MATÉRIA DE CAPA | CRIANÇAS E JOVENS NO MUNDO DIGITAL | 29/06/2025
0você já parou para pensar o que significa crescer com um celular na mão cercado de telas e algoritmos que muitas vezes sabem mais sobre você do que seus próprios pais pesquisas mostram que a conectividade total tem impacto direto na saúde mental Essa busca por estímulos rápidos ativa o circuito da dopamina no cérebro O resultado: ciclos viciantes ansiedade e até problemas na construção da própria identidade Essa é a realidade de uma geração inteira Crianças e jovens que nunca conheceram um mundo sem internet que aprendem a deslizar o dedo na tela antes mesmo de aprender a falar E aí fica a pergunta: como as redes sociais estão moldando a vida e o futuro dessa geração começa agora mais uma edição do matéria de capa Fique com a gente [Música] Eles são conhecidos como a geração que já nasceu com o celular na mão Crianças e adolescentes que cresceram em um mundo onde tudo acontece nas telas onde a vida real e a vida digital se misturam o tempo todo Jovens que passam horas hipnotizados na frente do celular do tablet ou do computador rolando e rolando display sem parar Desde muito pequenos eles aprendem a interagir com o mundo pela tela E isso muda tudo a forma de se comunicar de aprender de se relacionar e até de se enxergar Em artigo publicado na Psychology Today a psicoterapeuta Duigo Balan aponta que para a chamada geração Z estar online não é uma opção sim uma extensão da própria vida Eles se comunicam de forma rápida visual e dinâmica onde as preferências estão em mensagens curtas memes vídeos e linguagem direta pelo fato de crescerem em um momento de globalização digital estão expostos a uma quantidade massiva de informações acessíveis a qualquer hora e momento Essa geração desenvolveu algumas habilidades como rapidez na troca de informações e capacidade de multitarefa No entanto também enfrenta desafios importantes como dificuldade de foco menor tolerância ao tédio ansiedade e uma dependência crescente de validação digital expressa em curtidas visualizações e seguidores [Música] A geração que cresce imersa nas telas vive uma rotina de estímulos constantes São vídeos curtos notificações sons imagens e atualizações que chegam a todo instante [Música] Tudo pensado para capturar e manter sua atenção Isso não é por acaso As próprias plataformas são projetadas para ativar o sistema de recompensa do cérebro funcionando como um ciclo de dependência A neurociência explica Toda vez que você recebe uma curtida uma mensagem ou vê um conteúdo novo seu cérebro libera dopamina o neurotransmissor do prazer É o mesmo mecanismo ativado em vícios como jogo e até substâncias que interferem no comportamento Essa liberação gera uma sensação imediata de recompensa criando um ciclo de busca constante por mais estímulos novidades e tempo online O problema é que quanto mais o cérebro se acostuma com essas pequenas doses de prazer instantâneo mais ele perde a capacidade de lidar com atividades que exigem foco prolongado paciência e até mesmo o tédio É aí que aparecem sintomas como dificuldade de concentração irritabilidade até crises de abstinência quando estão longe das telas Crianças e jovens com o cérebro ainda em desenvolvimento ficam especialmente vulneráveis a esse ciclo Eles crescem condicionados a estímulos rápidos e por isso enfrentam dificuldade em realizar tarefas que exigem maior atenção como ler estudar ou até manter uma conversa longa sem se distrair Sim o que era para ser uma ferramenta de conexão quando usada de forma excessiva se transforma em um fator de risco para a saúde mental [Música] O espelho que antes estava na parede hoje é o próprio celular muitas vezes vem com filtros edições e o mais preocupante distorções Crescer na era digital significa também viver pelo olhar constante das redes e dos próprios padrões irreais que ela reforça Estudos mostram que o uso constante de filtros de beleza e ferramentas de edição alteram a percepção que crianças e adolescentes têm sobre a própria aparência A exposição diária a rostos suavizados sem poros sem linhas com olhos maiores queixo afinado e pele perfeita cria um parâmetro de beleza inalcançável na vida real que impacta diretamente a autoestima Pesquisadores destacam que a geração que cresce nas redes sociais vive uma luta contra a própria imagem surgindo o que eles chamam de disson estética ou seja quando o que se vê no espelho não corresponde ao que se vê nas próprias fotos com filtros Isso gera ansiedade frustração e em casos mais graves pode até desencadear transtornos de imagem Quanto mais tempo rolando feed maior é a comparação Mesmo sabendo que muito daquilo não é real mas o cérebro registra como se fosse [Música] Tudo que aparece na tela do celular pode ter um impacto na vida de quem consome aquele conteúdo Não é diferente quando se trata de crianças ou adolescentes e pode ser até mais intenso Cláudia Dias Prioste é educadora especializada em cybercultura autora do livro Adolescente e a internet laços e embaraços do mundo virtual Ela explica como ficar tanto tempo online afeta a saúde mental dessa geração as crianças né na contemporaneidade estão sendo hiper expostas aos as telas aos dispositivos digitais precocemente né esse tempo e o que o o que o tempo de exposição somado ao que elas estão fazendo na internet na na nesses dispositivos digitais sem supervisão de adulto porque na maior parte do tempo eles estão sozinhos né precocemente Então os adultos eh oferecem esses dispositivos como se fosse uma babá uma espécie de babá né eh isso tem alterado a aquisição da linguagem né o funcionamento cognitivo de um modo geral os sistemas de recompensas É muito fácil para uma criança para um adolescente eh se viciar nesses jogos independente da estrutura familiar ou tudo mais né nos tempos atuais a internet faz parte da vida da educação dos relacionamentos e até da construção da identidade de crianças e adolescentes Mas como garantir que essa conexão seja saudável e segura proteger os jovens no ambiente digital não significa proibir mas sim educar acompanhar e criar ambientes de uso mais conscientes Quando pais escolas e responsáveis se engajam nesse processo os impactos negativos das redes sociais podem ser reduzidos Entre as principais recomendações estão práticas como estabelecer limites claros de tempo de tela conversar abertamente sobre os riscos e desafios das redes orientar sobre privacidade segurança cyber bullying e os efeitos da comparação social Além disso é preciso estimular o desenvolvimento de senso crítico e ajudar os jovens a entenderem que nem tudo que vem nas telas é real O alerta também vem de autoridades de diversos setores Um relatório publicado pelo Departamento de Saúde dos Estados Unidos aponta que o uso excessivo das redes sociais está diretamente ligado ao aumento de ansiedade depressão distúrbios de sono e baixa autoestima entre os adolescentes E o recado é claro Não basta jogar a responsabilidade para as famílias Plataformas e governos também precisam agir criando políticas de proteção mas transparência sobre como os algoritmos funcionam controle de conteúdos prejudiciais e até suporte emocional dentro dos próprios aplicativos O ponto central é que o problema não está na tecnologia em si mas no excesso no uso sem consciência e na falta de acompanhamento Quanto mais os jovens recebem apoio dos adultos ao seu redor maior a chance de construírem uma relação mais saudável segura e equilibrada com o mundo digital [Música] Daqui a pouco Romas redes sociais afetam a percepção sobre a realidade e ainda o chamado detox digital virá febre entre as gerações dele [Música] [Música] As redes sociais foram criadas com a promessa de aproximar pessoas mas na prática muitos pesquisadores já as classificam como redes antisociais [Música] De acordo com o psicanalista Christian Dunker o problema não está apenas nos usuários mas nas próprias redes que utilizam algoritmos programados para prender a atenção a qualquer custo Isso significa priorizar conteúdos polêmicos sensacionalistas ou que provocam fortes reações emocionais como medo raiva ou indignação Aí os espaços digitais cada vez mais marcados por desinformação radicalização e superficialidade nas relações As pessoas ficam mais conectadas às telas mas em compensação mais distantes das interações reais do diálogo e da empatia [Música] Na lógica das redes sociais você não vê o mundo você vê uma versão dele aquele que o algoritmo entende que combina com você Esse fenômeno é conhecido como bolha de informação e acontece quando as plataformas passam a filtrar conteúdos reforçando opiniões preferências e crenças de cada usuário Estudos publicados pela revista científica Communication Theory mostram como os algoritmos personalizados limitam o acesso a informações diversas gerando ambientes digitais onde os usuários só interagem com quem pensa igual O problema fica maior porque isso não é uma coincidência As redes são programadas para isso Elas priorizam conteúdos que confirmam aquilo que o usuário já acredita curte e comenta Quanto mais previsível for o comportamento mais tempo se passa online e mais dados são coletados Esse mecanismo afeta toda a sociedade impactando a política o consumo o entretenimento e até a construção da própria identidade de cada internauta [Música] Por trás de cada curtida vídeo e sugestão existe um sistema invisível moldando sua atenção seus desejos e até sua visão de mundo Esse mecanismo tem nome e se chama algoritmo [Música] Os algoritmos são projetados para explorar o funcionamento do cérebro humano Eles operam ativando gatilhos emocionais manipulando dopamina e recompensas rápidas O objetivo é um só: manter a pessoa presa na tela o máximo de tempo possível As plataformas utilizam técnicas da neurociência da psicologia comportamental e da inteligência artificial Com esses recursos conseguem entender padrões prever reações e assim influenciar escolhas desde o que é consumido até como o usuário pensa Ao mesmo tempo surge outro debate urgente a privacidade De acordo com a maioria dos especialistas além de monitorar interesses e comportamentos os algoritmos processam dados pessoais em larga escala muitas vezes sem que o usuário perceba Por isso legislações como a LGPD a Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil surgem como tentativa de proteger as pessoas impondo limites sobre o que empresas e plataformas podem ou não fazer com essas informações O algoritmo não apenas sugere o que você vê ele molda hábitos opiniões e até emoções [Música] os jovens são hiperestimulados em em alguns aspectos primitivos das pulsões primitivas que é que são né a o voerismo exibicionismo o sadismo Então essas são pulções que nós temos desde a infância e que elas são transformadas por meio da educação das vivências e tudo mais Na internet eles têm essas pulsões estimuladas Então e e claro com diferenças em geral de gênero e tudo mais E essa hiperestimulação ela pode criar fantasias né de de onipotentes fantasias eh em geral fantasias narcisistas onipotentes que podem prejudicar bastante o adolescente na sua relação com o outro com o mundo e consigo mesmo com sua própria autopercepção que antes errar era apenas parte da vida Hoje um deslize pode virar alvo de linchamento digital A cultura do cancelamento transformou as redes sociais em verdadeiros tribunais públicos onde milhões de pessoas se sentem no direito de julgar expor e punir aqueles de quem discordam Nesses tribunais alguns usuários que se consideram proprietários da verdade aplicam penas morais a quem comete falas atitudes ou comportamentos considerados por eles como inaceitáveis As penas podem envolver cancelamento ofensas pessoais e até ameaças de violência Além dos temas políticos a maioria dos casos envolve questões como racismo machismo e homofobia Qualquer erro opinião impopular ou comportamento considerado inadequado pode se transformar em alvo de ataques boicotes e humilhação pública E isso pese especialmente para quem está em formação construindo sua identidade e aprendendo a lidar com erros e acertos Para essa geração que lida desde cedo com algoritmo a busca por aceitação se mistura ao receio constante do erro público Na prática as redes deixam de ser um espaço de conexão e aprendizado e passam a funcionar como uma vitrine onde qualquer deslize pode ter consequências sérias [Música] Se por um lado a vida dos jovens gira em torno do conteúdo infinito das redes por outro cresce um movimento na direção contrária o detox digital uma prática que ganha força justamente entre quem mais passa horas grudado no celular De acordo com o estudo do Instituto Pure Resort Center cerca de 75% dos adolescentes relatam se sentir mais calmos felizes e menos ansiosos quando estão longe do celular e das redes sociais Isso não significa abrir mão da tecnologia mas sim aprender a criar pausas estabelecer limites e recuperar a autonomia sobre o próprio tempo e a mente O movimento já virou tendência especialmente entre jovens que começaram a perceber os impactos da hiperconectividade na saúde mental no sono e até nas relações presenciais É aí que surgem alternativas como aplicativos que bloqueiam redes por um tempo períodos sem redes sociais e até o curioso retorno dos celulares antigos sem internet que garantem apenas chamadas e mensagens de texto Mais do que uma moda viral o detox digital virou uma necessidade para a geração que cresceu online mas começa a entender que equilíbrio faz parte da vida [Música] Daqui a pouco redes sociais não são apenas vilãs e podem ser uma fonte para conexões reais e crescimento pessoal E ainda influenciadores moldam desde o que os jovens consomem até visões sobre autoestima relações identidade [Música] Eles estão sempre nos holofotes ditam tendências comportamentos e muitas vezes até valores Os influenciadores digitais acabaram se tornando figuras centrais na formação de crianças e adolescentes E esse impacto vai muito além de gostosiais Os criadores de conteúdo têm influência direta no comportamento dos mais jovens moldando desde o que consomem até visões sobre autoestima relações e identidade Essa influência quando bem direcionada pode ser positiva oferecendo referências de empatia diversidade e desenvolvimento pessoal Mas existe um lado preocupante Se expostos a conteúdos inadequados os adolescentes podem ser impactados por padrões prejudiciais gastos desenfreados comparações tóxicas e até situações de risco como exploração emocional ou sexual Muitos jovens acabam absorvendo conteúdos que podem comprometer sua saúde mental e autoestima além de normalizar comportamentos impróprios Tudo isso torna essencial o acompanhamento dos pais e responsáveis que precisam orientar os filhos na construção de uma relação mais crítica e consciente com o mundo digital Segundo pesquisa da empresa de consultoria Nilsen o Brasil está entre os países mais engajados no consumo de conteúdo digital Essa influência massiva nas redes não apenas move o mercado mas também impacta diretamente a maneira como uma geração inteira enxerga o mundo e a si mesma As redes sociais também podem ser espaços de apoio pertencimento e bem-estar para muitos jovens apesar dos riscos que existem na internet Pesquisas mostram que quando usadas de forma consciente essas plataformas oferecem benefícios emocionais sociais e até educacionais Para jovens que se sentem deslocados no mundo real a conexão online pode ser um refúgio Grupos de apoio à saúde mental ou causas sociais ajudam a fortalecer vínculos e desenvolver autoestima Segundo a psicóloga norte-americana Angela Peterson no artigo Empoderamento de Jovens pelas redes sociais publicado pela revista Psychology Today ela explica: “Participar de comunidades digitais fortalece o senso de pertencimento ajuda na expressão pessoal e até no desenvolvimento de empatia.” Outro levantamento da psicóloga clínica e professora da Universidade da Pencilvânia Lin Zubernis mostra que comunidades online não são apenas entretenimento são espaços de acolhimento onde os jovens encontram pessoas que compartilham paixões valores e experiências o que contribui para a saúde mental e o bem-estar emocional Ou seja as redes sociais não são só vilãs Elas podem ser sim uma ponte para conexões reais apoio mútuo e crescimento pessoal Tudo depende de como quanto e para que se usam [Música] Num mediado pelas telas é impossível dissociar a vida digital da real A questão central não é mais até que ponto essa geração moldada pelas redes sociais deve ou não estar conectada mas sim como garantir que essa conexão seja saudável segura e equilibrada Para Michael Reach da Harvard Medical School o impacto das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes é proporcional ao modo como esse ambiente é usado Como alerta Reach a tecnologia não é nem boa nem má mas poderosa Seu impacto depende de como a utilizamos Esta edição do Matéria de Capa fica por aqui Nós voltamos na próxima semana nesse mesmo horário Até lá [Música]