Como realmente funciona o GPS e ele pode mesmo ser desligado no Brasil?
0Caros amigos, bem-vindos a mais um tarifas extras de 50% sobre importações brasileiras até a revogação de vistos para ministros do STF, os seus familiares e colaboradores mais próximos, há um receio crescente no Brasil de que se as sanções escalarem, os Estados Unidos possam atingir serviços importantes para os brasileiros, como o GPS, com isso, levantando uma questão central, esse sistema pode mesmo ser desligado no Brasil. Para respondermos essa pergunta, precisamos primeiro entender o que é o GPS e como e por ele foi desenvolvido. Tudo remonta à Guerra Fria, mais especificamente a 1957, quando a União Soviética lançou o Sputnck, o primeiro satélite artificial, com os americanos descobrindo que podiam rastrear o satélite pelo efeito Doppler através das variações no sinal de rádio causados pelo movimento. Isso inspirou o desenvolvimento de sistemas de navegação por satélite com o primeiro resultado prático surgindo logo no final dos anos 50 sob a forma do trânsit originalmente desenvolvido pela Marinha dos Estados Unidos para permitir a navegação precisa de submarinos e navios de superfície. O sistema chegou a ser usado em algumas aplicações civis, mas era muito rudimentar, sendo então substituído pelo que funcionava com base em relógios atômicos instalados em satélites em órbita, constantemente transmitindo a hora para receptores em terra. Esse serviço permitiu o teste e o desenvolvimento da tecnologia, que nos anos 70 deu origem ao sistema de posicionamento global, mais conhecido pela sigla GPS. O primeiro satélite foi lançado em 1978, com o sistema tornando-se plenamente operacional em 1995, mas chegou a ser usado com limitações na Guerra do Golfo em 1991. Trata-se de uma constelação de satélites formada por no mínimo, 24 satélites, contando atualmente com 31 operacionais para uma melhor cobertura, sobrevoando a superfície da Terra em uma órbita a 20.000. 1180 km de altitude, com cada satélite completando uma volta em torno do planeta a cada 11 horas e 58 minutos. Cada satélite transmite sinais de rádio contínuos, incluindo a sua posição exata e o tempo preciso, medido por relógios atômicos, com um receptor GPS no solo, como o seu celular, captando sinais de pelo menos quatro satélites e através da trilateração, calculando a distância com base no tempo que o sinal levou para chegar ao receptor. O custo para desenvolver o GPS, incluindo o desenvolvimento da tecnologia, a construção dos satélites e os lançamentos orbitais é estimado hoje em cerca de 11 bilhões de dólares, o equivalente a pouco mais de 60 bilhões de reais, a cotação do dia 20 de julho de 2025. O custo de operação do GPS ronda os 2 bilhões de dólares por ano aos cofres do Pentágono. E sim, o GPS é um serviço 100% militar, projetado, desenvolvido, lançado, pago e bancado com dinheiro do orçamento da defesa dos Estados Unidos. Mas mesmo assim, o serviço é oferecido para aplicações civis em todo o mundo, com uma precisão oscilando a volta dos 3 m para civis, com os militares americanos obtendo uma precisão obviamente secreta, mas que é estimada por algumas fontes como sendo milimétrica. Um detalhe curioso é que o GPS não foi originalmente pensado para ser livremente usado por civis, com a virada vindo em 1983, após a Rússia ter abatido o voo da Korean Airlines 007, que se desviou da rota por um erro de navegação. Diante dessa tragédia, o então presidente Reagan ordenou o acesso civil ao GPS, que vale a pena lembrar ainda estava em fase de desenvolvimento naquela época, mas com a possibilidade da precisão ser afetada, com a previsão de degradação no sinal que poderia chegar a centenas de metros, dependendo do contexto. Algo que foi derrubado no ano 2000 por Bill Clinton, mas que na mesma permite aos militares americanos degradarem o sinal em caso de urgência militar. Afinal, como o sistema é aberto, inimigos poderiam usar o sinal de GPS para atacar alvos dentro dos Estados Unidos, também com grande precisão. Agora que já conhecemos um pouco mais da história do GPS e de como ele funciona, vamos avançar para a pergunta título do vídeo. Se as sanções escalarem, os Estados Unidos poderiam desligar ou degradar o sinal do GPS só para o Brasil? A resposta é sim. Mas não é simples como apertar um botão. A nível local, há diversas técnicas capazes de degradar a precisão do sinal de GPS, mas exigem transmissores de sinal em terra ou no ar, constantemente transmitindo sinais de rádio na mesma frequência usada pelo sinal de GPS. Essa técnica é muito usada em cenários de conflito com russos e ucranianos, por exemplo, aplicando-a muito para afetar o sistema de navegação de drones e aeronaves. No entanto, como eu disse, o seu raio de efeito é muito limitado e mesmo grandes emissores só conseguem afetar o sinal em um raio de poucas centenas de quilômetros, como a Rússia costuma fazer no Mar Báltico, através de gigantescos emissores instalados em Calingrado, no norte da Belo Rússia e em São Petersburgo. Essa técnica não poderia ser usada para afetar o sinal de GPS em uma área com dimensões continentais como o Brasil. restando então a degradação do sinal no próprio satélite. Como os satélites sabem exatamente onde estão, eles podem ser programados para, em determinados locais emitirem sinais falsos ou degradados, o que tornaria o GPS inútil sobre vastas áreas como países inteiros. E se trata de algo que efetivamente já foi feito. Em 1999, durante a chamada guerra do cargil entre Índia e Paquistão, os Estados Unidos degradaram de propósito o sinal de GPS para a Índia, com isso servindo como incentivo extra para a criação do Nave IC, um sistema de navegação por satélite exclusivo da Índia. Por isso, apesar da previsão de negação de serviço ter sido derrubada por Clinton no ano 2000, basta uma ordem executiva, como tantas que Trump costuma assinar para essa regra ser revertida. Mas é importante salientar que não é algo com fortes possibilidades de ser feito contra o Brasil. E basta vermos que o GPS continua disponível mesmo em territórios de nações adversárias como o Irã. Por isso, se o Irã, que ataca Israel e até mesmo bases americanas no Golfo, continua tendo acesso livre ao GPS, podemos concluir que é muito pouco provável que os Estados Unidos bloqueem esse serviço justamente para o Brasil. Em resumo, o bloqueio do GPS para nações inteiras é tecnicamente possível e os Estados Unidos já fizeram isso algumas vezes, mas em termos práticos e até mesmo devido a limitações legais, é muito pouco provável que algo desse tipo seja feito contra o Brasil. Mas na remota possibilidade disso acontecer, haveria alguma alternativa para o GPS? Sim, há três alternativas principais. O Galileu europeu, o Glonas russo e o Beidou chinês. O Glonas russo começou a ser desenvolvido no final da Guerra Fria, entrando em operação no final dos anos 90. Possui 26 satélites em órbita, mas foi pensado para oferecer um serviço estável em latitudes mais altas, o que exigiria algumas correções de sinal para o Brasil. tem uma precisão rondando 5 a 10 m, um pouco pior do que o GPS, que para uso civil tem uma precisão à volta dos 3 m. O Bidol chinês tem, segundo algumas fontes, mais de 40 satélites em órbita e está crescendo rápido com o seu uso cada vez mais difundido no Brasil, graças a parcerias com Pekin. Dependendo da aplicação, tem uma precisão ligeiramente melhor do que a do GPS e permite até mesmo a transmissão de breves mensagens de texto. O Galileu europeu, com 30 satélites em órbita, tem a vantagem de ter sido projetado desde o início para uso civil, com uma precisão que pode ser de até 1 m no serviço de alta precisão, sendo por isso o melhor serviço para uso civil dentre os disponíveis. é também visto como melhor para ambiente urbano, com um sinal mais forte do que o do GPS, mas ainda não foi universalmente adotado, mas caminha rapidamente nessa direção. Portanto, em um cenário extremo e, volta a frisar, muito pouco provável de corte no sistema GPS por parte dos Estados Unidos para o Brasil, o nosso país ainda teria à disposição pelo menos outros três serviços, alguns deles até mesmo melhores do que o sistema americano.