BRASÍLIA DESCONHECIDA | Capital é ignorada por brasileiros e estrangeiros. Que tal uma nova chance?
0Você acha que conhece Brasília? No programa de hoje vamos ver várias caras de uma Brasília desconhecida que deveria ser a capital da arquitetura no Brasil. Ela não se resume, Oscar Neemir e Lúcio Costa. Há muita arquitetura aqui para se descobrir e muito urbanismo a ser debatido. Aliás, a região que mais cresce de Brasília tem pouquíssimo a ver com o plano piloto, que é a imagem que as pessoas têm da capital. É o bairro de Águas Claras, que começou a ser construído em 1994. Quase um bebê, só que já tem 150.000 habitantes. Em poucos anos, deve superar o plano piloto, que hoje tem menos de 200.000 habitantes e tem a população em queda. Águas Claras tem prédios de 25 andares, onde a arquitetura parece que não foi convidada pra festa. E a região que cresceu mais na última década, segundo censo, só tem condomínio fechado. Essa Brasília não é exatamente o melhor lugar para se caminhar, imagina um lugar onde você não pode entrar. É o bairro do Jardim Botânico. Esse é o primeiro episódio dedicado à Brasília dentro da série Cidades nas Alturas, patrocinada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, o KBR. Azucalbr tá organizando a conferência internacional de arquitetura e urbanismo agora de 4 a 6 de setembro. Tomara que este vídeo provoque a vontade de muita gente vir conhecer a arquitetura e o urbanismo da nossa capital. [Música] O Distrito Federal recebeu 64.000 turistas estrangeiros no ano inteiro de 2024. É quase nada. Dá 100 turistas por semana. A gente não sabe promover o nosso patrimônio. Buenos Aires, na distante Argentina recebe em uma semana mais turistas que Brasília. A cidade do México em dois dias recebe mais estrangeiros que nos 365 dias brasilienses. E isso também acontece domesticamente. Quantos turistas nacionais vem à Brasília para apreciar a arquitetura? Paisagismo, arte. Pergunta em qualquer hotel de Brasília. É um turismo de negócios político, na terça e na quarta-feira, com sorte na quinta, quando o Congresso começa a apagar as luzes. E no fim de semana vazio. E vir a Brasília devia ser aí um alerta, porque numa cidade sem turistas, nacionais ou estrangeiros, ela mesmo tá esquecendo da importância da arquitetura. É uma parceria público-privada. O governo tem construído diversos horrores ou projetos sem o menor capricho. E a mercado imobiliário de Brasília se destaca até no Brasil com prédios que não podem ser chamados de arquitetura, são apenas construção. Aliás, o próprio Brasiliense às vezes parece já tá anestesiado sobre a importância de cuidar da própria arquitetura. Vários prédios importantes passaram por reformas que mutilaram quase tudo. Dá uma olhada no Centro de Convenções Ulisses Guimarães do grande arquiteto Sérgio Bernardes, como era e como ficou. E há reformas nas melhores super quadras de Brasília de gente com alto poder aquisitivo. Mas acho que os síndicos condôminos não dão a mínima sobre a fachada dos seus próprios prédios. E mesmo algumas das últimas obras de Neyer, aqui na capital federal estão muito distantes da leveza e da inovação que caracterizavam suas primeiras obras. A procuradoria geral da República, a Biblioteca Nacional e tantas outras. Por um lado, por culpa do nosso conservadorismo, então todo político, os militares, todo mundo só convidava o Niemer para fazer prédios públicos sem permitir a novas gerações de arquitetos que tivessem a possibilidade de contribuir com a cara de Brasília, o que é um enorme problema. Brasília não é só Niemer. Isso revela que até brasileiros viajados e educados conhecem bem pouco das nossas cidades, das nossas capitais. No meio de tanto luxo cafona que viraliza pelo Brasil, é um alívio ver a serenidade e a simplicidade destes residenciais da arquiteta Mayumianab, a primeira mulher a projetar edifícios em Brasília. Imigrante japonesa que chegou com os pais no Brasil com quatro aninhos de idade. Ela se formou pela FAUSP, estagiou com Lina Bobarde, Joaquim Guedes e Vila Nova Artigas e veio paraa Brasília estudar e trabalhar com João Felgueiras Lima, o arquiteto Lelé, e fez esses residenciais. Outra raridade nesse momento de baixa da arquitetura na capital federal é o B hotel. no desajeitado setor de hotéis. E o único problema não é você se hospedar num hotel e só ter hotéis ao redor. São alguns dos prédios mais feios de Brasília. Olha que a concorrência é grande, é, é pro turista se perguntar, estou mesmo numa capital de arquitetura? Mas o Behotel foi projetado pelo grande arquiteto Z Heinfield. É o primeiro prédio dele em Brasília. E ainda faz algo que poucos prédios aqui descobrem. Olhar o céu. A cobertura virou um grande ponto de encontro. O estádio Manega Rincha foi um dos muitos demolidos pra realização da Copa de 2014 e ganhar aquele padrão FIFA, mas é dos raros projetados por arquitetos brasileiros. E ficou bom, apesar de que futebol em Brasília é uma raridade, não há grandes times e virou uma arena para shows. Mais surpreendente é que no antigo quintal do estádio, onde havia um ginásio fechado para treinos de atletas, virou um mercado aberto, muito agradável, chamado Mané Mercado, projetado pelo escritório Bloco. É um espaço arejado que humilha qualquer praça de alimentação de shopping center. Um dos pontos de encontro favoritos dos brasilienses. O arquiteto carioca baiano brasiliense João Fgueiras de Lima, o Lelé é mais conhecido pela rede de hospitais Sara Kubicheque. Mas aqui em Brasília ele fez algumas de suas maiores obras. Ele colaborou com Oscar Nemer em boa parte do campus da UnB. O prédio mais conhecido é o minhocão, chamado assim porque é uma longa estrutura de 720 m de comprimento. É um arranha horizontal. Se ficasse em pé seria bem mais alto que a Cena Tower. É, mas tem arquitetura, ao contrário da outra. Melhor. O Minhoão comprova que a boa arquitetura resiste até a má conservação. Aliás, o prédio nem foi terminado ainda. Sim, você vê ferragens da obra dos anos 60, nunca teve uma grande reforma e Lelê ainda fez dois dos prédios de escritórios mais elegantes e reconhecíveis de Brasília. O edifício Morro Vermelho e o edifício Camargo Correia. Ambos pra famosa empreiteira. Aliás, bons tempos, hein, que uma grande empreiteira contratava um arquiteto de primeiro time. Pergunta na Faria Lima ou no empresariado nacional quem projetou a sua sede? Quem projetou a fábrica ou prédio? É provável que muitos se nem lembrem ou saibam, porque a arquitetura não foi levada tão a sério. Aqui prédios cinquentenários de lelé continuam muito bonitos e muito modernos. Inclusive, como talento reconhece talento, vários escritórios de arquitetura se mudaram recentemente pro Morro Vermelho. E um raro retrofite inspirado aqui em Brasília é o que o arquiteto mineiro Gustavo Pena fez no antigo prédio do Touring, Clube do Brasil, que foi leiloado em 2005, ficou vários anos aí sem saber que uso teria e que virou uma espécie de museu Catavento de Brasília, o Sesi Lab. Desde 2020, o C do Distrito Federal concede um selo a construções de Brasília bem mantidas, com reformas e restauros que tenham respeitado as características originais. Após indicações, vistoria e seleção, o CELOKF Arquitetura de Brasília inclui a entrega de uma placa ao prédio, certificados ao autor do projeto original. aos autores da reforma e restauro, ao responsável técnico e ao condomínio. Até hoje, 33 edifícios receberam a distinção entre 101 indicados. É um jeito esperto se reconhecer e estimular o respeito ao patrimônio. Por 2000 anos, todas as colunas de templos, prédios, congressos, parlamentos pelo mundo eram basicamente iguais. Brasília foi construída em três aninhos. se uma correria um tanto irresponsável e megalomaniaca do presidente Kubichek. Oscaremer tinha tanto repertório e ideias na cabeça, conseguiu em 3 anos fazer centenas de projetos sem se repetir. Dá uma olhada nas colunas que ele inventou pro Palácio do Planalto. Sim, essas colunas tm papel estrutural, mas para que fazer algo apenas funcional se dá para colocar beleza nelas? Olha essas colunas, olha a leveza delas. Um prédio simples, mas que ficou com cara de palácio, graças a elas, como no Palácio da Alvorada, como no Supremo, especialmente no Itamarati. Sim, porque além de lhe inventar colunas que nunca antes tinham sido feitas no Barroco, no Ardec, no Arnuv, no Gótico, se já ele inventou colunas novas, ele não quis se repetir. De novo, um arquiteto que fez tudo isso em 3 anos é, a gente tem que respeitar e descobrir que naquela época nós sabíamos o que era luxo e o luxo estava na arquitetura. Mas você que adora criticar o Niemer em público ou na Surdina, primeiro, todo mundo, ainda mais com uma carreira longeva, tem acertos e erros. Me fala algum álbum bom dos Rolling Stones dos anos 80 para cá. É, não tem, mas por 15 anos os Rolling Stones foram tão brilhantes que até hoje a gente celebra o legado deles. Oscar Niemer é um arquiteto que por 10, 20, eu diria 30 anos, espalhou grandes prédios no Brasil inteiro. Mas ele pode ser criticado, o def. Mas crítica ganha muito mais relevância quando é bem informada. É, não adianta criticar Niemer dizendo que os prédios dele não são funcionais ou que ele se repetia muito quando você gosta de arranha céu espelhado azul na praia. Isso não é funcional. Copiar Dubai não é criativo nem um pouco. Aliás, boa parte das casas em condomínios de luxo no Brasil parecem clínicas odontológicas. anabolizadas. Se há um prédio obrigatório para se visitar em Brasília, é o Palácio do Itamarati. Para mim, a obra prima de Oscar Nemer, que ainda reuniu um time dos sonhos, da arquitetura, do paisagismo e das artes e uma coleção de vários séculos de arte e história brasileiras. No prédio que recebe as maiores autoridades do mundo, o Brasil faz muito bonito. Nesse palácio com luxo de verdade tem Atosbulcão, Sesquiate, George, Brecher Alfredo Volpe, Maria Martins, Sérgio Camargo, Pedro Correa de Araújo e várias obras históricas, além de muito burlemarx. A monumental escada serpente já permitiu o desfile de chefes de estado, de monarcas, de visitantes do mundo inteiro. Gente que não se impressiona com prédio espelhado como jogador de futebol ou greco-goiano como tanto cantor sertanejo. Ao contrário de tantas obras de Neemer, aqui ele encarou um cliente exigente que sabia exatamente o que queria e que fiscalizou cada detalhe. o embaixador Vladimir Murtinho, que tinha como braço direito um mega arquiteto, Olavo Redig, que foi um dos grandes responsáveis pelos interiores do palácio, sabendo conciliar os espaços sociais para impressionar as visitas de fora, mas também lugares íntimos para negociações espinhosas. Olha o brilhantismo de Redig. Ao desenhar este banheiro. Imagina cerimônias, jantares com 300, 400 convidados e o caos de uma fila no banheiro, as tragédias fisiológicas que podem acontecer. E ele conseguiu preservar intimidade e proteger o fluxo sem a onomatopeia do abre e bate portas. Ele gostou tanto do resultado que usou essa mesma forma. em um prédio cívico que ele projetou em Curitiba anos depois. Como fazer o Brasil voltar a fazer bonito? É porque na arquitetura e no urbanismo a gente tá numa baixa. É, grandes empreiteiras hoje em dia não convidariam arquitetos como Lelé. Chamam escritórios de design, que nem são de arquitetura, da Itália, especializados em fazer carro para fazer prédio. E a nossa arquitetura onde fica? Como estimular o turismo arquitetônico e cívico que ensine as novas gerações a importância do Brasil ser inovador, criativo e de ter autoestima e não só importar gororobas internacionais. Comente aqui e espalhe esse vídeo para todo mundo. Quem se importa com a arquitetura tem a obrigação, o dever de combater tanta ideia errada, tanta referência importada que nada agrega. [Música] [Música]