BUTÃO 360° – POR DENTRO DO PAÍS MAIS FECHADO DO MUNDO (DOCUMENTÁRIO COMPLETO)

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Imagine um país onde é proibido vender bebida alcoólica um dia por semana. Fumar em público pode te levar à prisão e não existe sequer um semáforo na capital. Um lugar onde monges praticam arco e flecha como um ritual espiritual. E a fachada das casas é protegida por genitais pintados nas paredes. Esse é o botão, um reino escondido entre os picos do Himalaia, que decidiu seguir um caminho totalmente diferente do resto do mundo. Aqui o progresso é medido por felicidade e não por dinheiro. que natureza, religião e tradição moldam a vida de um povo que escolheu não se render ao caos da modernidade. Mas o que se esconde por trás dessa imagem quase mística? Como vive realmente o povo butanês? E por que o país mantém portas semiabertas para o mundo mesmo em pleno século XX? Neste episódio da série 360º, você vai mergulhar com a gente por todos os ângulos do botão. Sua geografia extrema, a história marcada por isolamento e lutas internas, a cultura que une fé e simbolismo de forma única, a economia baseada em energia limpa e até mineração de criptomoedas. E, claro, sua arquitetura quase mágica e a culinária com sabores ancestrais. Prepare-se para uma jornada que desafia as ideias convencionais de desenvolvimento e nos faz questionar: será que o isolamento pode ser, em alguns casos, uma forma de sabedoria? Bem-vindo ao Butão, o país mais fechado do mundo. [Música] Aos pés do imponente Himalaia encontra-se o butão, um pequeno reino sem litoral situado na Ásia do Sul, espremido entre a China ao Norte e a Índia ao Sul. Com cerca de 38.000 1000 km qu. Essa terra de montanhas abruptas guarda fronteiras que somam mais de 1000 km entre vales profundos e picos eternamente cobertos de neve. A altitude é quem dita o ritmo da vida. O sul abriga florestas tropicais, rios caudalosos e clima úmido. A região central, onde vive a maioria da população, se destaca por altitudes médias de 2000 m, com verões suaves e invernos frios. Já o norte é dominado por geleiras e nevascas, com temperaturas implacáveis. O ponto mais alto é o Gangarensun com impressionantes 750 m. Considerado o pico não escalado mais alto do mundo. Nele, o silêncio glacial ecoa a mística do desconhecido, lembrando que o botão guarda segredos que resistem ao tempo. Além do gigante GAR Puensum, o país também abriga o aeroporto internacional de paro, considerado um dos mais perigosos do mundo. Instalado a 2.235 235 m de altitude em vale estreito cercado por montanhas de até 5500 m. Ele exige que os pilotos realizem uma aproximação visual complexa, sem auxílio de radar, passando por torres de pedra até avistar a pista quase no último instante. Por isso, menos de 50 pilotos em todo o planeta estão habilitados para aterriçar lá. O verdadeiro coração verde do botão, no entanto, pulsa nas suas florestas. Cerca de 70% do país é coberto por vegetação nativa e a Constituição exige que pelo menos 60% do território permaneça intocada por lei, uma medida que garante a preservação dos seus ecossistemas. Essa abundância cria um refúgio de biodiversidade. Mais de 5600 espécies de plantas habitam o país com cerca de 94% delas nativas e 144 exclusivas do botão. Rododendros, orquídeas, samambaias gigantes e a lendária papola azul, flor nacional. Colorem as encostas com um espetáculo natural que muda a cada estação. A fauna é igualmente impressionante. Cerca de 200 espécies de mamíferos e mais de 770 espécies de aves vivem em diferentes altitudes. Nos vales do sul ainda se encontram tigres, rinocerontes, ursos preguiça e o raro golden langur, um macaco dourado que só existe nessa região. Já nas montanhas mais altas vagam o leopardo das neves, o panda vermelho, a cabra azul e o taquim, o animal nacional de aparência quase lendária. Registros recentes chegaram a detectar tigres a mais de 4000 m de altitude. Um feito que impressiona até os cientistas, reforçando a resiliência única da vida selvagem no país. Tudo isso é protegido por uma das redes de conservação mais bem estruturadas do planeta. Mais de 40% do território butanês está coberto por parques nacionais, reservas e corredores ecológicos que garantem a migração livre dos animais. Este é o butão, um reino onde a natureza não é apenas um cenário, mas um espírito sagrado que habita a Terra. [Música] As origens do botão estão envoltas em névoa histórica. Vestígios arqueológicos indicam presença humana desde cerca de 2000 anos antes de Cristo. Mas os primeiros registros mais definidos surgem por volta do século VI, com a construção de templos como Kitu e Jambai no Vale de Paro. Esses monumentos marcam o início da influência do budismo vindo do Tibete, que moldaria a alma espiritual do país. do século VI chega ao território uma das figuras mais veneradas da história local, Padma Sambva, conhecido como Guru Rimpote. Ele consolida o budismo vadraiana e estabelece santuários que até hoje são considerados locais sagrados. O mais emblemático é o mosteiro Tchang ou ninho do tigre, incrustado em um penhasco a mais de 3.000 m de altitude. Durante os séculos seguintes, o território permaneceu fragmentado, governado por senhores feudais chamados Penlops. Foi apenas no século X7 que o botão passou por uma unificação real liderada por Zabdrung Ngawang Namgul, um lama exilado do Tibete. Ele não só derrotou invasores e centralizou o poder, como também estabeleceu um sistema dual de governo civil e religioso e construiu os primeiros zongs, fortalezas que combinam administração, espiritualidade e defesa militar. A morte de Zabdrung em 1651 foi mantida em segredo por mais de 50 anos como forma de preservar a estabilidade política. Ainda assim, o país mergulhou em séculos de disputas internas e conflitos ocasionais com potências vizinhas. No século XIX, o Butão enfrentou a expansão britânica no sul da Ásia. Após a guerra dos Duar em 1865, assinou o tratado de Cintchula, cedendo territórios em troca de subsídios anuais. Isso marcou o início de uma relação estratégica com a Índia Britânica, que mais tarde seria herdada pela Índia independente em 1947. Em 1907, Ugien Wangchuk, Penlop de Tronksa, foi aclamado como o primeiro rei hereditário do Butão, encerrando o modelo de governo dual. A dinastia Wang Chuck foi estabelecida trazendo estabilidade após séculos de conflitos. Nos anos seguintes, tratados com o Reino Unido e depois com a Índia, consolidaram a soberania butanesa, embora sob orientação diplomática externa. Sob os reinados de Jigmy Wangchuk e especialmente de Jigmy Doriuk. Na década de 1950, o país iniciou um processo de modernização controlada. Foram abolidas práticas como a servidão, fundadas escolas, hospitais e tribunais e instituída a Assembleia Nacional. O primeiro passo rumo à institucionalização do poder civil. Já no final do século XX, o rei Digme Sing Wanchuck ficou conhecido pela criação do conceito de felicidade nacional bruta e por iniciar a transição política que culminaria em 2008 com uma nova Constituição e as primeiras eleições parlamentares. O Butão tornava-se oficialmente uma monarquia constitucional com democracia representativa. jornada que vai de reinos isolados a uma democracia nas alturas do Himalaia, moldou não apenas as instituições, mas também a alma coletiva do povo butanês. A seguir, vamos mergulhar em como essa história viva se manifesta nas tradições, nos costumes e no modo de vida de quem habita esse reino peculiar. [Música] A cultura do butão é uma tapeçaria viva, onde espiritualidade, rituais comunitários e valores tradicionais se entrelaçam de forma única. Mais do que uma religião, o budismo vadraiana molda não apenas a fé, mas o modo de vida, o comportamento público, o vestuário, as leis e até os esportes. Em meio às montanhas, a fé não é uma abstração, é ação cotidiana. Um exemplo disso está nas vibrantes competições de arco e flecha, o esporte nacional, conhecido localmente como dá. Esse não é um simples passatempo, mas um evento carregado de simbolismo, tradição e energia social. Os alvos ficam a mais de 140 m, quase o dobro da distância olímpica. E cada flechada bem-sucedida é celebrada com danças, cânticos e provocações bem humoradas entre os participantes. Mais do que mira, o que está em jogo é a honra da comunidade. Há crenças envolvidas, como a de que os competidores devem evitar dormir com suas esposas na véspera e consultar astrólogos antes das disputas. Trata-se de um ritual tão festivo quanto místico, que une passado e presente em gestos precisos e celebrações intensas. Esse mesmo entrelaçamento entre o sagrado e o cotidiano pode ser visto nas fachadas de muitas casas, especialmente nas zonas rurais. Ali, genitais masculinos são pintados nas paredes com traços exagerados, olhos, asas e fitas coloridas. Longe de qualquer vulgaridade, essas figuras têm origem nos ensinamentos do santo excêntrico Drucpa Kunley, o louco divino, que no século XV usava a sexualidade como ferramenta espiritual. Essas imagens são consideradas amuletos de proteção contra espíritos malignos, fofocas e energias negativas. Em muitas casas, além das pinturas, coloca-se um falo de madeira no telhado como símbolo de fertilidade e bênção. Para os ocidentais, isso pode soar estranho. Para os butaneses, é tradição sagrada. A organização social também reflete esse profundo senso de ordem espiritual. O código cultural conhecido como Driglam Namja define regras de conduta, vestimenta e respeito hierárquico. Homens usam o go, mulheres o Kira, ambos adornados com faixas chamadas cabnei ou rachu, cujas cores indicam o status da pessoa. Em eventos públicos, escolas ou repartições, o uso é obrigatório. Visitar um templo exige silêncio, pés descalços e movimentos no sentido horário. Tudo parte de um etos de reverência. Essa reverência se estende ao trânsito. Tinfu, a capital, é uma das únicas cidades do mundo semáforos. Uma tentativa de implementá-los foi abandonada e hoje o tráfego é guiado por policiais que, com luvas brancas realizam movimentos quase coreografados para orientar carros e pedestres. A decisão reflete uma escolha estética e cultural, a valorização da presença humana no controle da vida urbana. As festividades também demonstram o vigor da tradição. Os tisschos, festivais religiosos realizados em todo o país, são celebrados com danças mascaradas que narram lendas budistas, protegendo espiritualmente a comunidade e reforçando laços sociais. Um dos mais emblemáticos é o Drametam, reconhecido pela UNESCO, onde monges dançam ao som de tambores e trompas em trajes coloridos, evocando forças protetoras e divindades compassivas. Esse respeito ao coletivo aparece também nas leis. Fumar em locais públicos é proibido e a venda de bebidas alcoólicas é suspensa uma vez por semana, geralmente as terças-feiras, como forma de promover equilíbrio e reflexão. A ordem é valorizada, mas nunca a custa do calor humano. No plano espiritual e ambiental, o cuidado se intensifica. Animais como o blacknacked crane ou o grow de pescoço preto são considerados mensageiros sagrados. Quando essas aves migratórias chegam aos vales, comunidades inteiras celebram sua presença. Matá-las, além de ser crime ambiental, pode levar à prisão perpétua. Um reflexo direto da simbiose entre fé e legislação. Em regiões mais remotas, ainda sobrevivem práticas como o bomena ou caça noturna, uma antiga forma de cortejo em que jovens visitam discretamente moças durante a madrugada. Embora polêmico e em declínio, o costume é parte da complexa tapeçaria social do país, revelando nuances de uma cultura que preserva o passado, mesmo sob o olhar moderno. Viver no botão é participar de um mundo onde tradição, espiritualidade e comunidade são indissociáveis. Nada ali é apenas folclore. Tudo tem sentido, origem e propósito. É um modo de vida que não apenas resiste ao tempo, mas o transforma em ritual. [Música] Desde que se tornou uma monarquia constitucional em 2008, o Butão vem equilibrando tradição e modernização com sua filosofia da felicidade nacional bruta. Essa métrica consagrada pela Constituição coloca quatro pilares como essenciais: desenvolvimento socioeconômico sustentável, preservação ambiental, promoção cultural e boa governança. O país, que foi elevado da condição de país menos desenvolvido em dezembro de 2023, agora busca fortalecer sua economia e consolidar sua estabilidade institucional. A economia é liderada pela exuberância dos recursos naturais. Com mais de 70% do território coberto por florestas, o botão se destaca globalmente por sua pegada de carbono negativa. Hidrelétricas potentes, como tchuka, kurichu, basochu, tala e mangetu utilizam a topografia montanhosa para gerar energia limpa. 1/3 dessa eletricidade é exportada para a Índia. gerando receitas significativas e subsidiando serviços públicos como educação e saúde. Em março de 2025, iniciou-se a construção da Sefu Solar Power Plant, uma usina solar de 22 MW, que expande o mix energético e reduz a dependência hidrelétrica. O governo também impulsiona energia eólica, biogás e iniciativas de energia offgrid. para áreas remotas, visando atingir 20 MW de renováveis até 2025. Para diversificar a economia, além da energia e do turismo, o país está apostando na economia digital verde. Em abril de 2025, o botão implementou mineração de criptomoedas verdes, utilizando energia hidrelétrica renovável. Essa estratégia não só financia salários públicos, como o êxodo de jovens. Cerca de 10% da juventude busca oportunidades no exterior e já detém mais de 600 milhões de dólares em ativos de Bitcoin, equivalendo a cerca de 30% do PIB. O Butão adota um sistema político parlamentar bicameral, composto por uma Assembleia Nacional e um Conselho Nacional. Embora o regime seja uma monarquia constitucional, o rei Jigmezar Namgel Wang Chuck, conhecido como Druk Guialpo, ainda exerce uma influência significativa nos rumos do país, sendo uma figura respeitada e presente nas decisões mais importantes. Partidos como People’s Democratic Party e Druk Niamrup Chogpa se alternam no governo refletindo desafios contemporâneos como desemprego juvenil, pressões urbanas e uma opinião pública que questiona a relação entre liberdade e tradição. Em um movimento ambicioso, foi lançado o projeto GFU Mindfulness City, uma cidade consciente com baixa pegada de carbono, regulamentos ambientais rigorosos e foco em tecnologias verdes, educação, saúde e finanças sustentáveis. A iniciativa pretende reter talentos locais, atrair investimento estrangeiro e reforçar a economia inclusiva. Embora enfrente desafios como possíveis deslocamentos de populações e tensões geopolíticas. O setor do turismo, mesmo impactado pela pandemia, continua sendo motor econômico importante, com a cobrança de uma taxa diária elevada usada para proteger o meio ambiente e financiar infraestrutura. O botão mantém um perfil de turismo de baixo volume e alto valor, alinhado aos princípios da felicidade nacional bruta. Esse panorama confirma como o país busca inovar sem romper com sua essência espiritual e ambiental, enfrentando o mundo moderno com ideias pioneiras. [Música] A imponência natural e arquitetônica do país reflete sua alma resistente e espiritual. Suspendido entre vales e picos do Himalaia, o cenário natural apresenta relíquias geológicas e ecológicas únicas. Um exemplo vibrante é o vale de Fobjica, a cerca de 3.000 m de altitude, guarda as pradarias úmidas reconhecidas pela UNESCO como um sítio Hamsar. Por ali, o gracioso Grow de pescoço preto chega todo o ano circulando três vezes ao redor do mosteiro de Gunteng, antes de se acomodar em suas lagoas. Um espetáculo místico que dá origem ao famoso festival do Grow de Pescoço Preto, celebrado em novembro. Entre a vegetação alpina e coníferas surgem quase mágicas as fortalezas monastérios dos Dongs, elementos arquitetônicos que definem a identidade nacional. Erguido em 1637, o Punaka Zong ergue-se na confluência dos rios Pochu e Motu, sinalizando a união de forças positivas e simbolizando a coesão territorial. Seu palácio de seis pavimentos abriga imponentes murais budistas, salões cerimoniais e relíquias sagradas, como os restos de Zabiddrung, Ngawang, Namguiaal. Na entrada de Paro, o impressionante Paro Dong, também chamado de RPung Dzong, ergue-se sobre colina estratégica, dominando o vale ao redor e servindo de palco para o festival do Tetchu de Paro. Merece destaque o torreão de vigia e os muros que abraçam um pátio amplo, arquitetura que comunica poder, proteção e fé. No coração do país, no distrito de Bomtang, o Jacar Dzong, também conhecido como Yuelai Namgal Dzong, ergue-se sobre um promontório bem acima da cidade histórica. Fundado em meados do século X, esse Castelo do Pássaro Branco tem mais de 1500 m de perímetro, abrigando templos, salões e uma simbologia ligada à vitória contra invasores tibetanos. O Trongsong, o maior e mais majestoso, ergue-se sobre um morro que despenca em direção ao rio Mang Chu, marcando o centro estratégico do país. Construído no século X7 por Jabdrung Ngawang Namgal, seu intrincado labirinto de pátios e corredores conecta cerca de 25 templos internos, todos voltados à tradição Drucpaco. Para os fiéis e viajantes, nenhum lugar é mais místico do que o parutsang, ou ninho do tigre, cravado quase verticalmente numa falésia de 3.120 m. Fundado em 1692, no local onde Padma Sambava meditou, o complexo é um símbolo vivo do budismo vajayana. Cada sala, corredor e bandeiroa narra uma lenda sagrada. No alto de uma colina em Tinfo, ergue-se o Buda Dordenma, uma das maiores estátuas de Buda sentado do mundo. Com cerca de 52 m de altura, é feita de bronze e banhada a ouro e abriga em seu interior impressionantes 125.000 estátuas menores de Buda, cada uma com cerca de 20 a 30 cm. Iniciada em 2006 e concluída em 2015, a obra foi erguida sobre as ruínas do antigo palácio Quenel Fodrang para celebrar o 6º aniversário do rei Digmy S Wang Chuck e cumprir profecias de antigos mestres espirituais. O monumento está cercado pelo Quencell Podrang Nature Park, um bosque protegido com trilhas e áreas de meditação perceptivelmente integradas ao local sagrado. Além dos Dongs, surgem templos menores, charmosos e repletos de misticismo. Em paro, o kihang é considerado um dos santuários budistas mais antigos, construído no século VI para subjugar uma demônio local. e pavimentar o terreno para o futuro templo do ninho do tigre. Já o Timakang, próximo à Punaca, é o templo da fertilidade. Ali, bênçãos fálicas e rituais para casais que desejam filhos reforçam a continuidade e a celebração da vida. Essa harmonia entre natureza e arquitetura revela uma sabedoria ancestral. Osongs nunca utilizam projetos, sendo construídos com base em visões espirituais e tradições orais, preservando técnicas artesanais de madeira, alvenaria e murais sagrados. Cada janela e telhado tiltado é pensado para se integrar à paisagem, criando estruturas que parecem crescer da montanha. Ao percorrer trilhas que conectam terraços, vales e sabedoria ancestral, o visitante presencia uma paisagem onde a religião ecoa nas rochas. A água banha muros monásticos e cada pedra carrega um ensinamento. Nesta terra de solos sagrados e marcos eruditos, a arquitetura não serve apenas ao homem. Ela é a expressão física de uma ligação eterna entre o o humano, o divino e o ambiente. [Música] A culinária butanesa é simples, vibrante e profundamente ligada à identidade do povo, revelando tradições antigas, hortas de vertente e um equilíbrio cuidadoso entre sabores e significado. Aqui comida não é apenas sustento, é celebração, ritual e conexão com a terra. A base de quase todas as refeições é o arroz, muitas vezes servido com acompanhamentos ricos em pimenta, o ingrediente onipresente da cozinha local. No entanto, o prato que define o sabor do país é o emadat, literalmente pimenta e queijo. É uma espécie de ensopado feito com pimentas locais. às vezes, inclusive apimentadas com seu próprio molho e pedaços generosos de queijo de ique. O contraste é intenso. O picante da pimenta encontra a suavidade cremosa do queijo, criando uma textura reconfortante e profundamente aromática. Menos conhecido, mas igualmente marcante, é o Kea Dati, em que o queijo se combina com batatas cultivadas nos vales butaneses. Outra variação comum, o dati verduras, traz espinafre, repolho ou folhas silvestres ao molho cremoso. Em aldeias mais remotas, usam-se verduras silvestres colhidas recentemente, o que confere um frescor quase selvagem aos pratos. Nas montanhas faz parte da rotina consumir momo. Deliciosos pasteizinhos cozidos no vapor, recheados com carne de iaque, porco ou vegetais, acompanhados de um molho levemente picante. A massa delicada e fina dá um toque de leveza a uma refeição calorosa, ideal para o clima frio. Outro destaque é o suja, um chá feito com manteiga de yak, sal e às vezes um toque de ervas aromáticas. Bebida que conforta com seu valor energético e sabor salgado, reunindo famílias ao redor da mesa pela manhã ou até mesmo no chão. O suja também é servido durante festivais religiosos e cerimônias, como meio de mostrar hospitalidade e simbolizar clareza espiritual. O Tcha, uma bebida fermentada tradicional de cevada ou arroz, às vezes com adição de milho, acompanha festas e ocasiões especiais. Levemente alcoólica e com sabor frutado ou cítrico, é compartilhada em taças muitas vezes decoradas com símbolos auspiciosos. Em certas regiões há o curioso Zoedoi, uma pasta de queijo de iaque misturada com pimentas e secada ao sol, produzindo um saborosas tira de snack que pode ser levada em longas jornadas nas montanhas, eficiente, nutritivo e resistente ao tempo. Mais que alimentos, cada prato carrega em si histórias de família e tradição. A preparação coletiva, especialmente das refeições mais elaboradas, envolve vários membros da comunidade. Cozinham, conversam, cantam e compartilham bênçãos em torno do fogo. Entre os costumes, destaca-se a prática de servir primeiro aos mais velhos como forma de respeito e deixar uma porção pequena ou o coração do prato para os ancestrais e as divindades, reforçando a ligação entre alimento e espiritualidade. A culinária também se adequou aos tempos modernos. Em Tinfu há restaurantes contemporâneos que adaptam o EMA e os monges servem versões vegetarianas para atender ao público internacional. Mas mesmo nesses estabelecimentos, o arroz vermelho local, produzido nas terras alagadas em altitudes elevadas é servido com reverência. Cada grão carrega anoiteces de frio e o sabor da comunidade que o colheu. O resultado é uma gastronomia que reflete as montanhas. Parece arcaica e rara, mas pulsa com calor, hospitalidade e sentido. É uma comida apaixonada por raízes, feita para ser compartilhada e que pode nos levar a entender melhor o modo de ser de um povo que come alma tanto quanto com fome. Em um mundo cada vez mais acelerado, onde o progresso muitas vezes atropela o sentido, o botão se mantém como um lembrete vivo de que é possível crescer sem se desconectar da alma. Aqui a felicidade é medida não por cifras, mas por equilíbrio. As montanhas guardam sabedoria, os templos respiram histórias e até o silêncio parece ter voz. O país não é perfeito, enfrenta desafios, transições, dilemas modernos. Mas sua coragem de trilhar um caminho próprio, respeitando a natureza, cultivando a fé e protegendo tradições, inspira uma pergunta profunda. O que realmente importa? Talvez a resposta esteja nas flechas que cortam o ar em meio às danças, nas crianças que caminham entre bandeiras de oração e nos monges que meditam ao som do vento. Ou talvez esteja em cada olhar que se recusa a viver no piloto automático. Se o botão é fechado, não é por arrogância, mas por escolha. Uma escolha de preservar o que é essencial. E talvez ao espiar por essa fresta, nós também possamos reencontrar o que deixamos escapar. Gostou desta viagem? Então inscreva-se no canal, ative as notificações e compartilhe este vídeo. Aqui você viaja com a gente conhecendo culturas, história e maravilhas que desafiam o óbvio. Até a próxima. M.

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