NEPAL EM CHAMAS: ENTENDA A ONDA DE PROTESTOS NO PAÍS
2Esse painho aqui é o Nepal, um pequeno país da Ásia meridional, do tamanho do Acre, que fica bem no meio de dois gigantes asiáticos. De um lado, faz fronteira com a Índia, do outro, com a região autônoma do Tibete, que pertence à China. Um país que não se destaca no cenário global, a não ser pelo formato único de sua bandeira triangular, muito diferente de todas as outras. Talvez você conheça esse país pela cordileira do Himalaia, a mais alta cadeia montanhosa do mundo. Oito das 10 maiores montanhas que conhecemos estão no Nepal, incluindo o famoso Monte Evereste. Por causa dos morros e precipícios, o Nepal abriga o aeroporto mais perigoso do mundo, com uma pista extremamente curta e inclinada. Foi lá que Buda nasceu. No entanto, apesar da curiosidade histórica, 80% do país é hindu. Matar uma vaca em solo nepalês pode resultar em cadeia. Isso porque o animal é considerado a encarnação de uma deusa do hinduísmo. Só que além de animais sagrados, picos montanhosos e bandeiras não convencionais, o Nepal foi palco de um grande acontecimento recente que catapultou o país para os assuntos mundiais. Vídeos mostrando uma enorme revolta popular contra o governo local começaram a ser postados em redes sociais. Jovens com bandeiras piratas do anime One Piece, enfrentando a polícia com pedras, paus e critos por liberdade. Prédios do governo em chamas, políticos agredidos nas ruas, outros fugindo de helicóptero para não serem pegos por manifestantes e o primeiro ministro do país renunciando ao cargo. Mas como tudo isso começou e qual é a relação entre essa revolta no Nepal e a luta internacional pela liberdade de expressão? Venha com a Brasil paralelo entender como esse país tão pequeno ganhou os holofotes do mundo inteiro. [Música] A juventude nepalesa vinha demonstrando insatisfação com o estilo de vida dos políticos comunistas que governam o país e de seus familiares. Enquanto o Nepal mergulhava em pobreza e corrupção, diversas autoridades e seus filhos esbanjavam rotinas luxuosas nas redes. O stopim dos protestos foi a decisão do governo de bloquear 26 plataformas de mídias sociais, como o Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e X. A justificativa foi que essas empresas não haviam se registrado e, por isso, não estavam submetidas à supervisão estatal para conter os discursos de ódio e as fake news. A intenção do governo era regulamentar as redes sociais para que elas fossem gerenciadas, responsabilizadas e prestassem contas ao estado nepalês. Além disso, as plataformas deveriam manter escritórios físicos ou pontos de contato no país para continuar operando. A medida foi vista por ativistas como uma forma de silenciar o crescente movimento anticorrupção online. Sem acesso às redes e sentindo sua liberdade serce seada, a população começou a protestar num primeiro momento pacificamente. Atos foram organizados por jovens da chamada geração Z, nome popular dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2009, que atualmente tem entre. A bandeira pirata do Anime One Piece se tornou um símbolo entre os jovens neste movimento antigo sendo vista com frequência nas ruas. O ânime conta as aventuras do pirata Luffy e sua equipe, enquanto lutam contra governos corruptos e desafiam o controle autoritário. A Associação da Bandeira com Liberdade, Rebelião e Resistência repercutiu profundamente entre os jovens, que vem em sua luta refletida nas batalhas do pirata do desenho contra os governantes injustos. Os atos se multiplicaram e foram parar na frente do Parlamento nepalês. A polícia interveio fortemente, dispersando manifestantes que tentavam forçar a entrada no prédio. Uma tragédia aconteceu. A ação policial deixou 19 mortos e mais de 400 feridos. Segundo a agência de notícias Ritas, o governo precisou voltar atrás na decisão e reativou as plataformas digitais no país, mas era tarde demais. Ao contrário do esperado pelas autoridades, os atos não cessaram. A indignação com as mortes manteve as ruas cheias e a violência escalou. “Ponam os assassinos do governo. Parem de matar crianças!” Gritavam manifestantes em frente ao parlamento. Toques de recolher foram impostos, escolas foram fechadas, mas novas marchas ignoraram as restrições do governo. O então primeiro-ministro Kadgapad Sharma Olli prometeu realizar uma comissão para investigar a reação violenta da polícia, além de indenizar as famílias dos mortos e oferecer tratamento médico aos feridos. Em meio à enorme pressão, ministros foram demitidos, mas nada disso parecia conter a multidão indignada. O líder do Nepal se isolava ainda mais em seu governo, que a essa altura parecia frágil como um castelo de cartas. No dia seguinte, os manifestantes atacaram uma série de prédios públicos e residências de autoridades. Incendiaram o parlamento, a Suprema Corte e o complexo governamental de Xinga Durar. O prédio do Cantipua Media Group, maior grupo de mídia do Nepal, amanheceu em chamas. Seus sites ficaram fora do ar. As cenas das chamas consumindo casas inteiras de políticos e as diversas instituições do governo repercutiram nas redes e nos principais canais de TV do mundo. Uma bandeira comunista localizada na sede do partido foi arrancada de seu mastro enquanto a multidão nas ruas comemorava. Casas de figuras públicas foram atingidas e seus pertences queimados. Entre os alvos estava a residência do primeiro ministro, do presidente, do ministro do interior e da ministra de negócios estrangeiros, que teve sua casa invadida e foi capturada pela multidão. O ministro de finanças foi perseguido por manifestantes e atacado na rua. Posteriormente foi lançado em um rio, segundo vídeos que circulam em redes sociais. Um dos momentos de maior revolta e tensão na capital Catmandu foi quando manifestantes prenderam a esposa do ex-preiro ministro na sua residência e depois incendiaram o local. Ela foi queimada viva dentro da própria casa. Resgatada e levada ao hospital com queimaduras graves, acabou não resistindo aos ferimentos e faleceu. O aeroporto de Catmandu chegou a ser fechado. Helicópteros do exército transportaram autoridades políticas que tentavam escapar da ira dos manifestantes para locais mais seguros. Encurralado, o primeiro ministro do Nepal renunciou em meio ao caos dos protestos. Nesse cenário, os olhos do país se viraram para Balendra Chá. O rapper e engenheiro de 35 anos é o atual prefeito de Catmandu. Campanhas online defendem que ele é o cotado para ser o próximo primeiro ministro do país. Para muitos jovens, Shaw é a figura que melhor representa a ruptura com uma política marcada por dinastias e corrupção. Se estiver gostando do vídeo, deixe um like. Isso sinaliza para nós que você assistiu até aqui e que podemos seguir produzindo mais conteúdos neste formato. [Música] Apesar de sua política ser dominada há décadas por partidos que defendem o comunismo, o sistema político é multipartidário e o mercado segue funcionando em moldes capitalistas. Grande parte da economia nipalesa depende de remessas enviadas por trabalhadores no exterior. Desde as eleições de 2008, quando a monarquia foi abolida, partidos marxistas, maoístas e socialistas têm maioria no parlamento e no executivo. Atualmente, o país é governado por uma coalisão de partidos de esquerda. O comunismo chegou ao Nepal no final da década de 1940, inspirado sobretudo pela revolução chinesa. Em 1949 foi fundado o primeiro Partido Comunista do Nepal sob a liderança de Pushpal Shresta, que traduziu o manifesto comunista para o idioma local. Entre 1996 e 2006, o Nepal vivenciou uma guerra causada pelos comunistas. O conflito resultou em mais de 13.000 mortos. O movimento maoísta mobilizou camponeses contra a monarquia e chegou a controlar várias áreas. Pouco depois, a monarquia foi abolida por plebiscito e o país se transformou em uma república. Comunistas entraram na política institucional e venceram as eleições de 2008, dividindo o poder com outros partidos de esquerda. Desde então, a esquerda nepalesa segue fragmentada. Há várias siglas de esquerda disputando poder. Hoje o Nepal mantém uma democracia parlamentar instável, marcada por trocas constantes de governo. O futuro do país é incerto. A população e especialmente os jovens se mostra cada vez mais frustrada com a corrupção, o desemprego e as tentativas de restringir liberdades. O movimento se encaixa em uma série de eventos recentes na região. Os governantes de Bangladesh e do Sri Lanka também foram derrubados por manifestações semelhantes. Mas a história nos ensina que nem sempre o grito das ruas abre caminho para a liberdade plena. A primavera árabe, que começou em 2010 com jovens exigindo democracia no Oriente Médio e no norte da África, mostrou como uma revolta pode derrubar regimes, mas também abrir espaço para a instabilidade e a ascensão de novos regimes autoritários. O mesmo ocorreu em protestos de Hong Kong, na Venezuela e em outros pontos do mundo, onde a esperança inicial foi seguida por dura repressão ou retrocessos. O Nepal entra em uma delicada fase de transição. Os protestos que derrubaram o primeiro ministro devem causar mudanças no cenário político nacional, mas ainda é sido para entender os impactos. [Música]







