Como a Medicina Criou um Monstro…

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Em 1946, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os julgamentos de Nuremberg estavam em andamento. Eram processos destinados a fazer com que os líderes do regime nazista respondessem por crimes contra a humanidade. Mas enquanto vários oficiais e colaboradores eram levados à justiça internacional, um homem conseguiu escapar, Herman PS. Ele havia se tornado militante do Partido nazista em 1932 e era um fiel defensor das ideias de eugenia e da chamada limpeza racial. É verdade que dentro da complexa estrutura do terceiro height, Herman teve um papel parecido com o de muitos empresários da época, pessoas que se aproximaram do regime para obter vantagens corporativas. No caso dele, mão de obra gratuita para as fábricas de sabão e detergente que administrava. Por isso, sua ligação direta com o regime pode até ser considerada discutível por alguns. Ainda assim, isso não impediu ele de empregar pessoas que, de fato, haviam participado ativamente das barbaridades cometidas nos campos de concentração. Através da sua empresa, a Chermy Gromental, Herman ofereceu trabalho a químicos, médicos, inspetores e outros profissionais que tinham ligação direta com Hitler ou que haviam colaborado nos experimentos cruéis realizados em prisioneiros. Pessoas que de alguma forma conseguiram escapar da justiça. A Grunental acabou se tornando uma segunda chance para essas pessoas, uma forma de seguir a vida de maneira confortável, deixando para trás, pelo menos na aparência, os horrores dos quais acabaram participando. Mas seja por uma série de coincidências maquiavélicas ou por questões de velhos hábitos que nunca desaparecem, a união dessas mentes sombrias acabou levando a um dos episódios mais trágicos da história da medicina. Em 1953, uma empresa química suíça chamada Ciba, que décadas depois viria a ser conhecida como Novartes, buscava novos antibióticos e tranquilizantes para animais. O objetivo era encontrar alternativas menos agressivas que os barbitúricos. Foi assim que eles sintetizaram uma nova substância, a talomida. Mas os primeiros resultados não chamaram a atenção da CIBA. Eles não encontraram efeitos farmacológicos significativos e acabaram descartando a substância sem maiores planos de estudo. Porém, foi justamente a empresa alemã Gental quem enxergou uma oportunidade de ouro na Talidomida. Nos anos que seguiram o fim da guerra, a Greental havia expandido seus negócios e passou a atuar no ramo de medicina, mas especificamente na pesquisa de antes virais, usando o conhecimento dos seus controversos cientistas. E enquanto realizavam testes com ácido glutâmico, quase como se fosse uma maldição em busca de um hospedeiro, a talidomida chegou até eles. Ao contrário da ciba, os alemães acreditavam ter encontrado um verdadeiro remédio milagroso. Em 1954, a talidomida foi patenteada e começou a ser comercializada em larga escala por quase toda a Europa. O novo medicamento parecia ser um sidativo perfeito da era moderna. Permitia um sono profundo, sem ressaca e sem causar dependência. Ao mesmo tempo, ele se mostrava eficaz para tratar sintomas comuns, como resfriados, dores de cabeça, enjoos e vertigens. A notícia sobre esse remédio milagroso se espalhou rapidamente e logo seu uso começou a ser utilizado no lugar de analgésicos tradicionais como a aspirina. O tranquilizante, que não serviu para animais, virou um suposto tranquilizante milagroso para humanos. E é importante que você preste atenção nessa afirmação, porque se você tiver algum conhecimento, mesmo que seja mínimo médico, isso no mínimo vai suar estranho. Antes de ser liberada para o mercado, a talidomida foi testada em ratos. Não encontraram uma dose letal, o que para os padrões da época significava que era segura. Sob diversos nomes comerciais como Contergam, Kebadum, Isomin, Sedales e outros tantos, a Gruental licenciou a venda da Talidomida para 40 países diferentes. Inicialmente o foco era tratar pacientes com epilepsia, mas na busca por aumentar os lucros e graças à propagandas ou de pessoas que comentavam pela vizinhança sobre esse remédio, seu uso foi se expandindo rapidamente. Em 1954, no Reino Unido, que se tornaria o segundo maior mercado da droga, a Distillers Company, Biochemicals Limited, aprovou seu uso e passou a distribuir o remédio para a Nova Zelândia e Austrália, sob o nome de Distavalu. Mas havia um detalhe importante. Ela foi direcionada especialmente para mulheres grávidas. Não é novidade que para quem já passou por uma gestação, o quanto os enjoos e vômitos matinais são incômodos. E foi exatamente aí que a Talidomida, com mais de 37 nomes comerciais diferentes, começou a ser vendida como remédio milagroso para esses sintomas, prometendo tornar a gravidez mais tranquila e prazerosa. O medicamento também era recomendado para o período de amamentação e vinha com a promessa de não causar nenhum efeito colateral, nem para a mãe e nem para o bebê. Lembrando que a gente tá falando da década de 50, uma época em que tônicos e fórmulas mágicas eram vendidas em toda a esquina. Com uma população ingena, mal informada e uma regulamentação extremamente fraca, o cenário estava pronto para a proliferação da charlatanice médica. No final daquela época, os lucros da já consolidada agroiental eram escandalosos. Estima-se que eles vendiam cerca de 14 toneladas de talidomida por ano e parecia que nada poderia dar errado. Mas assim como os humores sobre seus efeitos milagrosos se espalharam, começaram também a surgir boatos preocupantes. Por ironia do destino, um dos primeiros a perceber os efeitos negativos da Talidomida foi Widind Lens, um renomado pediatra e geneticista. Anos antes, ele havia feito parte da juventude hitlerista, da Liga Nacional Socialista de Estudantes Alemães e de várias outras organizações nazistas até o fim da Segunda Guerra. Mas ao contrário de muitos de seus colegas, Lenas não compartilhava das ideias de superioridade racial. Quando ele começou a investigar, Lens percebeu que havia algo errado com a talidomida. também descobriu uma rede de corrupção montada pela Groiental para conseguir comercializar o medicamento. Em 1961, um aumento repentino nos casos de abos espontâneos e de malformações graves em recém-nascidos chamou sua atenção. E ele começou a suspeitar que aquilo podia estar relacionado ao uso da talidomida. Algo difícil de provar, mas que precisava ser investigado. Lens encontrou indícios fortes. O caso mais chocante foi o de um bebê que nasceu no Natal de 1956 sem as orelhas. A mãe desse bebê havia usado talidomida durante a gravidez e esse era o fator mais relevante no histórico dela. Diante disso, Lens encontrou um contato imediatamente com a Gruental para alertar sobre o risco. E ele não foi o único. Os humores sobre os perigos da talidomida já circulavam e por isso a empresa havia passado a exigir receita médica para vender o medicamento. Mesmo assim, Lenes ligava diariamente para o laboratório durante o mês de novembro de 1961, insistindo para que retirassem o produto do mercado. Até que no dia 21 daquele mês, a indústria farmacêutica, já visivelmente incomodada com a situação, aceitou suspender a venda do remédio. Mas enquanto isso acontecia na Alemanha ocidental do outro lado do mundo, na Austrália, uma mulher chamada Pat Sparrow também percebia algo estranho. Sua irmã, que era parteira, relatava casos cada vez mais frequentes de bebês nascendo com deformações que nunca tinha visto antes na carreira. Era algo completamente fora do normal. E de novo, o fator comum era Talidomida, que estava sendo receitada por um dos médicos de um hospital em Sydney. Preocupada, Pet conversou com um médico responsável. No começo, ele relutou, mas acabou enviando uma carta a uma revista médica, perguntando se mais alguém havia notado essa possível ligação entre a droga milagrosa e os defeitos congênitos. A carta pareceu ser a confirmação de algo que muitos já suspeitavam. Quase imediatamente a teledidomida foi retirada preventivamente dos mercados da Austrália, Nova Zelândia e no Reino Unido. Mesmo sem uma comprovação científica definitiva da relação, o médico da própria empresa, The Steelers, decidiu fazer novos testes, dessa vez em coelhos, e descobriu que, diferente do que acontecia com os ratos, as novas pesquisas deixaram claro. O consumo da talidomida durante a gestação causava deformações graves nos fetos. E não só isso, quanto mais cedo a mãe tomava o medicamento, piores eram os efeitos. Com diversos estudos e cálculos, foi possível estabelecer uma estimativa. Se a talidomida fosse consumida no 20º dia da gestação, o dano seria cerebral. No 21º dia, os olhos seriam afetados. E entre os dias 22 e 23, os danos atingiam o rosto e as orelhas. No 24º dia, os braços e as pernas. E assim por diante, até os dias 28 e 30 da gestação. O tempo necessário para causar esses efeitos era tão curto que parecia impossível de acreditar, mas as evidências se somaram à campanha já iniciada por Lens na Alemanha ocidental, forçando a Groental a suspender a venda internacional do medicamento. Só que esse processo não foi tão rápido quanto deveria e acabou resultando em um julgamento com um desfecho no mínimo questionável. Então, a história se divide a partir daqui, mesmo com todas as comprovações científicas e os alertas públicos, a Talid domida sobre diferentes nomes comerciais continuou sendo vendida por alguns anos. No Canadá, por exemplo, as vendas seguiram até o fim de 1962. E o caso mais alarmante foi da Espanha, onde mesmo após a venda oficial ser suspensa em 1963, o medicamento continua em circulação por muito tempo. Só em 1985 as autoridades espanholas proibiram oficialmente seu uso. Nos Estados Unidos, a história foi diferente graças a Francis Oldhan Kelsey, uma supervisora da FDA no início dos anos 60. Mesmo sem provas concretas na época, ela decidiu barrar a entrada da Talidomida no país, apenas com base nos rumores vindos da Europa sobre os possíveis danos aos bebês. Essa decisão não foi fácil. Lens e a Distillers Company ainda demoraram um tempo para apresentar evidências suficientes e as indústrias farmacêuticas faziam pressão para liberar a venda do produto. O que a Frencis fez foi atrasar o processo, exigindo estudos mais completos. E isso gerava custos adicionais que nenhuma empresa queria assumir. Esse atraso foi essencial para que quando as provas vieram à tona, o desastre fosse evitado no território americano. O posicionamento firme de Francis salvou a vida de milhares de bebês e em 1962 ela foi reconhecida pelo próprio presidente John Kennedy. Infelizmente, embora tenha impedido a venda em massa da talidomida nos Estados Unidos, ela não conseguiu evitar os danos causados por testes clínicos que já haviam sido iniciados. Pelo menos 17 bebês americanos nasceram com malformações por conta desses testes. Ainda assim, muitos consideram que esse foi um preço aceitável diante da tragédia sem precedentes que se desenrolava na Europa. Voltando agora para o outro lado da história, com o Agroiental, existe um fato importante. A empresa já tinha conhecimento sobre aquele primeiro caso de mal formação registrado em 1956. Na verdade, é provável que eles próprios tenham sido os principais espectadores dos efeitos devastadores que o medicamento causava nas gestações. Mas quando o escândalo veio a público, a resposta da gruental foi imediata. Negaram qualquer tipo de responsabilidade. Somente em 1968 a empresa seria levada aos tribunais pelas famílias afetadas. Exigiam uma idenização pelos danos irreparáveis que aquele remédio maldito havia causado, incluindo a perda de muitas vidas. Mas o que esse processo revelou foi a enorme habilidade de Herman e sua equipe para escapar das situações mais obscuras. Então, resumindo, a indústria farmacêutica tentou alegar no início que as má formações eram acidentes naturais, um simples infortúnio, e que não havia como provar que estavam relacionados ao medicamento. Porém, diante de uma avalanche de evidências, literalmente quilos de documentos e provas, o processo começou a se arrastar até que a empresa buscou um acordo extrajudicial. Durante todo o julgamento, Herman conseguiu evitar ir ao tribunal, alegando problemas de saúde e idade avançada. A defesa chegou a tentar desacreditar Lens, dizendo que ele tinha motivos pessoais para atacar a Gruental, o que poderia comprometer a sua imparcialidade. E no fim, depois de anos, o desfecho foi no mínimo frustrante. Na verdade, chamar de frustrante é até pouco. Os executivos da Gruental, que foram acusados, acabaram sendo absolvidos e receberam imunidade para eventuais processos futuros. As autoridades consideraram que o caso não despertava mais interesse suficiente para continuar sendo desenvolvido. As famílias das vítimas foram silenciadas sem a possibilidade de continuar acusando ou exigindo que alguém assumisse a culpa. Em troca, foi criado um fundo de compensação que pagava pequenas quantias semanais, mas apenas para despesas que pudessem melhorar a condição dos afetados. O dinheiro não era entregue diretamente às famílias. O valor total, equivalente a 100 milhões de marcos alemães da época, acabou sendo pago pelo próprio governo da Alemanha ocidental. As famílias que pediram uma indenização justa receberam no máximo próteses e ajuda com cuidados básicos, mas no geral não tiveram nenhuma forma real de reparação pelos danos. Existe um motivo claro para isso ter acontecido. A mesma rede de corrupção que permitiu que a Talidomida fosse aprovada com testes precários foi a que salvou a pele da Gorriental no tribunal. Joseph Nilberger, um político judeu que era ministro da justiça no recémformado governo socialdemocrata da renância do norte. O julgamento aconteceu na renância do norte na vestefália e lá o ministro da justiça, Joseph Nelberger, tinha vínculos profissionais com Herman, tanto dentro quanto fora das atividades da farmacêutica. Então não é preciso muito esforço para perceber a bizarra ironia disso tudo. E assim a vida de pelo menos 10.000 mil crianças e de milhares de outras pessoas tiveram suas vidas marcadas ou encerradas por pura ambição corporativa que acabou ficando sem a reparação adequada. mas se serve de algum consolo ao pequeno feixe de luz nesse cenário. Algumas das crianças afetadas cresceram e se tornaram figuras de destaque nas artes e nos esportes. Mostraram que mesmo o destino sendo cruel no início da vida deles, eles conseguiram construir um futuro próspero. Já Talindomida, por mais estranho que pareça, acabou encontrando outros usos positivos na medicina. Em 1964, no meio de todo esse caos, descobriram que ela era útil no tratamento da lepra. E anos depois descobriram também que ela era útil em alguns tipos de câncer. Isso mais pro fim dos anos 90. Foi só em 2012 que a Gruental, agora sobre uma nova administração, decidiu pedir desculpas públicas aos afetados pela Talidomida, mas não se comprometeu a oferecer qualquer outra forma de ajuda. Esse pedido de desculpas foi visto como insuficiente e ofensivo pelos poucos sobreviventes daquele desastre. E, infelizmente, não seria o último escândalo envolvendo a indústria farmacêutica. Em 2010, no Reino Unido, a Gruental foi acusada de divulgar informações enganosas sobre os produtos que ela estava vendendo. Em 2020, uma falha em um lote de anticoncepcionais que foram trocados por placebo causou uma onda de gestações indesejadas no Chile. O caso da Talidomida ainda hoje é considerado uma das piores tragédias médicas da história. Mas como sempre acontece nesse tipo de situação, ela também serviu para mostrar a importância de realizar testes rigorosos com controle contínuo e extremo cuidado antes de liberar qualquer medicamento no mercado. Algumas pessoas, talvez por paranoia, talvez com uma certa dose de razão, chegaram a sugerir que tudo isso não foi apenas negligência empresarial e que tudo isso pode ter uma ligação direta com as origens dos fundadores da Groiental e com os velhos hábitos vindos da época da guerra. Mas essa parte fica paraa imaginação de cada pessoa ou conclusão própria. Mas o importante é que essa história, né, nunca mais se repita. E chegamos ao fim de mais um vídeo, pessoal. Não esqueça de se inscrever e deixar um like, caso tenha gostado. Que Jesus abençoe a vida de vocês e até a próxima.

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