CULTURA não é luxo | Olavo de Carvalho
0O processo de amadurecimento é o processo de conquista da conquista da lucidez, conquista da transparência, conquista da luminosidade. Então, é uma perpétua luta da luz contra as trevas, né? E acontece que algumas pessoas um dia adquirem este impulso de busca da luz e busca da da transparência como sua verdadeira vocação e missão na vida. Hum. E são essas pessoas que chegam realmente a a ter o nível de transparência desejada, porque isso se tornou a preocupação obsessiva delas ou única, né? Então, são as pessoas que buscam adquirir cultura, informação e cultura e formação para aumentar a transparência da sua visão de si mesmo do mundo. Essas achas que se tornam verdadeiras pessoas cultas. E nesse sentido se tornam pessoas muito mais humanas do que as outras. Por quê? Porque realizam mais plenamente a capacidade humana fundamental. que é justamente esta a capacidade da transparência. Hum. Não a transparência total. Evidentemente só Deus é a transparência total. Mas Deus não tem que lutar pela transparência. Ele é a própria transparência, né? Ele não vive entre a luz e as trevas como nós. Nós vivemos. Então, esta busca da luz pode se transformar desde muito cedo num empenho formidável de adquirir cultura como meio de cultura de si mesmo. Hum. como um meio de melhoramento humano e, vamos dizer de aperfeiçoamento da sua personalidade, não só da sua personalidade, como uma coisa bonita que você vai exibir para todo mundo, embora a exibição da da do que tem de bom na sua personalidade seja uma obrigação, né? Cristo diz, você não acende uma vela para escondê-la, tá certo? E até aqui em Mateus 5:16, tá aqui. Deixe que a sua luz brilhe entre os homens para que eles possam ver as suas boas obras e dar glória ao seu pai que está nos céus. Hum. Então, vamos dizer, esta é a verdadeira vocação que justifica e torna imprescindível, torna obrigatório o impulso de adquirir cultura. Mas esse impulso também ele pode aparecer dentro das pessoas, mas ele também vai se expressar na linguagem e com os símbolos da cultura ambiente na qual você está. Então como é que aparece isso eh no Brasil? Então, se você pegar o Brasil de 50 anos atrás, você encontrar uma multidão de escritores, pensadores, artistas, etc, etc. Pessoas altamente elaboradas, hum, muito conscientes, muito transparentes, né? E que podiam dialogar, seja através de suas obras, seja pessoalmente, tá certo? num nível de consciência humana muitíssimo elevado, tá certo? Eh, claro, isso refere, vamos dizer, a sua intercomunicação, tanto sobre a sua vida pessoal quanto sobre a a sua vida intelectual, a sua função na sociedade, etc, etc, etc, né? E hoje você não tem mais essas pessoas. Você não tem uma comunidade intelectual que possa servir de modelo para as pessoas. Então isso quer dizer que o indivíduo como vocês, né, que tem um vislumbre desta coisa, ele vai se explicar isso a si mesmo nos termos da cultura ambiente. Ora, na cultura ambiente, como não existe mais a figura do homem de cultura, só existe então as figuras dos modelos profissionais. que, vamos dizer, não são homens de cultura mesmo, mas são os seus, por assim dizer, os seus símbolos coesificados, né? Então, você tem a profissão de professor universitário, de jornalista, de escritor, etc, etc, etc., né? E, mas é claro que esses meros papéis sociais não indicam nenhum caminho para você seguir. Eles são apenas nomes e profissões. E nós aqui não estamos falando da aquisição no papel social, mas estamos falando da aquisição de um poder mental que você tem sobre si mesmo. Hum. de você ter se tornado, como dizia o Lipotondi, o homopontifex, o homem construtor de pontes, é o indivíduo que constrói pontes entre os seus impulsos mais antagônicos. Hum. Por exemplo, ele constrói uma ponta entre a luz e as trevas. Hum. Ele não tampa as trevas para viver na luz, porque isso é impossível. Hum. Ele tem que elaborar as suas trevas. e gradativamente introduzir a luminosidade dentro dela, né? No sentido de que aí Santo Agostinho dizia que as virtudes são feitas da mesma matéria das dos vícios. Então você vai partir dos vícios. Você vai partir de uma natureza viciosa, obscura, eh confusa, tá certo? Destrutiva. E aos poucos você vai trabalhar aquilo. Hum. Ora, não é muito mais fácil você assim adquir um adquirir um papel social de pessoa religiosa? Hum. E daí você faz de conta que as trevas não existem mais em você. E quando você vê um pontinho de treva no outro, você sai, né, acusando outro. Como esses pastor protestante toda hora aparece na televisão um dizendo, um falando mal dos outros, ah, você é adúltero, você é ladrão, você é narcotraficante, você é pedófilo, né? Cada um deles é uma figura sacrossanta que vive imersa na luz, no qual não há sequer um pontinho de trevas. Então quer dizer, são pessoas que fugiram ao desafio da vida, né? que não é de você adquirir um papel social de pessoa boazinha, mas de você trabalhar o mal e a confusão que existe dentro de você até você adquirir o domínio mental e a transparência em cima daquilo. Então daí naturalmente a sua luz começa a brilhar, né, sem que você precise sequer esconder os pontos obscuros que estão lá, porque não se trata, vamos dizer, de um contraste absoluto entre luz e trevas, mas de uma luminosidade relativa e de uma obscuridade também relativa, né? Então basta que na composição geral, vamos dizer, a luz predomine, a transparência predomine em quanto, sei lá, 51, 52%. Este, isso às vezes é o máximo que o ser humano consegue, né? Mais ainda, o que importa não é o que você conseguiu. O que importa é que você não abandonou a luta pela transparência, a luta pela luminosidade. Você tá constantemente buscando. Ora, mas se você está constantemente buscando a luminosidade, você está constantemente buscando os elementos culturais que você necessita para isto, né? Isso quer dizer que você não para de buscar conhecimento 24 horas por dia, né? E por isso quando as pessoas perguntam para mim o que que eu tenho que ler? Você tem que ler tudo o que existe de melhor em todos os domínios do conhecimento que eles são acessíveis, né? Mas vamos dizer no Brasil dizer quando a pessoa tem um impulso de ler um livro, né, ela já acha que ela realizou uma grande coisa. E tem pessoas que acham que elas podem progredir nisso lendo um ou dois livros por ano. Isso é absolutamente impossível. Hum. Quer dizer que a leitura de livros fundamentais é obrigação constante. Você nunca pode parar, né? E quando você tiver lido um volume considerável, mas o problema não é só li você tem que guardar alguma coisa, você tem que trabalhar aquilo profundamente para que a coisa se integre em você. Quando você tiver feito isto, você vai ver que se abra em possibilidades de diálogo, de comunicação, que você nunca tinha imaginado. Hum. e que quando você encontra pessoas que estão mais ou menos no meu sem mesmo nível de formação, a troca é imediata em 2 minutos, né? Quer dizer, o nível de compreensão mútua aumenta de uma maneira que para a pessoa sem cultura é totalmente impensável. Hum. Então, para aqueles que acreditam, por exemplo, aqui, eh, é possível você aproveitar alguma coisa, vamos dizer, da vida intelectual, sem você ter a ambição de saber tudo o que você pode saber, né? Então, o que eu tenho a dizer é o seguinte, desistam, né? O número de elementos que você pode precisar conhecer para alcançar a transparência da sua própria alma e poder também se comunicar com outro em nível mais profundo é ilimitado. E o que importa não é o volume do que você adquiriu. O que importa é não parar de adquirir, não deixar a bola cair e não deixar que nenhum outro interesse se sobreponha a este, né? Porque mesmo do ponto de vista eh moral, porque as pessoas pode dizer: “Não, mas o que vai salvar a sua alma, né? Não é o conhecimento que você tem, é a prática das virtudes.” Eu digo, “Bom, só tem um caminho para a prática das virtudes, meus filhos, né? a conquista da transparência e a longa e dificultosa transmutação dos seus vícios originários e alguma virtudezinha. É só isto que existe. O resto é fingimento de virtude, meu filho, né? Então tem pessoas segurito entrou numa igreja, então ele tem aqui o receituário de conduta, então agora vou fazer assim, assim, assim e ele acha que isto vai eh salvar a sua alma. Eu digo: “Não, meu filho, você acabou de tampar a sua alma. Você não sabe o abismo que tem dentro dela.