Edson Queiroz: o Visionário que Transformou o Nordeste
0Como um garoto que desmontava bicicletas por curiosidade, vendia confetes no carnaval e inventava tintas caseiras, conseguiu em poucas décadas se transformar em um dos maiores empresários do norte e nordeste. A história de Edson Keiroz é feita de coragem para apstar quando todos recuaram, visão para enxergar oportunidades em meio à crises e ousadia para subir uma torre de TV de 80 m sem qualquer proteção, apenas para garantir que tudo estivesse perfeito. Fundador de um império que hoje fatura bilhões, Edson criou empresas líderes em energia, indústria, comunicação, agronegócio e educação, incluindo a Universidade de Fortaleza, que formou mais de 100.000 alunos. Mas por trás dos números gigantes e das façanhas de negócios, há uma vida repleta de revirvoltas, decisões improváveis e episódios que parecem cenas de cinema. Conheça agora a história do cearense que revolucionou o Nordeste e transformou o seu nome em uma verdadeira lenda, deixando um legado que se perpetuou até hoje. [Música] Edson Queiroz nasceu em Cascavel, uma pequena cidade litorânia do Ceará, no dia 12 de abril de 1925, um domingo de Páscoa. Ele era o primogênito de Genésio e Cordélia e tinha cinco irmãos. Genésio começou como mascate, vendendo redes e bugigangas a prestação até abrir uma banquinha no mercado local. Já Cordélia, vindo da cidade de Lábria, no Amazonas, tinha boa educação e modos refinados, gerando um contraste que só o carisma de Genésio conseguiu vencer. Inclusive, até o nome do menino foi motivo de disputa. O pai queria Olavo, mas a mãe, apaixonada por música, escolheu o Edson, em homenagem à casa Edson, importante gravadora de discos LP da época. Enquanto Cordélia sonhava em se mudar para Fortaleza, visando oferecer uma melhor educação aos filhos, Genésio via prosperidade em Cascavel, apostando suas fichas na pequena cidade. No entanto, a seca de 1932, devastou as lavouras e o comércio de cascavel, forçando a família a se mudar para a capital. Lá, a família abriu uma mercearia de secos e molhados e matriculou o Edson no tradicional colégio cearense do Sagrado Coração para satisfação de sua mãe. Ainda assim, o foco não era somente nos estudos. Em casa, a disciplina era rígida. Todos ajudavam na mercearia e nas tarefas domésticas. Edson, além de entregador e mensageiro da loja do pai, começou a vender miudezas pelas ruas, usando algumas das sobras do estojo de costura de sua avó. Com o tempo, ele começou a adaptar os produtos conforme o calendário. Vendia confetes no carnaval, material escolar em janeiro e fogos de artifício no São João. Inventivo, Edson aprendeu até a fabricar suas próprias mercadorias. Ele desmontava estalinhos para entender a pólvora e após conversar com um hóspede de hotel, passou a produzir tinta nanquin com carvão, água destilada e vinagre. Assumindo riscos, Edson buscava lucros maiores, moldando cedo uma fórmula que guiaria sua vida: criatividade, experimentação e faro para negócios. Em 1937, para uma alegria ainda maior de Cordélia, Edson foi aprovado no exame de admissão ao seminário menor com o foco de virar padre. O plano era seguir seis anos de formação básica e mais seis de seminário maior, cursando filosofia e teologia até a ordenação. No seminário, a disciplina era severa. Visitas às famílias eram permitidas apenas uma vez por mês, sempre vigiadas e eram proibidos todo e qualquer tipo de evento social. Logo no primeiro semestre, Edson mostrou o desempenho modesto. Sua melhor nota foi um cinco em história. Acontece que o garoto era carismático e irreverente, se tornando popular entre os colegas e dando do ambiente austero e silencioso dos padres salazaristas. Após do anos, o reitor padre convocou Genésio com Ultimato. O menino não tinha vocação sacerdotal e era visto como curto de inteligência. Não teve jeito. A matrícula de Edson foi cancelada, encerrando o sonho de Cordélia de vê-lo padre. De volta à vida de um garoto comum, Edson foi matriculado no Liceu do Ceará, escola à qual ia todos os dias com sua própria bicicleta. Porém, diferente dos colegas, a bicicleta de Edson tinha sido comprada por ele mesmo com o dinheiro do seu trabalho. Todos os dias, Edson abriu o armazém da família às 6 da manhã antes de ir para a aula. Com o tempo, ele ganhou responsabilidade e se tornou gerente da recém formada Genésio Queirosa em companhia, cuidando do caixa, da contabilidade e dos registros até à noite. O salário bancou a bicicleta, seu único luxo e algumas sessões no cinema Magistic. Todo o resto ele guardava, dando os primeiros sinais de uma característica que o acompanhou pelo resto da vida. Mas é claro, nem tudo eram flores. O bom desempenho no trabalho contrastava com as notas do ginásio, onde passava de ano sempre raspando. [Música] Em 1942, prestes a completar 17 anos, Edson se apresentou para o serviço militar obrigatório no 23º Batalhão de Caçadores, bem meio à entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Por conta da proximidade com a Europa e seu grande litoral, Fortaleza vivia tensão e escassez, com blackouts, racionamento e mercados vazios. Para piorar, os ataques de submarinos alemães, que mataram mais de 600 brasileiros na costa do nosso país, deixaram a cidade polvorosa. Com sorte, Edson deu baixa em 1943 como cabo atirador, escapando da convocação de expedicionários brasileiros para a Segunda Guerra. Enquanto a cidade vivia privações, Edson viu no caos uma oportunidade, o comércio de açúcar. Ele percebeu que os submarinos do eixo atacavam apenas grandes navios e propôs fretar pequenos veleiros para busca de açúcar em Recife, evitando riscos e altas taxas de seguro. Edson apresentou seu plano para o pai e Genésio aceitou. Apesar de uma certa hesitação, Edson chegou a montar um rádio amador para acompanhar as embarcações e com o pai observava a chegada dos carregamentos na ponte metálica. Cada desembarque seguro era comemorado como um gol em final de Copa do Mundo, além de brindes e doses de whisky. A estratégia funcionou e a Genesio Queiros e Companhia virou o único fornecedor relevante de açúcar em Fortaleza, impondo preços e obtendo lucros altíssimos. Por conta da ousadia e do raciocínio estratégico de Edson, Genésio ganhou o apelido de Rei do Açúcar, a cunha acompanhou pelo resto da vida. E falando em apelidos, a empreitada de Edson fez com que ele trocasse sua bicicleta prateada pelo Bonifácio, seu primeiro carro. Ter um automóvel era um raro símbolo de prestígio numa fortaleza que dobrara de tamanho em 10 anos e contava apenas 800 automóveis. O dinheiro usado para colocar Edson nesse seleto clube veio do aumento da sua participação na Genésio Queiros e Companhia, que subiu de 5% para 30% e dos seus próprios negócios. Ele começou a comprar mercadorias aprendidas em leilões da alfândega para revender com lucro para seus amigos e conhecidos. Acontece que além de transportá-lo por fortaleza, o Bonifácio também servia de vitrine. Edson levava as irmãs à escola para se exibir as amigas delas. Numa dessas idas conheceu Yolanda Pontes Vidal, vinda de uma tradicional família católica. Ela o notou na rua e o classificou como simpático, apesar de achar que ele era um mero taxista. E no dia seguinte marcaram de se encontrar. Edson logo esclareceu que não era chofer ou taxista, mas sim sócio da empresa do pai. o famoso rei do açúcar. A mãe de Yolanda pediu que um amigo da família investigasse o rapaz. Ao visitá-lo, Genésio foi enfático. Abre aspas. Se Edson quisesse, já podia sustentar três casas. Fecha aspas. O namoro avançou rapidamente. Noivaram após se meses e se casaram em setembro de 1945 na Igreja do Carmo. Como esperado de um orcahólic, a lua de mel durou apenas um dia. No balneário de Pirapora, interrompida pelo chamado de Genésio. Era hora de voltar ao trabalho. [Música] Edson costumava repetir um ditado nordestino que guiava sua forma usada de agir. Quem não tem coragem, o cão engole. Após a Segunda Guerra, ele aplicou essa filosofia a um novo negócio. Com a importação de automóveis controlado por cotas estaduais, ele percebeu que o Ceará recebia mais veículos do que demandava. Tendo isso em mente, Edson encomendou carros populares no Brasil para amigos que viajaram aos Estados Unidos. Ele registrava tudo no próprio nome e ao desembarcarem em Fortaleza, Edson fazia anúncios em jornais do Rio e São Paulo, onde a escassez de veículos elevava os preços. Para fechar as vendas, ele mesmo dirigia até os compradores, enfrentando mais de 3.000 km em estradas precárias. Desse jeito, Edson negociou cerca de 300 automóveis, operando de forma independente e lucrando alto com a diferença entre os mercados. Com esse dinheiro, ele tomou a decisão de entrar numa empreitada ousada. Em 1948, Edson fundou a loteria estadual do Ceará, ao lado de Jonas Carlos da Silva, seu pai Genésio e o advogado Pedro Wilson Maciel Mendes. A concessão foi possível após o presidente Eurico Gaspar Dutra fechar os cassinos e autorizar loterias estaduais sob rígidas exigências morais e financeiras. Com a concessão assinada em 22 de junho, os sócios investiram pesado, compraram globos e bolas numeradas, criaram redes de revendedores e lançaram campanhas publicitárias marcantes com jingles e carros de som. Inicialmente, o negócio foi um sucesso e um animado Edson tentou expandir seus tentáculos para Pernambuco, investindo uma boa grana em sede própria e equipamentos. No entanto, a empreitada pernambucana foi um desastre. As vendas foram baixas desde o início e o primeiro sorteio mal cobriu os prêmios e pouco depois o governo estadual interveio confiscando recursos e assumindo a operação. Edson até recuperou uma boa parte do investimento, mas saiu com prejuízo e um desgaste tremendo. Ainda assim, ele tirou uma lição da experiência. Coragem é essencial, mas saber parar na hora certa pode ser ainda mais valioso. Edson, que no futuro seria fundador de uma universidade, nunca fez faculdade. Ele até sonhou em ser engenheiro, mas o curso não existia no Ceará e estudar fora significaria abandonar os negócios. Só aos 23 anos, já casado e com dois filhos, concluiu o ensino médio com diploma técnico em contabilidade pelo colégio Padre Champaná, além de um curso por correspondência no Instituto Universal Brasileiro. Em 1949, após deixar as loterias, ele virou sócio de Éber Kindré para construir um abrigo de passageiros na Praça do Ferreira, bem no centro de Fortaleza, sob concessão da prefeitura. Ele registrou a Sociedade Imobiliária cearense para executar o projeto com seu pai, Genésio, investindo 25% do capital. Com um custo de 2 milhões de cruzeiros, o espaço poderia ser explorado comercialmente por pelo menos 13 anos. Batizado abrigo 3 de setembro, mas popularmente chamado de abrigo central, o local reunia embarque e desembarque de ônibus, cafés, bancas, lanchonetes, papelarias, lojas de disco e serviços. Edson acompanhava a obra de perto, almoçando com operários e mantendo contato direto com quem executava seus projetos. Finalmente aberto, o abrigo central virou ponto de encontro da cidade, apelidado de assembleia do povo, reunindo pessoas de todas as classes sociais e fomentando negócios. Genésio virou um frequentador assído do local. E foi ali em 1951 que Edson ouviu de Mazini, um amigo e cliente da época da venda de veículos sobre um novo negócio problemático. Do jeitinho que Edson gostava, a venda de gás de cozinha. No início de 1950, o gás de cozinha era caro, impopular e visto com desconfiança. A distribuidora Ceará Gas Butano, que era do Mazini e tinha apenas 100 clientes, estava à beira da falência. Ao saber que o amigo queria se desfazer do negócio, Edson decidiu comprá-lo. Hábito que tinha de apostar em empreendimentos falidos, acreditando que lhes faltava apenas visão. Para levantar capital, vendeu sua parte na Genésio Queirosa e Companhia ao pai, fundando em 18 de junho de 1951 a Edson Queiroz e Companhia numa pequena loja na rua Pedro Borges. Além do gás, Edson vendia fogões a prazo. Uma novidade para fortaleza ainda dominada por lenha, carvão e querose. Mas o maior obstáculo era o medo do butano associado a acidentes famosos como dirigível Hiddenberg. Edson até fazia propaganda pessoalmente, batendo de porta em porta, mas as vendas travaram. Com o nascimento do terceiro filho, a situação financeira apertou. O fornecimento de gás irregular e caro vindo dos Estados Unidos agravava o problema. Para tentar ajudar, Genésio investiu para salvar a empresa, verando sócio com 25%. A operação do negócio era manual e arriscada. Eles precisavam transferir gás de cilindros de 45 kg para botijões de 13 kg num galpão completamente improvisado. Com uma única caminhonete, o próprio Edson fazia as entregas. Quando o caminão estava indisponível, ele fazia as entregas de bicicleta, lembrando os tempos de infância. Com campanhas agressivas, oferecendo fogões para teste gratuito e o slogan chamativo, o número de clientes subiu para 289, mas o negócio continuava instável e caro. Sem reservas, Edson vendeu o carro e passou a usar a caminhonete da firma, recorrendo até a herança de Holanda para manter a empresa viva. Em janeiro de 1953, a Ceará Gas Butano estava à beira do colapso. As vendas eram fracas, o público desconfiava da nova forma de cozinhar e o capital evaporava. No entanto, tudo mudou com uma manchete. Getúlio Vargas anunciava que a refinaria de Mataripe na Bahia passaria a produzir gáslico efeito de petróleo nacional, reduzindo custos e burocracias e tornando o produto competitivo frente à lenha e ao carvão. O acesso, porém, dependia de uma concorrência pública com exigências altas. comprar no mínimo 10% da produção mensal, pagar antecipadamente e assumir prejuízo se não retirasse a cota. Sem fôo para isso sozinho, Edson buscou parceria com uma grande distribuidora. Três empresas disputavam: A Lick Gás, a Baiana Brasil Gás e a Ultra Gás. Edson se aproximou de Ernesto Eagle, fundador da Ultra Gás, e conquistou sua amizade e mentoria. Porém, em 31 de maio de 1953, o resultado foi um golpe. A LIC Gaz e Baiana venceram. Aragás foi desqualificada por uma série de exigências que feriam o edital. Sem acesso ao gás nacional, sem margem com importadores e sem capital para competir, Edson aos 28 anos viu seu negócio encurralado, mas assim como Eagle não estava pronto para recuar. Ao saber que Rafael Vismara, investidor da baiana Gás Brasil, estava no Hotel Glória, no Rio, Edson reuniu o pouco de dinheiro que tinha e embarcou sem garantia de ser recebido. Horas depois, conseguiu falar com o italiano e pediu parte da cota de gás da refinaria de Mataripe. Bismara recusou e ainda ofereceu comprar a Ceará Gás Butano, tornando Edson um mero representante da Lás. Fingindo considerar, Edson pediu que a proposta fosse escrita. Com o documento em mãos, seguiu direto para o Conselho Nacional do Petróleo e, sem agendamento invadiu a sala da diretoria. Ele fez um apelo nacionalista denunciando que empresas estrangeiras controlariam o gás brasileiro e usou a proposta do italiano Vismara como prova. O gesto funcionou. O conselho, alegando aumento da produção em Matarippe, redistribuiu as cotas. A LG GS com 5.000 kg, a Elogás com 2.000 kg e 1000 kg para outros, incluindo a Ceará Gás Butano. A outra gás também foi autorizada a comprar parte da produção extra. Com gás garantido, Edsonou 1953 seu ano zero. Comprou roupas novas e viu, enfim, sua apsta frutos. [Música] A relação com Ernesto Egel se fortaleceu e o austríaco passou a orientar Edson indicando livros e relatórios técnicos em inglês. Sem professor, Edson estudava à noite com Yolanda e um dicionário, traduzindo e discutindo cada página. Com o gás nacional mais barato, o consumo disparou. A Ceará Gás Butano cresceu e Edson criou a Edson Queiroz Navegações com cinco barcas para transporte entre Bahia e o Ceará. Ele operava como rádio amador para acompanhar as viagens, mergulhava para inspecionar pessoalmente os cascos do Mucuripe e até caçava marinheiros faltos nos bares do porto. O faturamento em alta permitiu abrir um escritório no centro de Fortaleza e ampliar viagens para o exterior. No fim do ano, comprou a Gasprano de Carlos Jereat, empresário com trajetória semelhante e respeito múo. O negócio foi fechado em uma viagem relâmpago ao Rio, marcando a fusão que consolidou o Edson como líder no mercado cearense e abriu o caminho para sua expansão nacional. No fim de 1954, 3 anos após sua fundação, a Ceará Gasbutano abastecia cerca de 8.000 lares em Fortaleza, substituindo lenha e carvão por fogões a gás. A velha caminhonete já não dava conta e Edson adquiriu dois caminões Ford igual os da Ultragás, intensificando as entregas domiciliares. Como de costume, Edson supervisionava tudo pessoalmente, chegando a dirigir os caminhões ou segui-los discretamente para verificar rotas, atendimento e manuseio de botijões. À noite passava com Yolanda no depósito do mercado dos pinhões para conferir o apurado, tomando café com os funcionários e pagando diaristas, como os que lixavam e pintavam botijões em dinheiro vivo. Nesse período, a família crescia. Em 1954, nasceu Renata, quarta filha, e Edson comprou uma casa na Barão de Iracati, na nova zona nobre de Aldeota. Em 1955, abriu a Pará Gás Butano em Belém. Em 1956 amar um gás butano em São Luís, ano em que nasceu Lenize. Expandir exigia a campanha de fortaleza, vendas a prazo, prêmios e desmestificação do gás. A Norte Gás Bano, como passou a ser chamado grupo, surfou no crescimento de 130% no consumo nacional entre 1954 e 1956, mas a produção interna acompanhou, levando o CNP a impor racionamento em outubro de 1956. O botijão subiu 75% de preço, gerando uma avalanche de críticas tanto dos governantes quanto da população. Edson assinou com a sua gás uma nota defendendo as distribuidoras, mas enfrentou embate direto com o prefeito Acríio Moreira da Rocha, que ameaçou municipalizar a Ceará Gasbutano. Edson reagiu publicamente, chegando a oferecer a compra da Serviluz, a companhia municipal de iluminação, com a promessa de reduzir tarifas e pagar multas por apagão. O racionamento foi suspenso no fim de 1958 e Edson iniciou a construção de um moderno terminal no porto de Mucuripe em Fortaleza, com o apoio do governador do estado e de Juselino Kubichque. A estrutura, com esfera de 600 toneladas e 25 cilindros de 60 toneladas, foi inaugurada em 1959 como terminal Ernesto Eagle. Em 1960, abriu um terminal em Belém e obteve autorização para Itaqui, finalmente aposentando sua frota antiga de barcos. Foi então que surgiu a oportunidade de um último uso lucrativo para as embarcações. Ao saber que quatro alvarrengas encomendadas aos Estados Unidos haviam encalhado no litoral, Edson se apresentou ao proprietário como especialista em salvamento marítimo. Era tudo mentira, é claro. Com sua equipe, recuperou três facilmente, mas a quarta estava parcialmente afundada e presa na areia. Edson improvisou, encheu grandes bolsas plásticas com gás butano, amarrando-as dentro do casco para gerar flutuação. O gás elevou a embarcação lentamente até que fosse possível rebu-la para Águas Seguras. O feito chamou atenção pela ousadia técnica e pela economia obtida ao dispensar guindastes e rebocadores pesados. O pagamento pelo salvamento rendeu alguns milhares de dólares extras. Modesto diante do faturamento da empresa, mas prova de que seu instinto para oportunidades se mantinha afiado. Em 1960, a empresa alcançou 120 milhões de cruzeiros em faturamento com 64.000 1 clientes domésticos e 1,3 milhão de entregas anuais, consolidando a liderança de Edson no setor. No balanço de 10 anos da empresa, Edson e Genésio comemoraram os resultados, mas ressaltaram que todo o lucro era reinvestido. Pouco tempo depois, Edson marcou, com ajuda de um funcionário, o terreno na Barra do Ceará para duas metalúrgicas, a esmaltec de fogões em sociedade com Francisco Semerraro e a Tech Norte de botijões com Peter e Max Mangles, controlando assim toda a cadeia do GLP. Edson estudou o setor a fundo, viajou à Alemanha e os Estados Unidos em busca de máquinas e ampliou o espaço administrativo com edifício butano, alugando salas a órgãos públicos e instalando seu gabinete no segundo andar. Paralelamente, diversificou seu negócio na comunicação. Comprou a rádio Verdes Mares, investiu em transmissores potentes e reformulou a programação para jornalismo e prestação de serviço, usando-a também para promover o gás. Em 1963, inaugurou a Tecn com capacidade para 65.000 botijões anuais e a Smaltec com 100.000 fogões por ano, incluindo o modelo popular Jangada. Apesar do sucesso, Edson mantinha hábitos simples e bom humor, mesmo diante de tragédias, como a morte do irmão Zé Queiroz, quando incentivou os pais que entraram numa profunda depressão a seguirem em frente. Aliás, seguir em frente era seu lema, como aconteceu em 1966 ao assistir a demolição do abrigo central, seu primeiro grande empreendimento. O negócio dava mais dor de cabeça do que alegria, o que fez com que Edson não se preocupasse quando tudo veio abaixo. Inclusive, foi justamente nesse período que Edson protocolou no Conselho Nacional de Telecomunicações o pedido de concessão para o futuro canal 10. Na década de 1960, Fortaleza tinha apenas a TV Ceará, canal 2. A segunda concessão dada a Moisés Pimentel no governo Jango, foi cancelada após o golpe de 1964. Pimentel, comerciante e industrial, presidiu entidades empresariais e comandou a rádio Dragão do Mar. de perfil progressista até ser preso, caçado e ter a emissora fechada. Aqui vale um parênteses. Edson comprou a fortaleza Gas Butano do próprio Pimentel, eliminando a última concorrente regional no GLP. Enquanto aguardava autorização para seu canal de TV, Edson fortaleceu o grupo, comprou as participações de Mangless na Tech Norte e de Francisco Semerraro na Smaltec, consolidando seus negócios quase que totalmente. A Technplicou a produção e passou a exportar. A Smaltec conquistou 12% do mercado nacional de fogões e diversificou para geladeiras e freezers. Como se não bastasse, Edson ampliou também na comunicação, tornando-se sócio do jornal Tribuna do Ceará e modernizando-o com a primeira rotativa offset do estado. É claro que todo esse crescimento iria lhe cobrar um preço. O ritmo intenso de negócios o levou a um infarto. O peripaque foi tratado e seu médico lhe recomendou o repouso. Um conselho que foi completamente ignorado por Edson. Logo em sequência, ele comprou os fabricantes de bicicleta Bristol e Gorique e planejava expandir a esmaltec e prospectar mercados no exterior. No entanto, no fim de 1966, um acidente automobilístico grave de Yolanda interrompeu seus planos. Após algumas complicações, ela passou por várias cirurgias nos Estados Unidos. Edson a acompanhou em seu tratamento, se afastando dos seus negócios pela primeira vez na vida. Hospedado no famoso Wardol Fastoria, ele criou uma rotina entre visitas ao hospital, caminhadas no Central parque e encontros noturnos com amigos. Durante a estadia em Nova York, Edson entrou na loja Pennsylvania Lugged para comprar uma mala extra. Ao limpá-la, foi confundido por um cliente como funcionário e fechou a venda. Em seguida, atendeu um britânico vendendo vários itens e até oferecendo um brinde. O dono Leviad, impressionado, ofereceu um emprego de meio expediente por $40 mensais. Proposta aceita mesmo Edson sendo dono de uma empresa milionária. Em três semanas, reorganizou a loja, limpou prateleiras, melhorou a iluminação, reformulou vitrines, criou promoções e combinações de produto, aumentando as vendas. Quando o engenheiro grego, que conhecia seu trabalho no Brasil, o encontrou de avental, Edson riu e disse que não suportava ficar parado. Já de volta a Cascavel, Edson conheceu Odilo Moura, um eletricista e faz tudo conhecido por resolver qualquer problema. Ao pedir que localizasse água para um poço, Odilo não só encontrou o veio, mas construiu um poço e levou amostras à fortaleza. Impressionado, Edson incorporou a turma de doidos da empresa, como fazia com talentos simples promovidos por mérito. Pouco tempo depois, caminhões começaram a entregar materiais na casa de Odilo, sem nenhuma explicação. Seguindo a intuição, ele levou tudo ao terreno do poço, até Edson revelar o plano, construir uma moderna fábrica de beneficiamento de castanha de caju para revitalizar a economia local. em sociedade com o industrial Edmundo Rodrigues dos Santos, criou a Cascaju Industrial e a Col para aproveitar os subprodutos. Odilo acompanhou toda a obra realizando múltiplas tarefas. Em 2 de novembro de 1969, dia na inauguração, foi nomeado gerente operacional. Seis meses depois, caminhões saíam para o porto de Mucuripe com a inscrição: Castanhas para Nova York, dólares para o Brasil. Após a empreitada de castanhas de Caju, mais precisamente em outubro de 1969, Edson finalmente anunciou a concessão da TV Verdes Mares, canal 10, e iniciou as transmissões experimentais no mesmo dia. Tudo corria bem, até que do nada Edson aparece no alto da torre de transmissão, escalando sozinho os 80 m, equivalentes a um pédios de 27 andares, sem cordas, capacete ou qualquer proteção, apenas de camisa e sapato social. Impaciente com atrasos e reclamações da equipe de montagem, decidiu inspecionar pessoalmente, subindo degrau a degrau pela escada metálica, sob o olhar atônito de técnicos e curiosos. No topo, Edson enfrentou o forte vento de fortaleza e encontrou parafusos frouxos, vigas tortas e fixações instáveis. Ao descer, ele demitiu toda a equipe, exigiu substituição por especialistas e avisou que, se preciso, repetiria a escalada até que o serviço ficasse impecável. Edson acompanhou de perto cada etapa da obra Canal 10, contratando emo Nisseas para treinar a equipe que ensaiou por seis meses antes da estreia. Politicamente cauteloso, ele se associou a pessoas já próximas do regime, mas também abriu espaço a jornalistas perseguidos como Nazareno Albuquerque e Edmundo Maia, formando assim uma equipe sólida. O canal estreou em janeiro de 1970 com programação local, conteúdo de várias redes, convênio com a TV Cultura e com a chegada do Sinal da Imbratel transmitiu ao vivo a Copa de 1970. Em 1972, o canal realizou as primeiras transmissões oficiais a cores no Brasil, tornando-se o primeiro do Nordeste a gerar imagens coloridas. O negócio era um sucesso. Rapidamente alcançou liderança de audiência e virou afiliada da Globo. Aos 47 anos, Edson participava ativamente da operação, promovia encontros festivos na emissora e mantinha planos ambiciosos para o futuro. [Música] Em setembro de 1971, Edson fretou um Electra da Varig para levar 80 executivos do mercado financeiro e 20 jornalistas da Fortaleza e anunciar o lançamento de 5 milhões de ações do grupo Edson Queiroz nas bolsas do Rio, Brasília e São Paulo. O evento com almoços e jantares fartos foi também palco para revelar dois projetos: fábricas de trores e de fertilizantes que nunca saíram do papel. Acontece que no mesmo dia, Edson surpreendeu a todos e apresentou seu plano mais ambicioso, a criação da Universidade de Fortaleza. Ele comprou um terreno de 500.000 m² na região do sudeste da cidade, fundou a Fundação Educacional Edson Queiroz e formalizou a universidade em 1971, com meta de oferecer ensino superior de ponta e suprir a carência de profissionais qualificados no Ceará. Apesar do apoio político e empresarial pontual, ainda faltava a autorização do MEC. Edson se instalou no canteiro de obras, supervisionando cada detalhe e garantindo recursos iniciais. 5% do lucro operacional do grupo para manutenção e outros 5% para atualização tecnológica. Em 1972, parte das instalações abrigou os jogos universitários brasileiros, mas sem a homologação, ele provocou: “Se não aprovarem, faço aqui a maior fábrica de papel higiênico da América Latina”. Com apoio político de Brasília, o presidente Mice assinou em janeiro de 1973 o decreto de autorização. Duas semanas depois, o primeiro vestibular ofereceu 1270 vagas em 17 cursos, atraindo mais de 2.000 candidatos. A aula inaugural em março teve presença de ministros, governadores e senadores. O campus, ainda afastado, começou a transformar a região e Edson dou terreno vizinho para o futuro centro de convenções. Ele amava a universidade e fazia visitas diárias ao local, cuidando dos jardins e pomares e fazendo da área uma das mais arborizadas da cidade. Paralelamente, Edson expandia os negócios, fortalecia a butana agropecuária, assumia a liderança no mercado de água mineral e ampliava a atuação do GLP, comprando a Brasil Gás em 1973 e depois a El Gás por 14,3 milhões de dólares, virando o terceiro maior distribuidor de gás do país com 2,2 milhões de clientes. Aos 50 anos, com os filhos já assumindo funções no grupo, Edson passou a dedicar mais tempo à família, viajando para destinos escolhidos por Yolanda, girando o Globo de olhos fechados. Um fato curioso é que Edson também se aventurou no cinema financiando o filme O Homem de Papel, rodado em pontos icônicos de Fortaleza, mas que fracassou retumbantemente nas bilheterias. Após atravessar uma dolorosa greve estudantil em sua universidade, Edson voltou sua atenção para o Rio de Janeiro, onde comprou imóveis e circulava entre empresários. No entanto, Fortaleza o chamava. E lá surgiu o projeto de criar um jornal moderno inspirado pelo sucesso do sistema Verdes Mares. O grande Roberto Marinho da Globo lhe deu um conselho direto. Abre aspas. Quer fazer um bom jornal? Contrate um comunista de carteirinha. Fecha aspas. Edson dobrou a aposta e trouxe dois. Milton Temer e Léo Guanabara para estruturar o futuro diário do Nordeste. O jornal estrou em dezembro de 1981 com o editorial Compromisso de Luta, defendendo o capitalismo com justiça social e prometendo agilidade, precisão e independência editorial. Rapidamente o diário ganhou notoriedade com coberturas inovadoras como o carnaval de 1982, sendo elogiado até mesmo por concorrentes diretos. Pouco tempo depois, em 8 de junho de 1982, veio a cobertura mais desafiadora do jornal recém-fundado. Um acidente aéreo envolvendo um avião da VASP, que se chocou contra a Serra de Aratanha a poucos minutos de fortaleza. Todos os 137 a bordo morreram. Entre eles estava Edson Queiroz. [Música] Após uma semana de compromissos estratégicos em Brasília e no Rio, Edson Queiroz encerrou a segunda-feira, 7 de junho de 1982, na pérgula do Copacabana Palace, no lançamento do livro Presença de Hugo Gotier, cercado de nomes da alta sociedade carioca. Fotografado sorridente ao lado dos amigos Wilson Lemos e Jerry Cozer, avisou que sairia cedo. Ele é o Recife para tratar da recente compra da rádio Tamandaré. Ao perder por minutos, o voo da Cruzeira do Sul mudou os planos ao saber de uma partida da Vaspaleza. Abre aspas. Vou tomar o café da manhã com Yolanda, depois sigo para Recife, assim faço uma surpresa para minha mulher. Fecha aspas. A meiaoite 12 de 8 de junho, embarcou no voo 168 no Boing 727 com 137 a bordo. Já próximo à fortaleza, o piloto iniciou a descida muito antes do ponto correto. Às 2:45, a aeronave colidiu com a Serra da Aratanha em Pacatuba. O relatório da aeronáutica apontou falha humana e descumprimento de procedimentos básicos. Não houve sobreviventes. A notícia chegou à família na madrugada. Yolanda, em choque, disse que sempre o veria como um superhomem capaz de mover continentes. A comoção levou milhares ao velório coletivo no Parque da Paz e a missa na Catedral de Fortaleza. Dias depois, a polícia lhe entregou a aliança e o relógio do marido, duas das poucas coisas que restaram do acidente. Viúva e Holanda assumiu a presidência do grupo Edson Queiroz. Então, o maior do Norte e Nordeste, com 24 empresas e 10.000 empregos diretos. O testamento destinou a ela 75% das ações e aos seis filhos o restante. O primogênito, Airton, se tornou chanceler vitalício da Unifor. Nos anos seguintes, o grupo se expandiu, virou a maior distribuidora de gás do Brasil em 1985 e conquistou metade do mercado nacional de água mineral com a Minalba. Yolanda permaneceu à frente do grupo e na preservação do legado do marido até falecer em 17 de junho de 2016 aos 87 anos. Em janeiro de 2021, após três gerações de gestão familiar, o grupo Edson Queiroz passou a ter pela primeira vez um CEO profissional. Com Carlos Henrique Estela Rotela, assumindo a presidência executiva. Os netos de Edson permanecem na governança, integrando comitês e o conselho de administração junto a conselheiros externos. Com cerca de 10.000 Em empregos diretos. O grupo reúne marcas líderes como a Nacional Gás, presente em 22 estados e no Distrito Federal, e é líder na distribuição domiciliar de GLP. A Minauba Brasil, que detém marcas como Indaiá, Minauba, São Lourenço, Petrópolis, Citrus, além de licenciamentos e exclusivas como o PRE e a SMALTEC, uma das maiores fabricantes de linha branca da América do Sul. O grupo também atua no agronegócio com a Esperança Agro, incorporação imobiliária com a KepAR e na comunicação com Sistemas Verdes Mares, que reúne TV Verdes Mares, TV Diário, Rádios, O Diário do Nordeste e o Portal G1 Ceará. Na educação, a Fundação Edson Queiroz mantém a Universidade de Fortaleza com mais de 40 cursos, mais de 100.000 formados e a liderança entre as universidades privadas do norte e nordeste e a escola de aplicação Yolanda Queiroz, além dos projetos culturais, acervos de arte e bibliotecas de obras raras. Desde 1971, com exceção de 2021, o grupo concede anualmente o troféu Sereia de Ouro a personalidades searenses, reafirmando o compromisso social que marcou a trajetória do seu fundador. Em 2024, o grupo Edson Queiroz atingiu R$ 12,8 bilhões deais em receita bruta, com crescimento médio de 34% ao ano, mostrando que, apesar de sua partida brusca, o legado do simples menino de cascavel, que quase virou padre, segue eternizado na história do capitalismo brasileiro. As informações, imagens, dados e relatos apresentados neste vídeo foram obtidos majoritariamente a partir do livro Edson Queiroz, uma biografia de Lira Neto, um dos principais biógrafos do Brasil, que para essa obra contou com acesso ao servo familiar e empresarial dos queirós, incluindo cartas, escritos pessoais, jornais, revistas de época, filmes, arquivos de áudio e fotografias. Curioso mercado, conteúdo para quem tem conteúdo. Fala galera, aqui é André Pontim, o editor e a voz aqui no YouTube. Nós do Curioso Mercado passamos anos estudando as maiores empresas do Brasil e do mundo. Analisamos de perto o raciocínio dos fundadores, CEOs e grandes investidores e chegamos a uma conclusão incômoda. Se frases prontas realmente ensinassem sobre negócios, todo mundo já seria bilionário. Mas a realidade é simples e muitas vezes ignorada. Não existem fórmulas mágicas, nem verdades absolutas. O que ensina de verdade é contexto, análise, método e entrega. É isso que separa quem só repete frases de quem realmente constrói. Foi com essa premissa que criamos o CM Club, o ponto de encontro de quem pensa, fala e vive negócios. Não, não é mais uma comunidade. O Sem Club é um espaço feito por gente inquieta, para gente inquieta, que não se contenta com um óbvio, que quer ir muito além do superficial. Aqui você encontra aprendizados práticos, profundos e aplicáveis aos seus negócios. No sem club você vai ter masterclasses de análises estratégicas, onde vamos decifrar como os gigantes fizeram e como você pode fazer também. Também teremos lives com grandes nomes do mercado, trocas de experiências reais e networking e outros grandes benefícios. O CM Club é uma comunidade com critérios e talvez faça sentido para você. O link para preencher sua análise de perfil tá na descrição. A gente se vê lá dentro.









