Imagens Reais de Marte | O Planeta Vermelho Como Você Nunca Viu Antes

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Hoje vamos embarcar juntos numa jornada épica até a superfície de outro planeta, o famoso planeta vermelho, Marte. Atualmente, apenas dois robôs ainda estão em atividade por lá, o Perseverance e o Curiosity. Eles estão separados por cerca de 3700 km, cada um explorando uma parte distinta desse mundo hostil e fascinante. Quando o sol nasce em Marte, esses robôs se tornam nossos olhos e ouvidos, explorando um planeta inteiro por nós. Eles capturam, analisam e nos enviam milhares de imagens e dados todos os dias. E é isso que você vai ver no vídeo de hoje. Uma seleção impressionante das fotos mais incríveis que conseguimos coletar até agora, acompanhadas das histórias que essas imagens contam. Seu papel apenas relaxar e aproveitar essa viagem rumo à superfície de um mundo alienígena. Você vai ver imagens reais de Marte e ouvir histórias de aventura e exploração repletas de imprevistos, falhas inesperadas, descobertas emocionantes, momentos de tensão e também de esperança. Histórias protagonizadas por cinco verdadeiros heróis robóticos: Soul Journer, os Gêmeos Spirit e Opportunity, Curiosity e Perseverance. Esses cinco exploradores fantásticos foram enviados por nós, humanos, para se apagarem lentamente em outro planeta. E ao longo das últimas duas décadas, foram eles que tiraram quase todas as imagens marcianas que veremos hoje. Mas por onde começar essa história? Que tal começarmos entendendo onde afinal estamos pisando? Ou melhor, onde nossos robôs estão andando? Marte é um deserto colossal de beleza crua e silenciosa, um planeta geologicamente adormecido, onde tudo parece coberto por uma fina camada de poeira avermelhada. Essa cor vem de partículas de ferro que ao longo de milhões de anos se oxidaram. Nessas paisagens poeirentas e estéreis, por mais belas que pareçam, um ser humano sequer conseguiria respirar. A atmosfera de Marte é composta majoritariamente por dióxido de carbono e é tão rarefeita que equivale ao que temos aqui na Terra a 35 km de altitude, onde nem aviões comerciais conseguem voar. A pressão é tão baixa que se houver gelo na superfície e ele for aquecido pelo sol, ele não vira água, evapora direto num processo chamado sublimação. Em Marte, a chuva é uma memória distante. Provavelmente não chove por lá há bilhões de anos. Os vulcões não entram em erupção desde tempos e memoriais. E como o planeta não tem placas tectônicas ativas como a Terra, o que muda a paisagem são apenas os impactos ocasionais de meteoritos, a oxidação das rochas e o vento marciano que nunca para. Para onde quer que se olhe, o que se vê é um planeta seco, gelado e desolado. No comecinho da manhã, as temperaturas chegam a -80ºC e a diferença entre a madrugada e o meio-dia pode chegar a inacreditáveis 100º. No inverno, faz tanto frio nos polos que até parte da atmosfera congela e vira gelo seco no chão. Ainda assim, esse é o lugar mais hospitaleiro do sistema solar. Fora a Terra, é claro. E foi justamente por isso que decidimos enviar para lá nossos robôs equipados com câmeras, sensores e instrumentos científicos, na esperança de encontrar algum vestígio de vida fora do nosso planeta. Mas antes de Perseverance e companhia, outras missões tentaram chegar lá e muitas falharam. A primeira a pousar com sucesso foi a sonda soviética Mars 3 em 1971. Ela conseguiu transmitir sinais por apenas 20 segundos antes de silenciar para sempre. Em 1976, as sondas Viking 1 e 2 nos enviaram as primeiras imagens nítidas da superfície marciana. Mas elas não tinham rodas, pousaram e ficaram paradas no mesmo lugar por anos, apenas coletando dados. Foi só em 1997 que o Sjorner, um pequeno e valente robô, percorreu cerca de 100 m durante 3 meses de operação. Pouco, talvez, mas foi o primeiro passo da nossa jornada sobre rodas em Marte. Mas de fato, a exploração da superfície de Marte começou para valer mesmo foi em 2004, com a chegada de dois verdadeiros guerreiros, o Spirit e o Opportunity. Esses rovers gêmeos, lançados com poucos dias de diferença e que pousaram em lados opostos do planeta Vermelho, protagonizaram uma das maiores epopeias da história da exploração espacial. Ambos tinham uma missão modesta, operar por apenas 90 dias. Mas o que eles fizeram superou todas as expectativas. O Spirit, por exemplo, sobreviveu por mais de 6 anos no ambiente implacável de Marte. Durante esse tempo, ele nos presenteou com panoramas deslumbrantes e percorreu quase 8 km por entre crateras e rochas. Infelizmente, sua jornada terminou quando ficou preso em uma duna de areia. Ele ainda funcionava, mas estava atolado. A poeira marciana foi cobrindo seus painéis solares aos poucos, até que não restou energia suficiente nem para tentar sair da armadilha e assim ele se calou. Enquanto isso, do outro lado do planeta, o Opportunity seguia firme. Incansável, ele continuou sua missão por nada menos que 14 anos. Isso mesmo, 14 anos. Navegando por planícies áridas, enfrentando tempestades de areia e encarando o desconhecido, esse robô mecânico demonstrou uma resistência quase poética. Mas em 2018, uma dessas tempestades, gigantesca e devastadora, cobriu tudo com poeira. inclusive seus painéis solares. E então, em silêncio, o Opportunity entrou num sono profundo do qual nunca mais despertou. A frase que rodou o mundo e emocionou milhares de pessoas veio do último sinal interpretado pela equipe da NASA. Minha bateria está fraca e está escurecendo. Quando suas baterias finalmente chegaram ao fim, esses dois corajosos exploradores simplesmente congelaram literalmente. Em meio ao frio cortante de Marte, suas missões chegaram ao fim, mas seus legados, esses são eternos. Juntos, Spirit e Opportunity capturaram mais de 300.000 imagens e enviaram milhões de dados para a Terra. E foi graças a eles que descobrimos uma das pistas mais emocionantes até hoje. Sim, Marte já teve água em abundância, rios, lagos, talvez até oceanos. Desde então, a missão de explorar o planeta vermelho continuou. Curiosity e Perseverance herdaram o legado de seus antecessores. Mesmo com suas seis rodas motorizadas individualmente e a incrível habilidade de se inclinar até 45º, a paisagem marciana não perdoa. Crateras de impacto, leitos secos de antigos rios e campos de rochas escondem surpresas que podem ser fatais. Às vezes, uma curva escondida revela pedras cortantes como navalhas, restos de antigas formações vulcânicas. Basta uma delas para rasgar uma roda inteira. Cada rover que andou por aqui teve seus próprios perrengues. Para não ficar preso, muitas vezes, é preciso voltar atrás, dar marcha a ré e tentar outro caminho. O próprio Spirit, dois anos após pousar, teve uma das rodas dianteiras travadas. Sabe o que ele fez? Continuou a missão, andando de ré até o fim. Um improviso genial. E não para por aí. Imagine agora um mar de dunas. Não um, mas centenas, milhares, campos imensos de areia que se movem lentamente a cerca de 1 metro por ano, empurrados pelo vento constante de Marte. Essas dunas, algumas com dezenas de metros de altura, são traiçoeiras. Feitas de areia escura e basáltica, elas são armadilhas naturais. Afundar demais ali é praticamente assinar a sentença de morte de um rover. Um passo em falso e o robô não sai mais. Existe um desafio que pouca gente imagina e que pode se transformar num verdadeiro pesadelo. A impossibilidade de controlar esses robôs em tempo real. Estamos em planetas diferentes, separados por uma distância gigantesca e por um delay. A comunicação entre a Terra e Marte não é como uma ligação por celular. Ela está sujeita a atrasos enormes. Em média, são 225 milhões de quilômetros nos separando. E dependendo da posição dos planetas, o sinal de rádio pode levar de 6 a 44 minutos para ir de um lado ao outro. Ou seja, esquece esse papo de joystick. Controle remoto ou pilotagem ao vivo. Aqui nada acontece instantaneamente. E tem mais. A cada dois anos, Marte fica completamente oculto atrás do sol em relação à Terra. Durante esse período chamado de conjunção solar, as comunicações com os rovers ficam comprometidas. Partículas solares interferem nos sinais e, por segurança, tudo é pausado. Por cerca de duas semanas, os robôs ficam sozinhos apenas monitorando o clima e tirando algumas fotos. Nenhum movimento, nenhuma manobra. Mesmo quando a comunicação está estável, são os robôs que tomam conta da situação. As equipes na Terra planejam cuidadosamente o que vão fazer naquele dia e enviam uma sequência detalhada de tarefas para os robôs. A partir daí, são eles que executam tudo sozinhos com muito cuidado, passo a passo. Agora, não se engane com os vídeos acelerados que você já deve ter visto por aí. Aquilo é tudo em modo turbo para facilitar a visualização. A verdade é que eles se movem muito devagar. Normalmente eles não percorrem mais do que 200 m por dia. Nos dois primeiros meses em Marte, o Curiosity percorreu apenas 400 m. Depois de um ano inteiro de missão, ele tinha avançado pouco mais de 1,6 km. E sabe por quê? Porque cada metro aqui é precioso. Cada amostra coletada é uma janela para o desconhecido. Cada imagem, um olhar inédito sobre outro mundo. Não estamos com pressa. Estamos desvendando um planeta. E mesmo assim, com toda essa cautela, os resultados são incríveis. Depois de apenas um ano, o Curiosity já tinha enviado mais de 70.000 fotos para a Terra e o Opportunity, durante seus 14 anos de missão, percorreu cerca de 42 km, o equivalente a uma maratona completa. Mas de todos os desafios que enfrentamos, nenhum é mais tenso, nem mais solitário do que o momento da aterriçagem. Pousar em Marte é enfrentar o que os engenheiros chamam de os sete minutos de terror. 7 minutos entre o momento em que entramos na atmosfera e o instante do pouso nos quais estamos completamente sozinhos. Nessa hora não dá tempo de mandar comandos da Terra. Tudo tem que funcionar perfeitamente, de forma autônoma, com base nos algoritmos e instruções que foram programados antes do lançamento. Se algo der errado, não há correção possível. E, infelizmente, quando o silêncio após o tempo previsto de pouso se prolonga, é quase certo que há apenas uma carcaça robótica despedaçada no solo marciano, mas os perigos não acabam por aí. Um dos maiores inimigos e o mais traiçoeiro está suspenso no ar. A poeira marciana. Esses grãos minúsculos com poucos microns de diâmetro são leves, mas perigosíssimos. Por conta da atmosfera seca e da radiação solar, eles ficam eletricamente carregados e podem permanecer em suspensão por meses, viajando pelo ar rar efeito de Marte. O problema? Eles se infiltram em absolutamente tudo e para rovers que dependem de energia solar para se mover, essa poeira é uma ameaça constante. Ao se acumularem sobre os painéis solares, bloqueiam a luz do sol e reduzem drasticamente a geração de energia. Em 2009, o Spirit já estava enfraquecido e sem força. A quantidade de poeira acumulada era tão grande que ele precisou ficar mais de 8 meses parado, só tentando recarregar as baterias. Um esforço quase desesperado para sobreviver. Às vezes, as tempestades de poeira em Marte atingem proporções tão gigantescas que parecem saídas de um filme de ficção científica. Em 2018, por exemplo, o Curiosity foi surpreendido no meio de uma tempestade colossal, uma muralha de poeira que cobria nada menos que 35 milhões de quilômetros quad. Isso representa cerca de 1/4arto de toda a superfície marciana, mas felizmente ele estava preparado. O Curiosity é alimentado por uma bateria que funciona com energia nuclear, o que significa que não depende da luz solar para sobreviver. Mas do outro lado do planeta, a 8400 km de distância, a história era bem diferente. Lá estava o Opportunity com seus painéis solares prestes a enfrentar o maior desafio de sua vida. Quando a tempestade cobriu o céu e a poeira se acumulou em seus painéis, ele ficou sem energia. Tentou resistir, entrou em modo de hibernação, mas nunca mais acordou. Foi o fim de uma era. Essas tempestades gigantes não são tão raras quanto se imagina. A cada três anos marcianos em média, uma tempestade começa de forma localizada, mas cresce de maneira descontrolada até envolver praticamente todo o planeta. O céu fica encoberto por um véu marrom alaranjado e Marte mergulha numa escuridão estranha, onde menos de 1% da luz solar consegue atingir o solo. Em plena luz do dia, o mundo pode parecer noite. É verdade que os ventos em Marte atingem velocidades de quase 100 km/h, mas como a atmosfera é muito fina, eles não são tão agressivos quanto seriam aqui na Terra. Ainda assim, conseguem levantar partículas finíssimas, com textura parecida com talco, que permanecem suspensas no ar por meses, mas nem tudo que sopra é ameaça. Em meio a esse cenário, existe um tipo especial de fenômeno que, por mais curioso que pareça, já salvou vidas, ou melhor, missões. São os chamados demônios de poeira. Esses redemoinhos são formados quando o sol aquece a superfície marciana, criando colunas giratórias de ar e poeira, que podem chegar a centenas de metros de altura e dezenas de metros de largura. E adivinha? Já registramos centenas deles em fotos, alguns até passando bem por cima dos robôs. Em 2005, por exemplo, o Spirit estava com as baterias quase zeradas por causa da poeira acumulada. Parecia que sua missão estava próxima do fim. Até que, como um milagre vindo dos ventos, um desses redemoinhos passou por cima dele e limpou parte da sujeira dos painéis solares. O resultado? Ele voltou à ativa. Foi como se o demônio tivesse soprado uma nova vida no pequeno rover. Agora que já temos uma ideia do que enfrentamos em Marte, talvez esteja na hora de saber o que encontramos. E acredite, não foi pouca coisa. Tudo o que observamos em solo confirma o que as imagens de satélite já sugeriam há tempos. Marte, no passado, foi um planeta úmido. Sim, chovia por lá. Existiam rios, lagos e talvez até um oceano inteiro. Explorando essas paisagens, encontramos marcas claras de que a água moldou o terreno, depósitos de enchentes, canais de drenagem fossilizados e sinais evidentes de antigos fluxos d’água. Na planície Meridiani, por exemplo, o opportunity fez descobertas incríveis. Em meio a um mar de crateras e dunas, ele encontrou pequenas esferas de rocha ricas em hematita, apelidadas de mirtilos marcianos. E sabe o mais interessante? Elas só se formam na presença de água líquida. Isso é uma evidência clara de que um dia ali havia um ambiente acoso. Em outras crateras que visitou, o opportunity também identificou camadas ricas em sulfato, outro sinal revelador. A presença desse mineral indica que em tempos antigos Marte tinha águas subterrâneas ricas em sais minerais ou áreas de evaporação, onde os depósitos salinos se acumularam ao longo do tempo. Agora observe com atenção esta imagem. Ela foi tirada pelo satélite Mars Reconissance Orbiter, que sobrevoava uma cratera de 750 m de largura. E se você olhar bem de perto, verá ali o Opportunity, pequeno, solitário, descendo cuidadosamente pelas encostas. Ele passou quase dois anos explorando os arredores dessa cratera, como se estivesse margeando uma antiga e esquecida praia marciana. Cada paisagem que cruzamos, cada cratera que visitamos, cada pedra, cada grão de poeira, todos contam a mesma história. Marte nem sempre foi esse mundo seco e avermelhado que conhecemos hoje. No passado distante, há bilhões de anos, o planeta vermelho teve outras cores e outra vida geológica. Os sinais estão por toda parte. No meio dos basaltos, que revelam um passado de intensa atividade vulcânica, encontramos vestígios de rios que secaram, lagos que evaporaram e mares que desapareceram. O Curiosity concentrou sua missão em um desses lugares fascinantes, a cratera Gale, um enorme anfiteatro natural com 154 km de diâmetro, cercado por muralhas de pedra e dominado bem no centro pelo majestoso Monte Sharp, que se ergue a mais de 5.000 m de altura. Foi lá que ele fez uma das descobertas mais marcantes da exploração marciana. Ao perfurar o solo e analisar as amostras, o Curiosity detectou a presença de minerais argilosos. E o mais impressionante, cerca de 2% da matéria dessas amostras era composta de água. Isso mesmo, água. Isso quer dizer que aquele solo rachado, coberto de lama seca e pedras fraturadas já foi o fundo de um grande lago, alimentado por cursos de água que desciam das bordas da cratera. E foi nesse mesmo local que, pouco depois do pô do sol, o curiosity apontou sua câmera para o céu e capturou uma imagem inesquecível, um pequeno ponto brilhante acima do horizonte marciano. Aquele ponto não era uma estrela, era a Terra, o nosso lar visto da superfície de Marte a mais de 160 milhões de quilômetros de distância, um lembrete poético de onde tudo começou. Depois de anos explorando o antigo fundo do lago, o Curiosity iniciou uma nova etapa, a escalada do Monte Sharp. Em imagens capturadas do espaço, é possível vê-lo avançando lentamente entre dunas escuras de areia basáltica e colinas formadas por argilas. Desde então, ele não parou mais. Sobe devagar, mas sem descanso, cruzando paisagens marcadas pelas antigas passagens da água e pela lenta retirada dos fluxos. Em uma noite particularmente limpa, ele registrou um pô do sol marciano, uma visão rara e surpreendente. Por conta da composição da atmosfera de Marte, o pôr do sol lá tem uma cor curiosa. Ao contrário do laranja que vemos na Terra, ali ele tende para o azul. Ali o curióity atravessou o leito seco de um rio que bilhões de anos atrás era palco de torrentes violentas. Em outras regiões encontrou seixos arredondados. sinais claros de que já houve água corrente. E as camadas de rochas sedimentares, empilhadas como páginas de um livro antigo, contam histórias de estações que iam e vinham, de verões mais brandos e invernos rigorosos. O Curiosity ajudou a revelar que a cratera Gale com seu monte central já foi uma enorme bacia alimentada por rios volumosos. Mas com o tempo tudo secou, o lago evaporou e o planeta foi ficando cada vez mais árido. E pensar que a missão desse Rover deveria durar apenas 2 anos. Já se passaram quase 14. Hoje ele segue vivo, ou, como muitos dizem, funcional. Está coberto de poeira com algumas marcas do tempo e das batalhas, rodas danificadas, estrutura desgastada, mas ainda resiste. Desde que pousou, percorreu mais de 32 km em solo marciano e já escalou 630 m das encostas do Monte Sharp. E quanto ao Perseverance, embora tenha chegado há menos tempo, h cerca de 4 anos, segue os mesmos rastros. As descobertas do Perseverance também apontam na mesma direção. Marte já foi úmido, dinâmico e, quem sabe habitável. O pouso aconteceu em um local que talvez seja um dos mais promissores de todos, a cratera G0, uma formação de 45 km de diâmetro, onde se vê claramente uma rede de canais e fluxos convergindo para um antigo Delta, um local que há muito tempo foi um lago temporário. Foi exatamente ali que ele tocou o solo marciano. Passando o primeiro ano explorando essa região ao lado de um pequeno companheiro muito especial, o Inenuity, um helicóptero leve, mas revolucionário. Ele foi o primeiro objeto construído por humanos a voar em outro planeta. O Ingenuity é o fiel companheiro aliado do Perseverance. Ele é uma verdadeira maravilha da engenharia. Suas hélices giram quatro vezes mais rápido que as de um drone comum na Terra. E isso porque em Marte o ar tão raro efeito que voar se torna um desafio quase impossível. Mas ele consegue e graças a ele nós ganhamos uma visão privilegiada da região ao redor do Perseverance. Conseguimos mapear o terreno, escolher o melhor caminho e evitar obstáculos que poderiam colocar toda a missão em risco. Em várias das fotos tiradas por esse pequeno explorador aéreo, é possível ver o perseverance lá embaixo, uma silhueta solitária perdida na vastidão de areia e rochas marcianas. E em outras imagens é o próprio Perseverance quem fotografa. E entre os blocos de pedra, quase escondido, está o ingenuity, frágil e valente, desafiando os limites do possível. Durante essa missão, o Perseverance já disparou lasers em centenas de rochas para analisar sua composição. Perfurou o solo em diversos pontos, escavou, fez buracos, encontrou lama seca, carbonatos e argilas, todos materiais que só se formam com a presença de água. O rover coletou amostras preciosas de rochas, cuidadosamente seladas em pequenos tubos, e foram deixadas no solo, como cápsulas do tempo, esperando para serem recuperadas. Dá para vê-las nesta imagem. Pequenos cilindros metálicos prontos para uma nova jornada. A ideia é que, na década de 2030, uma missão da NASA vá até Marte recolher essas amostras e trazê-las de volta à Terra. E com elas, talvez possamos desvendar ainda mais detalhes da história do planeta Vermelho. Mas Mart não oferece só pedras e silêncio. Ele também tem seus momentos de poesia. Nas planícies desoladas, registramos o movimento do sol ao longo do dia. O rover capturou imagens ao meio-dia, com a luz no seu ponto mais alto e também no fim da tarde, quando tudo começava a escurecer. Durante uma pausa na missão para manutenção, deixamos a câmera ligada e conseguimos gravar um dia marciano inteiro, assistindo a dança lenta das sombras e ao céu mudando de cor. E teve mais. Apontamos a lente para o céu e conseguimos registrar um eclipse solar parcial. Sim, isso mesmo. Fobos, a maior das duas luas de Marte, passou bem diante do sol, criando um espetáculo raro. Depois disso, seguiu rumo ao delta fossilizado, um local impressionante, moldado por torrentes violentas que, ao desaguar no antigo lago da cratera G0, perderam força e deixaram para trás seus sedimentos. Esses depósitos criaram um padrão em leque, como os deltas de rios aqui na Terra. O rover subiu por essas formações e encontrou estruturas complexas com camadas de sedimentos sobrepostas, esculpidas ao longo de milhões de anos. Passou por solos cobertos de seixos arredondados, por rochas que foram entalhadas pelo fluxo da água e por blocos enormes que só poderiam ter sido carregados por correntes fortíssimas. Com base nessas evidências e na grandiosidade das paredes que cercam esse antigo sistema fluvial, os cientistas estimaram que há cerca de 3,5 bilhões de anos um rio fluía por ali. Um rio efêmero, sim, mas tão volumoso que se compararia ao poderoso rio Mississippi na Terra. Não há mais dúvidas. Em um passado remoto, a água corria solta por Marte. Mas afinal, o que aconteceu com tudo isso? Para onde foi essa água? A explicação mais aceita hoje é a seguinte. Marte, sendo cerca de 10 vezes menos massivo que a Terra, tem um núcleo muito menor. Isso fez com que ele perdesse rapidamente seu campo magnético, o escudo natural que protege um planeta contra os ventos solares. Sem essa defesa, Marte ficou exposto à fúria do sol. A radiação e os ventos solares começaram a arrancar sua atmosfera aos poucos. Com o tempo, a pressão atmosférica despencou, as temperaturas caíram drasticamente e a água, sem proteção e calor suficientes, ou congelou no subsolo e nas calotas polares, ou simplesmente evaporou, desaparecendo no espaço. O planeta que um dia pode ter sido azul e com potencial para a vida ficou vermelho, seco e silencioso. Os cientistas estimam que Marte teve em sua história primitiva cerca de um bilhão de anos com condições relativamente amenas, tempo suficiente em teoria para que a vida tivesse uma chance de surgir. Mas depois disso, tudo mudou. O planeta esfriou, perdeu sua atmosfera e se transformou no deserto gelado e inóspito que conhecemos hoje. Atualmente, a superfície de Marte é um verdadeiro pesadelo para qualquer forma de vida como conhecemos. A atmosfera é tão fina que não oferece proteção contra radiações solares ou cósmicas. Isso significa que partículas altamente energéticas atravessam o céu marciano sem obstáculos e atingem diretamente o solo, tornando-o radioativo. Para você ter uma ideia, a fina camada de poeira na superfície de Marte apresenta níveis de radiação comparáveis aos registrados nos arredores da usina de Chernobyl, logo após o desastre nuclear. E é por isso que enviamos robôs para explorar esse ambiente hostil em busca de respostas. mas não para encontrar seres vivos andando por lá, e sim para procurar sinais de que um dia já existiu vida neste planeta. Vestígios, pistas, impressões digitais biológicas deixadas no passado e registradas nas rochas. E olha, o que não faltam são descobertas curiosas. Perdemos a conta de quantas rochas com formatos bizarros já analisamos. Algumas parecem pirâmides, outras lembram estátuas de divindades. Já vimos até formações que se assemelham a galhos, veios de minerais com formas parecidas com plantas. Muitas dessas imagens viralizaram na internet, provocando especulações e fantasias. Afinal, quem nunca quis encontrar uma prova concreta de vida fora da Terra? Mas a verdade é mais simples e mais sutil. Essas formas estranhas quase sempre são apenas esculturas feitas pela erosão e pelos ventos marcianos. O que vocês veem nelas muitas vezes é fruto de um fenômeno psicológico chamado paraolia. Quando o cérebro tenta reconhecer padrões familiares onde eles não existem, como ver rostos nas nuvens. Em alguns casos, as anomalias nem eram marcianas, mas pedaços de nós mesmos. Um objeto brilhante sobre uma rocha. Era parte do módulo de pouso. Um pano estranho tremulando ao longe, um pedaço do paraquedas da descida de um rover. O planeta está cheio de pequenas peças deixadas por nós durante as missões. E embora ainda não tenhamos encontrado provas indiscutíveis de vida, algumas descobertas continuam despertando dúvidas. Veja essas pequenas formações do tamanho de um grão. Durante algum tempo, acreditou-se que pudessem ser indícios de atividade biológica, mas depois se confirmou que eram apenas partes mais resistentes da rocha que não se desgastaram com a erosão. Em outro caso, manchas irregulares observadas em pedras geraram hipóteses mais ousadas. Talvez fossem causadas por colônias microbianas, semelhantes ao que os liquens fazem nas rochas aqui na Terra. Mas, infelizmente, por mais avançado que os rover sejam, eles não têm os instrumentos certos para confirmar se esses padrões foram mesmo formados por seres vivos. Para termos certeza, seria preciso coletar amostras e analisá-las com cuidado aqui na Terra. Mas talvez a descoberta mais estranha e que até hoje nos dá o que pensar, não veio do solo e sim do ar. Tanto a Curiosity quanto a sonda Mars Express detectaram traços de metano na atmosfera marciana. Pouquíssimo, é verdade, mas o suficiente para levantar suspeitas. E o mais curioso é que essas concentrações variam de acordo com as estações do ano. O metano atinge um pico no fim do verão, como se algo estivesse sendo liberado nessa época. Existem duas possíveis explicações. Ou esse gás é gerado por reações químicas naturais e geológicas que ocorrem no subsolo, ou ele está sendo produzido por colônias de microrganismos que vivem escondidas sob a superfície e que quando a temperatura e a pressão ficam mais amenas liberam o metano como parte de seu metabolismo. Nada disso prova que há vida em Marte hoje, mas também não descarta essa possibilidade. E em um mundo tão silencioso, mesmo o menor sopro de metano pode ser um sopro de esperança. De toda forma, eu preciso confessar uma coisa. Seria poético se os primeiros sinais de vida fora da Terra fossem descobertos por robôs. Afinal, eles não estão realmente vivos e em breve deixarão de funcionar. O curiosity, que entrará em breve em seu 14º ano de atividade, continua firme, mas não é eterno. Mesmo com seu gerador nuclear, ele começa a dar sinais de cansaço. Um dia, suas engrenagens vão falhar, seus circuitos vão silenciar e ele vai adormecer para sempre. Marte será seu túmulo silencioso, frio, vermelho. E quando esse momento chegar, será o Perseverance, o último a continuar, a única máquina ainda ativa, criada por mãos humanas, por primatas inteligentes que aprenderam a construir ferramentas e as lançaram ao espaço para explorar mundos distantes. No ano passado, o Perseverance perdeu seu companheiro de jornada, o Inanuity. Ele colidiu com uma duna marciana. Uma de suas hélices se partiu e, após um pouso de emergência, ficou paralisado. Nunca mais irá voar. Antes de seguir em frente, o Perseverance lançou um último olhar para ele, seu pequeno parceiro voador, que o acompanhou durante mais de 7 meses de travessia pelo espaço, encaixado em seu interior metálico, que sobreviveu quase 3 anos ao seu lado na superfície de Marte, e que realizou com valentia 72 voos em um outro mundo. Nós colocamos nele, como um gesto simbólico e belo, um fragmento do tecido do Flyer, um dos primeiros aviões a voar na Terra. E ele retribuiu com história. Agora o Perseveran se segue sozinho. Cumpre seu dever sem medo, sem emoção, mas com propósito. Coletar mais dados, mais imagens e mais amostras. Ajudar a humanidade a entender o passado grandioso e misterioso deste planeta. E quando daqui a alguns anos vocês ouvirem no noticiário que o Perseverance também morreu, ou melhor, que seus sistemas foram encerrados, eu espero que se lembrem com carinho de tudo o que vimos aqui, desse planeta seco, frio e banhado por um sol carmesim. E que na próxima vez que se sentirem sozinhos, pensem nessas máquinas solitárias, separadas por milhares de quilômetros que enviamos para um mundo distante, nessas caixas de metal e circuitos que cruzaram o vazio do espaço em busca de vestígios de vida e que entregaram até sua última gota de energia para mandar de volta imagens de paisagens que jamais haviam sido vistas por nenhum outro ser vivo. Gostou? Quer continuar explorando as maravilhas do universo com a gente? Então aproveite para conhecer nossos ebooks. O guia definitivo do sistema solar. 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