Como era o mundo antes dos dinossauros?

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Charles Darwin teve problemas com o período cambriano até o seu último dia de vida. Ele parecia um furo nas suas ideias. Isso porque antes do cambriano, o mundo parecia completamente desolado e pobre em vida animal. Mas dele em diante, os animais formavam comunidades ricas e complexas no planeta inteiro. Esse aparecimento súbito dos animais no registro fóssil ficou conhecido como a explosão cambriana. Uma aparente contradição gritava entre a complexidade dos primeiros animais e o tempo que seria necessário para que eles evoluíssem lentamente pelo processo de seleção natural proposto por Darwin. O cambriano, conhecido por sua fauna psicodélica e bizarra, marca o fim da era das bactérias e o começo do éon dos animais, o fanerozóico. Esse é on é dividido em três grandes eras. o senozóico, em que vivemos atualmente, conhecido como a era dos mamíferos, o mesozóico, famosa era dos dinossauros, e, antes dele, o paleozóico, de longe, o mais longo e mais repleto de eventos importantes paraa evolução da vida complexa. A era paleozóica começa com a explosão cambriana, o maior evento de diversificação e inovação animal na história da vida. Passa pela história épica da conquista dos continentes por plantas e animais e termina com a extinção do permiano quase 300 milhões de anos depois, conhecida como a grande morte que deixou a vida complexa no planeta por um fio, pechando o paleozóico e inaugurando a era dos dinossauros. O fato é que se Charles Darwin pudesse saber o que sabemos hoje, ele dormiria mais tranquilo, porque desde então, novos fósseis incríveis nos ajudaram a montar o quebra-cabeças enigmático do surgimento dos animais. Mas esse é só o começo da era mais insana do planeta Terra. Hoje vamos descobrir quem foram os primeiros animais, como eram os continentes quando as plantas eram recém-chegadas. Conheceremos as primeiras florestas do planeta e seus habitantes. Entenderemos como os peixes se adaptaram para viver em terra firme e porque a vida ficou por um fio na pior catástrofe natural da história do planeta. Essa é a história da era paleozóica. [Música] Nossa jornada começa 700 milhões de anos atrás, no período criogeniano da era neobroterozóica. Essa é a Terra Bola de Neve, a última vez em que nosso planeta ficou completamente congelado até o Equador. No Equador, onde a camada de gelo era mais fina e a luz do sol atravessava, a vida estava passando por muitas revoluções. Os ancestrais multicelulares de animais, fungos e plantas já existiam debaixo desse gelo, embora ainda microscópicos. Existem evidências de estruturas parecidas com espícolas de esponjas. que datam de muito antes disso, com cerca de 890 milhões de anos de idade. Embora esses estudos sejam controversos, eles podem indicar que a história da evolução dos primeiros animais e seres multicelulares tenha quase 1 bilhão de anos de idade. Se isso for verdade, significa que pelos seus primeiros 320 milhões de anos de existência, os animais foram seres raros, microscópicos e simples. Talvez, se não fosse a longa e severa era do gelo do criogeniano, eles teriam dominado o mundo muito antes. [Música] Por muito tempo se pensou, assim como Charles Darwin morreu imaginando que os primeiros animais haviam surgido na chamada explosão cambriana, quando fósseis de animais já relativamente grandes e complexos, como trilobitas, aparecem subitamente nas rochas. Desde então, nós descobrimos que a verdadeira grande primeira irradiação evolutiva da vida animal aconteceu muito antes, durante o período ediacarano, o último do chamado é um das bactérias. 575 milhões de anos atrás, as primeiras faunas aparecem no que chamamos de explosão de Ávalon. Se a fauna cambriana já era considerada bizarra, a ediacarana chega a ser psicodélica. Quase nenhuma forma reconhecível de animal moderno é encontrada em meio a esses seres fractais de corpos moles, cuja própria identidade de animais ainda é intensamente debatida. Alguns pesquisadores chegam a sugerir que se tratam de outro tipo de vida multicelular já completamente extinta. Tamanha é a falta de familiaridade com qualquer coisa que exista atualmente. No seu início, essa biota era composta praticamente de animais céceis e filtradores passivos, com os mais ativos deles se arrastando pelo chão, absorvendo nutrientes dos tapetes de algas lentamente. Como o dick insônia, muito diferente das relações ecológicas dinâmicas e complexas que temos hoje. Darwin e a Mar ter conhecido o jardim deakara, uma biota que nos mostra que a explosão cambriana teve um pavio muito mais longo do que se pensava, mas ainda assim teve um legado poderoso e permanente na história da vida. 543 milhões de anos atrás, 30 milhões de anos depois da explosão de Avalon e 5 milhões de anos antes da explosão cambriana, viveu Corumbela, um dos primeiros animais com esqueleto organizado, um quinidário parente das águas vivas e corais. Ela possuía um esqueleto de estrutura poligonal, tinha poucos centímetros de altura e se fixava no substrato, formando alguns dos primeiros recifes primitivos. Apesar de pequenas, elas foram revolucionárias. Os esqueletos, na passagem do ediacarano para o cambriano, se tornaram a convergência evolutiva mais comum, aparecendo quase que ao mesmo tempo em dezenas de linhagens animais, independentemente, a esqueletogênese, processo pelo qual os animais adquiriram esqueletos, impõe um viés no registro fóssil, porque animais com partes duras se fossilizam muito mais facilmente. Antes dos esqueletos aparecerem, praticamente todos os animais tinham corpos moles, ampliando aparentemente a explosão cambriana e dando a impressão de que os animais já apareceram complexos. A vida estava se protegendo de pulsos de cálcio que afetavam os oceanos periodicamente, alterando suas condições químicas. Segundo a hipótese da detoxificação, os primeiros esqueletos surgiram quando os animais lidavam com um excesso de cálcio na água, secretando na forma de uma casca. Com os primeiros esqueletos, rapidamente aparecem os primeiros predadores. A predação foi provavelmente o gatilho ecológico mais forte de toda a explosão cambriana. Foi essa simples relação que moldou as primeiras teias alimentares, dando contexto pra segunda grande radiação animal. A predação é importante porque ela desloca uma guerra armamentista, adicionando uma pressão seletiva para coisas que hoje definem os animais. Visão, velocidade, proteção, só para nomear os mais importantes. Um buraco em um esqueleto de Claudina indica que a predação já existia no ediacarano, mas não conhecemos seus predadores. A partir daí, o mundo nunca mais seria o mesmo. O cambriano começa 538 milhões de anos atrás, juntamente com a era paleozóica e o éonfanerozóico, e termina 486 milhões de anos atrás. O Big Bang da evolução foi muito menos explosivo do que pensávamos. Ele durou pelo menos 20 milhões de anos. A explosão cambriana não foi um evento único. Ela tem pelo menos quatro estáos. Os primeiros deles podem ser definidos pelo tipo e profundidade das tocas fossilizadas que são encontradas. A explosão de inovações do cambriano foi tanto anatômica quanto ecológica. Significa que os animais estavam explorando novas partes do corpo e novas formas de vida. Uma delas foi se enterrar e explorar o subsolo. E essa pode ter sido uma das mais importantes de todas, a chamada revolução agronômica, em que animais começaram a perturbar os sedimentos e tornaram a fossilização de organismos de corpos moles muito mais improvável. Durante o cambriano, os animais passaram a nadar, se enterrar, se mover de formas novas. Desenvolveram novos feedbacks ecológicos entre predadores e presas. ganharam olhos, esqueletos, nadadeiras, garras, dentes e apêndices dos mais variados. Era uma criança brincando com um brinquedo novo. Esse pode ter sido o período mais quente da história da vida animal. E o oxigênio estava flutuando em torno de 13%, pouco se comparado aos 21% de hoje. Embora esse nível de oxigênio seja alto se comparado a níveis pré-cambrianos, ele ainda era baixo demais para produzir animais verdadeiramente gigantes. Com a Terra mais quente, não existia gelo nos polos e os oceanos eram consideravelmente mais altos. Isso criou uma imensa plataforma oceânica de áreas rasas, onde a vida podia prosperar e se diversificar. Os continentes eram muito diferentes. Em suas áreas costeiras, mais suscetíveis a marés e tempestades, onde a humidade do oceano penetrava, algas e bactérias fotossintéticas se associavam a fungos para criar os pequenos, tímidos, mas potencialmente revolucionários ecossistemas terrestres. O interior dos continentes, ao contrário, era um deserto sem vida, mas as coisas estavam a caminho de mudar, porque essa versão terrestre dos tapetes ediacaranos estava lentamente mudando o mundo. Eles estavam fundando o solo da forma que nós conhecemos. Era difícil crescer na rocha bruta e na areia, mas a atividade química daqueles seres fotossintéticos degradava a superfície e adicionava matéria orgânica. O caminho para os primeiros musgos, plantas e ecossistemas terrestres é longo, mas já estava sendo pavimentado. Tanto essa biomassa fotossintética quanto a matéria orgânica morta que se acumulava atraía cada vez mais microrganismos, fungos e animais para os continentes. Artrópodes como insetos, quicerados, crustácios e miriápodes ainda são os animais mais diversos da Terra e sua dominância começou já no cambriano. Seus corpos fragmentados com exoesqueletos articulados se provaram um prato cheio para evolução e um sucesso de adaptação. Trilobitas tinham tudo que fez sucesso durante a explosão cambriana. Um esqueleto rígido capaz de proteger de predadores. Um corpo segmentado com apêndice servindo à locomoção, alimentação e reprodução. Uma simetria bilateral e uma cabeça onde se concentram os órgãos sensoriais e a entrada do sistema digestivo. Eles, que já foram considerados os primeiros animais, pareceram seguir rigorosamente a cartilha do bom animal cambriano. Eles foram alguns dos primeiros animais com olhos, os primeiros seres vivos a enxergarem o mundo. Os trilobitas são um grupo completamente fóssil hoje e mesmo assim eles são mais diversos do que muitos grupos viventes, tendo mais de 15.000 espécies de escritas. Eles, assim como todos os artrópodes e diversos outros filos de animais cambrianos, estavam envolvidos em uma guerra armamentista que levava diversas inovações anatômicas e ecológicas nos animais. Quanto mais eficientes os predadores, maior a pressão seletiva em presas capazes de se defender. E quanto mais armadas as presas, mais precisos, sensíveis e poderosos os predadores se tornavam. Um dos mais importantes super predadores do cambriano era Anomalucaris. Com cerca de 1 m de comprimento, esse é um dos maiores animais que o cambriano produziu. Sua boca circular era auxiliada por dois apêndices poderosos capazes de manipular pequenos animais e quebrar suas conchas. Ele faz parte de um diverso grupo de artrópodes que já não tem nenhum descendente vivo, os radiodontes, conhecidos por suas bocas circulares e apêndices faciais peculiares. Outro tipo de artrópode predador muito comum, embora bem menor, eram os opabinídios, como opabínia. Diferente de anomalocares, que tinha dois apêndices faciais, o pabíia tinha apenas um, com uma estrutura parecida com uma quela na ponta. Estranhamente, esse animal tinha cinco olhos, o que significa que enxergar o mundo em todas as direções possíveis era uma grande vantagem mesmo para um predador nos oceanos do Cambrian. O maior de todos os animais de vida livre era o bizarro predador Omnidence, um tipo de artrópode basal com uma aparência única que podia chegar a 2 m de comprimento. Esse pode ter sido, juntamente com os anomalocarídeos, um dos primeiros predadores de topo da história dos animais e já foi um dia o maior animal de todos os tempos. Nadando nos mares cambrianos, estava um pequeno animal que parecia o cruzamento entre um peixe e um verme chamado Haiko Wicktis. Ele é considerado um dos cordados mais basais e um dos primeiros animais com algo parecido com um crânio, embora ele não tivesse mandíbulas e se alimentasse por meio da sucção com uma boca simples, duas características o denunciam como nossos ancestrais distantes. Uma notocorda, estrutura cartilaginosa segmentada que percorre o corpo do animal dorsalmente, organizando o sistema nervoso e um sistema de organização muscular chamado mióton. Animais como ele e como Pikaia, alguns dos primeiros cordados dos quais descendemos, não estavam nem de longe no topo da cadeia alimentar, mas eram animais comuns e adaptáveis, prestes a se tornarem alguns dos animais mais importantes da história. Mas alguns de nossos primos cordados eram bem mais bizarros, como os vetulia. Esses animais aparentemente alienígenas tinham seus corpos divididos em duas partes. Uma anterior com uma grande abertura oral e cinco fendas laterais interpretadas como guelras e uma longa parte posterior com sete ou mais segmentos que servia como uma cauda propulsora. Alguns deles tinham algo parecido com um bico e os maiores chegavam ao tamanho de uma mão humana. Estranhamente, eles não tinham nem apêndices locomotores, como nadadeiras e nem olhos, fazendo deles possivelmente filtradores de partículas orgânicas na água. 485 milhões de anos atrás, essa primeira grande comunidade animal do planeta é afetada severamente por uma extinção em massa muito mal compreendida. Hipóteses mais aceitas propõem atividades vulcânicas, baixos níveis de oxigênio, acidificação e mudanças na temperatura e nível do oceano, como as principais causas dessa catástrofe global, que eliminou grande parte da fauna cambriana e deu passagem para o ordoviciano. Sem nenhum gelo, o nível do mar era muito mais alto, condição ideal paraa formação de muitos ambientes marinhos rasos, algo que a vida nos oceanos soube aproveitar muito bem. Essas grandes áreas de plataforma continental se tornaram o palco paraa terceira grande explosão de diversidade animal. Se no Cambriano os filos animais haviam aparecido pela primeira vez de formas bizarras e quase irreconhecíveis, no ordiciano eles começam a ficar mais familiares e vários tipos de animais aparecem pela primeira vez. Esse evento é conhecido como grande evento de diversificação do ordoviciano, tão impressionante quanto a explosão cambriana. Muitos filos de animais adquiriram formas novas que reocuparam os ecossistemas, com destaque para os artrópodes e os moluscos. Eles se tornaram tão diversos que deram origem ao maior predador que já havia existido até então, o gigante Cameroceras. Esse molusco predador de 6 m de comprimento tinha uma concha cônica e alongada. E na base do cone, tentáculos ao redor de um bico duro que o colocava no topo da cadeia alimentar. Poucas coisas podiam se defender do Cameroceras. Moluscos desbancaram os radiodontes do posto de predadores de topo e grande parte da sua diversidade desapareceu. Mas isso não significou seu fim ainda. O último grande radiodonte foies. Ele era um artrópode que vivia como uma baleia, podendo chegar a 2 m de comprimento. Ele pacificamente filtrava a água em busca de alimento, sendo o primeiro grande animal filtrador móvel. Um nicho que resultou em muitos animais gigantes ao longo do tempo, incluindo a baleia azul, o maior animal da história. Talvez a extinção do final do cambriano tenha selecionado radiodontes que podiam viver de formas mais simples, filtrando partículas orgânicas na água, ao invés de perseguindo suas presas ativamente. Já os peixes até o início do ordoviciano eram parecidos com lampreias e peixes bruxa, sem mandíbulas, com bocas circulares e nenhuma nadadeira. Eles continuaram sem mandíbulas durante o ordoviciano, mas eles ganharam armaduras. Com a evolução dos ostracodermos, os peixes puderam ficar um pouco maiores e menos vulneráveis, o que foi central para sua diversificação. Os esqueletos externos dos peixes ostracodermos acumulavam minerais chave pro seu metabolismo e podiam funcionar como baterias nesses peixes basais. Euripiterídeos, como pentecópteros, patrulhavam as águas rasas, caçando o que estivesse ao seu alcance. Esse escorpião do mar, de 2 m de comprimento, aterrorizou nossos ancestrais no ordoviciano. Eles se tornaram ainda maiores e mais dominantes durante o período seguinte. Euídeos não eram escorpiões de verdade. Esse é só o seu nome popular. Seu grupo não tem nenhum representante vivente. Eles estiveram entre os últimos artrópodes predadores de topo. O interior dos continentes era basicamente desprovido de vida, mas quanto mais próximo da costa e quanto mais úmido o ambiente, mais permanente ficava a cobertura vegetal. Foi só durante o ordoviciano que as primeiras plantas primitivas com esporos se tornaram dominantes. Nós não sabemos exatamente como elas eram, porque plantas tendem a deixar um péssimo registro fóssil, principalmente as pequenas e delicadas, como eram as plantas ordovicianas. Mas nós sabemos que elas existiam porque conhecemos seus esporos. A camada criptogâmica que cobria as rochas mais úmidas dos continentes estava engrossando e se expandindo, porque esses primeiros musgos lentamente se adaptaram à vida em terra seca. Esse novo tipo de planta se espalhou e expandiu a cobertura vegetal nos continentes, aumentando o intemperismo das rochas e fertilizando os oceanos. As plantas mais altas do mundo nessa época tinham alguns centímetros de altura. A matéria orgânica de seus corpos mortos ia sendo incorporada ao sedimento, acelerando a formação do primeiro solo. Nas águas costeiras e beiras de rios, artrópodes, moluscos e anelídeos estavam se adaptando para passar pelo menos parte do tempo em terra firme, na delicada e complexa transição evolutiva chamada terrestrialização. Assim como caranguejos atuais, esses primeiros insetos primitivos, miriápures e crustáceos, entre muitos outros, passavam parte do tempo nas praias partes submersos. Mas na medida em que o ordoviciano se encaminhou pro seu final, as coisas mudaram drasticamente. Possivelmente um asteroide foi estilhaçado pelas forças gravitacionais em certos pontos da órbita terrestre, formando um anel planetário que durou cerca de 40 milhões de anos. Esse anel provocou dois efeitos que mudaram a história do planeta Terra. Em primeiro lugar, ele se desfez aos poucos, sendo engolido pela Terra, causando uma frequência de impactos centenas de vezes maior do que a atual, em uma faixa estreita do Equador terrestre. Em segundo lugar, ele produziu uma sombra no planeta que diminuía a quantidade de luz solar que chegava até a superfície, lentamente reduzindo as temperaturas que começaram extremamente quentes no ordiciano. Esses impactos, combinados com uma glaciação intensa, devem ter causado estresses ecológicos grandes demais para que grande parte da fauna sobrevivesse, causando mais uma extinção em massa extremamente devastadora. Contribuindo para essa tendência de resfriamento, estavam aqueles primeiros ecossistemas terrestres costeiros. Não só porque facilitavam as explosões de algas pelo intemperismo, mas porque o aumento da sua própria biomassa no processo de formação do solo sequestrava carbono da atmosfera. A perda de habitat, baixas temperaturas, acidez no oceano e anoxia aniquilaram 85% das espécies do ordoviciano. Essa é a primeira das cinco grandes extinções em massa do fanerozoico e a segunda pior. [Música] Onde o ordoviciano termina, o siluriano começa. Ele é o mais curto dos períodos paleozóicos com apenas 24 milhões de anos. de 443 até 419 milhões de anos atrás. Mas isso não significa que ele não esteja abarrotado de eventos importantes, entre eles os passos mais relevantes na terrestralização de animais e plantas. O siluriano começa com a recuperação da glaciação que exterminou a fauna ordoviciana. Durante toda a sua duração, a temperatura está aumentando. Gondiuana tem grandes plataformas continentais onde os recifes se recuperam do golpe que levaram. O imenso oceano Pantalaça cobre o hemisfério norte do planeta. O interior de Gonduana ainda é hostil, seco e relativamente frio. Mas nas áreas costeiras e com chuvas constantes, uma revolução estava acontecendo. As plantas continuaram construindo o solo. Quanto mais solo, mais profundamente as raízes podiam ir e mais resistentes à dessecação, as plantas se tornavam. Quanto mais profundamente as raízes se estabeleciam no solo, mais sedimento era integrado à camada orgânica. Vegetação e solo estavam se tornando íntimos e evoluindo conjuntamente para estabelecer os habitat continentais. Mas essas primeiras plantas eram muito diferentes. Suas parentes vivas mais próximas são as licófitas, cavalinhas e avencas. As plantas silurianas eram muito mais altas do que as ordovicianas. Apesar da vegetação mais alta não passar muito da altura do joelho, elas conseguem se tornar gigantes em comparação com os musgos que dominavam até então, usando uma inovação que viria a definir todas as plantas. Vas condutores. As chamadas plantas vasculares têm tubos internos que transportam água e nutrientes, assim como veias em animais. E assim são capazes de ir muito além dos ambientes em que as plantas estavam restritas. Cucsônia foi uma das mais comuns dentre essas plantas vasculares primitivas. Apesar de pequena e parecida com uma suculenta esquisita, ela foi revolucionária. As plantas sozinhas jamais seriam capazes de fundar os ecossistemas terrestres. Elas contaram com a ajuda dos fungos para isso. Sem todo o trabalho de degradação feito por fungos e bactérias do solo, animais e plantas mortas nunca voltariam a ser nutrientes que fertilizam os vegetais. Significa que sem os fungos a vida nos continentes seria impossível para plantas e animais. Eles tiveram um papel central nessa transição, mas um deles absolutamente se destacava na paisagem. Prototaxitis. Esse fungo gigante se erguia como uma torre que poderia chegar até 9 m de altura. Eles foram entre o fim do siluriano e o começo do devoniano os seres mais altos do planeta. Sem animais grandes para comer as plantas, elas cresciam, morriam e se acumulavam. Essa camada de plantas mortas e musgo alimentava imensas redes de fungos que, assim como um cogumelo, projetavam uma estrutura reprodutiva imensa para espalhar seus esporos. Esse ambiente com solo crescente, plantas vasculares primitivas e fungos gigantes era uma oportunidade boa demais para ser perdida pelos animais. 419 milhões de anos atrás, termina o breve siluriano e começa o devoniano, um período recheado de eventos importantes pra história dos vertebrados em específico e de toda a vida no planeta no geral. Durante seu início, euripiterídeos gigantescos como Jaquelópteros ainda eram alguns dos principais predadores em mares rasos. Esse animal cujo grupo recebeu o apelido de escorpiões marinhos chegava a quase 3 m de comprimento, tendo sido um dos maiores artrópodes de todos os tempos. Com duas grandes pinças cheias de espinhos, ele era capaz de segurar suas presas com força, quebrando suas carapaças para consumi-los inteiros. Algumas de suas presas deviam ser os antigos peixes ostracodermos, que a essa altura já haviam desenvolvido armaduras com formatos dos mais variados, alguns também repletos de espinhos. Por mais que alguns deles fossem maiores do que isso, a maioria não tinha mais do que 20 cm de comprimento, como o pequeno Piteraspes, que também viveu no início do Devoniano. Apesar de seu pequeno chifre no rosto e espinho nas costas, esse peixe não estava a salvo de Predadores. Mas um novo tipo de peixe, os Placodermos, apareceram para mudar o jogo para sempre. Eles foram alguns dos primeiros peixes com mandíbulas. Placodermes tinham carapaças ósseas resistentes e nadadeiras pares que os tornavam aptos para nadar em mar aberto mais eficientemente. A hipótese mais aceita pra evolução da mandíbula é que ela deriva de uma estrutura de sustentação das guelras, sendo adaptada para dar força na mandíbula e ancoragem aos dentes, que já existiam muito antes. Esse grupo, os gnatos tomados, os animais com mandíbula, se diversificaram e contestaram a dominância dos artrópodes e cefalópodes no posto de super predadores. Apesar de terem se originado durante o siluriano, foi no Devoniano que os peixes com mandíbulas de fato prosperaram pela primeira vez, dando a esse período a alcunha de era dos peixes. Predadores placodermos como Dancleos iniciaram a era de domínio dos vertebrados sobre os oceanos que dura até hoje. Esse animal tinha uma mordida absurdamente forte, apesar de não ter nenhum dente. O que aparenta ser uma arcada dentária era na verdade composto de placas ósseas cortantes afiadas que funcionavam como um bico, muito eficientes para quebrar as carapaças de animais fortemente armados que eram presas de dancleósteos. O devoniano também viu o aparecimento dos primeiros tubarões, que apesar de predadores, também eram presas dos placodérmes gigantes. Foi durante esse período que também apareceram os primeiros amonites, moluscos cefalópodes, que se tornaram ícones da era dos dinossauros, desaparecendo juntamente com eles 340 milhões de anos mais tarde. [Música] O devoniano, evoluíram as primeiras plantas com porte arbóreo e consequentemente as primeiras florestas do mundo. Plantas gigantes como Aroptéris representavam uma linhagem entre as samambaias e os pinheiros, que se reproduziam por esporos precursores das primeiras sementes, fazendo delas menos dependentes de ambientes muito úmidos e expandindo a extensão dos vegetais em terra firme. Esses novos ecossistemas aceleraram a formação do solo e tornaram os ambientes continentais cada vez mais complexos e atraentes para os animais. Dentre os muitos novos tipos de peixes que surgiram no Devoniano, um deles é particularmente importante pra nossa história, já que ele foi um dos pioneiros na terrestralização dos vertebrados. Tictalic. Esse animal faz parte do grupo dos peixes de nadadeira lobada, os sarcopterígios, que tem ossos e músculos em suas nadadeiras, descendendo de peixes muito parecidos com os celantos que conservam essa anatomia ancestral até hoje. Ele é icônico porque conecta sarcopterígios mais predominantemente aquáticos, como os próprios celacantos, aos mais parecidos com anfíbios com patas e dedos bem definidos, como iktiostega. Tict se rastejava em águas rasas e pobres em oxigênio, usando suas nadadeiras, que, por mais que parecessem fracas, já tinham toda uma estrutura óssea conectada à sua coluna para dar sustentação ao seu peso em terra firme. Esses peixes haviam transformado suas bexigas natatórias em pulmões, um órgão que originalmente servia para controlar a flutuação, mas agora eram capazes de respirar ar atmosférico, apesar de ainda terem guelras. Tict não era de forma alguma um animal terrestre, tendo um modo de vida anfíbio muito dependente de ambientes aquáticos. Mas peixes parecidos com eles se tornaram cada vez mais independentes da água e dariam origem aos primeiros tetrápodes anfíbios. É interessante reparar que os vertebrados foram alguns dos últimos grupos animais a se terrestrializarem, dezenas de milhões de anos depois dos primeiros artrópodes ocuparem a terra firme. Isso significa que quando chegamos nos continentes, eles já estavam dominados por diversos tipos de animais adaptados à vida em terra firme há muito tempo. Ao final do devoniano, dois pulsos de extinção afetaram severamente, principalmente os ecossistemas aquáticos, eliminando grande parte das espécies que existiam. Essa foi a segunda das cinco grandes extinções em massa do planeta Terra, causada por uma série de fatores como resfriamento global, que eliminou grande parte das áreas de mares rasos, e a noxia dos oceanos, que sufocou grande parte da fauna marinha. Nós tetrápodes escapamos por muito pouco. Grande parte dos peixes que deram origem aos tetrápodes como Tictalic foram extintos, deixando apenas seus descendentes mais adaptados à vida terrestre. Se não fossem essas grandes extinções, animais como eles poderiam existir até hoje, assim como pouquíssimos cantos que preservam uma anatomia ainda mais antiga. Talvez os tetrápodes tenham sobrevivido justamente porque as extinções no fim do devoniano afetaram muito mais gravemente os oceanos do que os continentes, que continuaram prosperando, favorecendo a permanência de formas mais terrestralizadas, como os primeiros anfíbios e seus ancestrais. 359 milhões de anos atrás, o devoniano da passagem ao período carbonífero, que durou pelos próximos 60 milhões de anos. O planeta estava dividido em dois grandes supercontinentes, Gonduana no hemisfério sul e Euramérica no hemisfério norte. Pela primeira vez, peixes cartilaginosos aparentados com os tubarões se tornaram os principais predadores do oceano, se aproveitando do recente declínio dos escorpiões marinhos, placodermes e moluscos predadores. Mas se você acha que os oceanos seriam lugares mais reconhecíveis, você se engana redondamente. Porque os peixes cartilaginosos desse período foram alguns dos mais estranhos e de interpretação mais desafiadora da história da evolução dos vertebrados. com animais com cabeças tão absolutamente incomuns que muitas vezes nossa única explicação para elas seria a seleção sexual. Outros como Tuly Monstrum são alguns dos animais de mais difícil interpretação da história da paleontologia. Esse animal de cerca de 30 cm de comprimento é o mais próximo que podemos chegar de um alienígena. Seus olhos posicionados nas extremidades de duas antenas e uma boca parecida com uma quela na ponta de uma tromba articulada são características tão absolutamente únicas que temos problemas até mesmo para enquadrá-lo em uma das categorias mais fundamentais da zoologia, a devertebrado ou invertebrado. Nosso maior consenso é de que se tratava de um animal bilateral. O resto é um absoluto mistério. Foi durante esse período que a vida em terra firme pegou no tranco e se espalhou por todos os cantos. Durante o Devoniano, as florestas estavam muito limitadas a regiões mais úmidas e costeiras, mas no carbonífero elas se tornaram um sistema global. As condições climáticas mais quentes e úmidas favoreceram o estabelecimento de florestas úmidas e densas de porte tropical por quase todo o planeta. Essas plantas eram totalmente diferentes das plantas de hoje. As plantas com sementes eram uma minoria, uma raridade. Quase todas as plantas parecidas com árvores se tratavam de helicófitas, cavalinhas e samambaias gigantes que chegavam a 50 m de altura. No caso de Lepidodendron, a evolução das primeiras grandes florestas úmidas globais ofereceu um oasis de oportunidades para os animais que haviam se terrestrializado, poupados na loteria da extinção, que havia dilacerado a diversidade de animais marinhos durante o fim do devonio. Mas essas florestas também quebraram o ciclo do carbono. Elas puderam crescer tão alto e se tornaram tão estratificadas graças a uma inovação bioquímica em sua estrutura chamada liquina, que no futuro se tornaria uma molécula fundamental pra formação de madeira verdadeira. A lignina conferia força e resistência, permitindo uma certa elasticidade, fazendo essas plantas serem capazes de chegar alturas que a vida terrestre jamais havia alcançado. Mas a resistência da lignina teve uma consequência que estava prestes a mudar a vida no planeta de outra maneira. Ela era muito difícil de ser digerida. Seus consumidores, decompositores de matéria orgânica, como bactérias e fungos atuais capazes de quebrar a lignina, ainda não haviam evoluído. Na medida em que caíam, essas árvores se fragmentavam fisicamente, mas não eram totalmente decompostas, formando camadas intermináveis de material fibroso que se empilhavam ao longo dos milênios. Para produzir essa biomassa, as plantas capturavam moléculas de CO2 da atmosfera, o usavam para construir seus corpos e o armazenavam em sua forma sólida. Para produzir alimento, elas contavam com a fotossíntese, processo em que uma molécula de gás oxigênio é liberada como subproduto da formação de açúcares. Isso significa que durante suas vidas as plantas tiravam CO2 da atmosfera e liberavam gás oxigênio na mesma. Hoje, quando as plantas morrem, o processo se inverte, já que a decomposição ou a queima consome em oxigênio e libera CO2. Assim está estabelecido o ciclo do carbono e do oxigênio. Mas antes desses decompositores existirem, não havia ciclo. O carbono estava constantemente sendo convertido em biomassa e acumulado em sedimentos no mesmo processo em que o oxigênio estava sendo bombeado na atmosfera como nunca antes. A proporção de oxigênio na nossa atmosfera, que hoje está em cerca de 21%, chegou a impressionantes 35% durante o carbonífero. Uma quantidade significativa suficiente, até mesmo para tornar a própria atmosfera mais densa e mudar a cor do céu. [Música] Esse mundo úmido, florestal e oxigenado teve alguns efeitos definitivos na evolução dos animais. Ele permitiu a existência dos maiores artrópodes terrestres da história do planeta. Ele facilitou a evolução dos primeiros animais voadores da história, os insetos, e tornou a respiração mais fácil e eficiente para os tetrápodes recém terrestrializados, para seus adultos e seus ovos. O carbonífero é muitas vezes chamado de era dos insetos. Outras é definido como a era dos anfíbios e um caso sólido pode ser feito para cada um deles. Artrópodes e tetrápodes anfíbios eram de longe os dois principais grupos de animais nos continentes, pau a pau um com o outro na disputa pela conquista desses novos ecossistemas. Por incrível que pareça, os artrópodes, como insetos, aranhas, escorpiões e miriápodes tinham uma vantagem, a de estarem muito mais adaptados à terra firme por estarem ali há muito mais tempo. Nós, tetrápodes, éramos invasores recém-chegados, mas decididos a tomar nosso espaço nessa nova arena evolutiva. No time dos artrópodes estavam alguns dos animais com as maiores probabilidades de matar de infarto grande parte da população. Um deles era Pulonoscorpius, um animal muito semelhante a um escorpião moderno, mas com um pequeno detalhe, seu tamanho. Animais como esses, artrópodes que chegavam a pesar vários quilos, devem ter sido os principais predadores dos nossos pequenos ancestrais aminiotos. Outro era Mega Neura, uma libélula com o tamanho e o apetite de um falcão. Esse foi o maior inseto voador de todos os tempos. os reis absolutos dos céus no carbonífero e um dos primeiríssimos animais que voaram no planeta Terra. Não só eles voavam, como também voavam rápido e de forma precisa, capturando suas presas com uma habilidade impressionante. Já Artropleura foi o maior artrópode terrestre de todos os tempos, um miriapode tão longo quanto um carro que espreitava no chão labiríntico de galhos e raízes das florestas carboníferas. Mas esse animal gigante estava em busca de plantas. Era um herbívoro, um dos principais antes da existência de dinossauros herbívoros e gazelas para cumprir esse papel. Esses eram os maiores herbívoros terrestres do carbonífero, antes de que qualquer tetrápode pudesse sonhar em ser vegetariano. Já no time dos tetrápodes, estávamos muito bem representados pelos anfíbios, como os ancestrais dos lis anfíbios atuais, mas principalmente por um outro grupo hoje totalmente extinto, os terminospôndilos. Alguns deles, como diplocaus, com sua cabeça de formato inusitado, eram de tamanhos razoáveis. habitando os pântanos e suas águas rasas em busca de presas menores do que ele, que não eram incomuns. Já outros, como mastodonsauros, eram verdadeiros monstros dos rios. Esse que foi um dos maiores anfíbios da história do nosso planeta, podia chegar a medir 6 m de comprimento, tanto quanto um grande crocodilo atual, mas com um porte ainda mais robusto. Curiosamente, ele tinha duas presas na arcada inferior que se destacavam pelo crânio, dando a ele a impressão de possuir dois chifrinhos na ponta do focinho. Provavelmente uma adaptação útil pra captura de peixes. Ofíbios eram de longe os maiores e mais predominantes tetrápes terrestres, mas um novo grupo, inicialmente tímido, estava prestes a mudar o jogo. Os nossos ancestrais aminiotos, esses animaizinhos pequenos e parecidos com lagartos, eram os tetrápodes mais especializados para vida em terra firme. aqueles que já não dependiam de ambientes aquáticos em nenhuma fase da vida. Graças aos seus novos ovos aminióticos com cascas porosas, eles eram firmes e resistentes para se desenvolverem na Terra Firme, ao mesmo tempo que porosos o bastante para permitir a respiração do embrião, evitando o ressecamento. Uma tarefa surpreendentemente difícil. Esses primeiros aminiotos quase que imediatamente se bifurcaram em duas grandes linhagens, a dos saurópsidos, que deram origem aos répteis e aves, e a dos sinápsidos, que deram origem aos mamíferos. Mas o caminho percorrido por esses primeiros aminiotos até os primeiros mamíferos e aves passou por milhares de linhagens que não se parecem com nada que vive atualmente. As florestas que esses animais habitavam estavam com os dias contados. sepultando camadas e mais camadas de biomassa com o passar do tempo, resultando em uma diminuição gradual do CO2 atmosférico, reduzindo o efeito estufa e tornando o planeta cada vez mais frio e seco. Ao final do carbonífero, esse efeito se intensificou e levou as florestas globais até o seu limite, provocando o primeiro evento de extinção em massa do mundo terrestre, o colapso florestal do carbonífero. Ele foi trazido por uma era do gelo extremamente intensa chamada glaciação caru, com geleiras extensas se formando no hemisfério sul que cobriam boa parte do sul e sudeste do Brasil 300 milhões de anos atrás. Além de tornar o mundo mais seco e desértico, esse gelo diminuiu gravemente o nível dos oceanos, destruindo ecossistemas costeiros e abalando a diversidade da vida marinha. Essa era do gelo muda radicalmente o jogo da evolução em favor dos aminiotos, marcando a transição do carbonífero pro permiano. Com a revolução terrestre do permiano, jamais os artrópodes ocupariam a megafauna novamente e os anfíbios ficariam limitados a ambientes mais propícios paraos seus modos de vida. Os continentes desde então estão sob domínio absoluto dos aminiotos, como dinossauros e mamíferos. Mas os primeiros dinossauros ainda eram uma realidade profundamente distante, mais de 70 milhões de anos no futuro, no começo do Permian. Os ovos aminióticos e as garras nos dedos haviam-se provado adaptações extremamente benéficas no novo mundo permiano mais seco e mais frio. O mundo vegetal também passou por uma revolução para se adaptar às novas condições climáticas. A época de ouro paraa expansão das plantas com sementes parecidas com pinheiros. Um novo tipo de floresta muito mais tolerante a ambientes menos úmidos havia se estabelecido em partes do globo. Durante o permiano, os anfíbios, principalmente os terminospôndilos, ainda ocupavam espaços relevantes em alguns ecossistemas mais úmidos, na medida em que o planeta saía de uma era do gelo e se tornava cada vez mais quente. Foi nesse período que viveu o maior anfíbio de todos os tempos, Priosucos, que media 9 m de comprimento e viveu onde hoje é o Brasil. Esse animal desempenhava um papel semelhante a um crocodilo ou um gavial atual, capturando peixes rapidamente com seu focinho fino e hidrodinâmico. Mas era entre os aminiotos que a verdadeira diversificação e expansão estava acontecendo. Do lado dos saurópsidos, surgiram herbívoros gigantes fortemente encouraçados, como os pareiassauros, que podiam chegar a uma tonelada de peso. mas também os primeiros arcossauromorfos, como o próprio Arcossauros, que viveu no final do período, um dos pioneiros de uma linhagem que deu origem a crocodilos, dinossauros e aves, dentre muitos outros tipos de répteis. A maioria dos aminiotos saurópsidos, no entanto, eram pequenos e parecidos com calangos que viviam se escondendo nas sombras dos ancestrais dos mamíferos. A grande diversidade de aminiotos terrestres estava representada pelos sinápsidos. lado da família dos ameniotos, do qual descendem os mamíferos. Mas muito antes dos primeiros mamíferos viveram os antigamente chamados répteis mamaliformes. Eles já não são mais chamados assim, porque por mais que tenham uma aparência de répteis, eles não são. Alguns dos mais comuns no começo do permiano eram pelicossauros com suas pernas curtas e velas imensas nas costas, como o herbívoro Edafossaurus e o famoso predador de Met. Dimetrodon é muito comumente confundido com um dinossauro, mas além de ter vivido muito antes deles, ele ainda é muito mais aparentado com o mamífero. Ele marca a primeira grande irradiação de sinápidos nos continentes, mesmo que ainda com uma postura muito reptiliana, evidenciada por suas patas muito lateralizadas e poucas coisas em comum com os mamíferos verdadeiros. Ao longo do permiano, sinápse dos cada vez mais parecidos com mamíferos, foram tomando conta da megafauna, se tornando grandes herbívoros e onívoros, como John Kia, um dos maiores sinápsidos do permiano. Parte de um grupo conhecido por seus formatos de cabeça bizarros, os dinocefálios. Haviam também dinocefálios predadores de topo, como o gigantesco anteossauros, que pode ter sido o maior carnívoro de todo o período permiano. Conhecido como T-Rex do Paleozóico, medindo 6 m de comprimento e pesando cerca de 800 kg. Ao final do permiano viveram alguns dos grandes predadores mais aparentados com os mamíferos que viveram na era paleozóica. Os gorgonopsídios, como inostranévia. Esses animais provavelmente já tinham pelos em pelo menos algumas partes do corpo. Tinham cabeças gigantescas e dentes de sabre, com patas ventralizadas e se assemelham muito mais à postura de mamífero, característica de animais ativos de sangue quente. Mas os sinapsos mais aparentados com os mamíferos, de fato, eram os pequenos sinodontes, como Abdalodon. Esses animais pequenos e generalistas se enterravam em tocas para se proteger de predadores maiores e estavam adaptados para viver em algumas das condições mais extremas do planeta. Uma habilidade fundamental que logo seria recompensada pela loteria da história. Ao final do permiano, as condições ambientais mais uma vez se tornaram totalmente desfavoráveis pra vida, tanto na terra quanto no mar, dando um fim a esse ensaio da era dos mamíferos. Os continentes do norte e do sul finalmente colidiram. Depois de milhões de anos se aproximando dia após dia, de terremoto em terremoto. Grandes cadeias de montanhas se elevavam no encontro entre as massas continentais, formando grandes desertos no vasto interior desse novo supercontinente, a Pangeia. Piorando e agravando a crise ambiental do fim do permiano. Grandes derrames de lava cobriram regiões imensas onde hoje é a Sibéria, na Rússia. Elas depositaram uma camada de quilômetros de altura de rocha derretida em uma área maior do que a grande maioria dos países. A atmosfera ficou completamente intoxicada de gases estufa e fumaça tóxica. que aumentou a temperatura, acidificou, estagnou e asfixiou o oceano. Sem oxigênio, bactérias roxas envenenaram a atmosfera com gases capazes de matar, mesmo em baixíssimas concentrações. O resultado foi a maior extinção em massa da história do planeta Terra, o momento mais delicado de toda a história da vida animal, quando a própria existência de animais no planeta ficou por um fio. A extinção permiana, conhecida como a grande morte, eliminou quase 90% de todas as espécies que viviam no fim do permiano. Dentre eles, todos os últimos trilobitas, que já duravam 270 milhões de anos. Alguns dos sobreviventes foram duas linhagens de sinapsidos, os pequenos sinodontes ancestrais dos mamíferos e os dissinodontes com seus bicos e presas versáteis adaptados para explorar alimentos difíceis de acessar em ambientes desafiadores. Eles se tornaram alguns dos animais mais comuns do planeta durante os últimos dias do permiano e da era paleozóica. Mas nem eles e nem os pequenos sinodontes seriam os verdadeiros herdeiros da era seguinte. O mesozóico, conhecido como a era dos dinossauros. O saurópsido, sim, especialmente os arcossauromorfos, até então pequenos e discretos, se tornaram os animais predominantes do triácico em diante, dando origem a crocodilos, dinossauros, piterossauros, dentre muitas outras linhagens que não vingaram além do triácico. 252 milhões de anos atrás, 280 milhões de anos depois da explosão cambriana, termina o permiano e com ele a primeira era do Éon dos animais, o Paleozóico. De longe, o mais esquecido pela mídia, mas também o mais abarrotado de eventos definitivos paraa história do nosso planeta. da explosão de diversidade que deu origem a todos os filos animais, passando pela época em que a Terra tinha anéis, toda a saga insana de terrestralização das plantas e animais, a formação dos depósitos de carvão que alimentaram a revolução industrial e o momento em que os primos dos mamíferos dominavam o mundo antes dos dinossauros. Fica evidente que se qualquer detalhe da era paleozóica tivesse sido ligeiramente diferente, nós não estaríamos aqui para aprender sobre ela e nem para nos maravilharmos com seus muitos eventos e habitantes há muito perdidos no tempo. Muito obrigado por acompanhar até o final. Um agradecimento especial ao Emerson H, escultor 3D e paleoartista responsável pelos modelos incríveis que vocês acabaram de ver. Para obter qualquer um dos modelos que você viu e muitos outros impressos em 3D e pintados de forma profissional, basta dar um alô pelo Instagram do Emerson na nossa descrição. Torne-se membro do nosso canal para ter acesso à nossa comunidade. Vídeos exclusivos para assinantes e o curso Evolução Terra Tempo, que ensina os fundamentos para entender mais da paleontologia e da história natural. Para mais conteúdos do tempo profundo toda semana, conheçam o nosso podcast. Até o nosso próximo encontro e tenham uma ótima vida. [Música]

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