CENTRAL PARK À BEIRA-MAR | Como Nova York criou muitos parques onde havia ruínas portuárias e fabris
0Atenção, atenção. Nova York ganhou o equivalente a dois central parks em apenas 15 anos. É uma das grandes transformações verdes da maior cidade americana. Eles conseguiram fazer em uma geração a conversão de antigos piers, áreas de fábricas, áreas ligadas ao antigo porto de Nova York e transformar tudo em parque. Aliás, até as marginais novaiorquinas hoje tem parque também por todos os lados. Começou como uma ideia de reocupação e econômica. se aproveita vistas incríveis de Nova York e pra prefeitura fatura um pouco, mas ganhou uma velocidade, uma urgência maior com o furacão Sandy em 2012, quando Nova York ficou alagada, o metrô ficou fora do ar por 15 dias e metade de Manhattan sofreu um blackout. Eu morava aqui em Nova York e sou testemunha do caos. Como criar margens e cidades mais resilientes? Como se preparar para marés que sobem, rios que nundam e pro próprio mar? Nova York, ao mesmo tempo que verticalizou e adençou áreas, usou esse dinheiro para se tornar uma cidade mais verde e mais resiliente. [Música] I love O parque Hunter Point South é um dos mais bem-sucedidos dessa coleção de áreas verdes a Beira Rio em Nova York. Ele surgiu aqui no bairro de Long Island City, na parte mais ocidental do distrito do Queens em Nova York. Aqui foram construídos 5000 apartamentos por enquanto, porque ainda tem muita área vazia aqui, antigas fábricas, galpões. Temos que lembrar, era um dos maiores portos do mundo antes da criação aí do contêiner e de tudo aí fica mais compacto e encolher. Então são 5.000 apartamentos, a prefeitura garantiu 60% deles com preços paraa classe média. É, boa parte da produção em Nova York é de aluguel locação. Então há uma matemática financeira de aluguéis mais caros a preço de mercado, normalmente as coberturas. E quem constrói muitos andares tem que prometer aí por contrato com a prefeitura de fazer prédios de acordo com a renda local. Então a 60% aí de classe média. Mais um exemplo para as prefeituras que estão aqui nos assistindo. Sabe a verticalização da Rebolsas promovida pelo plano diretor? Pois é, os gênios da época não se lembraram de desapropriar um quarteirão que fosse para ser terra pública e aí fazer habitação popular ou fazer parque ou fazer qualquer coisa pro entorno. Prefeitura de Nova York foi bem mais esperta. Primeiro mudaram o zoneamento. Então no mar industrial podia ter torres residenciais. Cobraram por isso, mais ou menos como autor onerosa, aos cepaques de São Paulo e como dinheiro. Fizeram parque, fizeram uma bela biblioteca pública aqui com arquiteto Steven Hall e tem shows e tem eventos. Então, não ficou tudo nas mãos do mercado e não ficou também um condomínio fechado. Esse monte de prédios aqui usa parques que são pro bairro inteiro. É, não é condomínio clube, nem da Moca, nem de Santana, nem de Moema. Foi uma operação ganha ganha, esta que é uma região cheia de migrantes, muitos africanos, muitos latinos, muitos asiáticos. Eles ganharam parque na vizinhança e novas escolas e a biblioteca pública, tudo bancado por uma operação imobiliária. Vai perguntar aí nas áreas onde houve uma enorme verticalização em São Paulo, o que é que mudou de fato nas áreas públicas? Quase nada. A gente sabe que a prefeitura enriqueceu os donos das casas lá em Pinheiros, cada um vendeu aí por R$ 5 milhões de reais, mas a paisagem urbana, o espaço público, tá quase igual. Aqui ficava uma das maiores engarrafadoras do mundo, a da Pepsi Cola. Essa grande fábrica foi fechada em 1999 e vários galpões, fábricas e armazéns desapareceram junto com ela. Mas todo mundo lembrava ali do neonsi. Aqui eles tratam publicidade também como arte. Então foi protegido e virou parte do parque. Ainda bem. É um símbolo de uma área que já tem verde, muita espreguiçadeira e muitas fontes até com borrifadores para as crianças se ensoparem e os pais também. Os shows do parque acontecem nos resíduos mais históricos do parque. Os gentes, escavaletes pras gruas que levantavam as mercadorias e colocavam nos navios. Detalhe, o patrocínio dos shows vem dos incorporadores dos prédios. Pois é, como eles alugam os apartamentos e serão donos por décadas, é de interesse deles que essa área não se desvalorize, que esse parque não fique abandonado. E comparando com São Paulo, que é assim que a gente aprende e talvez ganhe vergonha na cara, a Pepsi fechou aqui em 99. Pois é, pense na moca. e na gigantesca fábrica da Antártica, 40 anos depois, fábrica abandonada e nada, nada aconteceu. Nova York já foi uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, mas graças a políticas ousadas, como polícia comunitária e muita tecnologia, hoje é das capitais mais seguras. Não existe bom urbanismo se ninguém desfruta da vida na rua, dos espaços públicos. E no Brasil a gente ainda tem que lutar muito contra o medo e a sensação de insegurança. A Gabriel, empresa de [Música] Este aqui é um dos menores, mas famosos parques novos aqui do St River. Tamanho não é documento. Aqui ficava a maior usina de açúcar dos Estados Unidos, a Domino Sugar. Um símbolo da cidade, patrimônio, mas que fechou há mais de quatro décadas. Havia vários outros imóveis abandonados e nesse resoneamento que a prefeitura de Nova York fez durante o governo do Michael Bloomber, permitiram que aqui surgissem prédios de escritórios, prédios de apartamentos e também comércio. E aqui foi quase como um leilão. Um único incorporador ficou responsável pela área, a empresa Chutris. Eles contrataram a mesma paisagista do Highline para fazer aqui o parque, o Dominopark, tem 400 m de extensão e tem 30 m de largura, mais do que o dobro do que exigido pela prefeitura, porque a gente sabe que as marés estão subindo e há possibilidade de enchentes. Então, criaram aqui essa grande proteção para os prédios que estão ali atrás. E de novo, o bom senso novaiorquino que às vezes falta às nossas autoridades. O Departamento de Patrimônio Histórico de Nova York achou que a usina principal era importante e devia ser protegida, mas permitiram que outros prédios, menos históricos ou arquitetonicamente menos importantes, fossem demolidos para se construir prédios altos. Sim, 2800 apartamentos são planejados nesta área. Já tem cinco prédios prontos e alguns ainda a caminho. Prédios bem altos. E fica aí o nosso puxãozinho de orelha leve, mas com firmeza. Em São Paulo, no BRZ, onde daquelas antigas fábricas da Matarazo, por exemplo, eu tenho certeza que se permitissem prédios altos colados as fábricas, diriam: “Não, que absurdo! tá escondendo o patrimônio histórico. E aí a gente deixa a fábrica anos e anos e anos vazia, caindo aos pedaços. Por outro lado, muita gente, muita mesmo, do mercado imobiliário de São Paulo, não veria valor nenhum numa fábrica espetacular como esta e demoliria para fazer uma arquitetura ruim e genérica. Aqui os dois lados souberam fazer bem feito. E a peça mais esperada desse quebra-cabeça aqui do Domino Park é a ocupação da antiga refinaria. Sim, foram 10 anos de debates, projetos, vira hotel, vira museu, vira isso, vira aquilo e decidiram que vai ser um prédio de escritórios. justamente como tem tantos prédios de apartamentos do lado e um parque, perceberam que um complexo multiuso seria interessante, já que essa área também precisa ter muitos empregos e muitas empresas gostariam de estar aqui. Então são 46.000 m² de escritórios dentro numa construção aí envelopada pela antiga refinaria. Ou seja, até Nova York tá aprendendo a não fazer torres corporativas espelhadas. Tomara que esse aqui vira um grande exemplo. A inauguração no final do ano passado foi com desfile da Hermés em plena Nova York Fashion Week. [Música] O Brooklyn Bridge Park é talvez o mais democrático e lotado desses parques a beiraar e beira rio que surgiram em Nova York na última década. Aliás, que parque? Seis piers, cada um com uma ocupação determinada pelos vizinhos, pelos conselhos de bairro. Então aqui tem áreas verdes, parques em cima dos piers, quadras, muitas quadras para tudo quanto é tipo de esporte gratuitas e espaço para churrasco, determinado aí também pelos vizinhos. É uma área multirracial, multidemocrática e multiclasse. Aqui os moradores mais pobres do Brooklyn vivem aqui muito imigrante a comunidade de judeus ortodoxos, assim como os jamaicanos e haitianos. Aqui já foi porto desde os 1600. Sim, os holandeses comercializavam aqui, os brasileiros que escaparam, judeus, cristãos, dos portugueses espanhóis e que ajudaram na formação de Nova York, também passaram por aqui. Quando surgiram os primeiros navios a vapor, início do século XIX, também se movimentavam aqui. E a chegada das primeiras ferrovias e tantas transformações tecnológicas. Aqui era um dos maiores portos do mundo. É, mas nos anos 70, 80, não só a revolução dos conttainers mudaram demais este espaço. Para que tanto armazém? Para que tanto depósito? E a própria indústria, seu de Nova York atrás de áreas mais baratas no interior dos Estados Unidos e depois se mudaram pro México, pra China, pro mundo inteiro e milhões de metros quadrados ficaram vazios. e apodrecendo. Um debate que consumiu boa parte dos anos 90 e o início dos anos 2000. E a comunidade participou e a prefeitura pensou na viabilidade financeira de bancar tantos e tantos parques novos. A Zendeia, a mega estrela de Hollywood, arrematou uma cobertura aqui onde eu tô por 5 milhões de dólares. Um prédio novo aprovado pelos moradores. O dinheirinho ajuda na construção e manutenção do parque. Na frente do prédio da Zendeia tem um café ou um mercado e um ponto de ônibus. A tensão classe alta de São Paulo, que às vezes peguem armas contra estação de metrô e proíbe que no bairro inteiro tenha uma padaria, porque padaria desvalorizaria seu imóvel. Aprendam com as estrelas de Hollywood. É bem mais bacana um bairro cheio de gente, onde você tem café e supermercado na porta e sim as pessoas que trabalham na área podem chegar de ônibus. Obrigado, Zendeia, por essa aula para tantas associações de bairro de São Paulo. [Música] E assim descobrimos como Nova York criou o equivalente a quatro parques de Ibirapuera a Beamar em apenas 15 aninhos. É pra gente pensar e refletir. Há uma lição sobre o que aconteceu aqui quando Michael Bloomber, o bilionário empreendedor e filantropo de Nova York, elas empreendedor de fato e filantropo para valer. Decidiu que queria ser prefeito. Ele não entendia quase nada de urbanismo ou de gestão pública ou de arquitetura. E ele foi atrás de uma amiga dele que entendia tudo de Nova York. nem arquiteta era Amanda Burden. E perguntou para ela: “Amenda, o que dá para fazer para transformar essa cidade? Era o ano de 2001, quando Nova York sofreu um dos grandes atentados horripilantes da história da humanidade e a cidade precisava se reerguer. E a amiga Manda falou: “Michael, vamos pegar um barco e dar uma volta pela orla de Nova York.” E ela foi mostrando para ele os piersars, foi mostrando para ele várias e várias margens sem utilização, sem ocupação. Ela foi falando tanto das opções urbanísticas quanto as oportunidades econômicas pra cidade. Sim, Bloomber provou que a ambição tem se acompanhada por curiosidade, por conhecimento e humildade para aprender. Ele se tornou de longe o prefeito mais transformador de Nova York nas últimas décadas e ficou três mandatos, mais que quase todos os outros. Na minha opinião, aliás, o último grande prefeito que Nova York teve. Nova York se transformou com todos os seus problemas, o lado mais altruísta e generoso da cidade se pronunciou: “Sim, aqui tem drogas. Sim, aqui tem população de rua. Sim, aqui tem violência. E olha, eu tô sentado aqui num banquinho muito bem desenhado e móvel. As pessoas não lutaram para proibir que houvesse banco, houvesse encosto, ah, vai ter mendigo, etc. Na novaorquina entendeu que numa metrópole gigante que chegam imigrantes pobres do mundo inteiro todo ano é necessária certa generosidade. Nova York desde Jenny Jacobs é uma lição de urbanismo e felizmente continua sendo. E até o próximo episódio aqui do São Paulo nas alturas.