como é VIVER em ALPHA CENTAURI: onde o SOL NUNCA SE PÕE

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Todo dia o sol nasce e se põe, mas 
existe um lugar que ele não vai embora. Conheça Svalbard, uma ilha norueguesa, onde você 
encontra ursos polares, uma cidade soviética abandonada, mais ursos polares, um bunker 
gelado com quase todas as sementes do mundo, e… ainda mais ursos polares!
(som de urso) As pessoas que vivem em Svalbard acordam com o 
sol, trabalham com sol e vão dormir com o sol, Tudo fica iluminado como se o tempo não 
passasse. Como se fosse um dia que não acaba. Ou pelo menos esse é o que 
acontece durante o dia polar. (som de brilho)
Esse é um período do ano em que Svalbard fica constantemente iluminada pelo sol. É 
como se fosse um dia que todo ano começa por volta de dezenove de abril e acaba vinte três de agosto.
O que é um dia realmente longo, porém, ainda assim uma hora ele acaba, e o sol se põe. Quatro 
meses é muito, mas ainda não é pra sempre. Esse é um dos lugares da terra com o dia mais 
longo de todos, porém ninguém disse que a gente precisa limitar nossa busca somente à terra.
Justamente no planeta mais próximo do nosso sistema solar temos um dia 
que não acaba… LITERALMENTE! (som de impacto)
Esse é Proxima Centauri b, um mundo que tem uma mesma face virada 
pra sua estrela em constante claridade, e a outra face fica na escuridão eterna!
O lado claro é muito quente, e o escuro, muito frio, mas bem no meio possivelmente existe um anel 
de temperatura amenas que humanos podem viver. E bom, viver nesse lugar é como viver um 
dia que não acaba. O seu sol alienígena está sempre na mesma posição no céu. No caso, 
como se estivesse num perpétuo fim de tarde. A única maneira de você ver um pôr do 
sol completo é se você caminhar do anel intermediário pra face escura e fria do planeta.
Ou seja, nesse mundo, uma mudança na posição do sol não significa uma passagem 
de tempo, mas apenas de espaço. Isso quer dizer que pra simular o movimento do sol 
no céu terrestre, em Proxima b, seria necessário fazer um longo trajeto da face clara, passando 
pelo anel intermediário, e indo até a face escura, e depois fazer o trajeto de volta.
Porém isso é muito esforço pra apenas pra se criar uma familiaridade 
com a terra. Na prática, sendo otimista, humanos no futuro, com sorte, poderiam no 
máximo escolher um lugar pra se fixar no anel intermediário e é isso! Teriam que aprender 
a lidar com um dia que parece infinito. Viver sob essas condições de luz 
constante parece ser algo simples, mas não é… por que você é um relógio!
Quando o ponteiro das horas de um relógio dá uma volta completa, se passou vinte e quatro 
horas. Depois o mesmo ponteiro dá outra volta, a mesma quantidade de tempo se passou.
Isso parece óbvio, mas quer dizer que um relógio possui um ciclo que se repete 
em uma quantidade de tempo fixa. Ou seja, podemos prever sempre o que vai acontecer no 
futuro desse ponteiro. Ele vai sempre levar vinte e quatro horas pra completar uma volta.
De certa forma podemos dizer que o planeta terra é como um relógio. Ele possui um ciclo 
de rotação que dura vinte e quatro horas, e ele é basicamente fixo e previsível.
Você não acorda aleatoriamente num dia e pensa, será que hoje o dia vai durar onze horas? Ou 
cinquenta? Você já sabe o que vai acontecer! Essa previsibilidade do mundo 
a nossa volta permitiu que a evolução da vida internalizasse esse ciclo.
Um ser vivo não é surpreendido todo dia com o nascer ou pôr do sol. O funcionamento da sua 
fisiologia e até das suas células individuais é capaz de prever e se antecipar ao movimento do sol 
no céu. Isso é conhecido como ritmo circadiano! O ritmo circadiano cria uma coordenação de todos 
os processos que acontecem dentro do seu corpo, como se fosse uma intrincada 
orquestra sincronizada com a luz. Assim é a vida na terra, e não poderia 
ser diferente! Ao longo de bilhões dos anos da evolução terrestre, os seres que não 
estivessem sincronizados com o mundo, iriam, por exemplo, estar mais expostos a predadores.
Um rato, por exemplo, é um animal noturno por um bom motivo. Porque se ele resolve 
dormir à noite e buscar comida de dia, certamente ele vai ser muito mais facilmente 
visto por um predador em plena claridade. Um rato como esse certamente 
teria mais dificuldade de passar seus genes pras próximas gerações.
Além disso, seres não sincronizados poderiam não aproveitar momentos com maior chance de fazer 
uma refeição. Os alimentos não seriam digeridos ou ingeridos no melhor momento, o pico de 
funcionamento cerebral poderia acontecer na hora errada e o ciclo de 
sono poderia ficar prejudicado. Tudo poderia ficar descoordenado num organismo 
assim, do comportamento até os pequenos processos moleculares que acontecem em cada célula.
Isso tudo seriam desvantagens pra seres que não viveriam em sincronia com o 
mundo. E por isso eles perderiam a longa luta pela sobrevivência da evolução.
O que restaria não poderia ser diferente, você, eu e basicamente toda a vida 
na terra também somos relógios com ciclos de cerca de vinte e quatro horas.
Agora veja que interessante. Esse relógio interno que você tem funciona de forma autônoma, 
por si só! Ou seja, ele não necessariamente precisa estar na terra pra funcionar.
Você ou outro ser humano pode muito bem viver em outro planeta e o seu relógio 
interno pode continuar do mesmo jeito. Você pode morar em Proxima Centauri b sob 
constante luminosidade e ainda assim ir dormir, acordar, comer e trabalhar tudo dentro 
de ciclos de vinte e quatro horas. Ou pelo menos seria assim na teoria.
Na prática, apesar de poder funcionar sozinho, o seu relógio interno acaba 
sendo dependente do relógio externo, as mudanças de claro e escuro ao seu redor. O seu 
interior tende a se sincronizar com o exterior. Pode parecer pouca coisa, mas só o fato 
de você olhar pra luz já gera toda uma reação em cadeia dentro do seu corpo.
Dentro do seu olho existem células especializadas que são sensíveis à luz, 
elas formam as cores e formas que vemos. Porém existe um outro tipo de células que apesar 
de serem sensíveis à luz, elas não ajudam em nada a formação de imagem. Elas não estão preocupadas 
com cores, formas, e nem de onde vem a luz, só há uma coisa que ela registra: a intensidade da luz.
E elas são sensíveis principalmente a um tipo específico de luz, a de cor azul. E 
quanto mais dessa cor seu olho capta, mais o nervo do seu olho é estimulado. Quanto 
mais ele é estimulado, mais intenso é o sinal que chega no seu relógio principal, o marcapasso 
mestre, o chamado núcleo supraquiasmático. O núcleo supraquiasmático é uma certa parte 
do seu cérebro que fica atrás dos seus olhos. Podemos dizer que ele é responsável 
por controlar o relógio de basicamente todos os órgãos e as células do corpo humano.
Ou seja, você não tem só UM relógio interno, você tem vários, um principal no seu cérebro e 
vários outros periféricos pelo resto do organismo. E os relógios periféricos são influenciados 
pelo principal, que por sua vez é sincronizado pela luz azul! Quanto mais luz azul mais seus 
relógios são levados a crer que está de dia. Caso contrário, seria entendido como noite.
Isso funciona direitinho aqui na terra, mas e no caso de Proxima b?
Em Proxima b haveria um sol alienígena que fica parado no céu, e o seu corpo ficaria travado 
achando que está de dia, ou mais ou menos isso. Seus relógios internos não iriam pensar que seria 
plenamente dia porque tem um pequeno detalhe, a luz do sol alienígena não é como a do nosso sol.
Nosso sol emite uma larga faixa de cores visíveis, enquanto que o sol de Proxima b emite pouca luz 
visível, sendo principalmente a cor vermelha. Isso quer dizer que mesmo com o sol o tempo 
todo lá nesse céu alienígena, o nosso núcleo supraquiasmático, o nosso relógio principal iria 
pensar que seria quase de noite. Talvez como se fosse aqueles últimos minutos do fim da tarde.
Nosso corpo estaria eternamente preso no entardecer.
Isso faria com que nosso corpo ficasse totalmente desregulado. Haveria 
problemas desde o sono até um envelhecimento precoce e uma maior chance de câncer. Mas ainda 
há uma maneira de resolver isso, basta a gente voltar a olhar prum certo lugar frio.
Em Svalbard, o dia pode não durar pra sempre mas dura quatro meses, e isso pode já 
parecer uma eternidade pra quem mora lá. E eles deram um jeito de simplesmente conviver com isso.
Quando o sol não vai embora, sabe o que as pessoas dessa ilha fazem de diferente? Nada!
Elas continuam suas vidas exatamente do mesmo jeito, elas continuam com seus horários 
de sempre pra dormir, acordar, comer, trabalhar, fazer compras, se divertir, tomar banho 
e… passear com o cachorro no meio da neve. O grande segredo é esse, é apenas se 
obrigar a continuar a vida, dar um senso de normalidade, é a força do hábito. A hora que 
você faz as coisas e socializa acaba se tornando o relógio externo que sincroniza os seus internos.
A diferença que isso faz pode ser vista mais claramente em um estudo com 
pesquisadores na Antártica, numa época do ano também de sol constante.
Os pesquisadores que tinham muito o que fazer e precisavam se planejar com horários certinhos, 
não tiveram nenhuma mudança no seu ciclo de sono. Mas já os pesquisadores que tinham 
menos coisas pra fazer e mais tempo livre podiam acabar se dando ao luxo de não ter 
horários tão rígidos. Possivelmente por causa disso tiveram um atraso no ciclo de sono.
Agora isso quer dizer que humanos poderiam morar em Proxima b caso tivessem horários 
mais rigorosos como as pessoas de Svalbard? Bom, pra se morar lá ainda existem 
muitos outros desafios a serem superados, e muitos talvez nunca sejam.
Mas certamente se um dia a engenhosidade humana conseguir a proeza de dar o seu primeiro 
passo em Proxima b rumo a conquista da galáxia e o universo, uma coisa é certa. Nós temos 
muito o que aprender com uma certa ilha gelada.

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