MATÉRIA DE CAPA | OCEANOS E A SAÚDE DO PLANETA | 20/07/2025
0[Música] Vitais para a sobrevivência da humanidade, os oceanos estão sob ataque. Lixo plástico, mudanças climáticas, perda de ecossistemas e pesca excessiva. O resultado pode ser visto na destruição dos recifes de coral, nas espécies ameaçadas de extinção e no aumento da temperatura dos mares. Diante desse quadro, a ONU mobilizou o governo, cientistas e empresas com o objetivo de evitar o colapso dos oceanos que garantem a saúde do planeta. Esse foi o objetivo da conferência das Nações Unidas realizada em Nice, na França, onde foram anunciadas medidas visando reverter o quadro atual. e proteger os espaços marinhos para as futuras gerações. Acompanhe com a gente mais esta edição do Matéria de Cabo. [Música] Os cientistas conhecem muito mais sobre a Lua e Marte do que sobre os oceanos, que constituem a maior fronteira desconhecida do planeta. [Música] Enquanto centenas de missões espaciais vasculham o espaço extraterrestre, chegando aos confins do sistema solar, apenas 26% do fundo dos mares foram mapeados, a maior parte em áreas costeiras. Esse percentual é pouco representativo, levando-se em conta que os oceanos cobrem 71% da superfície do planeta. Para se ter uma ideia, a área não mapeada do fundo dos mares equivale a quase o dobro da extensão de todos os continentes somados. Ainda ao contrário da lua, que já foi totalmente mapeada, menos de 1% do solo oceânico já foi explorado com veículos remotamente operados, como já ocorreu com o solo lunar. A tecnologia para operações no fundo do mar ainda precisa avançar muito para permitir a exploração mais detalhada. Por exemplo, não existem trajes de Aquanauta que permitam mergulhar abaixo de 700 m e os que existem até essa profundidade travam os movimentos como se fossem uma armadura medieval. Some-se a isso o fato de que a luz solar penetra somente até 200 m. Após essa profundidade, há uma escuridão total, onde vivem espécies bem pouco conhecidas. [Música] A profundidade média dos oceanos é de 3800 m, mas existem pontos muito mais profundos. Um deles visitado por um cineasta. [Música] Entre os pontos mais profundos nos oceanos, destacam-se a fossa de Porto Rico, no Atlântico, com 8.376 m, a fosta de Java no Índico com 7.290 m e a recordista, a fossa das Marianas, no Pacífico, o ponto mais profundo dos oceanos, com 10.924 m. Em 2012, o cineasta James Cameron, diretor do filme Titanic, realizou uma experiência única a bordo do submersível Dipsy Challenger. Ele desceu a 10.908 m de profundidade nas fossas marianas. A descida durou cerca de 2 horas e Cameron descreveu o local como uma paisagem lunar. O próprio Cameron ajudou a desenhar o Deep Sea Challenger projetado para suportar a violenta pressão da água naquela profundidade. A expedição resultou na produção de um documentário em parceria com a National Geographica. [Música] Os oceanos constituem os maiores reservatórios de biodiversidade do planeta. E mais, toda a vida acima da superfície depende dos mares. E a palavra chave para descrever esse sistema é fitoplâncton. Um conjunto de organismos microscópicos que t capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando nas águas. Essa é a definição clássica para a fitoplâncton, os microseres aquáticos responsáveis por cerca de 50% do oxigênio disponível na Terra. Comparando, a Amazônia produz apenas 9% do oxigênio que garante a vida no planeta. Além dos oceanos, esses organismos também povoam os rios, lagos e córregos e são constituídos por uma enorme diversidade que inclui, entre outros, as algas, bactérias e até os sargaços de dimensões maiores. Além de sua importância como fonte de oxigênio, o fitoplâncton encontra-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos, servindo de alimento para uma infinidade de espécies dos mares e rios. Na tentativa de recuperar o tempo perdido e acelerar o mapeamento dos oceanos, a ONU lançou o projeto CBED 2030. Com a ajuda de institutos de pesquisa e do setor privado, o projeto tem a missão de mapear todo o fundo dos mares até o final desta década. [Música] O custo estimado para a realização do CBED 2030 é de 5 bilhões de dólares, algo em torno de R bilhões de reais. Muito pouco comparando-se, por exemplo, com 7 bilhões 800 milhões de dólares que a NASA vai gastar com uma das próximas missões dela à Lua. A meta principal é contribuir para a sustentabilidade dos oceanos, tendo em vista o papel vital dos mares para a humanidade. A fim de facilitar a execução, o projeto dividiu os oceanos em áreas prioritárias de estudo, que são o Oceano Pacífico, o Ártico e o Pacífico Norte, o Atlântico e o Índico e os Mares ao redor da região sul do planeta. Entre os recursos utilizados incluem-se navios de pesquisa de instituições científicas e satélites dos Estados Unidos e países da Europa Ocidental. [Música] O primeiro acordo alcançado entre os países participantes da conferência da ONU para os Oceanos em Nice trata da proteção dos chamados altos mares. Vamos ver do que se trata. Oficialmente, o tratado é batizado como acordo de proteção à biodiversidade, além da jurisdição nacional ou tratado dos altos mares. Esta é a primeira vez que um grupo de dezenas de países se compromete a zelar pela preservação da biodiversidade marinha em águas internacionais. Essas águas situadas além da jurisdição de qualquer país somam quase 2/3 dos oceanos e quase metade da superfície do planeta. Até agora não havia uma única base legal de alcance internacional destinada à proteção dos ecossistemas dos altos mares. Embora situados em áreas distantes, os altos mares enfrentam duas ameaças potenciais: a pesca excessiva e a mineração em águas profundas. Ambientalistas alertam que sem uma devida proteção legal, os ecossistemas situados em águas internacionais podem sofrer danos irreversíveis. O tratado é visto como essencial para alcançar a meta global denominada 30x 30, que visa proteger pelo menos 30% dos oceanos até 2030. [Música] Daqui a pouco descubra o que é o projeto 89, iniciativa global para a proteção do meio ambiente. Jornalistas de todo o mundo são convidados a participar desse projeto, divulgando informações sobre o aquecimento do planeta. [Música] [Música] Os oceanos não estão à venda, nem podem ser transformados num palco de conflitos. Esses foram apenas alguns alertas feitos na conferência da ONU para os oceanos em Nice, na França. O secretário geral da ONU, Antônio Gutérres, foi o primeiro a advertir os participantes da conferência. Disse que interesses econômicos de grupos poderosos ameaçam transformar os oceanos numa espécie de oeste selvagem, lembrando a ocupação do território norte-americano no século XIX. Guterre se referia especificamente às empresas de mineração que desenvolvem projetos de exploração em águas internacionais e também aos países que não respeitam as normas destinadas a impedir a sobrepesca, que expõe inúmeras espécies ao risco de extinção. Na sequência, foi a vez do presidente francês Emanuel Macron defender um acordo urgente para a proteção dos oceanos e advertiu: “Os oceanos não estão à venda. Eles são essenciais para o futuro da humanidade. [Música] Na conferência da ONU sobre os Oceanos. Realizada em Nice, na França, os países mais ameaçados pela elevação do nível dos mares pediram providências urgentes para garantir sua sobrevivência. [Música] Ilhas Maurício e Maldivas, no Oceano Índico, Micronésia no Pacífico, Beliz na América Central, Austrália e Mauritânia, país localizado na costa ocidental da África. Todos eles enfrentam a mesma ameaça, a elevação do nível dos mares, a acidificação dos oceanos resultante da poluição química, a sobrepesca e a degradação das áreas costeiras. Somados, esses fatores, colocam em risco até mesmo a sobrevivência de seus povos. Por isso, defenderam na conferência da ONU providências urgentes para enfrentar cada uma dessas ameaças. [Música] A maioria da população global ou 89% dela se preocupa com as mudanças climáticas e defende políticas mais rigorosas para combater o aquecimento do planeta. [Música] Com base em pesquisa feita em dezenas de países que apontou aquele percentual, um grupo de ativistas criou o projeto 89, iniciativa que visa envolver governos do mundo inteiro nesta tarefa. A importância do projeto despertou a atenção imediata de jornalistas de dezenas de países interessados em publicar reportagens sobre o tema em jornais, emissoras de rádio e televisão e outras mídias. Mas a iniciativa vai muito além da inclusão de repórteres e editores. Qualquer pessoa com acesso às mídias digitais também pode participar. Para ingressar nesse exército global de combate às mudanças climáticas, basta enviar mensagem para o endereço que aparece nas telas. [Música] Após os vários cortes determinados pelo governo de Donald Trump para o setor de pesquisa, o trabalho de cientistas na Antártica tem sido patrocinado por empresas de viagens turísticas. Durante a estação quente, no continente mais frio do planeta, o Cruzeiro norueguês MS Frid Nanc parte regularmente da Argentina. para sua jornada ao sul, através da turbulenta passagem de Drake até a Península Antártica. O navio transporta aventureiros ricos, ecoturistas, que sonham em viver momentos inesquecíveis e cada vez mais pesquisadores em busca de dados, à medida que o financiamento para pesquisas na Antártica vem sofrendo cortes drásticos pelo governo Trump. Uma das maiores financiadoras de pesquisa científica do mundo até pouco tempo atrás. A Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos tinha um orçamento anual de cerca de 9 bilhões de dólares que bancava a maior parte da pesquisa americana na Antártica. No final de abril, o diretor da fundação renunciou depois que a Casa Branca o instruiu a cortar mais da metade do orçamento e dos funcionários. No entanto, a bordo do MS Frid Jof Nancing e de seu navio irmão, o MS Hold Amunsen, o cientistas contam fonte confiável de financiamento para suas pesquisas. A E ATX Expedition, que opera os dois navios, recebe pesquisadores de instituições como a Universidade da Califórnia e outros centros de pesquisa. A hospedagem e a alimentação são custeadas por meio da compra de passagens de turistas que navegam para a Antártica. A cientista chefe da HX Expedition, Verena Meraldi, explica que não é fácil chegar lá porque não há muitos voos e cada vez menos navios de pesquisa. Os turistas que viajam com a 8x Expedition fazem parte da crescente indústria do ecoturismo, que busca vivenciar a natureza e apoiar a conservação local. O número de visitantes aumentou muito nos últimos 40 anos. Eram cerca de 8.000 por ano na década de 1990. Atualmente são mais de 120.000 todos os anos, segundo dados da Associação Internacional de Operadores Turísticos da Antártica. Até 2035, o mercado de ecoturismo deve movimentar mais de 550 bilhões de dólares anuais. Em sua expedição, no final de março, a Península Antártica, o MS Frid Nancing, reuniu mais de 400 ecoturistas e vários pesquisadores. O barco abrigou cientistas e ecoturistas em ambientes confinados, dando aos pesquisadores a oportunidade de explicar seu trabalho diretamente a um público leigo por meio de sessões interativas no laboratório a bordo. Durante 10 dias, os passageiros assistiram a palestra de pesquisadores residentes, jantaram com eles nos restaurantes do navio e compartilharam seus primeiros passos no vasto deserto polar, que é a Antártica. Dietas ricas em proteínas podem até ser populares, mas não são nada sustentáveis, nem pra saúde, menos ainda pro ambiente. [Música] Muita gente come carne porque diz que foi graças a ela que a raça humana evoluiu. Embora várias dietas recomendem alimentos altamente proteicos, principalmente de origem animal, os efeitos de longo prazo na saúde, na sustentabilidade ambiental acabam sendo ignorados. Pesquisas recentes nos Estados Unidos mostram que comunidades online usam o consumo de carne como uma arma contra movimentos ambientais e progressistas. Nos últimos 20 anos, grupos ligados à indústria da carne a promovem como a proteína ideal para humanos. por meio de parcerias com influenciadores e campanhas de desinformação contra a carne de origem vegetal. Segundo Hann Curing Jones, diretora de estudos de alimentos da Universidade do Oregon, décadas de marketing promovem a proteína como um super alimento e tornaram multibilionária essa indústria. No entanto, o paradoxo é que os norte-americanos não têm deficiência de proteína. De acordo com os centros de controle e prevenção de doenças, eles consomem 20% mais proteína do que precisam, embora a maioria não inclua fibras suficientes em seus cardápios. Como muitos alimentos ricos em proteínas também possuem gorduras saturadas, o consumo excessivo pode levar ao aumento de colesterol e triglicérides. E há um risco maior de doenças cardíacas, problemas renais, distúrbios neurológicos, diabetes e vários tipos de câncer. Dietas ricas em proteínas podem ser úteis para a perda de peso no curto prazo por reduzirem calorias, mas não são saudáveis no longo prazo nem sustentáveis. 1/3 das emissões globais de gases de efeito estufa se deve ao consumo de alimentos. A maior parte devida à carne, principalmente a bovina. A pecuária também é uma das maiores responsáveis pelo desmatamento, degradação dos oceanos, uso da terra e da água doce, poluição e perda de biodiversidade. Para diminuí-las, o mundo precisa comer menos carne, não mais. Para Emy Bentley, professora de nutrição e estudos alimentares na Universidade de Nova York, uma alimentação rica em alimentos de origem animal é um luxo só para ricos. A maioria das pessoas se contenta com uma dieta composta por 70% de grãos, vegetais e frutas e carne, mas em pequenas quantidades e de várias formas. Daqui a pouco, tubarões protegem o meio ambiente. Descoberta surpreende os pesquisadores. E ainda depois de serem dizimadas em várias regiões, as tartarugas voltam a povoar seus habitates. [Música] Há milhões de anos, elas circulam pelos mares. Nos últimos tempos, depois de serem dizimadas em algumas regiões, as tartarugas estão repovoando seus habitates. Existem sete espécies de tartarugas marinhas. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, elas surgiram nos mares há cerca de 145 milhões de anos, ou seja, foram contemporâneas dos dinossauros. Ao longo de milhões de anos, viveram em paz, circulando pelos mares com o seu nado tranquilo, mas no século passado se tornaram alvo de uma intensa caçada, seja para alimento ou para comercialização de seu casco. Mas nos últimos anos, graças aos esforços de ambientalistas, voltaram a se reproduzir em escala suficiente para escapar da ameaça de extinção. O Havaí, o Golfo do México e o Pacífico Sul são algumas das áreas onde elas estão repovoando os habitates. As tartarugas chegam a viajar milhares de quilômetros pelos oceanos em busca de alimentos e as fêmeas sempre voltam ao local onde nasceram para deixar os ovos que vão perpetuar a espécie. [Música] Os tubarões, quem diria, são protetores dos oceanos. Essa descoberta realmente foi uma surpresa para muita gente. Mas afinal, o que eles fazem para proteger o meio ambiente? Ao longo da história, os tubarões sempre foram vistos como terríveis predadores, perigosos inimigos do homem e da maioria das espécies. Descobertas recentes, no entanto, revelam uma outra imagem dos tubarões como guardiões dos oceanos. A primeira contribuição deles está na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, impedindo a superpopulação de certas espécies, por exemplo, aquelas que danificam os recifes de corais. Se algumas delas se multiplicarem demais, consumindo a flória e fauna que compõem os Recifes, acabarão provocando desequilíbrio. Ao se alimentarem de determinadas espécies, os tubarões protegem, ainda que indiretamente a biodiversidade. Outra contribuição importante ocorre quando eles se alimentam dos peixes mais fracos. Isso significa que os mais fortes que conseguem escapar ficarão livres para se reproduzir. A simples presença dos tubarões em meio aos corais já afasta boa parte dos predadores desse ecossistema. Além disso, o fato de que múltiplas espécies possam coexistir reduz o risco de destruição do habitat. [Música] Cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo dependem dos oceanos como meio de vida e alimentação. A pesca garante a sobrevivência daqueles que vivem do comércio ou da industrialização. Para esse enorme contingente populacional, a saúde dos oceanos é vital. Organizações de defesa do meio ambiente trabalham no combate à poluição dos mares e principalmente contra a pesca excessiva. Uma delas, a Fi Chartable Trust, elaborou o que chama de lista da vergonha dos países que não respeitam os limites de pesca ou invadem áreas de preservação. O Japão lidera a lista seguido por China, Estados Unidos e Coreia do Sul. Até mesmo as águas de santuários como galápagos são invadidas por navios de alguns desses países. Matéria de capa fica por aqui. Nós voltamos na próxima semana, nesse mesmo horário. Até lá. [Música] [Música] Yeah.