FERBASA: A Guerra pelo Império de José de Carvalho
0Imagine uma empresa que testemunhou suas ações disparar em mais de 17.000% em apenas um ano, tornando-se um caso de sucesso estrondoso no mercado brasileiro. Essa é a Ferbaza, um gigante da indústria de ferroligas, nascida da visão e do ímpeto empreendedor de José Corgozinho de Carvalho Filho. Nascido em Minas Gerais com uma trajetória que desafiava o convencional, José construiu um império do zero na Bahia. Ele transformou minas rudimentares em verdadeiras joias tecnológicas. Como impressionante mina de poeira, hoje uma referência global em mineração subterrânea. A história da Ferbasa não é apenas sobre números grandiosos e inovação, mas também sobre um legado de altruísmo que hoje enfrenta uma turbulenta batalha judicial. Em 1975, em um ato notável de desprendimento, José de Carvalho dou 94% de suas ações a Fundação com seu nome, AFJC, com a nobre intenção de perpetuar projetos educacionais e sociais. No entanto, essa doação está sendo questionada por possíveis irregularidades na transferência das ações e pela resistência da fundação e da Ferbasa em entregar os documentos exigidos pela justiça. Essa entrecada teia de eventos transformou uma saga empresarial em um drama humano e jurídico. O que aconteceu com o vasto patrimônio que José de Carvalho construiu com tanto esforço e visão? E qual será o desfeito dessa disputa milionária que a ameaça redefiniu o controle de um dos mais importantes complexos industriais do Brasil? Prepare-se para mergulhar nos detalhes de uma história onde poder, bilhões e o futuro de um legado estão em jogo. Mas antes, por favor, não se esqueça, já deixa teu like, se inscreve no canal e ativa as notificações. Toda semana as curiosidades mais interessantes do mundo dos negócios você encontra aqui no Curioso Mercado. [Música] José Corgozinho de Carvalho Filho nasceu em Abadia, que hoje é conhecida como Martinho Campos em Minas Gerais no dia 11 de janeiro de 1931. Sua infância foi simples, passando por muitas dificuldades, mas ele teve uma oportunidade que mudou sua vida. A Secretaria de Educação de Minas Gerais selecionou os melhores estudantes da rede pública para o Colégio Jesuíta Santo Inácio. Os jesuítas ofereciam bolsas de estudo para trair jovens talentosos pra carreira sacerdotal. E José podia educar-se com ensino de excelente qualidade por 4 anos até os 14 anos. A disciplina e a preparação para dialogar com pessoas de grande conhecimento e inteligência foram fundamentais em sua vida. De volta a Belo Horizonte, concluiu o ensino fundamental e mais tarde na faculdade de Ouro Preto, uma das melhores do país na época, concluiu em 6 anos os cursos de engenharia civil, metalurgia e minas devido à sobreposição de matérias. Já formado, seu primeiro emprego foi na companhia carbonífera Cambuí, no Paraná, mas em 1956 ele foi atraído ao Planalto Central pela grande epopeia da construção da nova capital, Brasília, onde atuou como engenheiro fiscal de obras pela empresa Nova CAP. Aos 26 anos, seu espírito empreendedor nasceu e ele criou a construtora J. Carvalho Filho, participando efetivamente da construção de Brasília. Aos 29 anos, percebendo que as obras terminavam em breve e com seu conhecimento em metalurgia, engenharia de Minas, decidiu mudar de rumo. Começou a pesquisar várias oportunidades, incluindo o gastisto que florava nas areias do rio Tietê, em São Paulo. Em 12 de outubro de 1960, dia da padroeira do Brasil, em uma festividade em Ouro Preto, ele encontrou um ex-colega de faculdade, Fausto Soares de Andrade, envolvido na criação da USI Minas. Andrade lhe disse que a Uzi Minas precisava de ferro manganês, uma liga que não existia no país para alimentar seus fornos. Ciente da oportunidade, o Dr. Carvalho, como passou a ser conhecido, criou a Ferro Ligas de Minas Gerais, a Fell Minas, que seria abastecida com manganês pela US Steel e energia elétrica da SEMIG. Após visitar os Estados Unidos para contratar a empresa que produziria os fornos, soube que a US Minas desistiria de usar o ferro manganês como insumo. José ficou frustrado até que um colega de Ouro Preto o alertou sobre o fato de que o ferro cromo também poderia ser usado na ciderúrgica no Brasil. O antenado Dr. Carvalho foi atrás, descobriu uma mina de cromo na Bahia e que duas empresas já produziam juntas 2200 toneladas ao ano de ferrocromo nas proximidades da mina no município de Campo Formoso. Com grande visão de futuro, ainda em 1960, vislumbrou a instalação de uma planta de aço inoxidável no Brasil. A mina funcionava de forma rudimentar, usando jumentos para o transporte e tendo uma discrepância considerável sobre os dados de potencial de reservas de cromita em Campo Formoso. Mas um negócio até que funcionava, conseguindo clientes como a Gigante Bayer, que consumia parte daquele minério para sua atividade química. Confiante na ideia, o jovem engenheiro conseguiu uma audiência com o então governador da Bahia, Juraci Magalhães, e expôs seu projeto de construir uma mineração de cromo no estado. Nasceu ali o arcabolso da Ferbasa. O governador simpatizou e se dispôsse a investir recursos no estado, 5% do capital por intermédio da empresa cromita do Brasil. Carvalho e seu amigo Fausto investigaram em loco as condições da mina e procuraram o local ideal para instalar a metalurgia de produção das ligas de cromo. O local escolhido foi Pojuca, a cerca de 70 km de Salvador, devido à disponibilidade de uma ferrovia, a proximidade do porto de Aratu, energia elétrica disponível e mão de obra vasta. A Ferbasa foi constituída em 23 de fevereiro de 1961, já como sociedade anônima de capital aberto no apartamento 404 do Hotel Bahia, com o Dr. Carvalho, então com 30 anos, detendo 35% do capital de 88 milhões de cruzeiros. No ano de nascimento da empresa, ele já atuava na mineração de cromo por meio do arrendamento de pequenas minas e exportava o minério para o Japão. Contudo, Carvalho percebeu que agregar valor ao minério seria mais rentável e decidiu investir na metalurgia. A Suíça Bramboveri seria encarregada de produzir um forno com potência de 3.000 kV ao custo de 16 milhões de cruzeiros, pouco menos que 20% do capital da empresa. Mas o projeto atrasou e a fornecedora alterou o preço para 90 milhões. Esse balde de água fria pareceu animá-lo ainda mais. característica dos grandes empreendedores. Novamente, Dr. Carvalho procurou o governador Juraci, relatou o fato e no dia seguinte ambos foram a Recife para um encontro com o superintendente da Sudene, o economista Celso Furtado. Furtado, um dos mais destacados intelectuais brasileiros do século XX, defendia vigorosamente o papel do Estado na economia e foi o criador da superintendência do desenvolvimento do Nordeste, autarquia que ele mesmo geria. O projeto que Carvalho apresentou a Sudene preenchiu os quesitos de desenvolvimento regional e meses depois foi aprovado o financiamento necessário pelo Banco do Nordeste. No entanto, o projeto ganhou músculos, não seriam mais 3.000 KVA e sim o dobro com tecnologia da empresa Electromelt. Dessa forma foi construído o forno um com potência de 6.000 KVA e que está em funcionamento até hoje. E A viabilidade da Ferbasa como metalúrgica e seu desenvolvimento foram impulsionados pelo apoio de Celso Furtado e pela colaboração de colegas da Confraria de Ouro Preto, como o brilhante professor de engenharia elétrica Walter Krueger, mentor de carvalho. Em 1965, após não conseguir adquirir a mina de coitezeiro, que foi para Bayer, a Ferbasa comprou a mina de pedrinhas, garantindo seu suprimento de cromita. A empresa expandiu em mineração, metalurgia, reflorestamento e carvoejamento, buscando verticalizar suas operações e parcerias internacionais. Um marco fundamental ocorreu em 1975, quando José doou 94% de suas ações à Fundação José de Carvalho, que se tornou a controladora da empresa. Esse ato de desprendimento visava garantir o financiamento de projetos educacionais e sociais em caráter perene. Vale citar que a Ferbasa também se destacou pela inovação tecnológica. Nos anos 70, investiu na produção de eucalipto para biorredutor, um insumo verde na produção de ferro ligas, muito antes do surgimento das práticas ESG. Já em 1979, contratou a finlandesa Otocumpo para a consultoria na exploração da mina de poeira, que se tornou totalmente mecanizada com tecnologia de ponta e mineração subterrânea. Atualmente, essa mina é uma referência global em mineração subterrânea, atingindo 600 m de profundidade e sendo considerada a joia da coroa da empresa. A década de 1980 trouxe grandes desafios devido à recessão econômica no Brasil. A Ferbasa enfrentou uma crise com fornos paralisados e redução de pessoal. Contudo, uma revura volta ocorreu em 1983, quando sanções comerciais dos Estados Unidos contra África do Sul e Rodésia, atual Zimbabwe, por conta do apartide, causaram um aumento global nos preços da crometa. As ações da Ferbasa dispararam 17.386% naquele ano, uma das maiores valorizações da bolsa. Todo esse sucesso fez a Ferbaza ser eleita em 1984 com a melhor empresa de siderúrgica do Brasil pela revista Exame. Em 1986, a Ferbaz inaugurou a produção de ferro silício de 75%, com quatro fornos de tecnologia japonesa diversificando sua produção. Na década de 1990, a empresa ampliou a capacidade de ferro silício 75% com a construção de mais dois fornos, chegando a 14 no total, oito dedicados a ligas de cromo e seis as de silício. Já em 1994 foram feitas parcerias com as empresas japonesas Marubeni e JMC para produzir 15.000 toneladas anuais de ferro silício 75% de alta pureza. O material é empregado na produção de aços siliciosos ou elétricos utilizados em motores elétricos, núcleos de transformadores, geradores e motores de veículos híbridos, como os prios da Toyota. Ao completar 50 anos em 2011, a Ferbasa figurou entre as 500 maiores empresas do Brasil, com uma receita líquida de 385 milhões de dólares, e migrou para nível um de governança corporativa da Bovespa, um selo de maior transparência e proteção aos acionistas. Em 2018, a Ferbaza deu um salto significativo ao adquirir o complexo eólico BW Guirapá do grupo Santander por R$ 812 milhões deais. Essa aquisição visava assegurar uma fonte de energia elétrica crucial para a produção de ferroligas. Hoje a Ferbase é a única produtora integrada de ferro cromo do continente americano. Reduziu em 20% o curso unitário dos minérios com tecnologias proprietárias e ainda é a única empresa do mundo com 100% de sua energia elétrica consumida sem impactos ambientais relevantes, tornando-a uma empresa verde e um verdadeiro orgulho nacional. Em 2015, José Corgozinho de Carvalho Filho, faleceu aos 84 anos. de causa natural. Sua vida foi dedicada a Ferbasa e por meio dela ao seu grande legado, a Fundação José de Carvalho. Ele não deixou bens materiais vivendo humildemente até o fim. Não é, não representa simplesmente uma companhia, é uma história de vida que vai se acumulando de responsabilidades e compromissos inclusive individuais com a gente mesmo. [Música] A Fundação José de Carvalho é controladora da Ferbasa e representa a missão assumida por seu fundador, José Corgozinho de Carvalho Filho. A existência e o cumprimento fiel de seus desejos estão ligados ao sucesso empresarial da Ferbasa e a sua capacidade de distribuir regularmente dividendos aos acionistas, sendo esta a mais importante preocupação dos conselheiros. A FJC segue o pensamento humanista de seu fundador ao oferecer oportunidade de desenvolvimento a crianças desfavorecidas, valorizando o indivíduo e promovendo sua integração à sociedade. O Dr. Carvalho teve parte de sua educação em escola jesuíta, cuja pedagogia forma pessoas críticas, criativas e dispostas a modificar a realidade e a servir à sociedade e ao meio ambiente. A FJC mantém seis escolas na Bahia, atendendo a quase 4.000 alunos anualmente. Entre elas, destaca-se o colégio técnico fundado em 1978 em Pojuca, que oferece cursos de computação e tradução e interpretação para 465 alunos. A escola Maria Carvalho, criada em 1987 em Pojuca, em homenagem à mãe de José Carvalho, que atende 850 alunos, e a escola rural Tina Carvalho, também de 1987 em Entre Rios, que ministra atividades agrícolas e florestais para cerca de 600 alunos em 13 municípios. Completam o conjunto a escola Márcio Seno, fundada em 1987 em Andorinha, com 334 alunos. A escola Denise Carvalho de 1989 em Catu, que atende 860 alunos e é referência em qualidade e a escola rural Hoff Weg, estabelecida em 1990 em São João da Mata, que atende 561 alunos. A FJC controlada por um conselho curador tem a neta de José Carvalho, Bárbara Clé de Araújo Carvalho como presidente e Marta Teixeira Barroso Fernandes como chanceler. Ambas tm acento no conselho de administração da Ferbasa. O Conselho de Administração da Ferbasa é composto por oito membros eleitos anualmente, sendo sete indicados pela FJC. A atuação da Fundação José Carvalho demonstra o impacto social positivo que a visão e o desprendimento de um empreendedor podem gerar, garantindo que o sucesso da empresa se traduz em oportunidades e desenvolvimento para a comunidade. No entanto, essa mesma fundação se tornou o epicentro da maior crise da história da Ferbasa. [Música] Em 1975, como falamos anteriormente, José Carvalho transferiu suas ações da Ferbasa para a fundação. No entanto, um detalhe que vale citar é que essa transferência aconteceu logo após sua separação matrimonial. O objetivo declarado era proteger seu patrimônio, embora essa decisão tenha gerado posteriormente as atuais disputas legais. José Carvalho presidiu a Fundação e a Ferbasa até meados dos anos 2000. Em 2007, após ser diagnosticado com Alzheimer, ele foi interditado judicialmente. Com seu afastamento, a gestão da fundação passou para pessoas que haviam iniciado suas carreiras na instituição. Segundo relatos, uma das primeiras ações da nova gestão foi a alteração do estatuto da fundação, permitindo a criação de cargos remunerados e limitando a participação da família de José de Carvalho no conselho. Medidas que divergiam das intenções originais do fundador. José Eduardo, filho primogênito de José Carvalho, integrou o conselho da fundação após a interdição de seu pai. No entanto, ele se sentia marginalizado e sem influência nas decisões. Após 3 anos nessa situação, José Eduardo optou por se afastar em 2012. Atualmente, a presença de Bárbara Carvalho, filha de José Eduardo, no conselho da Ferbaza, é interpretada por seu pai como uma tentativa da fundação de simular representatividade familiar. Em 2012, após seu afastamento, José Eduardo iniciou ações legais para obter acesso a documentos da fundação relacionados a sua contabilidade, doações e administração patrimonial. Em 2015, após a morte de seu pai, José Eduardo, na condição de inventariante, acessou documentos fiscais que, segundo ele, indicavam que o patrimônio pessoal de seu pai não condizia com a dimensão dos negócios. Em 2016, José Eduardo entrou com pedido para anular a transferência das ações de seu pai para a fundação, argumentando que a doação teria cedido o limite de 50% do patrimônio permitido por lei, o que prejudicaria sua herança legítima. Ele também alegou a existência de indícios de fraude em algumas incorporações realizadas pela fundação. A justiça tem concedido a José Eduardo o direito de acesso a documentos que poderiam comprovar supostas irregularidades na transferência das ações. Caso suas alegações sejam comprovadas, José Eduardo poderia adquirir cerca de 25,27% do capital social da Ferbasa, o que o tornaria o maior acionista individual e potencialmente alteraria o controle da empresa. Atualmente, a Fundação José Carvalho detém a maior parte das ações da Ferbasa com 50,54% do capital social. Apesar das decisões favoráveis a José Eduardo, a fundação e a Ferbasa tm sido muito persistentes no descumprimento das ordens judiciais de entrega de documentos. Foram registradas situações em que livbros contábeis em branco e cópias incompletas de material foram apresentados. Essa conduta levou o Ministério Público da Bahia a investigar a resistência das partes em fornecer a documentação solicitada. Além do litígio com José Eduardo, outras questões financeiras da Ferbasa foram levantadas. A primeira foi a compra suspeita de uma fazenda. Em 1999, Sérgio Dória, atual presidente do Conselho de Administração da Ferbasa, adquiriu uma fazenda que havia pertencido à empresa por um valor significativamente abaixo do mercado e do que a própria Ferbaza pagou em 1984. A operação envolveu um colégio e é vista como uma possível manobra para evitar as normas internas da companhia. A segunda trata de uma série de contas secretas na Suíça. O ex-diretor da Ferbaza, Hernan Petinatalhou em um depoimento um suposto esquema de pagamentos de comissões irregulares em duplicidade, envolvendo contas em bancos suíços e empresas de fachada. O objetivo seria subfaturar vendas no exterior e repassar valores a executivos. Embora o processo tenha sido arquivado por acordo extrajudicial, as informações levantadas por Petinat vieram a público. A Ferbasa e a Fundação José Carvalho negam todas as acusações, afirmando que os pontos apontados por José Eduardo não se sustentam e que entregaram todos os documentos solicitados. O caso permanece em andamento no Tribunal de Justiça da Bahia com a continuidade do julgamento. A saga da Ferbasa, que começou com um triunfo de visão e empreendedorismo, se desdobra agora como um complexo e turbulento litígio judicial. O legado de José Corgozinho de Carvalho Filho, um homem que doou seu vasto patrimônio para um propósito altruísta em jogo. Enquanto a empresa continua a operar com um pilar da indústria brasileira, as sombras das acusações de má fé e a resistência em fornecer documentos pairam sobre sua história. O desfecho dessa disputa milionária não apenas defenderá o futuro da Ferbasa e de sua fundação, mas também lançará luz sobre a transparência e a integridade de um dos mais importantes complexos industriais do Brasil. Acompanharemos de perto os próximos capítulos dessa intrigante trama que envolve poder, bilhões e o destino de um legado construído com tanto esforço. Curioso mercado, conteúdo para quem tem conteúdo. Você sabia que o curioso mercado agora tem sua própria newsletter? Enquanto todo mundo lê as mesmas notícias de sempre, tem gente descobrindo os bastidores do mercado de um jeito diferente. Na nossa newsletter, você encontra as melhores histórias do mundo dos negócios, além de recomendações de conteúdos para você ir ainda mais fundo. 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