Estamos ATRASANDO a próxima ERA GLACIAL, e isso é PÉSSIMO!
0De tempos em tempos, a Terra muda completamente de rosto. Oceanos encolhem, continentes se alongam e paredes de gelo se erguem como fortalezas que engolem tudo ao seu redor. Mas como isso acontece? Quais são os mecanismos que originam as áreas glaciais? Onde nós estamos hoje em relação a uma próxima área do gelo? Como elas afetaram a história da humanidade? E o que explica o atual aquecimento acelerado do planeta? Vem comigo entender tudo isso. Quando falamos em era do gelo, talvez você imagine um planeta completamente congelado com mamutes andando sobre a neve, mas a realidade é um pouco mais complexa. Tecnicamente, uma era glacial é um longo período da história da Terra em que grandes calotas de gelo ocupam os polos. Ué, mas hoje existem calotas de gelo nos polos. Pois é, nós ainda estamos vivendo em uma dessas eras. Os momentos mais frios, quando o gelo avança e cobre grandes áreas dos continentes, são chamados de períodos glaciais. Já os momentos mais quentes, como o que vivemos agora, são chamados de períodos interglaciais. As glaciações são tão importantes que modificam a geografia do planeta e até fazem parte da nossa história. Durante o auge da última glaciação, há cerca de 20.000 1 anos, o nível do mar estava aproximadamente 120 m mais baixo que o atual, deixando amostra terras que hoje estão submersas, como o estreito de Bering, por onde nossos ancestrais passaram saindo da Ásia para pisar pela primeira vez na América do Norte, posteriormente dando origem aos povos ameríndios. Mas o que faz o planeta entrar nesses ciclos de gelo? Bom, não sou só eu e você que queremos saber disso, mas Milutin Milankov nos anos de 1920. Para ele, variações periódicas na órbita e na inclinação da Terra afetam a quantidade de energia solar recebida pelo planeta e isso tem um papel crucial no desenvolvimento das eras glaciais. Mas para entender melhor isso, precisamos reduzir o foco. Atualmente vivemos no período quaternário, que se divide em pleistoceno e holoceno, que é o que vivemos hoje. O pleistoceno teve início há 2,58 milhões de anos e terminou há 11.700 17 anos e foi marcado por uma série de glaciações. De lá para cá, a configuração dos continentes não mudou significativamente. Nós temos mais terra no hemisfério norte do que no hemisfério sul. E o que que isso tem de importante? Primeiro porque no norte há mais terra onde a neve pode se acumular e é mais fácil haver acúmulo de gelo sobre a terra do que sobre o mar. Isso porque a capacidade térmica da água é maior que a da Terra. O que significa que os oceanos conseguem armazenar e liberar calor de forma mais lenta e estável, enquanto os continentes esquentam e esfriam mais rapidamente. É por isso que aqui no hemisfério sul os verões tendem a ser um pouco mais moderados, porque a água absorve o calor e o distribui lentamente, evitando grandes extremos de temperatura, enquanto no hemisfério norte nós vemos nos noticiários aqueles terríveis picos de temperatura. Desse modo, se temos verões mais frios causados por uma diminuição na quantidade de energia solar que chega na Terra, a neve que se acumulou no inverno não derrete completamente no verão, vem o próximo inverno e mais neve se acumula. O gelo é branco e reflete 90% da luz solar, logo menos calor é absorvido pela superfície. Isso cria um feedback positivo. Temperaturas mais baixas favorecem a cobertura de gelo. Quanto maior a cobertura de gelo, maior a reflexão da radiação solar, ou seja, menos calor é absorvido, favorecendo a formação de gelo e por aí vai. Se esse feedback perdura, a neve vai se empilhando e compactando até formar geleiras, dando início a uma glaciação. Ou seja, está tão frio que a água que evaporou dos oceanos e avançou sobre os continentes não chove. Neva. Essa neve não derrete e se acumula sobre a terra, logo ela não volta pros oceanos. Esse processo se retroalimenta até formar as calotas polares. Mas por que ficou mais frio? ou porque chegou menos energia solar na Terra. Existem três parâmetros que governam a quantidade de radiação solar que atinge a Terra: a obliquidade, a prececidade. Esses parâmetros variam regularmente e Milankov aplicou eles para entender as mudanças climáticas que ocorreram no passado. Vamos entender o que cada um significa. Excentricidade. A forma da órbita da Terra é quase circular, mas com o tempo a atração gravitacional de Júpiter e Saturno faz com que essa forma varie de quase circular para mais elíptica em ciclos de 100.000 anos. A excentricidade mede o quanto a órbita da Terra se afasta de ser um círculo perfeito e essas variações interferem na distância entre a Terra e o Sol. Além disso, a excentricidade explica porque as estações têm durações diferentes, com uma estação durando alguns dias a mais que outra. Quando a excentricidade diminui, ou seja, quando a órbita da Terra é mais circular, a duração das estações se equilibra. Atualmente, a diferença de distância entre o nosso periélio, que ocorre em 3 de janeiro, e o Afélio, que ocorre em 4 de julho, é de 5 milhões de quilômetros. O que significa que janeiro recebe 6,8% mais radiação do que julho. Atualmente, essa diferença não exerce influência no clima anual da Terra, mas quando a órbita da Terra está em sua forma mais elíptica, a incidência de radiação solar na superfície é de cerca de 23% a mais no periélio do que no afélio. Obliquidade. O ângulo de inclinação do eixo da Terra em relação ao plano de sua órbita é chamado de obliquidade. Essa inclinação varia de 22,1 a 24,5º a cada 41.000 anos. É por causa dessa obliquidade que a Terra possui estações e é por conta dessa variação ser tão pequena que o nosso clima é estável. E quem mantém esse eixo estável é a Lua. Quanto maior o ângulo de inclinação da Terra, mais extremas são as estações, porque cada hemisfério recebe mais radiação solar no verão e menos no inverno porque tá inclinado para mais longe. Isso favorece períodos de deglaciação, porque os verões intensos promovem maior derretimento das geleiras. Agora, quando o ângulo diminui, temos estações mais amenas, ou seja, invernos um pouco mais quentes e verões um pouco mais frios, que não conseguem derreter todo o gelo recém formado e permite que ele se acumule com o tempo, estando associado ao início de eras glaciais. Preceão. Sabe quando você gira um peão e ele começa a cambalar antes de cair? É isso que acontece com o eixo da Terra ao longo de cerca de 26.000 anos. A Terra oscila em seu eixo como se estivesse desenhando um círculo e isso acontece por conta das forças de maré causadas pela influência gravitacional do Sol e da Lua. E qual o resultado da preceção? Ele altera em qual hemisfério as estações serão mais intensas. Por exemplo, hoje o nosso verão aqui no hemisfério sul ocorre no Perihélio, que é o ponto em que a Terra está mais próxima do Sol. Isso faz o nosso verão ser um pouco mais quente, enquanto que no hemisfério norte temos um inverno mais moderado. A cada 26.000 anos, isso se inverte e aí o verão no hemisfério norte ocorrerá no periélio com temperaturas mais extremas. E se até aqui você já aprendeu algo novo, eu peço que você me ajude a fazer este vídeo chegar em mais pessoas com a sua curtida e o seu hype. Assim, o YouTube entende que este é um conteúdo de qualidade e você ajuda a ciência a se espalhar. Agora continua comigo porque tem muito mais coisa para vermos. Assim, essas três variáveis se combinam como um sistema de engrenagens, modulando a intensidade dos verões. E é aí que está o segredo das eras glaciais. Para que o gelo se acumule, não basta que os invernos sejam rigorosos. O fator decisivo são verões frios no hemisfério norte. É durante o verão que o gelo acumulado no inverno vai derreter. E se o verão não é suficientemente quente, parte desse gelo permanece ano após ano até formar enormes calotas glaciais. E foi justamente uma configuração específica desses ciclos que levou a último máximo glacial a cerca de 20.000 anos, quando gigantescas camadas de gelo cobriam partes da América do Norte, da Europa e da Ásia. e o nível do mar estava cerca de 120 m mais baixo do que hoje. Além dos ciclos orbitais, existem também outros fatores fundamentais para entender porque o planeta entra ou sai de uma glacial. Alguns gases que compõem a atmosfera funcionam como uma espécie de cobertor térmico do planeta. Deles, o dióxido de carbono é especialmente importante. Em concentrações mais altas, ele retém mais calor próximo à superfície. Durante períodos glaciais, as concentrações de CO2 são bem baixas e esse resfriamento ajudou a manter as calotas de gelo estáveis e até a expandi-las. Por outro lado, em períodos interglaciais, quando o CO2 é mais alto, o clima ficou mais quente e o gelo recuou. Já os vulcões têm um papel duplo. Erupções gigantes podem lançar enormes quantidades de partículas chamadas aerossóis na alta atmosfera. Esses aerossóis refletem parte da radiação solar, provocando um resfriamento temporário, criando uma espécie de sombra sobre o planeta. Já quando as emissões de CO2 pelos vulcões ocorrem em escalas de tempo geológicas, como milhares de anos, elas podem aquecer o clima. Assim, o impacto dos vulcões depende da intensidade e da frequência das erupções, bem como do tipo de material lançado. Por exemplo, a erupção do Monte Pinatubo nas Filipinas em 91 lançou milhões de toneladas de enxofre na atmosfera, criando uma camada de partículas que refletiu a luz solar. O planeta, na época esfriou cerca de meio grau por quase 2 anos. Já as erupções massivas das traps siberianas, cerca de 252 milhões de anos atrás, liberaram enormes quantidades de CO2 por centenas de milhares de anos, contribuindo para um aquecimento global extremo associado à maior extinção em massa da Terra. Além dos vulcões, o intemperismo químico de rochas pode sequestrar CO2 a longo prazo. Já o sequestro de matéria orgânica pelos oceanos ajuda a reduzir o CO2 atmosférico e as correntes oceânicas que redistribuem calor pelo planeta podem influenciar o início ou o fim das glaciações. Um ótimo exemplo disso é a história de como surgiu o gelo do Ártico. Algo que intrigava os cientistas, porque enquanto o gelo na Antártica já existe há 34 milhões de anos, o duártico surgiu recentemente, h cerca de 3 milhões de anos. O que aconteceu foi que com o fechamento do estreito do Panamá, há 3 milhões de anos, a corrente do Golfo foi fortalecida e isso foi essencial para que houvesse acumulação de gelo no hemisfério norte, ajudando a disparar a atual era glacial. A movimentação dos continentes também afeta o clima. A deriva continental levou a Antártica pro Polo Sul a 34 milhões de anos. O isolamento do continente, combinado com a abertura da passagem de Drake permitiu a formação da corrente circunpolar antártica e o início do congelamento permanente do continente. Você consegue perceber como a história da Terra é incrível? Eu fico até emocionada de passar isso para vocês. E vale lembrar que esses fatores eles não atuam de forma isolada. Eles interagem entre si, amplificando ou reduzindo o efeito um do outro. O clima da Terra é um quebra-cabeça com muitas peças e para nós é muitas vezes difícil enxergar com clareza como elas se encaixam. E onde nós nos encontramos hoje? Analisando os ciclos de melancovite em termos de excentricidade da nossa órbita, ela tá diminuindo e se tornando mais circular. O ângulo de inclinação da Terra hoje é de 23,4º e a tendência é que ele continue diminuindo, nos levando a estações mais amenas. E em 13.000 anos, o verão no hemisfério norte ocorrerá no Perihélio, com temperaturas mais extremas. De acordo com os ciclos de melancovite, estamos em um período interglacial. indo em direção a uma tendência de resfriamento que teve início 6000 anos atrás. Entretanto, os ciclos de Milancovit não explicam todas as mudanças climáticas que houve no pleoceno, ou seja, nos últimos 2,5 milhões de anos, porque outros fatores também estavam envolvidos, como já discutimos. Dito tudo isso, eles também não podem explicar o aquecimento global atual, porque esses ciclos atuam em escalas de tempo muito longas. de dezenas a centenas de milhares de anos. O atual aquecimento do planeta está acontecendo em uma escala de dezenas a centenas de anos. Então, nos últimos 150 anos, os ciclos de Milanovit não alteraram significativamente a quantidade de energia solar absorvida pela Terra. Inclusive, segundo observações da NASA, a radiação solar tem diminuído nos últimos 40 anos. Atualmente, o que estamos observando é um rápido aumento das temperaturas globais desde a Revolução Industrial, quebrando o padrão natural dos últimos milhares de anos. E se os ciclos de Milan Covit não conseguem explicar este aumento, os outros fatores naturais também não. A atividade solar não explica, o vulcanismo recente não explica, o tectonismo também não explica. Então que evento que teve início lá por volta de 1750, que atua até hoje e que fez com que os níveis de dióxido de carbono saíssem de 280 para 421 ppm, causando um aquecimento de 1º na temperatura média da Terra. Bom, acho que é melhor olharmos no espelho, mas quem iria adivinhar naquela época que retirar o carbono estocado embaixo da terra e nas árvores e jogar ele pra atmosfera iria causar um desastre desses? Parecia tão inofensivo. Realmente, naquela época ainda não existiam estudos sobre o clima, como temos hoje. Mal haviam descoberto o efeito estufa. Porém, hoje nós sabemos. A grande questão é que a nossa sociedade moderna foi construída em cima do uso extensivo dos recursos do planeta, sem pensar nas consequências que isso traria no futuro. E isso também é reflexo de como a mente humana funciona. É difícil para nós refletirmos sobre as nossas ações pensando em como isso vai afetar as duas ou três gerações que virão depois de nós. Normalmente estamos mais preocupados com os nossos problemas de agora. E isso é só uma das explicações do por é tão difícil fazer as pessoas se importarem ou até mesmo discutirem sobre as mudanças climáticas. Na maioria das vezes, não é que elas sejam ruins e queiram destruir o planeta conscientemente, é que é a forma como a nossa mente funciona e disso não dá para escapar. Dito tudo isso, entender as eras glaciais nos mostra que o clima da Terra sempre mudou e que o funcionamento do nosso planeta é muito mais complexo do que podemos imaginar. Mas também mostra que pela primeira vez a Terra ganhou mais um fator atuante no clima, nós. E estudando o passado, aprendemos que mudanças climáticas profundas remodelaram oceanos, continentes e as formas de vida. Agora cabe a nós decidirmos que tipo de futuro queremos criar, já que também viramos uma engrenagem do sistema. E você, o que que me diz? Será que vamos conseguir controlar o clima ou seremos controlados por ele? Me conta aqui nos comentários. E como é que nós sabemos que estamos realmente alterando o clima do planeta? Eu respondi essa pergunta num vídeo só sobre mudanças climáticas. Se você quer saber mais, é só clicar aqui. Para mais ciência com doses de reflexão, você precisa se inscrever no canal e ativar também as notificações. Muito obrigada por ter me acompanhado até aqui. Eu te vejo no meu próximo vídeo e até mais.