As Paranoias, Distopias e Alucinações Geniais de Philip K. Dick | Futurices
0[Música] e se eu te dissesse que o mundo ao seu redor pode ser uma grande ilusão que talvez você não seja quem pensa ser que as suas memórias podem ter sido implantadas e que a sua realidade pode ser reescrita a qualquer momento isso parece coisa de ficção científica e é mais pro escritor Philip K Dick essas dúvidas eram constantes e reais e o mais curioso é que o K Dick não só criou algumas das ficções mais influentes do século XX como também viveu dentro de um thriller psicológico que ele mesmo poderia ter escrito e é pensando nisso que hoje a gente vai mergulhar na mente genial e turbulenta de um dos maiores escritores de ficção científica um cara que influenciou tudo de Blade Runner ao Vingador do Futuro de Minority Report ao Homem Duplo explorando as suas visões e o impacto gigantesco que ele teve na cultura pop e na forma como a gente enxerga o mundo então se prepara aí para duvidar de tudo porque no universo do tio Felipe Capau a única certeza que a gente tem é que nada é certo [Música] e aí pessoas tudo bem com vocês meu nome é Bela Eler esse é o Futuristas e se você é novo por aqui já deixa o like e a sua inscrição para mais conteúdo sobre ficção científica futurologia ou tecnologia deixa o like se você já foi inscrito também né que ajuda muito por gentileza obrigado e hoje é dia de falar de grandes autores do Sci-Fi já falamos aqui sobre David Cronenberg e sobre John Carpenter vou deixar o card da playlist bem aqui para vocês e o link na descrição mas dessa vez é dia de falar de uma das mentes mais influentes e fumegantes do gênero que é o nosso querido Felipe Capau e olha desde o começo a vida desse cara já parecia saída de um dos próprios livros dele philip Kid Dick nasceu prematuro em 1928 junto com a irmã gêmea Jane porém infelizmente só ele sobreviveu a família com nível avançado de falta de noção ou de sensibilidade vai saber enterrou a Jane em um túmulo já preparado pros dois com o nome dele já gravado ali na lápide só esperando o dia dele chegar olha que maluquí desde pequeno o Dick já dava sinais de que a mente dele operava em outra frequência ele sofria de ansiedade evitava comer em público e tinha visões inexplicáveis o que fez com que ele encontrasse refúgio na ficção científica adolescente na Califórnia dos anos 40 o autor mergulhou de cabeça nas revistas Pulp devorando essas histórias de sci-fi exageradas que lotavam as bancas já na vida adulta ele tentou seguir o manual da normalidade entrou na Universidade de Berkeley para estudar filosofia mas largou daí ele resolveu trabalhar em uma loja de discos casou descasou casou de novo mas apesar da escrita ser o lugar onde ele finalmente se encontrou o reconhecimento demorou para bater na porta também o Dick queria ser um autor literário respeitado daqueles que escrevem romances sério sobre a condição humana e tal e de certo modo ele era exatamente isso só que o mundo editorial não concordava os primeiros romances não sci-fi dele foram rejeitados e foi justamente nas revistas PP de ficção científica que ele encontrou espaço para publicar só que no caso dele essa segunda opção acabou virando o lugar ideal para fazer justamente o que ele queria fazer que era questionar a realidade a identidade e a existência com toda a liberdade criativa possível a primeira história que o Dick escreveu foi Rog em 1951 um conto curtinho e bizarro sobre um cachorro que acredita que lixeiros estão roubando a comida da família dele e bom na visão de um doguinho faz todo sentido né e o mais interessante aqui é que mesmo com uma premissa absurda o Dick já explorava desde o início a ideia de que a realidade pode mudar de acordo com o observador e que o que parece loucura para uns pode ser verdade para outros um tema que ele inclusive nunca mais ia largar pouco depois em 1956 ele publica o conto de Minority Report onde o controle do futuro vira o novo campo de batalha a história se passa em um mundo onde a polícia prende pessoas antes que elas cometam crimes com base em previsões feitas por três mutantes videntes os chamados precorgs mas quando uma dessas previsões entra em conflito com outras o protagonista se vê numa crise até porque será que esse sistema infalível tem brechas e será que o futuro é mesmo tão previsível assim ou o livre arbítrio ainda existe anos mais tarde essa ideia ganharia as telas e uma adaptação do Spielberg com Tom Cruz no protagonismo transformando o conto em uma distopia futurista cheia de ação e vigilância digital mas ainda mantendo a visão inquietante do Dick de que o livre arbítrio pode ser uma ilusão bastante frágil nos anos seguintes movida a muita cafeína anfetaminas e também infelizmente muita ansiedade o Dick entrou num ritmo de escrita quase alucinógeno chegava a escrever até dois romances por ano o que é bastante para um escritor independente né porém mais do que quantidade o que impressiona é a densidade filosófica do que ele produziu nesse período um dos marcos desse período é o Homem do Castelo Alto de 1962 a história se passa em um mundo alternativo onde o eixo venceu a Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos estão divididos entre o Japão imperial e a Alemanha nazista mas o mais interessante não é só esse cenário distópico e sim o fato de que dentro da história existe um livro proibido que sugere que talvez a realidade correta seja justamente aquela em que a gente vive que a gente conhece onde os aliados venceram ou seja é uma realidade alternativa dentro de outra e o Dick usa essa estrutura para mostrar como quem detém o poder pode moldar apagar ou reescrever a verdade então aqui ele escancara duas das suas maiores obsessões a instabilidade do real e o poder da narrativa como ferramenta de controle levantando aquela dúvida incômoda de que talvez a realidade em que a gente vive também seja só uma construção coletiva que ninguém mais questiona vale dizer também que o Homem do Castelo Alto foi adaptada para uma série de TV pela Amazon Prime Vídeo lançada em 2015 expandindo ainda mais essas camadas de realidades sobrepostas poucos anos depois em 1966 o Dick publica o conto Podemos recordar para você por um preço razoável onde um homem comum chamado Douglas Quade resolve implantar memórias falsas de uma aventura em Marte mas descobre que talvez essas memórias já estivessem lá e que ele já tenha sido parte de uma conspiração apagada da sua mente ou talvez essa nova lembrança também seja falsa né o conto é super curtinho direto e já apresenta com força total aquela obsessão típica do autor né a dúvida sobre o que é real e o que é só uma narrativa confortável para manter a sanidade décadas depois a história inspiraria o filme O Vingador do Futuro com T Schnegger que transforma essa premissa em uma aventura Cyberpunk cheia de ação e mutantes mas sem abrir mão do dilema central sobre a possibilidade de tudo aquilo ser só uma memória fabricada na cabeça desse cara eu adoro esse filme e é claro que não dá para deixar de falar também do seu clássico mais lembrado né que é Android sonha com ovelhas elétricas de 1968 que mais tarde inspiraria o filme Blade Runner dirigido pelo Ridley Scott em 82 a história se passa em um mundo devastado por uma guerra nuclear onde quase todos os animais foram extintos e a maior parte da população foi incentivada a migrar para colônias espaciais os que permaneceram na Terra vivem em meio à decadência cercada por androides tão sofisticados que já nem dá para saber quem é humano e quem é só imitação o protagonista é o Rick Deckard um caçador de recompensas encarregado de aposentar entre aspas esses androides né ou seja eliminar eles da face da Terra mas à medida em que ele convive com eles a dúvida vai crescendo sobre o que realmente torna a gente humano será que é a empatia a memória a consciência ou só o fato de ter nascido em um corpo biológico o romance coloca tudo isso em cheque e propõe que talvez a tal humanidade seja só uma ideia bastante subjetiva e instável construída a partir de critérios que a gente escolhe acreditar e no fundo eu acho que o Dick não tava muito interessado em dar nenhuma resposta pronta sobre isso na época do lançamento o livro até teve uma boa repercussão no meio da ficção científica mas não foi assim o fenômeno fora da bolha foi só com o lançamento de Blade Runner que a história ganhou um alcance mundial virando um dos romances mais influentes do sci-fi moderno e o mais curioso é que o Dick chegou a ver cenas inacabadas do filme pouco antes de morrer e ao contrário do que muita gente acredita ele ficou sim empolgado com o que viu em uma carta escrita pro produtor Jeff Walker ele disse que o filme não era só um entretenimento mas entre aspas uma experiência profundamente perturbadora e emocionalmente poderosa ele completou também dizendo que ficou impressionado com a qualidade do trabalho especialmente com a realização visual porque isso combinava com que estava na mente dele melhor do que qualquer coisa que ele já tenha visto outro clássico dessa fase ultra produtiva do Dick é Ubic de 1969 que talvez seja a sua obra mais viajada e ao mesmo tempo uma das mais emocionantes também a trama acompanha um grupo de pessoas com poderes psíquicos que trabalham em uma empresa de segurança mental durante uma missão eles sofrem um atentado e a realidade começa a se deteriorar ao redor deles objetos reem no tempo pessoas desaparecem e a própria percepção de vida e morte se embaralha né uma loucura o tal do Ubik é uma substância misteriosa que aparece em anúncios absurdos e parece ser a única coisa que mantém a sanidade ou existência dos personagens no fundo eu acho que Ubic é um tratado sobre o medo da morte o colapso da identidade e a tentativa desesperada de encontrar algum ponto fixo em um mundo que vive desmoronando e talvez tudo isso reflita justamente o estado mental do próprio Dick que naquela altura já estava mergulhado em paranoias crises existenciais e uma sensação constante de que a realidade tanto interna quanto externa estava sempre à beira do colapso só que esse mergulho constante identidades fragmentadas e realidades frágeis começou a cobrar um preço também a essa altura o Dick já tava paranoico e não só na ficção ele acreditava tá sendo vigiado pelo FBI pela CIA por entidades superiores e às vezes por ele mesmo inclusive do futuro e em 1971 aconteceu um dos eventos mais misteriosos da vida dele porque o cofre da casa dele foi explodido e ninguém sabe até hoje se foi um assalto um acerto de contas com traficantes né já que ele tava envolvido com drogas pesadas ou só coisa da cabeça dele também o próprio Dick criou inúmeras teorias sobre o que teria acontecido e nenhuma delas era simples inclusive esse evento inspirou vários dos seus escritos mais intensos entre eles a Sken Darkley de 1977 lançado no Brasil como o homem duplo e que também ganhou adaptação pra tela mais tarde nele a gente acompanha um policial disfarçado investigando o tráfico de uma droga chamada substância D mas o plot twist da coisa é que ele mesmo tá viciado nesse negócio e acaba sendo designado a espionar bom ele mesmo o livro é um estudo sobre a dissociação da identidade o colapso da percepção e o impacto do vício baseado nas experiências reais do próprio autorfetaminas ao mesmo tempo ele faz uma crítica pesada ao sistema de vigilância e a forma como o Estado trata indivíduos como peças descartáveis num mundo onde ninguém mais parece saber quem tá no controle eu acho que é uma das obras mais dolorosas e mais humanas também do que o Dick escrita em uma fase que ele tava provavelmente afundado nas próprias alucinações e se o homem duplo já era confuso antes disso em 1974 a coisa piora ou se eleva dependendo do ponto de vista porque nesse ano ele vive um outro episódio bizarro que foi o do feixe de luz rosa segundo ele quando ele pediu uma entrega de remédio em casa ele viu colar com um símbolo cristão no pescoço da entregadora e desse colar saiu um raio de luz que atingiu ele diretamente a partir daí ele passou a ter visões constantes de uma realidade alternativa onde o império romano nunca tinha caído e a gente estava sendo enganado por uma ilusão arquitetada por uma entidade maligna ao mesmo tempo ele acreditava estar em contato com uma inteligência cósmica benevolente o Vales ou Vest Active Living Intelligence System que tava tentando alertar ele dessa farça toda o resultado disso é o Romance Vales de 1981 uma autofixção delirante em que o protagonista o House Lover Fat cujo nome é literalmente a tradução de Philip Dick do grego e do alemão tenta compreender essas revelações divinas recebidas do cosmos é um livro quase inclassificável que fica ali entre uma ficção científica um misticismo gnóstico e um diário terapêutico ele acabou se tornando o primeiro volume de uma trilogia temática junto com The Divine Invasion e The Transmigration of Timothy Archer que exploram essas mesmas questões espirituais mas sem necessariamente seguir os mesmos personagens ou seja se os livros anteriores embaralhavam a realidade aqui o leitor é convidado a mergulhar direto na espiral de Noia ou iluminação do autor e talvez seja justamente esse o ponto talvez essa linha tenha ficado tênue demais e o Phelipe Kick já não visse mais diferença entre o que ele vivia e o que ele escrevia nos últimos anos apesar de doente ele viu os seus livros começarem a ganhar o reconhecimento que mereciam e foi nesse momento pouco antes da estreia de Blade Runner que ele faleceu em 1982 muito jovem aos 53 anos sendo enterrado ao lado da irmã gêmea e tendo escrito um total de 44 romances e cerca de 121 contos e o legado do K Dick tá para todo lado né nas adaptações do cinema e na TV nos quadrinhos nas discussões sobre a realidade virtual memória sintética governos vigilantes e o mais assustador é que boa parte das paranóias dele viraram temas reais do nosso tempo porque se antes parecia loucura dizer que a sua realidade poderia ser manipulada por forças invisíveis hoje a gente pode chamar isso de algoritmo né no fim das contas talvez o que o K Dick fazia não era prever o futuro mas observar o presente com uma lente tão sensível que talvez ele enxergasse ali rachaduras que pouca gente via enquanto o mundo ao redor fingia a estabilidade ele questionava tudo o governo a tecnologia a identidade a própria realidade e mesmo que sim muitas das ideias dele parecessem exageradas tem algo ali que bizarramente ainda ressoa bastante forte né porque se você pensar bem hoje a gente também vive já cercado de versões fragmentadas da realidade a diferença é que elas estão no nosso feed no nosso filtro no nosso algoritmo que molda o que a gente vê o que a gente sente até o que a gente acredita e aí é que entra a importância de revisitar autores como K Dick não para alimentar teorias da conspiração mas para fiar o nosso olhar crítico mesmo existem vários outros livros do autor que eu poderia ter citado aqui mas eu quis trazer para vocês os que eu acho mais marcantes para exemplificar como o K Dick através da sua escrita cutuca as nossas certezas embaralha o que a gente toma como verdade e força a gente a encarar a ideia incômoda de que a realidade pode ser só uma versão entre muitas talvez programada talvez falha e talvez nem real e é claro que eu preciso deixar aqui o lembrete importante né porque por trás de toda essa genialidade o Phelipe Keid era um homem obviamente com uma saúde mental fragilizada que enfrentava crises profundas e aparentemente sofrer bastante ele transformou o sofrimento em literatura mas o custo foi alto né e é claro que a gente não precisa chegar nesse ponto para buscar ajuda para desacelerar e cuidar da cabeça né façam terapia saúde mental não é detalhe é uma base né especialmente em um mundo que muitas vezes parece ter saído de um livro do Philip Kick e se você ficou curioso para conhecer mais histórias do K Dick mas não tá aim encarar um livro agora vale a pena dar uma olhada na série Philip K Dick Electric Dreams ela foi lançada em 2017 e é uma antologia inspirada nos contos dele com episódios soltos tipo um Black Mirror com um toque mais poético e existencial tem seus altos e baixos como toda antologia mas eu acho que é uma boa porta de entrada pro universo do K Dick ou um complemento curioso para quem já conhece eu adoro essa série tá eu já recomendei várias vezes por aqui se você gostou desse vídeo compartilha com alguém que vive questionando tudo ou alguém que gosta muito de Philip Kdick comenta aqui embaixo qual que é a obra dele que mais mexeu com você não esquece do like da inscrição que ajuda um montão e a gente se vê no futuro esqueci do beijo ciao [Música] [Música]









