GUSTAVO FRANCO REVELA: A “DOENÇA” DO BRASIL QUE NOS IMPEDE DE AVANÇAR

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Bom, é um fenômeno super profundo, tanto que tem antropólogo, sociólogo, gente das mais eh variadas extrações como estudiosos da cultura, que se debruçam sobre a inflação e têm diagnósticos e ideias sobre como é que funciona. Eh, sei lá, para pegar uma eh uma maneira de você dizer, você é um país ansioso, eh, ansioso do ângulo fiscal, ele quer trazer pro presente uma riqueza que a gente vai ter só no futuro, talvez. Eh, então gasta muito hoje e se individa porque acha que como no futuro vai vir eh uma riqueza que tá no subsol, sei lá onde é que tá, eh não é problema se endividar. O futuro é tão brilhante, nós somos o país do futuro que se endividar não tem problema. E por isso o Brasil tem taxa de inflação muito alta, que é uma fórmula para antecipar e mesmo taxa de juro. Aceitamos pagar um preço muito grande para antecipar as coisas porque o nosso futuro é tão brilhante. Então você pode dizer que, ó, no limite a inflação, essa história toda é um ataque de otimismo das pessoas. tem muitas maneiras de ver eh eh interpretar a inflação como um fenômeno coletivo de histeria coletiva decorrente de ansiedade, sei lá. Eh, e a gente que viveu isso mais de perto, quando via acontecer, eh, tinha inclusive as expressões a cada pessoa, cada pessoa interpreta de um jeito essa loucura que era o dinheiro queimar na sua mão e você ter que correr no supermercado antes que o dinheiro derrete. e a e essa pressa eh em consumir eh enfim, contaminava todas as suas ações, suas decisões. O país fica muito torto num ambiente de inflação. Eh, e tudo começa nas finanças públicas, que é onde essa ansiedade se expressa da forma mais clara. Senhores parlamentares querem gastar o dinheiro que não existe agora, porque o país tá precisando agora, tem um problema agora. Eh, não adianta o futuro não, o futuro já tá muito longe. E aí aí a gente tem déficit, aí a gente se endivida loucamente e o futuro não chega. Trazendo pro momento atual, eh, você falou, né, a gente vai enfrentar nos próximos anos o vai ter um desafio, né, porque a gente tem um uma aceleração no lado fiscal e a política monetária servindo de freio, que é quase como modos operand por um bom tempo. Isso. Mas qual que é o seu prognóstico pro Brasil? E aí a gente, o mercado tá louco pro trade eleitoral. Eu não vou, eu não tô pensando aqui independentemente de qual presidente que a gente vai ter a partir de 2027, mas seja quem for, ele vai ter um grande desafio. O que que é esse desafio? Como é que você enxerga esse desafio? Bom, para começar, eu acho que os próximos 30 e vão ser melhores que os últimos 30 anos. É. Ah, tá. Porque veja, esses 30 anos, 30 primeiros anos do real com o padrão monetário, foram de acomodação e cura da hiperinflação. Não acho que nos próximos 30 nós vamos ter o mesmo nível de taxa de juros e de problemas com a inflação que a gente teve nesses primeiros 30. Eh, então começa por aí, vai ser melhor. Não quer dizer que vai ser fácil, tá? porque deslocou um pouco a natureza, o a o teatro de operações. Agora a gente tem o número um, eh, em matéria de reforma e problema é o fiscal. Todo mundo já interpreta isso. Eh, o sistema monetário bloqueia, evita que o desequilíbrio fiscal se converta numa coisa muito ruim, mas ele precisa se resolver. E e para se resolver no ambiente de democracia, a gente precisaria ter uma legislação, uma reforma no quesito do orçamento, pouco diferente do que a gente tem hoje. Eh, achei que isso viria eh lá no momento da PEC da transição, quando eh a própria PEC da transição tinha lá um capítulo que diria que dizia que em se meses, eu acho, uma coisa assim, o governo que entrava ia apresentar um mecanismo, tinha umas uma linguagem assim meio rebuscada para dizer um algo da política política fiscal, política fiscal sustentável, com essas palavras assim. Eh, e isso o Hadad trouxe o arcaboço. Eu achava que vinha a lei das finanças públicas, que era uma reforma na lei orçamentária. A lei orçamentária é o jeito que o orçamento é feito, que é o seguinte, na democracia, eh, quem define quanto tem de despesa e quem quanto tem de receita são os mesmas pessoas. são esses senhores que a gente elege no legislativo, mas como exatamente eles trabalham, né? Então tem um é o é o processo orçamentário que se repete ano a ano e tem as leis que dão diretrizes ao orçamento, a lei do orçamento e tem também o plano plurianual para que os orçamentos eh ao longo dos anos sejam consistentes entre si quando vistos em sequência. Eh, esses essa estrutura, ela é meio torta porque ela tem como base uma lei de 1964 sobre eh orçamento, do tempo que nem tinha inflação direito. Aí eh o jeito do orçamento ser feito é todo torto. Isso é o federal, estadual e municipal. Uhum. Então, é como se a o planejamento, o jeito que os orçamentos são feitos, eh, parece que esconde debaixo da mesa a escassez de recurso. Eles sempre deliberam orçamentos com déficites loucos, com níveis de despesa irrealizáveis e níveis de receita inchados que não vão acontecer. Mas permanece essa esse gosto pela ficção, porque assim os políticos não têm que enfrentar o problema de arrumar dinheiro aumentando os impostos ou reduzindo despesa. É mesmo drama de agora. Eh, que vai se repetir, eu creio, nos próximos anos. eh, e que claramente esse governo abraçou o jeito de arrumar a casa pela receita e a sociedade parece rejeitar porque já pagamos muitos impostos. Eh, eh, mas tem que mexer na despesa, eh, porque tem uma mitologia de que a despesa é do bem, eh, e que você resolve tudo com Brasília dando um cheque. Não é assim, tá? Porque o se você assina um cheque sem fundo, você vai ter problema. E o Brasília assina cheque sem fundos há muito tempo, tá? E eles se transformam em dívida pública e fazem a taxa de juros ficar esse absurdo que é que não é porque o Banco Central é malvado, é porque o fiscal tá desarrumado, muito desarrumado, há muitos anos e a gente meio que se recusa a enfrentar essa nhaca fiscal eh institucionalmente, né? É preciso que haja uma arena, um jeito de organizar a competição eleitoral por recursos escassos, para que os senhores parlamentares então façam um orçamento onde a despesa cabe na receita. É, é simples como isso, eh, dessa coisa assim de founding fadas americanas, só que aqui não, aqui não teve esses esses trâos. A gente meio que tá reinventando essas coisas todas. A gente conseguiu reinventar a moeda, tá? Mas o fisco, a a o fiscal ainda precisa uma baita reforma para que a gente tenha uma democracia adulta que delibere sobre finanças públicas de um jeito adulto. Uhum. E você acha que isso vai vir uma mudança de governo ou uma mudança de mentalidade da sociedade de maneira geral, pensando que a gente também elege quem tá abaixo do presidente. Acho que as duas coisas, as mudanças de governo elas impulsionam, mudanças que às vezes já tão eh fumegando e e cozinhando na sociedade. Eh, acho que toda a experiência, todo esse trajeto aí dos da estabilização da reforma monetária de 94 e tudo melhorou, educou muito Brasília e todo mundo sobre eh orçamentos, sobre escassez de dinheiro. Eh, antigamente lá, antigamente que eu digo é 1993, você ia conversar com os senhores parlamentares sobre orçamento, ninguém achava que faltava dinheiro. É sempre nós da área colb estamos escondendo o dinheiro. Não, você tem uma gaveta aí que você abre que resolve tudo. É, e não, hoje em dia é no próprio parlamento que alguém aparece com a ideia, agora vou fazer o programa do bolsa, não sei o quê, o parlamentar levanta o dedo, mas de onde vai virar, vão ver os recursos hoje todo mundo pergunta isso, tá? A dona de casa tá acostumada, pô, crenca que era para você fechar suas contas num ambiente de inflação elevada ou quitandeiro que, enfim, sabe como é que é ele vender e depois ter dinheiro para recomprar tudo de novo e como é que é errar isso e como o dinheiro não aceita desaforo. Como é que em Brasília aceita desaforo? Como é que em Brasília não não falta dinheiro para para nada? Claro que falta. Então eles entendem que sim, agora falta a regra que organiza isso, que é um orçamento certinho, não essa corrida louca que você vai emplacar uma emenda que vai resolver o problema da estrada que leva pro teu pro teu aras, né? Eh, não é é o global, né? Isso tá faltando uma organização institucional eh digna do país grande que nós somos. E pegando até com paralelo que a gente tá vendo na Argentina, onde a gente tá vendo uma mudança brusca de eh do do próprio resultado do das medidas do Milei. Uhum. Eh, trazendo um resultado positivo, mas a própria sociedade abraçou isso por causa de uma grande crise que eles estavam enfrentando. Trazendo essa realidade pro Brasil, a gente precisa piorar um pouquinho mais para pensar em melhorar. Você acha que a gente realmente precisa afundar mais o pé na lama para Não, não acho. Não acho que às vezes a crise eh, enfim, cria uma urgência. Eh, OK, tem essas, mas não precisa, vai, eu não queria, não precisa. Eh, o sempre a gente sabe que cada item de despesa do orçamento tem um proprietário muito daquilo ali. E sempre que se vai discutir despesa, esses interesses aparecem. Uhum. É muito difícil. Então veja, se você vai em Brasília, no legislativo, em Brasília em geral, o executivo legislativo conversar sobre redução de despesa, você não vai ser muito bem recebido por ninguém. Eh, eh, mas é, mas é daí não é quer dizer que seja impossível, é impossível fazer por consenso. Na Argentina não foi o consenso. Na Argentina o prefeito pegou como é uma serra elétrica. Eh, ou seja, aquilo é uma metáfora para o executivo trouxe uma proposta, fez uma redução de gastos do tamanho que ninguém esperava e deu certo. Eh, mutatos mutâneas aqui no Plano Real a gente fez também uma coisa que ninguém concordou. Hoje em dia parece um, como é? um passeio no parque que o plano real todo mundo é a favor, mas na época não era não. Na época encrenca os sindicalistas todo mundo contra um eh depois que dá certo, né? Isso parece que foi fácil, não é? Não. Agora isso de cortar despesa, se você for perguntar, pedir permissão, não, mas vai lá e faz, né? Se dar certo vai ser uma beleza. E na Argentina eles fizeram. Uhum. É. é que você citando até o próprio plano real, que eu acredito que assim, sem sombra de dúvida, foi o plano econômico mais importante da história do Brasil, esses 500 e poucos anos que a gente tem, mas veio de um de uma crise que a gente tava enfrentando chamada hiperinflação. Você é assim, é por isso que eu vejo um pouco desse às vezes o o risco iminente queem não é nem mais iminente, né? você já tá numa grande crise, você precisa de uma solução. E talvez hoje, olhando aqui, apesar da fotografia trazer um futuro perigoso pro Brasil, hoje, hoje, nesse momento que a gente tá gravando, a gente pode dizer que a gente não tá tão mal assim. Por isso que é o que eu sinto pouco disso no mercado, que é há mais espaço para piorar antes de melhorar. A gente avançou muito de eh 94 para cá, muita coisa arrumou. Algumas naquele momento, naqueles primeiros anos ali mais críticos, outras mais devagarzinho ao longo do tempo. Eh, algumas medidas, como as privatizações, elas demoraram um certo tempo para eh produzir efeitos, mas tá lá. Hoje cada um de nós tem um celular, às vezes mais de um, né isso? Eh, imagina, eu sou do tempo que não tinha celular e a empresa tudo era estatal e não tinha nada. Precisa ter um telefone, era preciso ter um amigo parlamentar e esperar e era uma encrenca. Então, privatizar a telefonia requere muito gás lacrimogênio. Não foi por consenso, não convenceu ninguém. Foi foi uma briga mesmo, né? E aí sim, ganhamos e deu certo, né? Eh, não significa que precise gar lacrimogênio para todas as outras coisas. Podemos fazer eh conversando o agora eu acho que o saneamento talvez vá produzir alguma coisa da mesma ordem de grandeza e não precisou de tanta briga, graças à briga da das telecomunicações e o desfecho é bom. Nesse caso, na no saneamento, veja, são sei lá quantas mil concessões de saneamento Brasil aa são de natureza municipal ou multimunicipal, eh, com impactos financeiros sobre os municípios, impactos sobre a saúde pública naqueles municípios, eh impacto sobre o meio ambiente. Olha que beleza, né? Isso talvez tenha seja tão transcendente quanto foi a privatização da telefonia, os efeitos que isso teve sobre a vida de todos nós. Eh, é, é um, são Brasis muito diferentes. Aqui a gente falando de pessoas que t mais de um celular, que realmente é uma realidade por causa disso, mas a gente ainda vive pedaços do Brasil, onde o saneamento básico é um item de luxo. Pois é, você tem uma pessoa que tem dois celulares, mas não tem eh coleta de esgoto em casa. Se você gostou desse corte, certamente vai gostar do episódio completo. Então, ó, clica aqui que você pode assistir ele na íntegra. Ou então você pode clicar nesse vídeo e ver mais um corte desse episódio. Até a próxima. Yeah.

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