceanos em Nice trata da proteção dos chamados altos mares. Vamos ver do que se trata. Oficialmente, o tratado é batizado como acordo de proteção à biodiversidade, além da jurisdição nacional ou tratado dos altos mares. Esta é a primeira vez que um grupo de dezenas de países se compromete a zelar pela preservação da biodiversidade marinha em águas internacionais. Essas águas situadas além da jurisdição de qualquer país, somam quase 2/3 dos oceanos e quase metade da superfície do planeta. Até agora não havia uma única base legal de alcance internacional destinada à proteção dos ecossistemas dos altos mares. Embora situados em áreas distantes, os altos mares enfrentam duas ameaças potenciais: a pesca excessiva e a mineração em águas profundas. Ambientalistas alertam que sem uma devida proteção legal, os ecossistemas situados em águas internacionais podem sofrer danos irreversíveis. O tratado é visto como essencial para alcançar a meta global denominada 30x 30, que visa proteger pelo menos 30% dos oceanos até 2030. [Música]