Imigração em Massa vai acabar com SC?
0Olá, damas e cavalheiros. Estou vendo muitas pessoas falando aí que Santa Catarina tá acabando, que vai perder sua identidade, que as tradições germânicas, italianas, aquele modo de vida catarinense está fortemente ameaçado por uma invasão alienígena vinda de outros estados. Mas será que é isso mesmo? Será que o problema realmente tá vindo de outros estados? Santa Catarina foi sim o estado com maior saldo migratório do Brasil nos últimos anos. De acordo com IBGE aí, entre 2017 e 2022, mais de 500.000 1 pessoas vieram para cá e a grande maioria vindas de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul. Então são pessoas das regiões mais próximas aqui, né, que tem uma cultura meio parecida já não é o fim da cultura local. E outra coisa que a gente tem que entender também é o saldo dessa migração. Foram 500.000 pessoas que vieram, porém o saldo é 350.000. Por algum motivo, 150.000 pessoas foram embora. Isso também é um ponto a ser considerado, né? Por que que tanta gente foi embora? Se é um estado tão próspero assim, é o paraíso na Terra, por que que tanta gente tá indo embora? E o primeiro grande motivo seria a ilusão. Primeiro motivo principal de tanta gente vir para cá é para manter as pessoas que já estão aqui, entre eles os construtores. Porque esses prédios aí que todo dia estão subindo, para quem que eles estão fazendo esse tanto de prédio aí? Pros catarinenses que não são, não tem catarinense suficiente para esse tanto de prédio e principalmente os corretores. Sem as pessoas dos outros estados, os corretores não tm para quem vender e eles ganham por comissão. Se eles não vendem, eles não ganham também. Se você andar por aqui, nessa rua principal de Itapema e for contando os imobiliárias, você vai contar mais de 100. que deve ter umas 300 na cidade. Então você imagina aí 300 imobiliárias ligando o dia inteiro, todo dia pro Brasil inteiro, oferecendo sonhos aí, vendendo lugar perfeito, aqueles papos de corretor de que aqui a Miami, a Dubai, é óbvio que vai vir muita gente. E o que acontece depois é que a pessoa chega, descobre que não era bem assim, né, que nem tudo são flores. Muitos que vem acaba que não se adapta ao local e acaba indo embora, né? Um dos principais motivos é o alto custo de vida. A pessoa vem, acha que tudo vai ser baratinho, vai ser igual da onde ela saiu, que vai encontrar emprego fácil e assim, emprego fácil até encontra, né? Mas o problema é que os salários já não estão encaixando bem com o valor do aluguel. Os próprios corretores aqui criaram uma demanda tão alta que valorizou não só as casas, como os produtos, serviços em geral, toda a região subiu de preço. E o que acontece? A pessoa chega, quando ela chegou lá em 2018, 2019, o aluguel era lá na faixa 2.500, aí no outro ano já tá 2.000, 2500. Aí quando começa a chegar nos 3.000, a situação começa a apertar, porque o salário dela continua a mesma coisa. Aí não tem o que fazer, né? O jeito é voltar paraa casa da mãe. E um outro fator também é a saudade de casa impulsionada por esta cultura catarinense do trabalho. O Sudeste tem também essa cultura que é muito focada no trabalho. Mas não tô dizendo que o pessoal do resto do Brasil é preguiçoso, é que realmente a cultura do trabalho aqui de Santa Catarina é um negócio insano. Vocês não estão entendendo. As pessoas aqui não trabalham para viver. Elas vivem para trabalhar, só pensam no trabalho, só conversam sobre trabalho, não dorme só pensando em trabalho. Tanto que eu tenho amigos que vieram de outros estados para cá, que são médicos e eles me disseram que eles nunca receitaram tanto Rivotril na vida. Para quem não sabe aí, Rivotril é o clon Azepan, que ele é usado para amenizar ansiedade, ajuda a pessoa a dormir, a fazer o cérebro parar de pensar um pouco. Então, quando a pessoa vem para cá, ela tem esse choque. A pessoa acha que ela vai vir, vai ficar o dia inteiro na praia, vai ficar aproveitando a cidade, os parques, vai viver que nem um europeu, mas na prática ela só trabalha de domingo a domingo e gasta a maior parte do salário dela nas despesas básicas e no aluguel. E aqui é normal essa cultura do trabalho, porque os antigos colonos pensam assim, para quem é de fazenda, quem não trabalha até desmaiar é preguiçoso. Inclusive, vários colunos acabam indo aqui pro psicólogo. Eles não conseguem parar de trabalhar. A família já começa a pedir pelo amor de Deus pro velho descer do telhado. A minha nossa senhora, o velho não para não. Se deixar varre até o telhado. Então o pessoal aqui não para, não se aposenta não. Ainda mais nas cidades do interior. Quanto mais for do interior, mais forte vai ser essa cultura do trabalho. Essas são as que menos atraem gente por causa disso também, né? Muitas delas ali, se você pegar que nem Guabiruba, Gaspá, praticamente não tem nada além de empresa no local, não tem parque público, malumar, uma pracinha bem pequenininha ali para ir. Fora isso aí não tem mais nada, é só trabalho mesmo. Então esse papo de que vai começar a transbordar de pessoas no estado não é verdade, né? Vai ser mais ali pela região do litoral, que é um pouco mais tranquilo, mas mesmo assim a rotatividade desses locais é gigantesca. Balério Camburiú e Florianópolis é o dia inteiro chegando e indo gente embora. Eu morei ali e eu via que todo mês tinha caminhão de mudança parando, com gente chegando, gente indo embora. E outra parte desses 150.000 que estão indo embora são os próprios catarinenses ricos que já desistiram do Brasil. E como aqui no colégio eles já aprendem alemão, inglês, já tem aquela mentalidade de que Santa Catarina é o melhor estado do Brasil. Então se aqui que é o melhor tá ruim, os outros estados na cabeça do catarinense vai ser muito pior, né? Não compensa você migrar internamente, compensa você já ir logo paraos Estados Unidos e pra Europa. É a única alternativa para melhorar de vida. Então tá. Então, então você tá me dizendo que a cultura vai se manter? Assim, teoricamente sim, teoricamente não, né? Por enquanto sim, a cultura vai se manter, mas provavelmente pelas próximas décadas não. E por um motivo muito simples, os próprios catarinenses não estão mais tendo filhos. A taxa de fecundidade do Sul, em geral é a menor do Brasil. Isso quer dizer que mesmo sem nenhum migrante vindo, o estado já estaria fadado a perder a cultura de qualquer jeito, né? O estado já tá encolhendo, envelhecendo, perdendo sua cultura. Hein? E a cultura, meus nobres, ela não se transmite sozinha, não. Ela precisa de gente, de uma tradição, precisa de filhos, de famílias que ensinem algo, né? Que passem adiante as festas, os sotaques, os valores, o idioma, prato típico. Uma família que seja extremamente tradicional, mas que não tenha filhos, por mais que preserve a cultura, encerra sua linhagem. A história do povo acaba ali mesmo. Já na região norte, nordeste do Brasil, ainda existe aquele pensamento de que filho é algo bom. Agora é uma bção de Deus. Agora já no Sudeste, no Sul, principalmente nas cidades mais desenvolvidas, é aquele discurso, né? Ah, filho é muito caro, é melhor ter cachorro, ai é um atraso de vida, tenho que fazer doutorado ainda, talvez mais pra frente, não sei o que, esse pra frente não chega nunca. E essa mudança de mentalidade que enxerga os filhos como um peso vai acabar desaparecendo, né? É a lógica básica, obviamente, né? Uma cultura que prega pr as pessoas não terem mais filhos vai desaparecer, pô. enquanto a cultura que pregam filhos como bênção, vão continuar crescendo. Logo que a gente vai ver nas próximas décadas aí é Takaká no Octuber Fest. Pode acontecer sim, né, de quem vem de fora tentar preservar isso daqui, igual eu tento fazer, né? Eu filmo, eu acho muito bonito tudo isso daqui, eu tento entender, divulgar como as pessoas vivem, tenho muita admiração por tudo, mas não adianta, né? Não tem como ensinar alemão para meus filhos, porque eu não sei alemão. Eu vou tentar passar ali sobre o silêncio, o respeito, a honestidade, tentar deixar os bairros bonitos sobre a importância da beleza, dessa vida em comunidade. Então, o que vai acabar acontecendo é que a cultura vai ir se mesclando mesmo, ela vai ir se adaptando, né? Até na Europa, se você for na Europa hoje, vocês já estão perdendo a cultura lá também. Não é difícil você encontrar uma pessoa aí que mora no Vaticano e não acredita mais em Deus. Eu já vi alemão aqui que nunca foi no October Fest lá na Alemanha, morando na Alemanha. Então lá eles já considera essa cultura antiga como algo ultrapassado, retrógrado, desnecessário manter na cabeça deles. Então aqui no Sul já tem mais cultura alemã, italiana do que em muitos lugares da Europa. Mas mesmo assim, esse pensamento também já chegou aqui. Muitos não querem preserravar mais. Já conversei com catarinensees que fala lá: “Ah, meu avô tem umas ideias muito errada aí, muito ultrapassado. Ele acreditava no bigode lá, meu avô é meio doido, meu pai já não escuta muito meu avô.” Então as pessoas pensam que vão chegar aqui em Santa Catarina e vão encontrar aí vários discípulos do terceiro e na verdade não, né? Os próprios catarinenses acabam colocando ali tudo dentro do mesmo balaio, né? A arquitetura alemã, o idioma, as tradições junto já com o bigodismo e acaba que exclui tudo de uma vez só. Então o próprio povo daqui já tá absorvendo cultura de outros locais. Tanto que se você for em um local aí que tem muitos catarinenses assim nativos mesmos, tudo loirinho de olho azul, você vai ver que a maioria deles ali já tá com o corpo todo coberto de tatuagem. que querendo ou não, tatuagem não é uma cultura alemã ou italiana tradicional, né? Enfim, a decisão de preservar ou não a cultura é uma escolha que tá dentro de cada casa, de cada casal, tá em cada decisão de pais se querem ter filhos ou não, de ensinar ou não o passado. A cidade ela vai continuar crescendo, ela vai precisar de novos trabalhadores, de novos moradores para ocupar essas casas, esses prédios aí que estão sendo construídos. E quando a gente vive em um local que não produz alguma coisa, que que a gente tem que fazer? Tem que importar isso daí. E é o que tá acontecendo, né? A gente tá tendo que importar pessoas de outros estados. E o que vocês pensam, damas e cavaleiros? Que o futuro nos traga não só desenvolvimento econômico e tecnológico, mas também muitos filhos que saibam quem são e de onde vieram. Até a próxima, meus nobres.