Esse vídeo levou 8 ANOS pra ser feito! | Minuto da Terra
08 anos atrás, eu tive uma ideia genial para um vídeo. Eu era novato da equipe e cheio de energia e sugeri que a gente fizesse um vídeo explicando o que é uma espécie. Mas aí todo mundo começou a rir da minha cara. Oi, eu sou o Léo e esse é o Minuto da Terra. Deixa eu explicar. O pessoal não estava zombando de mim. Eles estavam rindo porque eu tinha acabado de sugerir exatamente o mesmo vídeo que eles estavam tentando fazer há anos. Um vídeo explicando o que é uma espécie. Era o Mob Dick do canal muito antes de eu chegar por aqui. Basicamente, a minha ideia pro vídeo era explicar como e por classificar a vida em grupos separados e bem definidos é uma baita complicação. E isso é exatamente o tipo de coisa que a gente adora aqui no Menuto da Terra. A gente já fez vários vídeos mostrando como é difícil definir certas categorias, tipo o que é uma árvore, um inseto e até uma lua. Mas nesses casos a definição inicial parece fazer sentido. Então dá para começar de um jeito que todo mundo entende e só depois mostrar que as coisas são bem mais complicadas do que parecem. Só que com o conceito de espécie é diferente. A gente nem tem esse ponto de partida em comum. A definição mais famosa de espécie foi proposta por um biólogo lá pela metade do século passado. Espécies são grupos de populações naturais que se cruzam e que, por uma razão ou outra, não tem filhos entre si. Só que descobrir se dois grupos são mesmo isolados reprodutivamente é super difícil. Aí outras pessoas tentarão definir o que é uma espécie com base na aparência, na semelhança genética, na história evolutiva ou, enfim, a lista vai longe. Hoje em dia, cientistas de diferentes áreas usam mais de uma dúzia dos chamados conceitos de espécie. E isso sem falar no mundo estranho das plantas. Por exemplo, tem planta que consegue dobrar o próprio genoma quando se reproduz, criando uma espécie totalmente nova em uma única geração. Imagina a bagunça que isso faz em qualquer tentativa de definir direitinho o que é uma espécie. Então, dá para perceber como seria complicado resumir o que é uma espécie em alguns minutos de vídeo. Nem preciso dizer que aquela ideia lá atrás não foi pra frente, mas eu sou temoso e queria achar uma saída e finalmente me ocorreu. E se a gente fizesse um vídeo sobre um caso que desafia a definição de espécie, como o lobo vermelho, primeiro, não é uma planta. E segundo, é praticamente o garoto propaganda da questão da especiação. Existe um enorme debate científico sobre se o lobo vermelho é apenas um híbrido entre um coiote e um lobo cinzento ou se é uma espécie própria que evoluiu separadamente, ou ainda se talvez tenha sido uma espécie própria que foi extinta e atual é na verdade um novo híbrido. Só que essa história que parece insignificante escala bem rápido. Tipo assim, se coyiotes e lobos cinzentos conseguem cruzar, será que eles são mesmo espécies diferentes? E para dificultar as coisas, existem vários novos artigos acadêmicos defendendo todas essas opiniões diferentes sobre o lobo vermelho. Então, é quase impossível contar essa história sem ela já estar imediatamente desatualizada. É que bagunça. Mas eu ainda não ia me dar por vencido. E se a gente fizesse um vídeo sobre subespécies como tigres de bengala e tigres siberianos que conseguem ter filhos fértes, portanto eles não são espécies diferentes. Aí o foco seria menos em como a gente divide os seres vivos e mais em como agrupamos eles. Beleza? Parece uma boa ideia, mas aparentemente nos últimos anos o número de subespécies de tigre ficou indo de dois para nove e de volta, porque os cientistas simplesmente não conseguem entrar num acordo sobre como classificar subespécies. É pela localização geográfica, diferencia genética, alguma outra coisa. No fim das contas, tem ainda menos consenso científico sobre o que define uma subespécie do que uma espécie. E na botânica, sim, de novo, as plantas, além de subespécies, ainda tem variedades, subvariedades, formas e subformas. Enfim, o meu vídeo sobre subespécies acabou virando uma história que envolvia uma ilha cheia de gremlins, um terremoto, que ainda tinha um suerredo esquisito sobre possíveis componentes genéticos da raça humana. No fim das contas, a equipe e com toda a razão me fez desistir dessa ideia. Talvez algum dia a gente acabe esbarrando num conceito inovador que permita contar direito essa história sobre espécies. Vai saber, quem sabe esse vídeo já seja um avanço. Ah, e um último detalhe, uns anos atrás, o Cameron entrou na equipe e aí, durante o processo seletivo, a gente pediu para ele sugerir uma ideia de vídeo que ele achasse a nossa cara. Adivinha que espécie de vídeo ele sugeriu? Esse foi o Minuto da Terra. Se você gosta dos nossos esforços para te contar grandes histórias da Terra em poucos minutos, comente, deixe um joinha e compartilhe. Toda ajuda é bem-vinda pra gente chegar mais longe em menos tempo. Um abraço e até semana que vem. M.