LINHAS CRUZADAS | O LADO B DA ESPÉCIE | 17/07/2025
0[Música] [Música] [Música] [Música] Comportamentos incomuns ameaçam códigos sociais estabelecidos. Sempre ameaçou. Na modernidade isso se transformou numa regra quase. A sociedade de mercado abre espaço para novos comportamentos assim que eles são monetizados. Existe autenticidade em um mundo onde tudo é vendável? Olha, essa questão é de 1 milhão de dólares. Pode ser, mas na maior parte dos casos quase tá perdida a autenticidade. Transtornos coletivos contemporâneos, surto, coletivo ou fronteira para o lucro. As duas coisas estão muito próximas uma da outra. [Música] Olá! [Música] De jovens que uivam como lobos a mulheres que embalam suas bonecas realistas. O que nasce como comportamento que foge da norma rapidamente é apropriado pela indústria e se torna produto de consumo. Qu dessas ondas de costumes aí considerados fora do comum, elas refletem o mal-estar? da civilização contemporânea. Olha, isso é uma uma bela tese de doutorado, né? Comportamento fora da caixinha. Eu acho que a gente pode dizer que sim, mas ao mesmo tempo são tantas, o mal-estar tá tão espalhado por tantas variáveis que às vezes até quase dá para dizer que tudo reflete mal-estar contemporâneo. Eu acho que nesses casos mais específicos que a gente vai discutir, acho que tem algum tipo de mal-estar específico ligado à aquele caso, né? Por exemplo, sei lá, se alguém quer brincar que é criança a vida inteira, algo tá se expressando nisso. Um exemplo de comportamento que pode ser considerado como não normativo é a comunidade de Terans, que significa indivíduos que se identificam intimamente com animais, como gatos, lobos, raposas. Vamos ilustrar. [Aplausos] [Música] Pondé, tudo que foge do comum tende a ganhar destaque, seja de forma positiva ou negativa. Sim, né? desde sempre, sei lá, para citar um clichê a pessoas que eram consideradas eh diferentes em, por exemplo, na idade média, eh, podia ser considerado alguém que tava com parte com o demo, certo? você eh tinha até casos, vou citar aqui um caso histórico muito conhecido, quem conhece a área, eh muitas mulheres ah que se eh encantavam com o conhecimento na idade média e que iriam partilhar ou mesmo gerar conhecimento, muitas vezes era considerado um comportamento fora da norma e isso podia levar até tipos de suspeita com relação a ela ser de Deus ou não, certo? Então, sim, sempre pode. Agora, pode também gerar para lados positivos. Quer dizer, uma uma pessoa pode, e ao longo da história isso aconteceu muitas vezes, uma pessoa pode ser uma pessoa de comportamento estranho, inclusive de ah formação física estranha. E muitas dessas pessoas já foram consideradas pessoas iluminadas por deuses ou por Deus, né? Nesse caso do vídeo, eh, tem um tem um momento que um deles faz xixi como cachorro, né? A, a minha curiosidade era saber se de fato ele pode fazer xixi como cachorro na rua, se ele de fato pode fazer xixi daquele jeito, pô o pinto para fora, fazer xixi como cachorro e ficar melado de xixi depois. Entende a minha dúvida? Então assim, algumas das cenas parece que eles estão brincando, como quando aparece duas pessoas, não sei se é um menino e uma menina ou dois meninos, duas meninas que aparecem brincando como se fosse raposa, uma delas mais parecida com a raposa, o outro claramente entrando na vibe, mas não tanto assim. Agora, a uma pessoa que de fato se sente como cachorro e quer viver como cachorro, acho que isso é seguramente fora da norma e deve manifestar algum tipo de estranhamento do ponto de vista da sociedade. Para uns, esse movimento seria uma experiência de autoexpressão, para outros um modo de vida esquisito. O psiquiatra Daniel Martins de Barros responde: “Se o comportamento Teran é uma psicodiversidade ou tem um diagnóstico clínico.” A gente muitas vezes tem a tendência de achar que qualquer comportamento que é fora do padrão, que é estranho, que é anormal, no sentido de não ser a norma, deve ser um transtorno mental, deve ser um problema psiquiátrico. Mas isso, na maioria das vezes, não é verdade. A maioria das pessoas que têm comportamentos que são fora do padrão não são doentes, nem tem um transtorno mental. Esse é o caso do movimento Terans. Aí na maioria das vezes, essas pessoas elas se identificam com animais. Elas não se identificam como animais. É diferente porque a pessoa que se identifica como, ela muda a sua identidade, ela se torna aquilo, né? Os terons eles se identificam com animais e aí gostam de se vestir, às vezes gostam de fingir que estão agindo ali como animais, gostam de se comportar de maneiras e eh eh dependendo do animal que ele se identifica. Às vezes nem é um animal verdadeiro, é um animal mitológico, mas ele adota aquele comportamento num ambiente específico, nos encontros dos ters, nos congressos e etc. E depois voltam pra vida normal. Existem transtornos mentais em que às vezes a pessoa perde o contato com a realidade e aí ela se transforma na cabeça dela num animal e aí ela não usa mais roupa, ela quer ir pro mato, ela realmente perde o controle, ela tem um quadro psicótico de quebra com a realidade, não é o caso dos termos. Então, a fala do psiquiatra é uma fala completamente dentro dos padrões da norma da fala contemporânea, que é inclusive uma tendência a você não eh entender que todo tipo de comportamento que não tá dentro da caixinha, digamos assim, é passível de ser considerado ah um transtorno é não generalizado. Então, assim, eh, há uma tendência cada vez maior de quadros que poderiam ser considerados quadros com transtornos eh deslizar ou se transformar em quadros identitários. Então, são grupos de identidade como esse meninos e meninas aí ou rapazes e moças que de repente ficam brincando vestido de roupa, né? como a gente viu no vídeo, é assim, eu permaneço em dúvida se não existe aquelas pessoas que brincam com isso, né? E como alguém poderia brincar um dia de se vestir de Batman, sair correndo por aí, sei lá, e pessoas que de fato escolhem viver dessa forma. Um caso curioso aconteceu no Japão. O homem chegou a gastar cerca de R$ 75.000 para se transformar em um cachorro da raça Border Colly. A fantasia era hiper realista. Olha, no entanto, Toco, como é conhecido na internet, admitiu que é muito difícil andar como um cachorro, mas o sonho continua e a ideia agora é virar outro animal que possa se assemelhar mais com o humano, tipo um urso. Todo o dinheiro é válido para encontrarmos nosso verdadeiro eu. Essa é boa. Olha, parece mesmo, hein? Vendo assim a imagem. Parece mesmo. Eh, mas ele fala tchau. Muito, muito legal a imagem. Eh, então, se todo dinheiro vale para você encontrar o seu eu, isso podia ser uma máxima do capitalismo. Hoje em dia. Todo o dinheiro do mundo vale para você encontrar o seu verdadeiro eu. Uma afirmação, né, para vender. É, o capitalismo tem uma tendência de transformar o mundo num parque de versões, né? É isso que tá acontecendo para todos os lados, não só nessa discussão. Você tem uma grana, você tem uma obsessão, por que não? Essa é a pergunta. Então eu entendo que cada vez mais é muito interessante porque você tem dois movimentos, né, Andre? tem um movimento de crescimento de quadros de eh com traços clínicos na área da saúde mental por, por exemplo, entre jovens, transtornos de ansiedade, né? toda essa discussão ao redor de telas desde o livro do Jonathan Heide de Oração Ansiosa no ano passado, medicação e ao mesmo tempo a a em paralelo, há uma tendência no mundo contemporâneo que é pegar quadros que alguém podera considerar, mas que que esse cara tá se transformando em cachorro assim e dizer que isso é só um quadro de psicodiversidade. As pessoas se identificam assim, identificam assado e afinal de contas, qual é o problema? Então, esses comportamentos aí que fogem do convencional são prato cheio pro mercado. Mas sem dúvida. Eh, assim, é claro, na medida em que isso pode ser monetizado de fato, né? Na medida que dá dinheiro. Eu não sei até que ponto fantasias de border col dá dinheiro em massa. O cara gastou muito dinheiro, né? Você falou R$ 75.000. O cara gastou muito dinheiro para se transformar nessa fantasia. Mas eu não sei em que medida isso significa um volume grande de pessoas fazendo a mesma coisa. vários R$ 75.000, aí pode virar o mercado, né? Não sei se nesse caso se transforma no mercado de fato. Agora, esse tipo de conteúdo é assistido aí por milhares de pessoas. As redes sociais contribuem com isso? As redes sociais contribuem com tudo, né? Hoje em dia de A Z do mundo. Antes era a imagem do Cristo do na ortodoxia grega era de alfa a ômega. Quer dizer, do começo ao fim ele é o dono do universo. Agora as redes sociais e de alfa ao ômega. é dono de tudo. Então é reproduz porque aí tem gente que vê, gosta da ideia, acha interessante, resolve experimentar, certo? As redes sociais, ela tem uma característica que é uma característica de contágio simbólico. Ela vai produzindo contágios de comportamento, de símbolos, de identidades e ela vai se espalhando e aquilo que pega, engaja, monetiza. A dor, a solidão ou o transtorno são ressignificados pelo marketing. Olha, hoje em dia eu acho que é um dos grandes das grandes frentes do marketing é justamente ressignificar esse tipo de coisa, né? na medida inclusive que ele pode oferecendo produtos e produtos às vezes como identificações. Quer ver um movimento muito famoso chamado romantismo, que traz mal-estar com a modernização. Ele, por exemplo, é super monetizado. Então, eu me sinto mal na cidade, eu sou sozinho porque eu sou muito autêntico, a as as pessoas são muito falsas, eu sinto uma dor. Então, como eu sinto essa dor, essa dor pode ser psíquica relacionada ao meu mal-estar, quer dizer, é aa as dores físicas que monetizam inclusive remédios e todo tipo de tratamento. Então, no mundo que a gente vive, para uma uma fenômeno X existência e alguma relevância, ela isso precisa ser traduzido em dinheiro de alguma forma. E daqui a pouco, homens que estão em busca de sua verdadeira masculinidade, a gente volta já. Voltamos a falar sobre comportamentos da espécie humana que geram não só polêmica, mas também lucro. A antropóloga Mary Douglas escreveu: “O principal problema da vida social é fixar significados de forma que permaneçam estáveis para que haja uma base consensual mínima e uma forma de organizar a vida social. comportamento não convencional pode estar ligado a uma reação ao tédio, a opressão, Pondé, pode. Aliás, aliás, se a gente pensar nos comportamentos revolucionários em geral, pensando nas revoluções russa, a chinesa, francesa ou quaisquer outras, né? Italiana também que unificou a Itália, quer dizer, não é que é puramente assim reação popular e tal, mas eu acho que sim. Tanto é que a a ideia de que você quer transtornar, causar uma ruptura nesses significados estáveis que você citou aí da maior Douglas, né? esses significados estáveis, virar eles de cabeça para baixo, virar o avesso. Você pode fazer isso seguramente quando essa estabilidade significa um uma situação que um grupo ah se reconhece como oprimido, resolve chutar o balde de alguma forma, né? Agora, ah, é claro que, sem dúvida, outro dia eu tava numa roda de amigos e um falou assim: “O bom revolucionário hoje é aquele que se torna governante amanhã. Ou seja, alguém que consegue realizar uma revolução que for de forma bem-sucedida, então ele passará a ser responsável pela sociedade que ele evolucionou. Então, em algum momento, ele será aquele que defenderá certos significados estabilizados, certo? A União Soviética, por exemplo, teve que reprimir profundamente a população para não acontecer nada o contrário do que o regime falava. Então, a ideia de uma revolução permanente, como falava o Trotsk, é uma ideia absolutamente fora da realidade, porque em algum momento o ser humano precisa de estabilização. Um outro exemplo contemporâneo é o crescimento de movimentos de homens que buscam recuperar, como dizem, a sua masculinidade verdadeira. Por trás de falas inflamadas sobre o resgate da masculinidade, existe um nicho pro marketing. É sinal que o mercado tá aberto para transformar em segurança masculina em produto. V, como tudo, né, assim, eh, se você pensar em todo o mercado de livros e de cinema, só para ficar num um registro assim mais evidente, que a revolução russa gerou para além do mercado político, é óbvio, né? E o feminismo também gerou inúmeros produtos, tanto no cinema, quanto na literatura, quanto feira literária, quanto produtos audiovisuais de todos os tipos, quanto treinamento em educação, certo? Políticas públicas. Então esse fenômeno que de certa forma é algo recente, né, da de homens que buscam a masculinidade verdadeira ou acham que a masculinidade tá oprimida e que tem que se fazer alguma coisa, isso poderá ou não vir a se transformar em produto. Alguns sinais disso aparece do ponto de vista de coaching, né? Profissionais de coaching, aparece do ponto de vista de retiros, encontros, viagens, começam a aparecer. Agora resta saber se isso vai conseguir virar num nível como esse, né? Talvez se pega a carona em algum outro tipo de movimento social. O movimento cristão denominado como Legendários, fundado na Guatemala em 2015, vem conquistando milhares de seguidores através de uma experiência nas montanhas. O grupo promete promover a transformação dos homens e os pacotes desses retidos chegam a custar mais de R$ 80.000. Que que leva o homem pleno século XX a pagar para participar de um evento, de uma experiência como essa, Pondé? Ah, o nós, seres humanos no século XX, pagamos um monte de grana para um monte de coisa, né? Às vezes até turismo, um certo tipo de turismo, você olha e vê a pessoa gastou uma super grana para ir para um lugar que ela não consegue comer direito, não consegue sentar direito, fica horas de pé, dorme mal e você diz: “Como que a pessoa gasta esse dinheiro em todo?” Então, os seres humanos estão dispostos a gastar um monte de dinheiro para um monte de coisa que você olha de fora e acha um absurdo. A demanda em si que vai gerar dinheiro, se a pessoa tá pagando, como fala esse povo do mercado corporativo e tal, quando agrega valor de fato e as pessoas começam a pagar, aquilo começa a ter relevância. Em busca do quê? Esse caso aí, né? Esse caso específico, inclusive, vem ao encontro do que eu tava dizendo, que movimentos como esse podem ganhar força se tiverem associados a outros fenômenos sociais, no caso dos legendários, ao fenômeno cristão, evangélico, né, como for, ele ganha mais, ele já tem um nicho que o recebe. Porque os legendários, eles têm um discurso que é o seguinte: devolver os heróis para suas famílias, né? a ideia do homem verdadeiro que é herói, que vai, que cuida da mulher, dos filhos e tal. Então, tem um discurso de produção de retitude, retidão ética, certo? retidão ética, honestidade, cuidador, provedor. Tem um discurso de que isso só acontece quando você tá em contato com a terra, com a escassez, com o sofrimento. E isso daí tá diretamente ligado à experiência do monaquismo, muito antigo em várias religiões do cristianismo desde o começo, ir pro deserto, pra montanha, né? E nesse lugar, eh, depois de passar por, eh, sofrimentos e físicos e todos os tipos, você tem uma experiência estática. Experiência essa que, no caso é sempre interpretada por alguém que tá acima na hierarquia, que vai interpretar o que você está sentindo, tá em contato com Deus, né? E aí isso no caso dos legendários, formando uma verdadeira ordem, né? uma ordem no sentido religioso, mas não exatamente no sentido religioso, porque eles não são uma ordem religiosa católica, mas uma ordem em que ali um não larga a mão do outro, certo? Então você tem esse elemento da ideia de construir uma fraternidade entre homens, inclusive pegando essa matáforra de do feminismo que uma mulher não larga a mão da outra, né? E nesse movimento criar uma espécie assim de proteção em busca do quê? Seguramente é algum tipo de sentimento que muitos homens sentem que estão perdendo o espaço na sociedade, porque as mulheres estão crescendo, estão evoluindo, trabalhando, estudando. Há uma mexida na relação dos papéis sociais, porque quando um mexe, o outro mexe. E muitos homens podem se sentir perdidos com relação a isso. E aí religião sempre foi uma forma de organizar a vida. Isso é um fenômeno religioso vinculado a um coach de masculinidade. Se você vende tudo por aí, porque não pode vender masculinidade? Os caras compram a série espanhola Machos Alfa ilustra com humor a ideia da masculinidade primitiva que estamos discutindo aqui. Homens de meia idade buscando ajuda de coach para recuperar a autoestima. [Música] con un colega pene es vuestro mejor amigo ahí sois un equipo si descuidara vier unos [Música] ósim se você considerar por exemplo a condição de macho alfa, uma condição social estabelecida que a gente sabe que durante muito tempo foi, né, na história da humanidade e tal, inclusive entre animais. Eh, seguramente o macho alfa não é o cara que vai ficar num auditório desse gritando macho alfa. Macho alfa, né? A mesma história de eu sou honesto, eu sou corajoso, né? Agora, para além disso, eh, toda essa discussão que o que é bem ridículo na cena, né? Eu acho ridículo que é se conectar com seus testículos, se você já brincou com o seu pênis, porque a melhor amizade que você tem, não sei o quê, esse discurso de uma certa consciência corporal ou entrar em contato com o corpo, que é um discurso que muitos ah muitas experiências para mulheres em grupos, em workshops falam e já falam há muito tempo. essa ideia de que o corpo fala, entrar em contato com sensações corpóreas. Quando isso foi aplicado a homens dessa cena, você vê o quão ridículo soua. Porque na realidade assim o assado, mesmo o mundo contemporâneo em que você tem mulheres que eh transformaram o seu papel social ao longo do tempo, ainda assim se tem uma expectativa, mesmo que se fale não, o homem tem que ser sensível, mas ainda assim tem uma expectativa de coisas que homens não façam, tipo se conecte com seu testículo. Há uma expectativa de que o homem não vai fazer isso, querer ficar discutindo o seu corpo, seu pênis e ficar gritando macho alfa, macho alfa. Então, continua vendo uma expectativa do que é a figura masculina. O que tá difícil, inclusive porque os homens normalmente não se ocupam com esse tipo de coisa, é descobrir qual é essa expectativa. Exatamente. Agora, esses coachs aí de masculinidade, muitas vezes são criticados por fazer apologia ao machismo. A humanidade tá regredindo aí nessa busca pelo mercado viril. Olha, eu acho que essa questão ela é uma questão grande. Primeiro, eu não tenho certeza que a humanidade avançou em momento nenhum, né? É claro que eu sei que a eu sei, não é fato. Por exemplo, a gente tem avanços tecnológicos. Eu considero a democracia um regime melhor do que os regimes que tinham antes, sem dúvida nenhuma. Mas o que eu quero dizer com o que não acho que a avanço necessário é porque a própria democracia pode produzir sua própria destruição. É isso que eu quero dizer. Então, não acho que há um progresso regiliano acumulativo de avanços. Agora, eh, se a humanidade regride, porque existem coaches, na realidade, muitos desses coaches de masculinidade produzem conteúdo eh agressivo, inclusive contra mulheres, né, como todo mundo sabe, um discurso ah desqualificador, violento, agressivo, é machista nesse sentido que você falou. Então, e então sim, eu acho que eh isso pode ser visto como um tipo de mercado que vende alguma coisa que se imaginou que não ia existir. Esse é o equívoco. O equívoco é achar que certos comportamentos deixariam existir. É um truque de mercado apresentar problemas e depois vender soluções rentáveis. é sempre, é, na realidade e é um faz parte desse pacote de criar problemas para oferecer soluções. Isso é muito comum, né? inclusive num ambiente que não necessariamente tenha dinheiro, mas uma situação, por exemplo, quem gera burocracia, você pode ver dessa forma, quando um governo gera muita burocracia, ele gera burocracia, gera situações que dificultam o processo para depois ele mesmo vender a solução. Isso funciona muito em corrupção também, né? você dificulta o processo para daí cobrar por fora o tipo de serviço que a pessoa tá precisando. Mas do ponto de vista do mercado, sem dúvida nenhuma, porque a o mercado vive do comportamento humano. Mercado que eh mercado que tem a ver com modas de comportamento depende do comportamento humano. Então ele gera comportamentos, gera soluções, as pessoas compram, né? Por exemplo, se você pensar no no na questão do problema da saúde mental, hoje em dia você tem uma série de pessoas com quadros diagnosticados que por sua vez tem tratamentos, tem livros, profissionais da área, entende? Então chega numa hora que você não consegue mais fazer a diferença entre o que é mercado e o que é fato. Por quê? Porque o fato é o mercado. E o boom dos bebês reborn, tudo marketing. Não saia daí. [Música] Estamos de volta explorando porque comportamentos incomuns viralizam e como o mercado rapidamente cria estratégias para capitalizar esse engajamento. Por isso, não podemos deixar de fora a onda bebê Reborn. Esses bonecos ultra realistas tratados como filhos, provocaram nos últimos meses um certo barulho. A sociedade ela tem fugido das relações humanas olho no olho, Pondé. É, isso é uma das é uma das explicações de cara, né? Por que que pessoas mais massivamente mulheres em idade reprodutiva ou portanto que poderiam ter seus bebês? Porque que elas optam por ter um bebê que é um boneco hiperrealista, super realista, e que então por detrás disso estaria uma dificuldade ou a um desejo, um desejo que pode parecer negativo de não ter um filho de verdade, porque um filho de verdade cresce, dá problema, de fato acorda quando você não quer, adoece, né? quer dizer, pode produzir afeto positivo e negativo de uma forma violenta e que isso se estaria replicando numa outra chave, na chave da maternidade, especificamente, um traço da sociedade contemporânea em geral, que é, por exemplo, pessoas eh namorarem com inteligência artificial, né, como no filme Hair ou pessoas de repente fazerem terapia com inteligência artificial, terem amigos, preferirem esse tipo de companhia. ou mesmo pessoas que simplesmente evitam muitos amigos de carne e osso, digamos assim, porque se encher o saco também você desliga o computador ou deixa o bebê de lado, né? É. É. Então, no final do dia, como se fala, os americanos falam, quer dizer, no final do dia, se você se encher o saco, você acaba com a brincadeira. Então, me parece que é uma situação. E o problema quando você tem um outro ser real, quando eu digo real, eu quero dizer um ser humano, no caso real, é que ele pode criar todo tipo de problema. Enquanto que um brinquedo não, né? O brinquedo tá sempre sob controle de alguma forma, como você falou, se encher o saco, desliga da tomada, guarda na gaveta, né? E essa é toda a diferença da vida real. Então, e eu vejo um fenômeno como esse do Reborn, como a a por exemplo uma pessoa que eh entra numa espécie de Matrix, entendeu? numa outra chave, é claro, mas você tá ali numa realidade que não é a realidade, digamos, onde bebês sangram, onde bebês fazem xixi na sua cara, ficam doentes, onde bebês ficam doentes gravíssimamente você pode sofrer muito, né? Agora, eh, é claro que uma pessoa adulta, eh, comprando um bebê desse, mesmo que ela gaste uma super grana, como dizem que custa muito caro por aí, não sei, ela não tá fazendo mal para ninguém, então ela pode muito bem fazer o que ela quer e depois pode vender ainda. Pode vender, é, pode fazer o que ela quer, né? Não tá fazendo mal para ninguém. Alguém pode dizer que ela tá fazendo mal para ela, mas se ela entende, quer dizer, essa é a mentalidade liberal do século XX por excelência. tá fazendo mal, não tá quebrando a lei, então ela pode brincar do jeito que ela quiser. No Brasil, estima-se que o mercado de bonecos Rebor já supera os 50 milhões de reais por ano. Lojas especializadas chegam a faturar 40.000 por mês. Influenciadores monetizam e divulgam a tendência. Falamos com o jornalista Chico Barney e o gerente Diego Ferrante Tadei, que explicam como a viralização foi importante pro crescimento desse setor. Eu sempre achei fascinante esse essa história de Bebê Reborn desde quando começaram a falar muito tempo atrás. Então, era um negócio que eu via que tava rolando alguma comoção social em torno disso. Fiquei curioso. E aí eu fui lá e conhecer, gravar o vídeo, tava pronto para encontrar um monte de gente doida e fiquei muito consternado assim e maravilhado que era todo mundo meio normal assim, era só uma uma galera com um hobby. Não é um culto religioso, tampouco uma convenção de ciência médica, é algo mais profundo. É a tentativa humana de domesticar a ausência. O que diferencia eh o realismo dela são a pintura. Então, os colecionadores acredito que comprem por causa disso, né? É uma arte praticamente toda feita à mão, né? É toda artesanal. Então, desde rostinhos dela, que é um artesão que faz, até a pintura, colocação do cabelo, dos cílios, tudo isso é feito por a mão, é uma produção feita à mão. E acredito que por isso tem bastante gente que faz a coleção, né? É um hobby meio específico, mas, eu coleciono gibi, tá ligado? Então não não tem muita coisa estranha. [Música] Quando eh a criança vem para adquirir a a bebê, ela ela vem para tirar da maternidade, literalmente. Então a gente as nossas meninas elas são vestidas com jaleco, que simulam uma enfermeira de maternidade e aí a gente faz a sair da maternidade. Eu acho que hoje em dia as pessoas na internet t uma leitura muito diagonal da realidade, assim, a as informações elas vêm num num corte, num trecho, a primeira reação a tudo é é sempre com com ódio, né? É sempre com alguma alguma reação muito acachapante assim de são mais malucas, isso é falta de homem, isso é falta de não sei o quê e tal. Eu tenho 27 rebornes. Que isso? Eu sou cegonha e sou colecionador. Eu faço, a senhora faz para vender? Faço para vender e sou colecionadora também. Nós somos uma empresa que já estamos há 7 anos no mercado, né? Já vínhamos vendendo bem, porém agora deu uma aumentada, principalmente para adultos. 90% até então dos nossos clientes eram pra criança, né? compravam para criança e o aumento de de procura por adultos aumentou bastante. As pessoas hoje com a a tecnologia e com as redes sociais, elas conseguem encontrar grupos, né, com interesses afins e e quando is fura a bolha acaba causando essa confusão assim. É curioso. Acho que todo hobby passa por consumo, né, de alguma maneira. E no sistema em que estamos inseridos, isso acaba sendo uma constância na vida de todo mundo, assim, é hobby, é consumo, é é capitalismo, é é nada demais. É só mais um jeito de gastar dinheiro. [Música] Olha, bem interessante. Eh, eh, um, um deles, aquele que foi fazer uma matéria, não o rapaz que tá vendendo na loja, mas numa maternidade VB Reborn, o jornalista, jornalista, né? E ele fala que eh você vai achando que vai encontrar um monte de gente esquisita e no final você encontra um monte de gente normal. Ele também fala que ele coleciona gibi. Porque que as mulheres não podem colecionar bebês? Sem dúvida nenhuma, né? Eu acho que o estranhamento aparece na sociedade quando se acha que a pessoa está ah exercendo uma maternidade de verdade com esse bebê e não com o bebê real. Eu acho que é aí que surge o estranhamento. Se alguém disser que tá brincando com a boneca, eu acho que não geraria esse estreamento, entende? O estreamento aparece, eu acredito, eu nunca vi, né? Foi a primeira vez que eu vi. Inclusive eu acho imagens dos bebês bem esquisitas. Eu acho inclusive um pouco mórbido assim, né? Porque alguns deles parecem são bebês mortos. Muito reais, né? Também é, são muito reais, mas são mortos. Eles por que eles são mortos? Porque eles não, eles são matéria inorgânica, porque não se mexem, porque eles não são vivos, né? Então eu acho a imagem, alguns deles acham que tem uma imagem um pouco assim mórbida, mas assim evidentemente que a pessoa pode brincar com o que ela quiser, né? Vale aqui a gente lembrar da era vitoriana, especialmente no final do século XIX, existia a chamada boneca de luto ou boneca funerária. Essas bonecas normalmente eram deixadas no túmulo de uma criança falecida como símbolo de dor e lembrança. E o mais curioso disso é que as bonecas eram vestidas com roupas e cabelos de verdade da criança, a fim de torná-las o mais real possível. Quer dizer, se hoje tem gente que acha que beber reborna é meio macabro, como senhor falou, e naquela época, então é, então então o que acontece é que e quando eu eu sinto algo de macabro na imagem, porque é o bebê morto, né, não tá vivo, eu na realidade tô reconhecendo que ele é descendente dessas bonecas. Ele é descendente dessas bonecas. E as bonecas são bonecas de túmulos que representam bebês mortos. Entende o que eu tô falando? Quer dizer, eu tô reconhecendo o parentesco do ponto de vista da apreciação estética. Eu tô olhando, achando que o bebê parece um bebê morto, visto que não é bebê real, mas é muito real. Parece um bebezinho, um ser humanozinho pequenininho. E aí quando você traz essa informação do, eu já vi essas imagens e filmes, né, da era vetoriana com bebês desse tipo em túmulos, né? Então assim, ah, eu tô reconhecendo que esteticamente se parece, portanto é uma coincidência, claro, mas portanto é como se tivesse um parentesco entre esses essas bonecas dos cemitérios da era vitoriana e esses bebê reborns de hoje. Entende? Agora, eu acho muito interessante a a clareza do mercado, né? no primeiro entrevistado na loja, no kiosque, num shopping, imagino. É porque tem todos elementos que mimetizam a saída de um hospital, de um bebê, né? Todos os elementos, que é uma coisa que normalmente se associava a meninas, crianças pequenas, né? E é chamado brincar de boneca. E na realidade esse fenômeno é um fenômeno de mulheres adultas brincando de boneca. Mas será que as pessoas acham que esses comportamentos esquisitos são influenciados pelas redes sociais? Se eu acha que essa onda dos bebês rebornes e são influenciadas pelas redes sociais? Sim, eu acredito que as redes sociais, apesar dela aproximar milhares de pessoas ao mesmo tempo, fisicamente ela acaba afastando e isso gera muita carência e também solidão nas pessoas, o que pode ser um grande fator prédisponente para que essas pessoas tenham essa para que tenha atualmente esse surto de bebê reborne. Eu acho que as pessoas não filtram aquilo que é importante para elas, apesar de que as pessoas são influenciadas por qualquer tipo de mídia, não acho que sejam só as redes sociais. As pessoas se envolvem com coisas sem nações, né? Porque tem tanta criança precisando de um pai ou uma mãe, alguma coisa, as pessoas pensam que um boneco é uma criança. Eu acho sem noção. Através das redes sociais, a gente acaba encontrando pessoas com quem a gente se identifica e é por isso que a gente acompanha o conteúdo delas. E essa geração de agora tá muito na leva de se afirmar, de buscar sua própria identidade. Na minha opinião, vai muito da pessoa. Eu mesmo consumo a internet e é uma parada que eu não acho da hora e eu não faço, entendeu? Acho que a onda dos legendários é muito influenciada pelas redes sociais, bem como outros movimentos. Eu acho que a gente tá vivendo um momento no mundo em que existe uma busca muito grande pelo autoconhecimento, pela espiritualidade e tem uma quantidade de conteúdo indo para esse lugar que sim está cada vez mais influenciando as pessoas. É isso aí, né? Quer dizer, ah, todos falaram mais ou menos a mesma coisa, porque é bastante razoável imaginar que comportamentos hoje são disparados pelas redes sociais, porque como elas são mídia capilarizada, onde você tem uma infinidade de emissores o tempo todo, né? Então, assim como novelas no passado influenciavam comportamentos, né, filmes, né, programas de rádio, né, quem imagina o fascismo na primeira metade do século XX na Europa sem rádio, né, onde o discurso do líder fascista chegava na casa de todo mundo, que não dava para todo mundo estar presente naquele lugar ou não podia sair de casa, né? Então, a mídia de fato produz em série comportamentos as redes sociais, como elas são capilarizadas, então elas têm um impacto gigantesco nas pessoas, muito rápido. Isso mesmo, a velocidade da luz muito grande. Então o o não é à toa que o nome é viralizar, né? O nome é muito bom viralizar. E aí você tem coisa de bebê reborn aqui. Tem gente que se que quer que se identifica com o animal lá, tem cara que se veste de Batman. tem o fenômeno legendário. A a a moça que comentou o fenômeno legendário falou de uma coisa que eu acho que é importante mesmo, é que essa busca toda por autoconhecimento que existe aí hoje em dia, então, ah, às vezes parece muito esquisito que homem se lance nesse tipo de coisa, porque normalmente você imagina que o homem tá trabalhando, não tá se lançando nesse tipo de busca, mas eh essa busca de autoconhecimento acho que entra nesse pacote aí, entendeu? E o lado B da espécie evoluiu com a revolução moderna e tecnológica. Vamos falar sobre isso já já. Já voltamos. O mercado percebeu que comportamentos fora do padrão são nichos. Ele vende soluções, estilo de vida, cursos de masculinidade, bonecas e até pertencimento. E a crítica reafirma o que é considerado normal e ainda gera mais curtidas. É só na modernidade ou existiu alguma outra época em que entenderam que o esquisito lucra? Olha, lucrar no sentido específico que a gente usa hoje, ou seja, a multiplicação do capital investido naquilo que pressupõe o sistema econômico como o nosso contemporâneo, sociedade de mercado sistêmico, né, organizado. Eh, acho difícil falar nesse nível, no passado, né? Nesse nível. Agora, quem não lembra ah de filmes, né? Porque isso foi mais, imaginam até talvez metade, comecinho do 20 ou ao longo do 19 da famosa mulher de barba nos circos, né? Eu vi, todo mundo do já viu isso em filme, né? Sobre a época, né? Ou figura de homens que eram apresentados como homens da idade das pedras, né? da era das pedras, da das cavernas. E o ser humano nunca viu em caverna, mas tudo bem. Então assim, eh isso era um esquisito e aquele circo ali, aquela pessoa lucrava num sentido muito pequeno em comparação ao que existe hoje, porque não é hoje é industrial, né? O ser humano tem um problema muito sério. Por isso que eu eu não não não acho que seja evidente a ideia de pessoas que falam que se a inteligência artificial fizer praticamente tudo, a gente vai ser criativo. Eu acho que o mais provável é que a gente mergulhe no tédio, né? Porque nós temos um problema na maior parte do tempo. Se você não tá fazendo alguma coisa, você tem que se divertir. Olha a expressão. Você tem que se divertir desviar da sensação que é nada. Então, então você ia fazer isso num circo, né? Olha, tem um autor chamado Isinga, eh, que escreve um livro Autono da Idade Média, um historiador holandês, famoso livro, em que ele fala como nesse período, então, nos Países Baixos da onde ele vem, ele já é falecido, ah, um auto de fé, que é uma expressão da Espanha, mas acabou se transformando numa expressão comum na Europa, para se discutir fogueiras da Inquisição, que pessoas iam lá como programa, assistir execução, certo? Enforcamento como programa para passar o tempo, para passar o fim de semana, que não tinha fim de semana, entende? Então, acho que existem exemplos no passado de coisas esquisitas ou instância, você olha e diz uma coisa, que era entretenimento, né? É. E o Izinga fala dos autos de fé muito próximo do que a gente chamaria hoje uma experiência de lazer, entendeu? Então tem comportamentos esquisitos, tem a pessoas estranhas ou mesmo situações que você fala: “Mas meu, você vai assistir uma uma inquise, uma fogueira, uma pessoa sendo queimada, você diz: “Mas que diabo é isso?” Não que se cobrasse por isso, até onde eu sei, não se cobrava para você assistir uma inquisição, mas essas coisas em circo se cobrava. Os históicos acreditavam que os bens materiais estão fora do controle, logo o apego se torna uma fonte de sofrimento. Pode-se dizer que o ato de consumir é uma ideologia focada na aquisição contínua de bens? Acho que sim. Se você pensar nos nos mais variados tipos de bens, sim, não só bens de grande valor, como imóveis, joias, terra, né? Acho que sim, porque na realidade a ideia é que você fique consumindo o tempo todo e que você jogue no mercado. E as redes sociais são marketing digital, né? A gente tem sempre que lembrar que redes sociais e marketing digital é basicamente a mesma coisa, né? É o marketing espontâneo digital, né? Então você tem que o tempo inteiro ficar jogando coisa. As redes sociais é quase como se grandes empresas tivessem criado essas ferramentas, jogado pro mundo e diga: “Agora gerem produtos, sabe? gerem produtos, façam o dinheiro circular, que isso vire um nicho de economia, que pessoas inventem coisas e aí é assim que funciona. Então eu acho que pode dizer sim, tem que consumir o tempo todo. Em uma de suas colunas publicada na Folha de São Paulo, João Pereira Coutinho escreveu ironicamente que abriria uma empresa Reborn com serviço personalizado do berço até a cova. Vou ler um trecho. Não podemos excluir o lobing junto ao legislativo para garantir direitos básicos, educação, saúde, habitação, a esses frágeis e inanimados seres que não podem se defender por si sós. É preciso despertar em cada preconceituoso aquela chama de empatia, sem a qual não há progresso verdadeiro. Além da mercantilização, estamos vivendo a era em que o estranho viraliza, a falta de afeto humano monetiza, o espanto vira pauta ideológica e tudo pode acabar no tribunal. total e excelente resumo do processo, né? Acabar no tribunal significa uma nova forma de censura que existe no mundo, que é censura jurídica de todos os lados. E quando eu digo isso, eu não tô me referindo só ao Supremo Tribunal, tô me referindo a qualquer pessoa, pode processar qualquer um, né? Não é só o Supremo Tribunal. E quando você tá falando de censura jurídica, você tá falando disso tudo. É uma espécie de censura líquida. Ao mesmo tempo, sem dúvida nenhuma, falta de afeto gera consumo, gera produto. O que o JP, o João Pereira Cotinho, fala na coluna, quer dizer, ele faz uma ironia e é muito interessante o final quando ele diz que talvez esse processo consiga despertar uma chama de empatia no preconceituoso, né, e entender que no final das contas é só pessoas querendo brincar com bonecas, né? Então, por que ter esse preconceito? E ele até imagina a cova, ele imagina o bebê reborn da idade média que viria com peste bubônica, nesse texto aí que ele escreve, ele tá de fato ironizando para mostrar que pode virar mercado, como pode virar e de fato mal-estar, dificuldade afetiva, é tentativa de pertencimento, como você falou há pouco, a busca de pertencer a alguma coisa, tudo isso vira mercado e inclusive a crítica a isso gera mais buz. que gera mais consumo e vai bater inclusive no mercado de contencioso, onde hoje cada vez mais tudo vai parar. O filme A Garota ideal mostra a relação de um homem solitário com uma boneca realista comprada pela internet. A comunidade, ao invés de rejeitá-lo, decide entrar na fantasia para ajudá-lo a se recuperar de um delírio. Coitada dela tendo que literalmente engoli essa história na minha na cara dela. Ótimo. Mas assim, eu acho que essa cena ela traduz a a o estranhamento que se pode ter diante de uma mulher adulta que queira viver a maternidade com reborn e não brincar com aquilo tudo, né? Porque aqui, ah, você tem um sujeito que aparentemente está apaixonado por uma boneca e que ele tem até a história dela, foi roubada, é meio brasileira, meio dinamarquesa, veio dos trópicos do Brasil e eh e que ele come a comida dela, provavelmente para dizer que depois ela comeu, né, na cabeça dele. E tá absolutamente delirante, né? E eu imagino eh que se uma mulher adulta lida com o bebê como se ele fosse o objeto da maternidade dela de fato, é a eh tá próximo desse estranhamento. Porque existem bonecas de vinil que homens usam para sexo, né? Desde sempre tem toda uma discussão ao redor disso que eu não vou entrar, mas aqui não. Esse sujeito, ele se relaciona com essa com essa menina, entre aspas, como se fosse uma mulher, a namorada dele, né? E evidentemente ela não é uma mulher. Pera aí. Tá bom. Cada um é cada um, mas ela não é uma mulher. Ufa, né? A gente tem que dizer, a Terra não é plana, né? Ela não é uma mulher. A terra não é plana. De vez em quando a gente tem que usar isso como, opa, a terra não é plana. Folgo em saber, hein? É folgo em saber que a Terra não é plana. A gente fica por aqui nessa conversa. Mas na próxima semana tem mais. Obrigada pela sua companhia e até lá. [Música]