Habitantes das Profundezas | Minuto da Terra

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O espaço pode até ser a fronteira final,
mas já sabemos mais sobre as órbitas das estrelas ao redor do buraco negro no centro
da Via Láctea do que sabemos sobre o comportamento da lula colossal e outras criaturas que vivem
no fundo dos oceanos aqui na Terra. Levando em consideração que águas com profundidade
superior a 1 quilômetro cobrem mais de 60% do planeta, isso significa que sabemos muito
pouco sobre o ambiente mais comum ao nosso redor. Nele, existem criaturas estranhas e misteriosas
que aprenderam a sobreviver na escuridão total, sob frio e pressão extremos, onde
há muito pouco oxigênio, comida e amigos disponíveis. Sobreviver neste ambiente requer extraordinárias
adaptações. Numa profundidade de 1000 metros, a pressão
é 100 vezes maior do que a que sentimos na superfície, o suficiente para comprimir o
ar de uma bola de futebol para o tamanho de uma bola e meia de pingue-pongue. Ao contrário da maioria dos outros peixes,
os que vivem nessas profundidades não têm cavidades cheias de gás, como bexigas natatórias,
que entrariam em colapso sob tamanha pressão. Na verdade, peixes de águas super profundas
muitas vezes possuem poucos ossos uma carne mais gelatinosa, pois a única maneira de
combaterem a pressão em que vivem é usando a água como suporte estrutural. Até recentemente nós deixávamos esses peixes
em paz, mas quando a pesca costeira foi se exaurindo, os pescadores passaram a buscar
mais fundo, onde encontraram um monte de peixes grandes e saborosos. A medida que se esgotavam os peixes mais próximos
à superfície, eles simplesmente pescavam cada vez mais fundo. A pesca em alto mar, porém, muda as regras
do jogo, uma vez que esses peixes, embora muito bem adaptados à pressão do fundo do
mar, são incapazes de lidar com as pressões da pesca moderna. Com temperaturas frias e escassez de alimento,
a quantidade de peixes que vivem nas profundezas é menor, e eles também demoram mais a crescer
e reproduzir. O peixe-relógio, por exemplo, vive toda sua
longa vida – que costuma durar mais de um século – entre 500 a 1500 metros abaixo
da superfície do oceano. Na melhor das hipóteses, eles conseguem substituir
apenas 6% da sua população por ano, enquanto peixes de águas rasas, como o bacalhau, a
cavala e o arenque, substituem metade de toda a sua população no mesmo período – isso
se não forem capturados. Quando a pescaria comercial do peixe-relógio
decolou, na década de 80, a captura da espécie era abundante, mas dentro de 25 anos a maioria
das redes passou a vir vazia. Se você pensar a respeito, nós estamos basicamente
minerando os nossos oceanos, o que é tão prejudicial para o peixe-relógio e os outros
habitantes das profundezas do mar, quanto para os pescadores cujas vidas dependem deles. Se aprendêssemos a capturar os peixes no
mesmo ritmo em que eles reproduzem, tanto os peixes quanto os pescadores e a nossa alimentação
no futuro seriam beneficiados. Porque apesar de sempre podermos extrair minerais
e metais preciosos de asteroides, até onde sabemos não existem peixes no espaço, então
é melhor proteger os que ainda temos aqui.

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