China x EUA e a nova Guerra Fria – “Não cometerei os mesmos erros de Moscou!” Xi Jinping
0Caros amigos, bem-vindos a mais um episódio de hoje no Mundo Militar. Neste vídeo falaremos como o Xijin Ping está se preparando para aquela que vê como a fase mais crítica de uma nova guerra fria no mundo, dessa vez envolvendo os Estados Unidos e a China, e de como ele pretende não cometer os mesmos erros da União Soviética. Para entender o que Xin Ping está fazendo hoje, precisamos voltar ao século XX, ao período mais tenso e volátil da Guerra Fria. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu em dois blocos profundamente antagônicos. De um lado, os Estados Unidos, símbolo do capitalismo democrático, e do outro, a União Soviética, representando o comunismo autoritário. Era uma disputa por poder global, mas sem confronto direto, vindo daí o termo Guerra Fria, uma guerra travada por influência, propaganda, espionagem e corrida armamentista, mas na mesma terrivelmente sangrenta, com inúmeros conflitos por procuração em diversas partes do mundo. A União Soviética parecia, por muitos anos, capaz de competir de igual para igual com os Estados Unidos, mas esse império desabou de forma repentina e humilhante em 1991, deixando no ar uma pergunta importante. Por quê? A derrota soviética na Guerra Fria foi em grande parte uma tragédia interna. A sua economia centralizada, profundamente planejada e regulada, era pesada, inflexível e ineficiente, com o regime priorizando a indústria pesada, a produção de armamentos e os gastos militares em detrimento do consumo interno, da inovação e da qualidade de vida do cidadão. Ao mesmo tempo, o controle ideológico total, combinado com a repressão brutal política, foi gerando um cansaço generalizado, principalmente nas nações europeias mais próximas da Europa capitalista, como a Alemanha oriental, Polônia e países bálticos. Com o passar do tempo, o Partido Comunista Soviético perdeu a lealdade popular e até o entusiasmo das suas elites. E quando Mica Gorbachov, em desespero, tentou reformar o sistema com abertura e reestruturação, já era tarde demais. A gigantesca, arcaica e pesada máquina soviética estava podre por dentro. Sem legitimidade, sem força econômica, sem aliados reais, a União Soviética simplesmente implodiu sob o seu próprio peso. Xin Ping cresceu observando esses acontecimentos com tensão quase obsessiva. Nascido em 1953, no auge da aliança sino-soviética, ele viveu tanto o encanto chinês com Moscou quanto a amarga ruptura entre os dois gigantes comunistas que perdurou por longas décadas. Seu pai, Xi Zong Chun, foi à União Soviética, nos anos 50 estudar tecnologia e planejamento industrial, trazendo para casa a admiração por Moscou, que foi incutida no então jovem chi. Mas com o colapso soviético, XI passou a estudar esse episódio como um alerta, dizendo a si próprio que jamais repetiria aqueles erros. Ainda como líder da escola central do Partido Comunista Chinês, Shi usava o caso soviético para mostrar o que não devia ser feito, como por exemplo, permitir a erosão ideológica, tolerar a descentralização política e enfraquecer o controle partidário. Ou seja, XinPing defendia uma política comunista de linha dura, com controle total em termos ideológicos sobre a população, mas com uma abordagem econômica e comercial bem diferente daquela aplicada por Moscou, com uma visão muito mais flexível e, acima de tudo, aberta ao mundo. Logo após chegar ao poder em 2012, Shi mandou produzir um documentário sobre o fim da União Soviética, retratando Gorbachov como um traidor que abandonou o Partido Comunista. A mensagem que XI quis transmitir era clara: o Partido Comunista chinês não cairia na mesma armadilha. O primeiro grande desafio dessa visão começou em 2017 com o início do primeiro mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Com a política de America, os Estados Unidos passaram a pressionar Peekim em todas as frentes, com tarifas sobre produtos, sanções tecnológicas e contenção diplomática. A guerra comercial de 2018 foi o ponto máximo dessa tensão. Pegos de surpresa pela ofensiva americana. Xi e os membros de topo do Partido Comunista perceberam que já estavam em uma nova Guerra Fria e desta vez contra um adversário ainda mais experiente e forte do que a União Soviética jamais enfrentara. Em 2020, Shi revelou a primeira peça da sua estratégia, um plano batizado por ele de dupla circulação, cujo objetivo era garantir que a China fosse autossuficiente internamente, mas sem deixar de vender para o mundo. Muito inspirado pelos erros soviéticos, Shi estruturou a sua estratégia em quatro eixos principais, com o primeiro sendo a diversificação econômica e autossuficiência. Ao contrário dos soviéticos que apostaram tudo na indústria pesada, a China tenta produzir de tudo, de chips a remédios e de armas a semicondutores. O objetivo é blindar o país contra sanções e manter o abastecimento e consumo interno, mesmo sob bloqueios externos. O segundo eixo envolve evitar o isolamento geopolítico. Enquanto a União Soviética criou um bloco fechado e isolado, Xi quer que a China permaneça conectada ao mundo. E é por isso que a China investe tanto no chamado sul global e em fóruns como o Bricks. Tudo com o propósito de enfraquecer alianças ocidentais e promover o conceito de multipolaridade. Um crescimento militar sustentável também faz parte dos eixos principais, com a China expandindo a sua força militar, mas com cautela. O objetivo de Xi é não repetir a corrida armamentista desenfreada que exauriu os soviéticos, com o seu orçamento da defesa crescendo cerca de 7,2% ao ano, bem acima do PIB, mas ainda controlado e mais focado na modernização dos meios. E finalmente o eixo mais importante para Xi, o controle ideológico rigoroso da população. Xi é categórico quando afirma que a sobrevivência do partido está acima de tudo e, por isso, nenhuma fissura ideológica será tolerada com o Partido Comunista Chinês, devendo controlar todos os aspectos da vida chinesa, do sistema educacional às redes sociais, da economia ao pensamento acadêmico. uma ditadura partidária brutal, sem folgas, visando não só controlar, mas também ditar aquilo que os cidadãos devem pensar. A nível internacional, a China também tenta se expandir, aproveitando que os Estados Unidos estão enfraquecendo as suas agências de assistência externa. Por exemplo, com o fim da US AID, muitos países deixaram de receber apoios americanos com a China tratando de rapidamente ocupar esse vácuo, ganhando com isso influência em regiões importantes da África e da Ásia. um conceito conhecido como soft power, que é a capacidade de um país de influenciar outros, atraindo-os para sua esfera de influência, não pelo uso da força, mas através de apelos culturais e políticas externas de apoio. Aliás, a US AID foi criada durante a Guerra Fria justamente para isso, atraindo para a esfera de influência dos Estados Unidos muitas nações. Mas com o fim desse programa, a China quer repetir agora no século XX a fórmula americana para preencher a lacuna deixada por Washington. Para XI, se os Estados Unidos estão se portando de forma mais agressiva com nações até então consideradas aliadas, através do aumento de taxas ou de ameaças diretas, ele venderá uma imagem de uma China mais amigável e pronta a recebê-los de braços abertos. No fundo, toda a política de Xinping gira em torno de um único fantasma, o fim da União Soviética, com ele dizendo saber por o bloco soviético ruiu e afirmando ser capaz de evitar que a China siga por esse mesmo caminho. A nova Guerra Fria está em curso, mas desta vez não é apenas uma disputa entre tanques e foguetes. É uma luta por cadeias de suprimentos, chips de inteligência artificial, influência mediática e supremacia ideológica. Xinping, seguindo o estilo chinês de planejar para o próximo quarto de século e não para o próximo trimestre, acredita que o tempo joga ao seu favor. O desafio agora é saber como os Estados Unidos reagirão diante de uma China que, aprendendo com os erros do passado, pretende ocupar os espaços vagos que Washington está deixando no mundo. [Música]