Algo Muito Estranho Está Acontecendo na China
0Algo estranho está acontecendo com a China. Enquanto o país segue crescendo em números, com novos arranhaacéus, avenidas gigantes e trens de alta velocidade, milhões de apartamentos permanecem vazios. Cidades inteiras surgiram do nada e continuam no nada. Por trás desse cenário de concreto, um dado grita: “O cidadão chinês poupa mais de 40% da renda. Ele não gasta, ele não consome. E quando um país com 1,4 bilhão de habitantes não consome, o mundo inteiro sente. Hoje apenas 38% da economia chinesa vem do consumo interno. Nos Estados Unidos são 68%. No Brasil o povo consome, mas a base do cartão de crédito e de dívidas crescentes, a poupança média mal passa de 5%. E como o resto do planeta está reagindo? Donald Trump, que voltou com força total ao cenário global, já anunciou novas tarifas contra os produtos chineses e ele não está sozinho. A Europa e a Índia também estão levantando barreiras. O recado é claro. Ou vocês consomem o que produzem, ou ninguém mais vai fazer isso por vocês. Neste vídeo, você vai descobrir como a China construiu seu próprio abismo e porque o modelo que um dia desafiou o Ocidente está agora à beira do colapso. [Música] A história recente da China começa com uma estatística que choca qualquer ocidental habituado a gastar o salário antes mesmo de recebê-lo. O chinês médio poupa mais de 40% da renda. Nos Estados Unidos, essa fatia raramente passa de 10%. No Brasil a realidade é ainda mais preocupante. A taxa média de poupança das famílias não chega a 5%. em um cenário marcado por endividamento crônico e cultura de consumo parcelado. A diferença não é mero traço cultural. Ela nasce de três pilares entrelaçados: escassez histórica, fragilidade do bem-estar social e falta de veículos de investimento acessíveis que moldaram a mentalidade financeira de 1,4 bilhão de pessoas. Basta voltar seis décadas para encontrar a pior fome já registrada. Entre 1959 e 1961, mais de 30 milhões de chineses morreram. E esse não foi um caso isolado. Nos últimos 400 anos, a China enfrentou ao menos 12 grandes fomes tão devastadoras que foram oficialmente nomeadas e registradas na história, uma a cada 40 anos em média. Combine-se isso ao fato de a China dispor de terras agrícolas limitadas e vulneráveis a enchentes ou secas. E o resultado é um trauma geracional. Guardar comida, dinheiro e recursos tornou-se mecanismo de sobrevivência. Quando escassez é a norma, consumir é arriscar o futuro. Durante 36 anos, Pequin aplicou a política do filho único. O resultado agora é um modelo 4×1, o único descendente sustentando pais e avós. Na ausência de redes de cuidados institucionais, casas de repouso, planos de saúde abrangentes, assistência domiciliar, famílias economizam compulsoriamente para bancar doenças e velice. Custo médio de uma hospitalização $.200, equivale a 17% da renda anual média, cerca de 7.000. Metade da população ganha menos que isso. Poupança na China não é escolha, é a pólice de seguro. Nos Estados Unidos, o trabalhador aplica automaticamente parte do salário em contas que compram cotas do SP500, um índice com as 500 maiores empresas do país. Isso cria o chamado efeito riqueza. A medida que os investimentos crescem, o cidadão se sente mais próspero, consome mais e retroalimenta a economia. No Brasil, menos de 3% da população investe diretamente na bolsa de valores. A poupança ainda é o principal destino do dinheiro guardado, mesmo com rendimento inferior à inflação em vários períodos. Mas na China, os principais motores de lucro, bancos, gigantes energéticas, construtoras, empresas de defesa, pertencem ao estado. As ações listadas em Shangai e Shengen negociam em média no mesmo patamar de 20 anos atrás. Sem retorno confiável, o cidadão comum hesita em arriscar o suado e o ã fora da conta poupança? Se as famílias não gastam, de onde vem o crescimento de 5% proclamado por Xinping? Da construção de infraestrutura em escala nunca vista. Nos últimos 25 anos, o país mais que triplicou a malha rodoviária, ergueu linhas férreas equivalentes às redes combinadas da União Pacific, BNSF e CSX, e despejou o concreto suficiente para replicar o estoque habitacional dos Estados Unidos inteiro com 50 milhões de unidades extra. Cada ponte, túnel ou complexo residencial, ocupado ou não, soma-se ao PIB. Governadores provinciais pressionados a não decepcionar o presidente seguiram a cartilha: construir, contabilizar, repetir. Só que há um limite físico. Estradas precisam de carros, prédios precisam de moradores. Assim nasceram as infames cidades fantasmas. Bairros inteiros de arranhaacéus vazios, iluminados apenas pelo letreiro do corretor. Por trás do espetáculo de gruas e quindastes esconde-se um dilema. Produção sem consumo gera estoque, não prosperidade. Nos últimos anos, os maiores grupos imobiliários Evergrant, Country Garden e companhia balançaram ou quebraram, deixaram esqueletos de concreto à espera de compradores que talvez jamais surjam. Simultaneamente, Estados Unidos, Índia e União Europeia levantam tarifas ou impõe cotas antidumping contra o excesso de aço, painéis solares e carros elétricos chineses. Se não pode exportar nem construir no ritmo de antes, Pequense vê forçada a encarar o calcanhar de Aquiles, o consumo doméstico anêmico. Mas mudar hábitos de poupança não ocorre por decreto. É preciso reformar previdência, saúde, liberar setores para investimento privado e garantir retorno ao poupador. Medidas que colidem com o controle centralizado do Partido Comunista. Até que alguns desses pilares seda, o país seguirá carregando o motor num regime que consome pouco e produz demais uma engrenagem que range sob seu próprio peso. Durante décadas, o crescimento chinês foi celebrado como milagre. Cifras astronômicas de expansão do PIB impressionavam o mundo. Mas o que muita gente não percebia é que boa parte dessa prosperidade se apoiava em atividades que apenas simulavam o crescimento real, como construir sem necessidade, literalmente. Tudo começa com uma promessa. A China crescerá 5% este ano. Quando essa declaração vem do próprio XinPing, ela se torna uma diretriz inquestionável. Não importa se o consumo das famílias está estagnado ou se o mundo não quer mais importar tanto da China. Alguém, em algum nível da hierarquia terá que fazer os números baterem. E aí que entra a tática mais fácil e imediata. Construir. Se não dá para fazer dinheiro girar com consumo real, face com cimento, aço e estatísticas, complexos residenciais, avenidas monumentais, linhas férreas duplicadas, portos, aeroportos, usinas. Tudo isso entra na conta do PIB. E o mais curioso, não importa se ninguém vai morar ali ou se ninguém vai usar aquela estrada. Basta construir para que conte. Essa engrenagem tem uma regra básica. Você colhe aquilo que recompensa. E na China, as províncias são recompensadas por crescimento, qualquer crescimento. Então, vale até construir uma ponte, demolir e construir de novo. Pode parecer absurdo, mas como bem observou o Lelan Miller da China Beiginar os números. E o que é a China Bade Book? Trata-se da maior operação privada de coleta de dados sobre a economia chinesa, totalmente independente do governo. Seu trabalho muitas vezes desmente os números oficiais divulgados por Pequim, mostrando uma realidade mais sombria e fundamentada em entrevistas e dados internos do país. Enquanto o governo diz que o PIB cresceu 6%, a Bidook aponta para um número mais modesto, baseado no que realmente se move: vendas, empregos, crédito, investimento produtivo. As consequências dessa política são visíveis e desoladoras. O país está repleto de cidades fantasmas, bairros inteiros construídos com apartamentos, ruas largas, shopping centers, mas nenhum habitante. Algumas dessas cidades até chegaram a atrair cobertura da mídia internacional com tom sensacionalista, mas grande parte delas é real. Os apartamentos seguem vazios, os postes seguem acesos, os corretores esperançosos continuam dizendo quando as pessoas vierem, só que elas não vêm. Isso se tornou um problema econômico de verdade. Milhões de unidades habitacionais seguem sem comprador. Parte foi adquirida por investidores que agora se vem com ativos que não se valorizam. Parte está simplesmente desocupada. Parte nunca será terminada. Esse castelo de cartas começou a ruir nos últimos anos. As maiores construtoras do país entraram em colapso. Evergrand, símbolo do boom imobiliário chinês, acumulou dívidas superiores a 300 bilhões de dólares, valor superior ao PIB de muitos países. E por quê? Porque a lógica era insustentável. Construir para crescer, não para habitar, comprar terrenos, erguer torres, financiar com crédito estatal e repetir. Mas chegou uma hora em que não havia mais compradores, nem confiança, nem liquidez. Milhares de chineses que haviam pago antecipadamente por seus apartamentos jamais receberam as chaves. A inadimplência explodiu, a confiança no setor evaporou e com ela um dos motores centrais do PIB chinês também começou a falhar. Hoje, boa parte das unidades habitacionais construídas nos últimos 20 anos continua vazia ou parcialmente ocupada. Segundo estimativas, há mais de 50 milhões de apartamentos desocupados. Isso representa um estoque gigantesco de capital imobilizado e inativo. E não são apenas apartamentos, são ferrovias ligando pontos sem demanda, aeroportos subutilizados, parques industriais sem produção. É como se a China tivesse construído um segundo país dentro de si mesmo, mas sem população. Um mundo paralelo de concreto e aço, sem propósito, além de inflar planilhas. E pior, esse modelo não pode continuar porque não há mais espaço para construir no mesmo volume. Os materiais encareceram, a confiança evaporou e o mundo já não está mais tão disposto a comprar o excesso de produção da China. A essa altura, a China já enfrenta um beco sem saída. Não pode mais construir como antes, não consegue mais exportar no mesmo ritmo. A única solução plausível seria estimular o consumo interno. Mas aqui está o verdadeiro nó da economia chinesa, um nó que o Partido Comunista não quer e talvez não possa desatar. Para sustentar um crescimento estável e duradouro, é essencial que as pessoas consumam. Nos Estados Unidos, o consumo representa 68% do PIB. Na Europa, cerca de 52%, no Japão, 56%. No Brasil, esse número gira em torno de 62%. Já na China, apenas 38%. Isso significa que a economia chinesa depende demais do investimento estatal e das exportações. Dois pilares que estão se esgotando. O mercado interno, por outro lado, continua anêmico. Mas por que os chineses não gastam mais? A resposta está na combinação de fatores que exploramos antes. Medo da instabilidade, ausência de proteção social e falta de instrumentos confiáveis para investir. Isso forma um ciclo vicioso. As pessoas poupam porque não confiam no futuro e o futuro se torna incerto porque as pessoas não gastam. Há uma diferença brutal entre a China e os países ocidentais em relação ao conceito de acumular patrimônio. Nos Estados Unidos, por exemplo, a ascensão da classe média está fortemente associada à capacidade de investir em ações, fundos e imóveis. O americano médio compra cerca de 500 por mês em ativos financeiros, muitas vezes sem nem perceber, via fundos de pensão ou planos automáticos de investimento. Na China, esse canal está quase fechado. As maiores e mais lucrativas empresas do país são estatais: bancos, petroleiras, companhias de defesa, construtoras. E os cidadãos comuns não têm acesso significativo a esses ativos. O mercado acionário chinês, diferentemente do americano, está estagnado há duas décadas. Ou seja, o chinês comum não consegue fazer seu dinheiro trabalhar por ele, como ocorre no ocidente. Ele não pode se dar ao luxo de gastar hoje contando com os rendimentos do amanhã. E por que isso não muda? Porque o modelo econômico chinês é construído para servir ao Estado e não às famílias. Em outras palavras, o Partido Comunista controla os meios de produção e os maiores fluxos de capital. As melhores empresas da China existem para executar estratégias estatais, seja infraestrutura, tecnologia ou defesa. Seus lucros não são revertidos à população, são reinvestidos conforme os planos do governo. É o oposto do que acontece em países capitalistas, onde lucros corporativos se convertem em dividendos, valorização de ações e aposentadorias reforçadas. Para mudar esse modelo, a China precisaria transferir ativos do setor público para o privado, reduzir o controle do estado sobre as empresas, valorizar a moeda para aumentar o poder de compra interno, expandir radicalmente os programas de seguridade social. Mas todas essas medidas são incompatíveis com a filosofia de controle absoluto do partido. Isso cria um impasse estrutural. O estado precisa que as pessoas gastem mais, mas não quer abrir mão do controle que impediria isso de acontecer. Enquanto isso, o resto do mundo está começando a cobrar a conta. Durante anos, países e empresas aceitaram as assimetrias do comércio com a China. A promessa era clara. Com o tempo, os chineses também passarão a consumir nossos produtos. Mas isso nunca aconteceu. A China cresceu exportando para o mundo, mas comprou pouco em troca. E agora, com fábricas superdimensionadas, preços desleais e políticas protecionistas, outros países começam a se defender. Estados Unidos, Europa e Índia impõe tarifas sobre aço, carros elétricos, painéis solares e eletrônicos. As regras do jogo estão mudando e a China, outrora celebrada como a fábrica do mundo, agora é vista com desconfiança, não por sua produção, mas por sua rigidez. O ponto de tensão está bem definido. A China precisa fazer seu consumo interno crescer, custe o que custar. Mesmo o aumento de 10 pontos percentuais de 38 para 48% já seria suficiente para equilibrar a balança comercial do país. Mas isso exige reformas profundas e o partido parece não disposto a aceitar essa troca. Por enquanto, o mundo observa, a pressão internacional aumenta, o crescimento real desacelera e o dragão chinês, que um dia parecia imparável, começa a mostrar rachaduras em sua armadura de concreto. A China passou 40 anos crescendo como ninguém, mas agora ela enfrenta um dilema que nenhuma ponte, estrada ou arranhacel pode resolver. O futuro não será decidido por quanto se constrói, mas por quanto se confia. E por enquanto o povo ainda prefere guardar. E enquanto os chineses guardam, as empresas americanas começam a sair. A Apple está entre as primeiras a romper essa dependência e isso pode mudar tudo. Clique no próximo vídeo e entenda porque a Apple está se libertando da China e como essa guerra econômica já começou. [Música]