Mongólia: A Vida Isolada dos Últimos Nômades da Ásia

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[Música] Localizada no coração da Ásia, cercada pela Rússia e pela China, a Mongólia é um país onde a capacidade humana de sobreviver é testada cada dia. O simples dia a dia daqui pode se tornar um dos maiores desafios do planeta. Aqui moram pessoas com estilo de vida completamente diferente e muitas tradições. [Música] Tudo conectado por uma ponte entre passado e presente. Embora seu território seja imenso, a Mongólia possui uma das menores densidades populacionais da Terra. O que é curioso, já que aqui foi o berço de um grande império. O vento incessante gelado das steps carrega um dos períodos mais marcantes da história e que está profundamente ligado ao nome, Gengiscan. No século XI, ele unificou tribos nômades que antes viviam em constantes conflitos e transformou um povo disperso em uma das forças militares mais poderosas da história. Sob seu comando, o império mongol se expandiu a uma velocidade inédita para a época, tornando-se o maior império em extensão territorial contínua já visto. Essa façanha sem precedentes ainda é grandemente admirada pelo povo mongol, que chegou a construir uma estátua colossal em homenagem a seu antigo líder. A fama de Gengjiscã não se explica apenas pela conquista. Apesar de tudo ter acontecido há quase 800 anos, muitos aspectos da cultura que ele ajudou a consolidar continuam vivos entre os mongóis de hoje, especialmente entre os nômades, que ainda percorrem as vastas planícies do país com seus rebanhos, mantendo tradições praticamente inalteradas. Esses nômades representam um elo vivo com o passado. Estima-se que cerca de 1/3 da população no país ainda leve um estilo de vida nômade ou seminomádico. Eles vivem de forma simples, movendo-se conforme as estações do ano e as necessidades dos animais. Em vez de aderirem à modernidade, seguem o fluxo da natureza e mantém o modo de vida baseado na autossuficiência e na adaptação, levando uma vida, por um lado, tranquila, mas igualmente desafiadora. O símbolo mais reconhecível dessa vida é a Ger, também conhecida pelo termo russo yt. Essa estrutura circular é o lar tradicional dos nômades mongóis há séculos. Ela é feita de uma estrutura de madeira leve coberta por feltro grosso, geralmente feito com lã de ovelha e uma capa impermeável branca. O formato redondo oferece resistência aos ventos fortes das steps e permite a circulação uniforme do calor. [Música] A ger é um reflexo da filosofia de vida prática dos mongóis. Tudo deve ser simples, funcional e duradouro. [Música] É uma casa pensada para se mover com o mundo, não para resistir a ele. Montar ou desmontar uma ger leva apenas algumas horas, ou até bem menos que isso, o que é essencial para as famílias que se deslocam várias vezes por ano. [Música] Cada mudança segue um padrão que depende do clima, da pastagem disponível e do ciclo dos animais. Quando o verão chega e os campos se tornam verdes, as famílias se deslocam para pastagens mais altas, com temperaturas beirando os 40º. [Música] Já no inverno, buscam vales mais protegidos contra o vento e o frio, que pode facilmente chegar ao completo oposto, 40 abaixo de zero. Essa variação extrema de temperatura junto com o vento constante torna o dia a dia na Mongólia um dos mais difíceis de se viver. Ausência de árvores nas vastas steps mongóis tem impacto direto no modo de vida nômade. Isso se deve ao clima extremo entre verão e inverno e solo pobre em nutrientes, o que torna um ambiente inóspito para praticamente qualquer planta de grande porte. Essa condição forçou as famílias a depender quase exclusivamente dos animais para sobreviver. Eles criam principalmente ovelhas, cabras e vacas iak. E cada espécie tem um papel importante na vida dos mongóis. As ovelhas fornecem lã e carne, já os iques fornecem leite, carne e couro. Os mongóis aproveitam tudo que os animais oferecem. Até mesmo o leite de égua é transformado em uma bebida fermentada levemente alcoólica. O Airag, símbolo da hospitalidade local. [Música] Agora, algo curioso. Com a escassez de árvores na maior parte das steps, esterco seco é usado como principal fonte de combustível para preparar alimentos, esquentar a casa e até mesmo como isolante térmico nas paredes. Além do mais, possui propriedades curativas devido à abundância de plantas medicinais nas STEPs. Mas dentre todas as formas de sobrevivência, uma é considerada a mais importante. Um antigo provérbio do país diz que um mongol sem cavalo é como um pássaro sem asas. Durante séculos, o cavalo foi o principal meio de transporte, sustento e até instrumento de guerra. A mongólia possui basicamente duas espécies de cavalo. Uma é o raríssimo Tak, o único cavalo genuinamente selvagem do mundo. Nunca foi domesticado. De corpo compacto, pernas curtas e cabeça grande, chegou a desaparecer completamente da natureza na década de 60, devido a caçadas e competição por pastagens. Felizmente, existiam alguns espécimes em um zoológico da Europa que foram usados para reintroduzir os animais em seu habitate. Hoje é uma espécie em recuperação com uma população de cerca de 400 indivíduos na natureza. A outra espécie é o cavalo doméstico mongol. Medindo apenas 1,30 m de altura, foi o responsável pela rápida expansão do império mongol. Pequenos e extremamente ágeis, esses cavalos permitiam que os exércitos percorressem enormes distâncias em tempo recorde e eram mais resistentes do que os outros cavalos. [Música] Um guerreiro mongol levava normalmente de três a cinco cavalos em cada campanha. Assim, enquanto um descansava, os outros eram usados alternadamente, garantindo que o exército pudesse avançar dezenas de quilômetros por dia sem interrupções. [Música] Essa mesma linhagem de cavalos é o pilar da sobrevivência dos povos nômades atualmente, que felizmente utilizam os cavalos apenas para fins pacíficos. Eles são criados livres, sem uso de ferraduras. Devido às vastas steps, esses animais se reproduzem em grande quantidade. Estima-se que existam mais de 3 milhões de cavalos na Mongólia, o que é mais do que o próprio número de habitantes do país. A cultura nômade com esses cavalos se expressa em eventos tradicionais, como nada. Festival Nacional da Mongólia realizado todo o mês de julho. A corrida de cavalos é o centro de tudo. As provas não são como as ocidentais. Aqui os joques são jovens, tendo entre 5 e 13 anos de idade, e as corridas podem se estender por até 30 km através das planícies. Os jovens mongóis são treinados desde cedo, desenvolvendo várias habilidades, inclusive o domínio sobre as águias, que tem até mesmo seu próprio evento. O Festival da Águia que ocorre na região ocidental. Nesse festival, caçadores montados em cavalos exibem suas habilidades com a águia dourada. Uma tradição de caça que vem sendo passada de pai para filho há séculos. Alguns treinadores vem de muito longe com suas águias empoleiradas em seus braços. [Música] As aves são treinadas desde jovens para capturar presas, como raposas e lebres, em pleno voo. E após atingirem o período reprodutivo, são devolvidas à natureza. Como em todo bom festival, há muita comida e boa música, que por sinal possui um estilo único e é símbolo do país. Sempre tocada pelo instrumento nacional da Mongólia, o Mourincur, uma espécie de violino com apenas duas cordas. O que chama atenção não é apenas o instrumento, sim a maneira como ele é tocado e cantado. [Música] O músico não apenas manipula o arco, ele também vocaliza de forma simultânea, utilizando um estilo conhecido como uma técnica vocal tradicional da Mongólia. Acredita-se que essa técnica foi desenvolvida por pastores nômades que passavam muito tempo sozinhos cuidando dos animais nas vastas steps, que são praticamente sem fim e que subitamente se torn uma das regiões mais áridas da Ásia, o deserto de Gobe. [Música] Embora o Gob possua donas de areia, em sua maior parte é um deserto de cascalho e pedras, com ares de montanhas e oases escondidos. [Música] Mesmo aqui é possível encontrar muitas formas de vida, especialmente o camelo bacteriano. Um animal que o povo mongol aprendeu a domesticar e é muito usado no país. [Música] Foi nesse deserto que foram encontrados os primeiros ovos de dinossauro da história, o que finalmente revelou a forma como esses animais nasciam. E também foi aqui que o famoso Velociraptor foi descoberto em 1924. Além de ser um vasto sítio arqueológico, o deserto de Gob ainda oferece paisagens deslumbrantes. [Música] [Música] Se no sul a paisagem é desértica, no norte tudo muda completamente. A paisagem ganha florestas de coníferas, lagos e cadeias montanhosas. A região é fria e úmida e parte dela pertence à floresta boreal siberiana. Aqui vivem os Duca, um dos últimos povos criadores de renas do mundo. [Música] Esses animais são literalmente a única fonte de sobrevivência do povo, de onde tiram leite, carne e vestuário. Alguns são criados exclusivamente para o abate, já outros são considerados companheiros e cada família conhece individualmente cada um deles. Migrando para o oeste, encontramos as montanhas Altai. É uma região isolada e habitada por minorias como os casaques, treinadores de águias. Nas encostas dessas montanhas vivem nômades e caçadores que convivem com a típica região montanhosa. O isolamento é tamanho que muitas aldeias ficam inacessíveis durante boa parte do inverno. [Música] Embora existam muitos nômades por toda a Mongólia, quase metade da população do país inteiro vive na capital, o lã. Localizada em uma planície cercada por montanhas, a cidade é o centro do país. De um lado, a arranha céus e construções modernas. Do outro, extensos bairros de Gers, onde famílias vindas do interior tentam se adaptar à vida urbana sem abandonar completamente suas tradições. O aquecimento é um desafio constante. Os invernos rigorosos levam muitos moradores a queimar carvão e madeira o tempo todo, o que provoca altos níveis de poluição atmosférica. Isso tornou o Lambatar a capital mais poluída do mundo. As cidades menores, quase todas com menos de 30.000 habitantes, são as capitais das províncias. Praticamente não existem prédios e todas as casas são construídas seguindo quase o mesmo padrão arquitetônico. O povo mongol gosta de usar cores vibrantes em suas casas, o que deixa tudo ainda mais bonito. Algumas cidades menores possuem centros comunitários em geres enormes, refletindo a herança ancestral. A Mongólia é um símbolo de autonomia e a adaptação. Mesmo com o avanço das cidades, a cultura nômade segue como um alicerce da identidade nacional. O modo como os mongóis lidam com o ambiente, respeitando os ciclos da natureza e aproveitando apenas o necessário, é um exemplo de equilíbrio entre tradição e sobrevivência. Enquanto muitos países lutam para preservar traços de seu passado diante da globalização, a Mongólia parece ter encontrado uma maneira de manter os dois mundos coexistindo. No mesmo território onde um dia partiu o exército mais temido da Terra. Hoje há crianças cavalgando livres pelas steps, famílias desmontando suas Gers com tranquilidade e festivais que celebram a herança de um povo que aprendeu a viver com o vento e não contra ele. Gostou desse vídeo? Então, deixe seu like, se inscreva no canal, se torne um membro apoiador e recomende esse vídeo para aquela pessoa que você sabe que ama conhecer nosso mundo único. Co?

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