Como escapar do inferno

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Você tem medo do inferno? Você é uma noção que sequer passa pela sua cabeça na correria do dia a dia. Quando ela passa, qual é o teor desse pensamento? É medo ou é [Música] indiferença? Talvez até zombaria. O que que o inferno significa para você? No senso comum, baseado na tradição cristã, o inferno é um lugar, né, fora desse plano de existência, um lugar que não existe em canto nenhum do planeta, nem Osasco. E, no entanto, um lugar no qual você vai pagar eternamente por meio do tormento inimaginável. Caso você leve nesse mundo uma vida desvirtuosa, caso você, né, passar do ponto, parece bem prudente ter medo de algo assim, né? O que tá em jogo é literalmente o sofrimento eterno. Parece algum monitar, né? Mas talvez serja surpreendente para você que São Tomás de Aquino, talvez a figura mais influente da história da teologia cristã, tem uma definição que parece a princípio bem diferente do senso comum. O inferno é a separação total com Deus. Santo Agostinho, outra figura talvez tão importante quanto, também diz que o inferno é um estado eterno de afastamento voluntário de Deus. E aí a coisa, a história muda, né? O inferno não é bem um lugar, é mais uma situação na qual você se coloca, em que não existe mais nenhuma possibilidade de se estabelecer uma relação com Deus, um estado de renegação completa, né? Deus não quer mais nada com você e ele te renega, te dá um ghosting ad eterno, nem recebe mais a mensagem e você fica aí chupando o dedo para sempre. [Música] E se a gente partir dessas definições, a gente pode começar a ver esse conceito de forma menos caricata e mais existencial, pois o inferno sempre foi historicamente apenas o símbolo máximo do sofrimento humano. E a existência do sofrimento humano não requer nenhuma crença religiosa, eh, requer apenas você abrir o Twitter. Então, pensar acerca do inferno não é um privilégio de quem é cristão, e sim uma necessidade de qualquer um que queira entender a origem e o sentido do sofrimento. E de qualquer um que esteja procurando há muito tempo por uma saída. Se é isso que você procura, talvez vha a pena assistir esse vídeo. [Música] Eles dizem que no jardim do Éden o homem vivia em união com Deus. A queda do homem, talvez o evento mais profundo da mitologia judaico-cristã, representa essa separação. O homem se separa de Deus e cai do paraíso. Eles dizem que é isso que origina todo o sofrimento do mundo. O motivo para essa desgraça sem precedentes é bastante claro. O homem contra as ordens de Deus come o fruto da ciência do bem e do mal. [Música] O fruto da ciência do bem e do mal dá ao homem o dom de não só acessar o que o mundo é, mas também o que ele acha que deveria ser, né? As coisas deixam de ser apenas o que elas são e se tornam objetos de julgamento sobre os olhos do homem, ou boas ou ruins. O homem adquire esse poder e mais do que isso, essa maldição de julgar as coisas. o tempo todo se colocar como juiz da própria criação. É exatamente esse discurso, esse papinho que a serpente usa para seduzir o homem. Em Gênesis, ela diz que se o homem comer esse fruto, ele vai se tornar como Deus, que é uma referência ao início do Gênesis, quando Deus criou o mundo e viu que era bom. Ou seja, Deus é quem tem esse poder de identificar o que é bom. O homem vai ganhar esse mesmo poder. A serpente não tá mentindo com uma diferença crucial. No entanto, o intelecto humano é finito. Diferente de Deus, ele não consegue ter uma compreensão total de todas as coisas e, portanto, tá falado errar no seu julgamento do que é bom e do que é ruim. E de fato, a gente erra diariamente. As pessoas passam a vida às vezes perseguindo uma coisa que elas pensam ser boa para no final descobrir que não era não era não era aquelas coisas. Se o julgamento do homem não se enganasse, ele teria que necessariamente perceber que o mundo já é tudo o que precisa ser, uma vez que foi criado por Deus. Mas por que se engana o homem se vê infeliz diante do mundo? Infeliz. Se a gente voltar pro livro de Gênesis e verificar qual foi a primeira coisa que o homem sentiu após consumir o fruto proibido, o primeiro resultado da obtenção desse novo poder, a gente vê que o homem sentiu vergonha, né? Ele ficou vermelhinho, ele ficou envergonhado por estar nu. Tem gente que interpreta isso como se o homem antes de comer o fruto proibido não percebesse que ele tava nu, né? Ele era burro. E quando ele comeu, ele literalmente viu e entendeu pela primeira vez. Mas esse claramente não é o caso. Não é que ele não percebia antes, ele não se importava. Não parecia algo ruim estar nu. Não havia nada de errado nisso, nada de desconfortável. Afinal, o que é que há de intrinsecamente ruim na nudez? Pensando bem, mas quando ele comete o pecado original, o que realmente surge? Veja, é o desalinhamento entre o que o mundo é e o que o homem acha bom. Surge pela primeira vez essa desarmonia, que é no fundo uma desarmonia com Deus. E o homem começa a sofrer. Adão começa a procurar as folhagens ali para esconder o próprio corpo, etc. Faz uma uma cueca de de folha. É lamentável. Isso nem passava pela mente dele antes. Esse é o ponto. Ele nem ele apenas aceitava as coisas como elas são, sem que houvesse nada que precisasse ser modificado. O homem aceitava o mundo sem julgamento e o homem era feliz. Mas agora não mais. A harmonia original é perdida e o homem é expulso do paraíso. A ciência do bem e do mal é o pecado original no sentido em que ele dá origem a todos os outros. Preguiça, inveja, ganância, luxúria, avareza, raiva, tudo de ruim que o homem sente e que o inclina a fazer o mal, como diria Santo Agostinho. Nada mais é do que diferentes expressões da mesma coisa. O desalinhamento entre a realidade que existe e a realidade que o homem quer. Pensa bem, toda desgraça surge do homem olhar para as coisas e falar: “Isso é o que produz todos os conflitos, tanto com os outros quanto consigo mesmo.” Se o homem conseguisse apenas estar em paz com a realidade, ele não cometeria nenhum pecado. Mas foi justamente essa paz, essa harmonia que foi perdida. E por isso nós machucamos o mundo, machucamos uns aos outros e machucamos a nós mesmos, acima de tudo. E o ponto é como recuperar essa harmonia, como consertar a minha alma. Eu quero ser feliz, Senhor. Eu quero vencer essa insatisfação. O problema é que, por mais que eu tente, por mais que eu busque essa tal felicidade, ela permanece uma estranha para mim, uma imagem distante, um ponto no horizonte que eu não sei sequer se é real ou uma ilusão de ótica. Os portões do paraíso permanecem fechados para mim. Seu conteúdo inimaginável para mim. Às vezes eu me pergunto se realmente tem alguma coisa lá dentro, se tem alguém ouvindo eu pedindo para abrir. [Música] Às vezes parece que as portas se mexem, parece que tudo vai mudar, mas é só impressão. Não saio do lugar, ninguém me deixa entrar e eu tô cansando de pedir. [Música] [Aplausos] [Música] A mitologia do Gênesis nos deu uma boa ideia da condição humana, né? A gente tem o paraíso, que é o homem antes da queda, o homem em união com Deus, em harmonia com o mundo. Aí a gente tem a vida, que é a nossa vida, né? Pós-queda. Você vem ao mundo já caído, já esborrachado no chão, já vem pecando, dotado dessa maldição de julgar. E a gente vive em sofrimento, vive insatisfeito numa tentativa constante de corrigir aquilo que há de errado nas coisas, procurando pelas folhagens, assim como Adão. O inferno sob essa perspectiva, nada mais é do que a perpetuação desse estado. É a desarmonia completa e permanente com a sua própria existência, a separação definitiva com Deus e o sofrimento eterno. uma existência onde tudo é fonte de insatisfação. Nada tá bom. Eu conheço algumas pessoas estão que estão quase lá já. Bem no meio do céu e do inferno. Então é onde a vida humana acontece. Cada escolha, cada ação te leva para mais perto de um e mais longe do outro. O inferno é quando você tá tão completamente afundado que você nem consegue mais ver o outro lado. O inferno se torna tudo que você conhece. Tudo que é possível, você sente que tá fazendo tudo certo. Você acha que tá perseguindo o paraíso com todas as forças. Tô quase lá sem perceber que tá fazendo exatamente o contrário. Esse é o trunfo final da serpente, né? Você se torna completamente cegado pelo seu próprio julgamento e completamente distanciado da verdade. É a separação definitiva com Deus. Não porque ele te rejeita, mas porque você vai tão longe, mas tão longe, que nem consegue mais ver o caminho de volta. E por que isso acontece? Por que é tão fácil se perder do caminho? Por que é tão difícil voltar, mesmo sendo esse o objetivo de quase todo mundo? Todo mundo quer ser feliz. Todo mundo quer chegar num estado de plenitude que dure e não seja perecível diante de qualquer contratempo ou vicissitude. Mas não é difícil perceber que se o paraíso é harmonia com a realidade, aquilo que a gente mais faz com o fim de se tornar feliz é no mínimo contraproducente. A gente passa a vida fazendo tudo menos as pazes com a realidade. Não é a primeira nem a última coisa que a gente pensa. Toda tentativa óbvia de se tornar feliz se baseia exatamente em alterar a realidade, rejeitar a realidade e culpar a realidade pela nossa insatisfação. Se ela ao menos fosse diferente, eu seria feliz. É o que a gente pensa. Eu ainda não sou porque eu não tenho dinheiro ainda, né? Eu não sou bem-sucedido. Eu ainda não tenho um corpo bonito do jeito que eu quero. Não tenho esposa nem namorada. Minha casa é pequena demais. Não tenho teto, não tenho carro. Ou meu carro é ruim, eu não tenho uma carreira extraordinária, meu emprego é enfadonho, eu trabalho demais, ou eu trabalho de menos. Eu sou desconhecido. Eu não fiz nada grandioso com a minha vida ainda. Se apenas tudo isso fosse diferente, eu tenho certeza que, sabe, se apenas a cada instante a gente tá contando essa mesma historinha pra gente, né, e permitindo que ela guie totalmente a nossa vida. Mas se o objetivo é recuperar a sua harmonia com o mundo, então rejeitar o mundo, rejeitar a sua vida e querer constantemente que ela fosse o que ela não é, vai claramente na direção oposta. Você não consegue de jeito nenhum fazer as pazes com a sua existência. Você tá sempre tentando transformá-la em outra coisa. Você nunca consegue aceitar as coisas. E como Deus criou as coisas, você nunca consegue aceitar Deus. [Música] Não é sua culpa se sentir insatisfeito. Todos nós nos sentimos. Essa é a maldição de Adão. É o pecado original. Chame do jeito que você quiser. Essa voz que te diz o tempo todo que as coisas são ruins, não são boas, né? E cabe a você corrigi-las. Toma aí esse fardo nas suas costas, vai. Você pensa que essa é a sua voz te dizendo isso, mas é a voz da serpente. Sempre foi. É a sua maldição. E o problema é que cada vez que você dá razão para essa voz, que você permite que ela guie, você perpetua o seu sofrimento. [Música] Começa então a fazer sentido porque o cristianismo junto com outras religiões de salvação prega tanto a abdicação. Faz sentido? Porque abdicar quer dizer enfrentar essa voz. Abdicar, aceitar, permitir as coisas em vez de lutar contra as coisas. Se a gente tivesse que resumir todas as aspas de Jesus na Bíblia, peca todas. E vamos tentar achar uma palavra, uma única palavra que resuma tudo e oriente você em todas as situações da vida. seria essa. Abra a mão do que você acha que quer e me siga. Mas a maioria das pessoas, incluindo muitas pessoas religiosas, interpreta isso como se fosse algum tipo de jogo, né? Deus quer que você abdique desses prazeres terrenos, que você não vai em festa, não use droga, não bata nos outros, eh, não faça nada, né? quer que você seja um chato, porque depois de você morrer você vai ser recompensado. Mas ai de você se vocês obedecerem, hein? Se você sair da linha, hã, aí eu nem te conto para onde você vai. Quase como se fosse um joguinho mesmo. E você tivesse que barganhar com Deus o tempo todo. Ô, Senhor, me deixa, me deixa naquela festinha, vai, me deixa transm. Só que isso falha completamente em entender o sentido da abdicação. O sentido não é jogar um joguinho, né? ver até onde você vai e depois ganhar um prêmio. O prêmio já é aqui e a punição também. Todo pecado não é ruim porque Deus não quer que você aproveje a vida e vai te punir depois por isso. Ele é ruim no sentido em que ele te afasta ativamente da felicidade. Todo pecado nasce de você dar razão à voz da serpente. Sem perceber, você deixa de abdicar de alguma coisa. Você aumenta o conflito com a realidade e você vai para mais longe da onde você quer estar. Cada pecado te leva pro inferno aqui e agora. Neuroplasticidade é um termo que tá em alta na biologia tem algumas décadas. Ele se refere ao fato de que o seu cérebro é plástico. Não literalmente, mas porque assim como o plástico industrial, ele é incrivelmente maleável. O cérebro tem uma capacidade impressionante de modificar a sua própria estrutura e funcionamento a partir de diferentes estímulos. Até meados do século passado, a gente acreditava que a anatomia cerebral era mais ou menos fixa depois de uma certa idade. Mas hoje a gente descobriu que a vida inteira o cérebro tá sempre mudando, sempre se adaptando às novas experiências, criando e reforçando conexões, desfazendo conexões antigas. É isso que permite que a gente adquira novas habilidades. Por exemplo, aprenda a tocar instrumentos, falar outros idiomas, etc. Também explica como as pessoas ficam viciadas em certas substâncias ou como a gente adquire certos traumas de infância, caso a gente tenha experiências muito extremas, o cérebro vai se adaptando tanto pro bem quanto pro mal. E esse mecanismo fornece uma explicação neurofisiológica do por que buscar satisfazer completamente os seus desejos ou sempre reformar a realidade para atender o que você quer é uma luta sem fim e uma luta que você sempre perde. Você pode pensar como se a sua mente fosse uma sacola. Você vem ao mundo com essa sacola, com a sacolinha ali na no braço. Você vem ao mundo com essa sacola. vazia e, portanto, já vem insatisfeito, já vem querendo coisas. Até aí tudo bem, não tem o que a gente possa fazer, mas no seu desespero por preencher essa sacola, você vai colocando o máximo de coisas possíveis. Você busca uma aparência melhor, comida melhor, roupas melhores, lugares melhores, pessoas melhores, diversas formas de prazer, tudo. Você você vai buscando tudo, pá, tome, tentando encher a sua sacola o máximo possível, sem perceber que por essa sacola ser extremamente plástica, extremamente elástica, ela vai se adaptando a todas as coisas que você coloca e vai ficando cada vez maior. De modo que quanto mais coisas você coloca, maior fica o espaço que você tem que preencher. E quando as coisas vão desaparecendo ou vão perdendo efeito, por assim dizer, tudo que resta é um buraco muito maior do que o que você tinha antes. Existe uma falácia muito grande hoje em dia que diz que se você tem qualquer desejo, independente de qual seja, a mera existência desse desejo prova que ele é natural, que você não precisa lutar contra ele e que você só precisa dar um jeito de satisfazer ele. Caramba, que é um modo completamente patológico de ver a vida, mas que as pessoas acreditam sem perceber que isso é é como dizer que uma pessoa que tenha porventura sério problema de obesidade pode comer todo dia um caminhão de cachorro quente porque ela tem esse desejo e esse desejo então é natural e inofensivo. Ah, não, mas esse é um exemplo extremo, né? Não é disso que a gente tá falando. Mas eu te convido a pensar bem. É literalmente a mesma coisa. E a gente acabou de ver o motivo, neuroplasticidade, a sacola aumenta. Quanto mais corda você dá pros seus desejos, mais coisas você deseja. Se você come mais do que você precisa, você engorda. E quando você engorda, você sente ainda mais fome do que antes. Toda ideia de pecado não surge apenas de um puritanismo religioso, e sim da gente perceber que os seus desejos não são confiáveis. Seus desejos são mentirosos, eles conduzem ao excesso e o excesso produz o mal. Não existe mérito nenhum em apenas satisfazer cegamente os nossos desejos, justamente porque essa satisfação é mentirosa, é falsa, é uma satisfação momentânea que, na verdade só aumenta a insatisfação permanente. Você acha que tá chegando perto da felicidade, acumulando cada vez mais coisa lá, enchendo o saco e tal, mas tá só se afastando. Você precisa entender que é apenas abdicando das satisfações momentâneas que a gente alcança a satisfação permanente, a verdadeira felicidade, o paraíso. [Música] Eu nunca esqueço de uma vez que eu estava vendo um vídeo sobre budismo e um dos comentários dizia algo mais ou menos assim: “Nada no mundo pode perturbar um homem que descobriu como ficar plenamente satisfeito, sentado sozinho num quarto sem nada. E imaginar isso parece absurdo pra gente, né? Só de imaginar a gente já começa a desfalecer internamente, né? puro tédio. Meu Deus do céu. E no entanto, o fato da gente achar essa reação, a mais normal de todas é a prova viva do quão do quão doente a gente se tornou. Graças à neuroplasticidade, a gente ferrou completamente o nosso cérebro, né? A sacola ela tá tão imensa que, meu Deus do céu. Mas lembre-se, você ainda pode ser verdadeiramente feliz. Você pode ser esse esse esse cara sozinho, sentado num quarto sem nada e completamente feliz, [Música] em completa harmonia com a realidade e em completa união com Deus. Isso é possível pela própria neuroplasticidade. Sacola demora, mas ela aos poucos volta ao normal. Se você permitir, se você perceber aos poucos que você pode aceitar as coisas, você não precisa ceder a todos os seus desejos. Eles às vezes são ardilosos. Eles muitas vezes mais produzem a insatisfação do que o contrário. Perceba que você sempre precisou de muito pouco para estar cheio, por mais que não pareça. [Música] Olha, esse vídeo tá tendo uma conotação bastante religiosa, inevitavelmente, mas eu quero que você entenda que o que eu tô te dizendo é basicamente matemática. Quanto mais coisas você busca, mais coisas você quer e menos coisas você tem. Quanto menos coisas você busca, menos coisas você quer e mais coisas você tem. O ideal de perfeição divina é que você abdique tudo, não busque nada e tenha tudo. Isso é o céu. É a reversão da queda. É a plena satisfação incondicional. O que a serpente quer é que você rejeite tudo, busque tudo e não tenha nada. Isso é o inferno. A sua vida já é uma constante escolha entre os dois. Você já tá em algum ponto entre os dois. Nós, enquanto sociedade estamos bem mais para um lado do que pro outro. E tudo que eu quero é que você tente aos pouquinhos caminhar um pouco mais pro outro lado. Não por causa da vida após a morte, não porque você vai ser punido, mas para você ser feliz. [Música] Diante de tudo que a gente tem falado sobre o inferno, a gente pode dar um 180 e conceber o que seria o paraíso, né? A completa harmonia, a completa aceitação do mundo em que você vive, das pessoas ao seu redor e principalmente de você mesmo. Não há nada ruim, nada que você precise mudar. apenas a paz, o amor, o sentimento perpétuo de gratidão por tudo o que acontece, que deixa de acontecer e uma apreciação inerente ao simples fato de estar aqui. Isso, sem dúvidas, deve ser o paraíso. [Música] Mas quando eu falo dessa harmonia perfeita, da completa aceitação, da união com Deus, e unicórnios, arco-íris, da a gratidão permanente em todas as coisas que são e deixam de ser, isso pode parecer, pode suar como algo completamente biruta, né? Fantasioso, fora de qualquer realidade possível. E parece mesmo, né? Eu não vou negar. Eu nunca cheguei nem perto disso e nem conheço ninguém que tenha. No budismo, isso é literalmente chamado de iluminação, né? Fazer isso é literalmente virar um Buda. Mesmo assim, eu garanto que você já experimentou o gosto do paraíso. Pode parecer contraditório, mas ainda que você não tenha estado lá, às vezes a luz que ele emana te encontra por meio de uma fresta, um instante de existência pacífica, harmônica e verdadeira. Você já teve momentos muito felizes na sua vida. não teve com pessoas importantes para você ou até experiências mágicas que você teve sozinho. E tudo que esses momentos tem em comum é que você não sentia de forma nenhuma que as coisas precisavam ser diferente do que elas eram naquele instante. Você estava plenamente satisfeito. Esses foram momentos em que esse constante conflito entre você e a realidade desapareceu e vocês coexistiram em harmonia. Agora você pode me responder que isso é óbvio, né? Porque afinal esses esses foram momentos em que a realidade fez alguma coisa certa para variar. Você fez alguma coisa que você queria há muito tempo, né? Comprou um negócio ou você saiu com pessoas que você gosta de verdade e se sentiu conectado com elas. Show de bola. Ou seja, a realidade de um modo ou outro finalmente se alinhou aquilo que tava faltando, né? E você tá certo? Não é disso que eu tô falando nesse vídeo. O paraíso seria algo incondicional. Mas mesmo nesses momentos, se pergunte se foi a realidade que por algum milagre se alinhou perfeitamente com o que você acha que quer. Ou seja, você ficou mais rico, mais bonito, a paz mundial subitamente foi instaurada, cura do câncer foi descoberta, TV Globinho voltou ao ar, o Palmeiras ganhou o mundial, de modo que nada mais faltava. Caramba, perfeito. Ou nada disso aconteceu. A realidade deu no máximo um empurrãozinho. Uma coisa agradável aconteceu sem dúvidas, mas nada demais. que foi só o suficiente para você conseguir desligar a constante exigência que você impõe sobre a vida, esquecer o julgamento e apenas naquele instante motivado por aquele empurrãozinho de prazer, permitir que a sua vida fosse o que ela é, que você fosse o que você é. Você não tava lamentando o passado, nem esperando por um futuro imaginário. Você não precisava de mais nada. Perceba que naquele mísero momento você realmente amou a si mesmo e amou o mundo sem julgamento. E eu quero que você reconheça o poder dessa descoberta. A descoberta de que você já sabe como é ser feliz. Ainda que transitoriamente, condicionalmente, você já alcançou a felicidade inúmeros momentos na sua vida. E todos eles são prova empírica e direta de que tudo que você acha que precisa resolver, tudo que você acha que precisa mudar para finalmente ser feliz é ilusório. Você já experimentou a felicidade sem ter nada disso. O que quer dizer que você não precisa esperar todos os problemas serem resolvidos. Você já pode aceitar o presente enquanto você olha pro futuro. As pessoas vivem sob a terrível ilusão de que você precisa rejeitar um para conseguir o outro, quando é justamente o contrário. Se você aceita as coisas como são de verdade e deixa de impor sobre elas a obrigação delas te fazerem feliz, você vai perceber que elas ficam muito mais leves e muito mais fáceis. Fazer isso não vai te impedir de criar coisas, buscar coisas, fazer coisas novas, conhecer pessoas, lugares. É o contrário. O que vai acontecer é que tudo isso vai mudar completamente de sentido. Você não vai mais fazer as coisas por rejeitar o mundo, o presente e as coisas como elas são, e sim para servir ao mundo e ao futuro por meio de coisas novas. deixar de buscar e começar a servir. Você vai continuar tentando se desenvolver, se aprimorar, adquirir habilidades, claro, mas não porque você tem defeitos que precisam ser corrigidos, e sim porque você tem capacidades que merecem ser exploradas. Você percebe a diferença? Essa é a diferença entre viver em direção ao paraíso e viver em direção ao inferno. A diferença entre ouvir a voz da serpente o tempo todo ou lutar contra ela. Eu quero que você pense por um momento em como seria a sua vida. Se, assim como naqueles momentos felizes, você pudesse apenas vencer essa voz. Só mais algumas vezes no dia, na semana, no mês, só com um pouco mais de frequência, sem talvez depender de nenhum empurrãozinho específico da realidade. [Música] O que você acha que aconteceria na sua vida? [Música] [Música] Daqui não muito tempo, depois de você fechar esse vídeo, a vida vai te oferecer uma certa inconveniência, algo que você vai identificar e julgar como algo desagradável, algo ruim. Talvez você vai se sentir desconfortável numa situação social. Talvez você não vai gostar de alguma coisa que você vê. Talvez você vai estar no trânsito, atrasado por algum compromisso, querendo xingar todo mundo. Talvez vai lidar com algum colega incômodo no trabalho, na faculdade, aquele lá. Talvez você vai se olhar no espelho e encontrar uma nova ruga, uma entrada no cabelo. Talvez você vai sentir qualquer tipo de aversão por si mesmo, pelas coisas ou por outra pessoa. Mas em qualquer um desses momentos, quando você ouvir a voz do julgamento, a voz dentro de você dizendo que não deveria ser assim, isso não deveria est acontecendo, isso tá errado, isso é ruim nesse momento, apenas perceba que é completamente possível que essa voz esteja errada. Ela pode tá errada e você tem a opção de apenas dar um passo para trás e questionar o que ela diz. Isso não deveria mesmo ser assim. Isso é ruim desse jeito. Eu tenho que mudar e ver se você não pode apenas abdicar, permitir. [Música] Fazer isso vai te tornar capaz de perceber quando é realmente necessário lutar contra alguma coisa. E sem dúvidas, muitas vezes é, mas também vai te fazer perceber quando não é necessário, por mais que essa voz insista no contrário. Será que você realmente precisa que isso seja diferente do que é? Você pode se surpreender com o quão frequentemente isso não é verdade. A gente vive num mundo completamente dominado pela voz da serpente. Um mundo que tenta te convencer em cada esquina, cada vídeo, cada aplicativo que você abre, que você não é suficiente, que a sua vida não é suficiente, que a sua vida é chata, sem graça, seu trabalho é chato, maçante, que você precisa de uma casa maior, de um carro melhor, de um corpo melhor, de um rosto melhor, de um cabelo melhor. Você precisa andar melhor, se vestir melhor, tudo precisa ser melhor. Não tem nada de bom. É incrível. Mas perceba que em cada um desses momentos que você for confrontado com esse sentimento, com esse pensamento, você tem o poder de questionar isso. Em cada um desses milhares de encontros que você tem diariamente nesse mundo dominado pela serpente, você tem o poder de discordar, o poder de vencê-la. [Música] Talvez até hoje você venha perdendo todas as batalhas sem nem perceber que você podia lutar. Em todas elas, você se permitiu convencer instantaneamente de que o que você é, o que você tem, é ruim, não é o bastante. E você se comparou e se julgou e se odiou. Mas a partir desse vídeo, talvez você consiga começar a vencer às vezes. Não todas as vezes, mas algumas. A mera ciência da possibilidade de discordar dessa voz vai te dar esse poder. Quando a serpente perceber isso, ela vai se enfurecer, vai tentar fazer mais barulho. Em cada pequena amostra do seu dia, ela vai tentar te fazer odiar aquele momento, odiar os outros, odiar a si mesmo e o que você tá fazendo, tentar incutir dentro de você essa ilusão de que você precisa fazer outra coisa, que a vida não é boa do jeito que é, mas não vai adiantar, porque você vai ter aprendido a lutar. Comece a perceber com cada vez mais frequência que, na verdade, talvez não haja nada que você deveria tá fazendo além de apenas abdicar. Nada. Em vez de estar aqui sentado comendo uma fruta, em vez de estar aqui pegando o ônibus, indo trabalhar, que grande mal tem isso? Afinal? Quem que quer te convencer que isso é ruim e você precisa rejeitar esse instante a todo custo? [Música] A serpente quer te desconectar do mundo, quer te tirar desse momento, porque ela sabe que tudo que nós temos é esse momento. O agora é o único lugar onde você existe. Todo o resto é uma ilusão. E por isso ela quer te fazer o tempo todo rejeitar o agora, te fazer pensar que é o futuro que é bom, porque o futuro vai ter um monte de coisa que não tem agora. E tudo que você faz agora se torna uma aflição em nome desse futuro que não existe, que nunca chega. É isso que ela quer. Mas agora você pode perceber que talvez seja mentira. Talvez seja. Talvez a sua vida, do jeitinho que ela é não seja tão ruim. Talvez você possa permitir que ela seja desse jeito. Talvez você possa permitir que as pessoas sejam como elas são. Talvez você não precise de um celular de ponta. Talvez você não precise de um carro de ponta. Talvez você não precise ser mais bonito. Mais bonita. Talvez o seu trabalho não seja tão terrível assim. Talvez a sua casa já seja boa. Você sabe que muitas pessoas dariam tudo por apenas um teto. Talvez os seus pais fizeram o seu melhor com o que eles tinham. E talvez você também esteja fazendo o seu melhor aqui. E você pode se permitir amar os seus pais. perdoá-los por qualquer coisa e amar a si mesmo, te perdoar por qualquer coisa. Talvez você possa sair das redes sociais de uma vez por todas. Hã, talvez o tédio que você sente que deve evitar a todo custo não seja tão ruim. Talvez você possa permitir que ele se faça presente, às vezes que ele exista. talvez não seja tão intolerável quanto você imagina. E à medida que você encontra esse tipo de pensamento, esses pensamentos preciosos dentro de você, a cada instante, cada momento, por trás da gritaria da serpente, você vai finalmente começar a ver a verdade. E essa verdade vos libertará. Vai te mostrar uma liberdade que é diferente de todas as outras. Cada vez que você conseguir dizer não pra serpente, o veneno dela vai ser lentamente expelido da sua alma e vai dar espaço finalmente pro amor. O verdadeiro amor, o amor pela vida, pelos outros. O amor que não exige nada em troca, que simplesmente acolhe, permite e aceita. Ouvistes o que foi dito, olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo a qualquer um que te ferir na face. Ofereça-lhe também a outra face. Se alguém vier lhe tirar o seu manto, dê-lhe também a sua capa. Se alguém te forçar a caminhar com ele por uma milha, lá com ele duas, ouvistes o que foi dito? Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: vossos inimigos. E orai por aqueles que vos perseguem, para que vós venham a ser filhos de seu pai, que estás no céu. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Abdique, aceite, faça as pazes com a sua vida. [Música]

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