CRIANÇAS DESAPARECIDAS EM ISRAEL

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Oi, eu sou o Felipe e na recém criada Israel, o mistério perturbador tomou forma, escondido, claro, embaixo de todo o caos histórico que a gente costuma estudar superficialmente a respeito daqueles primeiros anos. Com as grandes levas de imigrantes pra região, inúmeras crianças judias começaram a desaparecer. A quantidade, ainda hoje cercada por especulações, varia entre 1000 e 5.000 crianças. O que começou como só mais uma tragédia em meio àqueles tempos de guerra, rapidamente virou um monte de teorias da conspiração, arquivos secretos, versões conflitantes e uma crise geopolítica que rende frutos podres até hoje. Nesse vídeo, a gente vai investigar um dos casos mais enigmáticos da história de Israel, o desaparecimento das crianças e emenitas. Vem comigo. No final dos anos 40, Israel não era só um novo país, era praticamente um campo de refugiados a céu aberto, cheio de promessas e expectativas, mas na prática só decepção e caos. Para manter um estado viável, os sionistas, o movimento político fundado no final do século XIX, que visava a criação de um estado judeu na Palestina, precisavam reunir o máximo de judeus espalhados pelo mundo ali. O principal incentivo foi a lei do retorno, aprovada em 1950, que garantia a qualquer judeu do mundo o direito automático de emigrar para Israel e obter cidadania. Isso transformava Israel em um porto seguro universal, vendendo a ideia de que qualquer judeu teria ali um lar e proteção. Além do apelo ideológico do volte para Sião, que fazia referência ao retorno dos judeus, a terra bíblica de Sião, a utopia do povo israelita original, o governo israelense oferecia benefícios práticos pros recém-chegados chamados de Olim, que em hebraico significa ascendentes, ou seja, aqueles que sobem. Isso incluía moradia garantida nos Maabarot, os campos de absorção, onde as famílias recebiam teto, comida e assistência médica básica, ainda que em condições bem precárias. Recebiam também subsídios de chegada chamados de cupat olim e ajuda pontual de alimentação. Uma vez estabelecidos, os novos israelenses recebiam ULPAN, que em hebraico significa estudo ou curso, que eram as aulas de um curso intensivo de hebraico, além de ajuda para encontrar trabalho, geralmente em serviços públicos, construção civil e nos kibutzen, que eram coletivos agrícolas inspirados nos modelos socialistas da época. Pode parecer estranho ver as palavras sionismo e socialismo juntas, mas daqui a pouco sai um vídeo no canal explicando exatamente isso. Então já se inscreve aqui para não perder, hein? Além disso, havia uma campanha global feita pela Sornut, a agência judaica pra terra de Israel, que já tinha se juntado com os sionistas lá em 1929 para financiar a migração quando o estado fosse eventualmente fundado. Quem quisesse emigrar tinha suas passagens subsidiadas ou até oferecidas de forma gratuita, especialmente em grandes iniciativas como a operação Ezra e Neemias, que emigrou judeus do Iraque, e a operação Asas de Águia ou tapete mágico entre junho de 1949 e setembro de 1950, que levou cerca de 49.000 famílias do Yemen. E esse país vai ser importante a partir de agora. O Yemen é um país no sul da Península Arábica, fazendo fronteira com a Arábia Saudita e Oman e banhado pelo Mar Vermelho e o Golfo de Adem em uma posição geopolítica estratégica próximo ao estreito de Bab Elmand ou o portão das lágrimas em árabe. Hoje é de maioria muçulmana, sunita e shiita, mas o país teve por séculos uma comunidade judaica significativa que enfrentou inúmeros pógros, principalmente depois da criação de Israel em 1948. Segundo a tradição das próprias comunidades judaicas e hemenitas, eles teriam ido parar lá desde os tempos do rei Salomão, no século X antes de Crist, quando mercadores judeus teriam acompanhado as expedições comerciais ligada ao mítico reino de Sabá. Esta que tá aqui atrás. Qual? Esta que tá aqui atrás. Esta que tá aqui atrás. A hipótese mais aceita é que o tal reino de Sabá era formado pelos territórios que hoje compõe o Yemen e a Etiópia. Mas é mais provável que os judeus tenham ido parar no Yemen logo após o exílio babilônico, no século 6 a de. Crist, quando grupos de judeus buscaram refúgio em rotas comerciais ao sul, se fixando na Península Arábica. Com a expansão do império persa e o florescimento das rotas comerciais entre o Mediterrâneo, Arábia e Índia, a presença judaica no Yemen se fortaleceu entre os séculos 4 aes de. Cristo e o primeiro século, firmando-se ainda mais quando o reino Rimiarita, no sul da Arábia, se converteu ao judaísmo entre séculos 4 e 5, com um destaque importante pro rei Duna, cuja perseguição aos cristãos levou à invasão do reino por forças cristãs da Abissínia, onde hoje é a Etiópia, com o apoio do império bizantino. Mesmo com a chegada do islã no século VI, os judeus e hemenitas conseguiram sobreviver como dirimes, judeus e cristãos conhecidos como povos dos livros, que eram protegidos sob a condição de servir a Shariá e mantiveram tradições do judaísmo arcaico, incluindo rituais litúrgicos da Cabalá, pronúncias do idioma que preservam sons do hebraico bíblico e textos raros como o midrash ragadol, uma espécie de DLC da Torá, além de práticas religiosas únicas em relação ao próprio canon, a entonação das orações, o uso uso contínuo de manuscritos antigos, um sistema próprio de leis alimentares e a preservação de versões alternativas de textos litúrgicos. Então, o que eu tô querendo dizer aqui é que, apesar de também serem judeus, os hememenitas eram bem diferente dos judeus que tinham se espalhado pela Europa. E é claro que isso não seria tão simples quando todos eles se encontrassem depois de 1948. Em poucos meses, centenas de milhares de judeus chegaram praticamente ao mesmo tempo numa pátria recém- inventada. O sonho da terra utópica vira um pesadelo logístico. Um país com menos de 1 milhão de habitantes, de repente dobra, triplica de tamanho. Não tem casa para todo mundo, não tem comida, não tem emprego, não tem nada do que foi prometido, só a terra. O governo recém informado e ainda aprendendo a respirar se perde em meio à falta de infraestrutura. As cidades viram campos de barracas. A pobreza vira cenário fixo e cada novo navio ou avião desembarca mais famílias desesperadas. No meio dessa avalanche humana, cerca de 49.000 judeus do Yemen atravessam meio mundo em jornadas de fome, sede e medo. A tal operação asas de águia prometia trazer essas famílias em segurança. Mas a realidade é outra. Milhares caminham dias, meses pelos desertos de Aden, enfrentando violência, doença e morte pelo caminho. Quando conseguem chegar ao campo britânico de Rached, aberto em dezembro de 1948 em Aden, onde os judeus e hemenitas eram reunidos antes da imigração, quase sempre em condições degradantes e superlotadas, parece um milagre. Mas claro, só parece. O milagre é só mais uma etapa do pesadelo. Muitos já tinham perdido familiares no trajeto e chegam a Israel com corpos exaustos e almas despedaçadas. Só para descobrir que a terra prometida também pode ser um inferno. Entre 1949 e 1950, esses imigrantes eemenitas chegam e ficam meses presos em campos improvisados, esperando uma autorização britânica que nunca vem. Eles vivem em tendas rasgadas, dividem água e esperança em doses mínimas, olhando todos os dias pro portão que promete a chance de se abrir. A vida nos campos é só espera. Espera para comer, espera para embarcar, espera para sobreviver ao próximo surto de doença. Crianças morrem antes mesmo de saber o que significa lar. Adultos aceitam a dor e o luto como parte do cotidiano. E quando finalmente chegam em Israel, o recebimento é ainda mais hostil. O destino da maioria dessas famílias são as Maabarot, que em vez de casas novinhas em folha, eram colônias de barracas improvisadas construídas de qualquer jeito para quem não tem para onde ir. Em 1952, mais de 200.000 1 pessoas vivem nessas estruturas de lona, com comida racionada, roupas doadas e quase nenhum conforto. As noites são extremamente frias, os dias insuportavelmente quentes e as doenças como sarampo, e tuberculose se espalham rapidamente. E pras crianças, qualquer febre é uma sentença de morte. No papel, as autoridades garantem que o estado vai proteger as crianças, só que a proteção vem com um preço. Médicos e assistentes sociais muitas vezes optavam por separar bebês e crianças pequenas dos pais para ficarem em abrigos coletivos, o que aparentemente seria mais seguro, ou levá-las para casas temporárias, longe das tendas. Crianças que apresentam qualquer sintoma de doença são arrancadas das mães e levadas para hospitais distantes. Tudo sob o argumento de prevenir o contágio. E então vem a superlotação hospitalar, o cenário perfeito pro colapso da comunicação. Eram judeus do mundo todo. Muita gente falando muitas línguas diferentes, médicos sobrecarregados, enfermeiras exaustas, papelada perdida. O resultado é óbvio. Ninguém sabe onde está ninguém. Muitos pais pedem notícias dos filhos e só ouvem respostas vagas. Infelizmente, seu filho morreu ou ela nunca deu entrada aqui. Não tem certidão, não tem corpo, não tem funeral, não tem sequer uma possibilidade de adeus. Os hospitais não guardam os corpos porque não tem espaço para isso e quando decidem enterrar, fazem as pressas, sem a família por perto, sem testemunhas. O horror começa a crescer, mas o mistério também alimentando a indignação. Centenas de famílias, de repente percebem que seus filhos sumiram enquanto estavam sob responsabilidade do estado. Não existe explicação formal, nem registro oficial, nem vestígio do paradeiro das crianças. Só existe o silêncio. Só que aí um padrão estranho começa a aparecer. Quase todos os desaparecidos são bebês ou crianças de até 3 anos, sempre de famílias recém-chegadas e quase sempre crianças do Yemen. Também houve desaparecimentos de crianças de outros países árabes e dos balcans, mas estima-se, segundo ativistas que ainda cobram respostas para esse caso, que uma em cada oito crianças e emenitas tenham desaparecido. essa altura, obviamente, todo mundo começa a desconfiar dos hospitais e do próprio governo. Parte dos registros simplesmente some, nunca é feita ou se perde na confusão. Mas havia também quem acreditava em omissões propositais, principalmente por causa do preconceito contra os misarahim, como eram chamados os judeus do Oriente Médio. Para alguns não bastava ser judeu para ser igual. Essas famílias vistas como atrasadas por parte da elite asquenaz, os judeus da Europa central e oriental muitas vezes eram tratadas como gente de segunda classe. A burocracia tinha virado um labirinto intransponível e alguns suspeitavam que esse mesmo labirinto tinha sido feito propositalmente para deixar todo mundo ainda mais perdido. Nada acontece e o mundo ignora os desaparecimentos. Décadas se passam e de repente cartas do exército começam a chegar, convocando os filhos desaparecidos pro serviço militar obrigatório. Algumas famílias que já tinham perdido a esperança são obrigadas a reviver o trauma. Será que meu filho morreu mesmo ou sobreviveu em algum lugar com outro nome e outra história? As cartas reacendem todas as teorias de conspiração. A imprensa percebe o escândalo se formando e começa a investigar. Enquanto movimentos comunitários e ativistas cobram respostas do governo. O caso ganha manchetes de novo, programas de TV e vira tema de protestos cada vez mais inflamados. Todo mundo quer saber a verdade, mas quanto mais se pergunta, mais o Estado de Israel se fecha, principalmente porque a resolução do mistério exigiria abrir arquivos secretos. Em 1994, o rabino Usimeulan, já reconhecido como o porta-voz mais incansável da causa, chega ao seu limite. Ele tinha distribuído panfletos que descreviam os sequestros das crianças e afirmava que cerca de 4.500 filhos de imigrantes judeus e hemenitas foram tirados de seus pais pelas próprias autoridades israelenses e dadas a judeus ricos dentro de Israel e no exterior durante o final da década de 40 e início da década de 50. Depois de um conflito com vizinhos ter escalado, ele transformou sua própria casa na cidade de Yhud, perto de Tel Aviv, em um verdadeiro bunker. Montou barricadas, fechou todos os acessos com móveis e madeira e reuniu 11 de seus seguidores, alguns armados com pistolas e fuzis caseiros. O grupo estava decidido a não recuar. Eles queriam a qualquer custo obrigar o governo a criar uma comissão de inquérito séria, já que, segundo eles, anos de pedidos, protestos e denúncias nunca trouxeram respostas. A situação vira um cerco de vários dias transmitido ao vivo pela televisão israelense, com policiais fortemente armados rodeando a casa, troca de ameaças, tentativas de negociação frustradas e atenção cada vez mais escalando. No auge do impasse, a polícia decide invadir. Houve-se tiros no meio da confusão, o seguidor Shilomi Assuline, de 19 anos, é morto por um franco atirador e Mexulan acaba preso junto com os demais. O episódio toma conta do noticiário, choca o país e força, pela primeira vez o governo a criar oficialmente uma nova comissão investigativa. O mistério finalmente sai das sombras e as famílias se aproximam de uma resposta ou quase. A primeira comissão para investigar o mistério batizada de Barlul Minkovski, nome dado por causa dos membros Salá Balul e Jakovminkovski, tinha sido formada lá em 1967 e já havia surgido cercada de suspeitas. O governo tinha convocado o grupo prometendo apurar as centenas de casos de crianças desaparecidas e o resultado caiu como um balde de água fria. Dos 342 casos revisados, 316 recebem o veredito. Morreu mesmo? Desculpa. Ainda assim, dois acabam sendo classificados como adoção forçada e 24 ficam sem resposta. Mas a verdade é que ninguém se satisfez com o relatório, nem as famílias, nem o próprio parlamento. Todo mundo sentiu que a investigação passou como um trator por cima dos relatos e das evidências, sem responder de verdade o que aconteceu nos casos não solucionados. E assim o governo encerrou a discussão como se fosse possível fechar a tampa de um caixão vazio e seguir como se nada tivesse acontecendo. Mas os protestos nunca pararam. A década de 80 então traz uma segunda onda de indignação. Rafi Rechef e outros jornalistas investigativos começam a divulgar casos inéditos de desaparecimento e até indícios de crianças vivas. Deputados do Knesset, o parlamento israelense como Han Cohen começam a cobrar publicamente a reabertura dos casos e o acesso aos arquivos da Primeira Comissão que estavam lacrados. O programa de TV israelense UVDA, um dos principais jornais investigativos do país, fez matérias aprofundadas, reaccendendo o debate público sobre o caso. E assim, a comissão Shalg, nomeada em referência ao juiz Moché Shalg, que presidiu o comitê, criada em 1988, recebe 301 novos relatos, mas a esperança mais uma vez logo azeda. 65 famílias saem da comissão com a mesma resposta de sempre. Não sabemos o que houve com o seu filho, ou então ele só morreu mesmo. Contente-se com isso. Enquanto uma parte do governo insiste que tudo não passou de uma coincidência, uma sequência de tragédias, as crianças desaparecidas são usadas como palanque político. Parlamentares e ativistas começam a falar em crime organizado, sequestro, tráfico internacional. O parlamento se divide, a população perde ainda mais a fé no estado e a narrativa oficial de fatalidade já não convence mais ninguém. A sensação é de que por trás das portas dos hospitais e dos arquivos do governo existe um segredo que alguém guarda com muito cuidado. Em 1995, a pressão do cerco de Mechulam obriga o governo a instaurar a comissão Kadm ou Cohen Kademy em referência ao juiz Yhuda Cohen e ao presidente Jacov Kademy. E assim, pela primeira vez eles abrem mais de 1000 dossiê e tentam olhar caso a caso. Mas o relatório final, publicado só em 2001 é uma mistura de tragédia e mais mistério. A comissão concluiu que nos primeiros anos do estado de Israel até 1000 crianças podem ter sumido mesmo, mas não acharam provas de que o governo tenha feito parte dos sequestros. Dos mais de 1000 casos analisados individualmente, 972 crianças foram declaradas mortas, principalmente por causas como desnutrição, doenças infecciosas, como sarampo e tuberculose, e complicações decorrentes das péssimas condições sanitárias dos campos de refugiados e os hospitais improvisados. 42 continuaram desaparecidas e em 56 casos não houve resposta definitiva. O relatório também concluiu que nesses casos sem solução pode sim ter havido adoção sem autorização oficial, mas não como parte de um plano do Estado. E surpreendentemente cinco crianças desaparecidas foram encontradas vivas, já adultas. Essas tinham sido adotadas ilegalmente. No fim, a comissão negou que existisse um esquema governamental para tirar crianças de famílias emitas e que mesmo os casos de sequestro foram casos isolados e que a melhor coisa era encerrar esse assunto e trancar de novo todos os documentos. Sim, é aqui que você senta na mesa do teórico da conspiração e começa a se perguntar por tanto segredo. Talvez todo esse malabarismo a respeito da verdade tem alguma coisa a ver com os testes genéticos para descobrir se os judeus do Oriente Médio tinham algum sangue negro. Supostamente, segundo os registros da comissão CAD Cohen, o médico Joseph Mendel afirmou em depoimento que amostras de sangue costumavam ser coletadas de recém-chegados e eminitas nos hospitais, crianças e adultos durante exames médicos de rotina, com o objetivo de rastrear doenças como a malária. Porém, segundo Mendel, parte da equipe médica também buscava traços de anemia falsiforme, uma condição genética comum em populações africanas, o que indicaria um viés racial na investigação, o que ele disse que era uma tentativa de encontrar alguma criança com sangue negro para garantir crianças puras para aquela conspiração da adoção. Mas nesse caso, tudo o que temos é o relato doutor. Infelizmente não há documentos oficiais sobre isso. Porém, o curioso é que em 22 de novembro de 1952, o The Lancet publicou o artigo intitulado uma investigação de grupos sanguíneos e uma busca por traço falsiforme em judeus e hemenitas, assinada por Fritz Difel e Raman Lemon e outros médicos israelenses, que relatava a presença de traços falsiformes em três de 350 crianças examinadas. Embora Dryfus tenha sugerido no artigo que esses achados poderiam servir para apontar uma ancestralidade africana, Leman mais tarde refutou essa interpretação com base em métodos mais avançados de análise de hemoglobina. E o timing dessa pesquisa é bem sugestivo. Em 1997, o investigador Josef Yosefov, também ligado à comissão, relatou ter questionado o patologista Dr. Baruk Gali sobre informações não confirmadas a respeito de um suposto financiamento do National Institutes of Health dos Estados Unidos a um hospital israelense voltado para uma pesquisa sobre a estrutura cardíaca, especificamente de judeus e hemenitas. Segundo Josephov, Gali admitiu que havia algo parecido uma pesquisa conduzida no hospital Telashomer sobre aterosclerose emenitas. Mas de novo, nenhuma evidência documental do financiamento ou da dissecção de 60 corações de crianças e emenitas, como alguns depoimentos na comissão diziam, foi aposentado. Só que as coisas pioraram quando Mayer Brother, advogado do Ministério da Saúde, afirmou em audiência no Parlamento em 2017 que a Lei de Anatomia e Patologia de 1953 permitia autópsias sem consentimento familiar, exigindo apenas a assinatura de três médicos e autorizava a enviar corpos não reclamados em 48 horas paraa faculdade de medicina. Antes disso, hospitais seguiam normas do mandato britânico e às vezes adotavam prazo informal de 24 horas. Ele basicamente meteu um A gente nem fez nada e se fez também a gente podia. Durante essa mesma audiência, o pesquisador Elye Lipstein afirmou que a maioria das crianças eitas que morriam nos hospitais era submetida a autópses em condições degradantes, como sobre uma pia perto de um banheiro e que em muitos casos os corpos eram tratados como resíduos biológicos e que as famílias raramente podiam ver os corpos ou organizar funerais. Após esses depoimentos, o grupo médicos pelos direitos humanos em Israel emitiu uma declaração exigindo um pedido público de desculpas, afirmando que os atos descritos violavam o código de Nuremberg 1947, que já proibia experimentos médicos sem consentimento. E no meio desse zigue-zague macabro, com a resposta ali do lado, o Estado israelense decidiu lacrar centenas de milhares de páginas de arquivo do caso. Esse sigilo oficialmente vai durar 70 anos. O argumento oficial do governo usava como justificativa a precaução legal, mas na prática era só mais um tijolo nessa muralha de impunidade. Quem tem filho desaparecido não quer saber de argumentinho jurídico, quer ter a sua dor sanada. O tempo passou, mas a pressão por respostas não diminuiu. E em 2016, o governo de Benjamin Netaniarro decide tentar um novo caminho nomeia Tsashi Haneb para revisar as provas e liberar parte dos documentos com um discurso público de transparência. É nesse momento que ressurgem denúncias ainda mais pesadas, relatos de experimentos médicos em crianças vivas, negligência deliberada, crianças tratadas como cobaias e corpos enterrados sem nomes em valas coletivas. As denúncias encostam nos 5.000 casos. Testemunhos dados sobre juramento alegavam que crianças subnutridas foram usadas em experimentos recebendo injeções de proteínas sem consentimento dos pais. A injeção de proteína numa criança subnutrida pode destruir o fígado e os rins. Em um choque metabólico que mata o pâncreas. Muitas morrem sem que ninguém assuma responsabilidade e os corpos às vezes iam parar nessas valas comuns, desrespeitando a tradição judaica de sepultamento para osemenitas. Para eles, o corpo deveria ser lavado ritualmente, envolto em um sudário simples, enterrado o mais rápido possível, de preferência no mesmo dia e voltado para Jerusalém. Algumas lendas dizem que a alma não encontra paz se o corpo for manipulado por estranhos ou exposto, o que só piora a situação do ponto de vista cultural. O próprio ministro Hanieb admite sem rodeios na televisão. Levaram as crianças e deram para outros, não sei para onde. Pela primeira vez, alguém do alto escalão do governo reconhece publicamente que houve o sequestro de crianças e emenitas e que elas foram colocadas para adoção, mesmo que em termos vagos. O estado finalmente admite que algo aconteceu, mas não diz o que, nem por, nem para quem. Talvez o jeito fosse dar voz às próprias vítimas, trazer essas crianças de volta para contar suas histórias. Em janeiro de 2018, pressionado por protestos e pela força das redes sociais, o governo autoriza a abertura de 18 túmulos e a reabertura de parte dos arquivos secretos. O objetivo dasumações era comparar o DNA dos restos mortais com irmãos vivos em busca de provas concretas de fraude ou troca de corpos. Só em setembro de 2022 acontece o primeiro match total. O DNA dos restos mortais de uma das crianças enterradas bate com o de uma família. Era Joseph Millamed. Os outros 17 túmulos, porém, não tinham mais DNA utilizável ou não deram correspondência. Depois que Netaniarro reabriu parte dos arquivos secretos, jornalistas vasculharam os documentos para descobrir finalmente se os judeus asquenazes realmente sequestraram as crianças judias do Oriente Médio e descobriram que dezenas de crianças asquenazes também desapareceram em condições parecidas e que o Estado sabia dos desaparecimentos. O governo tentando resolver a catástrofe, aprova em 2021 uma indenização de até 200.000 Shakels, pouco mais de R$ 300.000 para as famílias que nunca tiveram esclarecimento sobre o destino dos filhos. Só que a compensação só vale para quem teve o caso analisado oficialmente pelas comissões. Sim, aquelas comissões que negligenciaram centenas de casos. Em dezembro do mesmo ano, jornalistas do Raarets vazam um rascunho do relatório do Ministério da Saúde não concluído, que aponta indícios de que médicos, enfermeiros e funcionários do governo intermediaram as adoções, algumas vezes em troca de dinheiro. Então, sim, provavelmente envolvia uma rede de venda de bebês. Mesmo com todos esses escândalos, a maioria dos arquivos permanecem em sigilo, supostamente para proteger a privacidade dos envolvidos. Mas eu prometo que quando os arquivos se tornarem públicos em 2071, eu volto aqui para contar tudo para vocês. Esse foi o vídeo de hoje. A gente se vê na próxima. [Música] [Música]

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