Novo oceano está se formando na África – O que está acontecendo?
0Já ouvimos falar muita coisa sobre a África. Normalmente assuntos relacionados aos animais que vivem em suas savanas, turismo de safares ou sobre o maior deserto do mundo, Sahara. Conflitos devido a diamantes, acidentes com minas explosivas, guerras civis, governos ditadores, enfim, um continente repleto de países com muitos problemas, mas que sempre esteve nos noticiários. Ultimamente, pouco ou nada disso mudou. Aliás, até piorou. Parece que a cada período parte da África e isso significa vários países estão literalmente sendo sacudida, expelida e rasgada. Em outras palavras, o grande continente africano está se partindo em dois. E isso não tem nada a ver com ações humanas. Vamos saber agora o que realmente está acontecendo por lá. Que bom estarmos juntos mais uma vez. Espero que esteja tudo bem com você. Para entendermos melhor o que está acontecendo na África, é bom sabermos um pouco mais sobre a história da Terra e de suas placas tectônicas. E para isso, faremos uma viagem de volta no tempo, milhões e até bilhões de anos atrás. Estamos nos primórdios do planeta Terra, uma esfera de rocha fundida que gradualmente começou a esfriar. A superfície endureceu, formando a sua primeira crosta. Imagine a casca do ovo, respeitando as proporções. Assim era a Terra no início, um ovo com uma fina casca recém formada. Porém, diferente da casca do ovo, essa crosta nova não era estática. Ela flutuava sobre um manto de rocha semisólida e quente. Essa é a essência da tectônica de placas, o motor por trás de toda a história continental. Mas como essa crosta começou a se mover? Pense na Terra como uma enorme panela de água fervente. O calor do centro do planeta cria correntes de convexão no manto, empurrando e puxando os pedaços da crosta. Esses pedaços são as placas tectônicas. Em outras palavras, elas são grandes fragmentos da litosfera, a camada rochosa mais externa da Terra, que se movem sobre a aosfera, uma camada mais fluida do manto terrestre. Esse movimento é impulsionado por correntes convectivas de magma que ocorrem devido ao calor interno da Terra. A teoria da tectônica de placas explica como elas interagem, causando fenômenos geológicos como terremotos, vulcanismo e a formação de montanhas. No início, os continentes não eram como nós conhecemos hoje, eram massas de terra menores que se chocavam, se uniam e se separavam repetidas vezes. Agora cá entre nós, você já imaginou a força necessária para mover montanhas inteiras? Essa é a mesma força que age impulsionando as placas. Ao longo de centenas de milhões de anos, esses blocos continentais se agrupam em supercontinentes e houve vários deles em todo esse tempo. Mas o mais famoso e bem estudado é a pangeia, que se formou a cerca de 335 milhões de anos. A pangeia era uma massa de terra gigantesca que incluía quase toda a terra seca do planeta. E o que havia ao redor da Pangeia? O único e vasto oceano denominado pantalassa. Sim, imaginar esse mundo dessa maneira não é tão difícil, afinal, basta juntarmos os continentes todos num só e, de resto, imaginar uma infinidade de água marinha. No entanto, fica mais difícil você se imaginar caminhando entre Brasil e Índia sem ver um único pedaço de mar. E a pangjeéia, como outra coisa qualquer nesse planeta, não duraria para sempre. A pangéia não foi diferente dos seus antecessores. Sob o seu peso e a contínua força das correntes de convexção, ela começou a se fragmentar. Esse processo chamado de rifting é quando a crosta se estica, racha e eventualmente se separa. Primeiro, o antigo continente se dividiu em dois outros grandes chamados de Laurásia ao Norte, que daria origem à América do Norte, Europa e Ásia, e Gonduana, ao sul, que formaria a América do Sul, África, Antártica, Austrália e Índia. Você já observou como as costas da América do Sul e da África parecem um quebra-cabeça perfeito? Isso não é coincidência, é evidência clara de que um dia elas estiveram unidas. Com o tempo, Lauráia e Gonduana também se fragmentaram, dando origem aos continentes como conhecemos hoje. Esses movimentos lentos nunca pararam. Hoje a superfície da Terra é como um grande mosaico composto por cerca de 15 grandes placas tectônicas e dezenas de placas menores. Elas se movem diferentes direções e velocidades, em média de poucos centímetros por ano, praticamente a mesma velocidade com que as nossas unhas crescem. Esses movimentos não são aleatórios e dão origem a uma série de fenômenos geológicos, por exemplo, as chamadas zonas de divergência, que é onde as placas se afastam, como na dorsal mesoatlântica, dando origem a novos assoalhos oceânicos e, por vezes, atividade vulcânica. É nesse tipo de ambiente que a junção tripla de AFAR na África está operando e nos leva a questionar: será que a África será dividida em duas partes? Daqui a pouco voltaremos a falar sobre essa junção de AFAR e você mesmo vai poder responder a essa pergunta. Há também as zonas de convergência onde as placas se chocam. Dependendo do tipo de crosta oceânica ou continental, isso pode resultar em dois fenômenos. Um é a subducção, que é quando uma placa mergulha sob a outra, formando fossas oceânicas profundas e, em muitos casos, cadeias de vulcões e montanhas. Os andes, por exemplo, são resultado de uma série de fortes subducções que aconteceram ao longo de centenas de milhões de anos, quando a Terra ainda estava em pleno crescimento, por assim dizer. Agora, já pensou na energia liberada quando uma placa inteira é forçada para baixo? O outro fenômeno ocorrido numa zona de convergência é a colisão continental. Pode ter certeza, é uma das colisões mais absurdas e fortes da Terra, uma vez que se refere ao choque entre duas placas continentais inteiras, dois continentes se encontrando, formando lugares incríveis, como o caso do Himalaia. Sim, aquelas montanhas todas surgiram da colisão entre o continente indoustraliano com as placas tectônicas asiáticas. Há muitos milhões de anos após a Índia se projetar para o norte e atingir a Ásia. Além das zonas de divergência e convergência, há também a de transformação, que é onde as placas deslizam lateralmente em relação às outras, causando terremotos intensos, como na falha de Sant Andreas, na Califórnia, e no Vale do Rift, na África, também chamado de grande Vale da Fena. Aliás, por falar na África, o que está acontecendo naquele continente que o fará se transformar em dois e ainda por cima, gerar um grande oceano entre o antigo e o novo pedaço da Terra? É o que eu vou te explicar agora. Lembra-se que eu falei da junção tripla de Afá agora a pouco? Pois é, essa junção, na verdade é um ponto geográfico sob a Etiópia, onde tem três placas tectônicas, a Arábica, a Danúbia e a Somali. Ali elas se encontram naquela região. A intensa dinâmica geológica está resultando na depressão de AFAR, uma área pontuada por alta atividade vulcânica, indicando que a crosta terrestre está passando por um processo gradual de ruptura. Em suma, os geólogos afirmam que essas placas estão se afastando lentamente, o que pode levar a divisão do continente em dois daqui a milhões de anos. Essa é uma das zonas de divergência da qual também falei. Um fenômeno natural e que pode resultar em novos leitos oceânicos, além de atividades vulcânicas. No caso de Afá, há ainda a possibilidade da África gerar um filho, por assim dizer. Novas imagens revelam a extensão de um fenômeno geológico que está silenciosamente redefinindo o mapa da África. partes do continente estão fisicamente se separando. Não se trata de especulação. Cientistas confirmam que a África está em processo de divisão, um fenômeno que eventualmente levará à formação de um novo oceano e ao surgimento de uma nova massa de terra. Bem, não é um evento repentino como um terremoto que vem, devasta tudo na superfície, mas sim um movimento feito com maestria da natureza, quase imperceptível em nossa escala de tempo, cujos sinais já estão à vista. Em alguns milhões de anos, isso culminará na formação de um novo oceano e no surgimento de um continente inédito. Esse processo, embora se desenrole ao longo de milhões de anos, já tem implicações claras, ele vai se fragmentar nas regiões da Somália, do Kênia, da Etiópia e da Tanzânia, do restante do continente. As fotografias aéreas e os dados sísmicos não deixam dúvidas sobre a profundidade da rachadura que se forma lenta e gradualmente. Uma transformação geológica tão grande certamente trará consequências sérias que vão causar bastante impacto. A reconfiguração da paisagem terrestre alterará fundamentalmente o ambiente. Comunidades nessas regiões costeiras emergentes enfrentarão desafios sem precedentes. Alguns deles são até previsíveis, segundo os cientistas. Primeiro que, sem dúvida alguma, haverá impactos climáticos drásticos. A formação de um novo oceano e a alteração das correntes marítimas podem levar a mudanças imprevisíveis nos padrões climáticos globais e regionais. Será necessário promover o deslocamento de grandes populações. Comunidades costeiras precisarão ser redefinidas. Haverá necessidade de realocação em grande escala, impactando milhões de vidas. Os ecossistemas terrestres e marinhos serão irremediavelmente alterados, resultando na perda da biodiversidade e na modificação de habitates cruciais para a vida selvagem. Pede-se por um lado, ganha-se por outro, uma vez que, na redefinição, até mesmo outras espécies endêmicas poderão surgir com o tempo. Eventualmente as nações do futuro, seja lá como elas estarão ou quais alianças existirão, deverão enfrentar conflitos pelas novas linhas costeiras e pelos recursos naturais que surgirão a partir dessa separação. Apesar da escala de tempo geológica, as sementes dessa catástrofe lenta já estão lançadas. A questão não é se a África irá se dividir, mas sim as profundas e irreversíveis transformações que esse evento trará para o planeta e, mais especificamente, para as comunidades afetadas. Para compreender a extensão do que está ocorrendo no continente africano, é fundamental analisarmos o processo geológico contido na questão, o rifteo. Esse fenômeno ocorre quando uma única placa tectônica se fragmenta em duas ou mais placas distintas separadas por limites de placas divergentes. A história do rifteamento na Terra remonta há milhões de anos. Um exemplo clássico desse processo pode ser observado na separação da América do Sul da África, ocorrida há pelo menos 138 milhões de anos. A conformidade é entre a costa oeste africana e a costa leste sul-americana, ou seja, África e Brasil já estiveram unidos formando o supercontinente Gonduana. Mais recentemente, nos últimos 30 milhões de anos, a placa arábica tem se afastado progressivamente da África, um movimento que resultou na formação de estruturas geológicas significativas, como o Mar Vermelho e o Golfo de Aden. Um dos eventos mais notáveis do rifteamento foi o aparecimento, não imediato, mas gradual de uma fenda de 56 km no deserto da Etiópia em 2005. Essa fenda é uma das maiores do mundo e se aprofunda por milhares de quilômetros, atravessando diversos países africanos, incluindo Etiópia, Kênia, República Democrática do Congo, Uganda, Ruanda, Burundi, Zâmbia, Tanzânia, Malaí e Moçambique. sísmicos confirmam que a formação dessa fenda é impulsionada por processos tectônicos semelhantes aos que ocorrem no fundo dos oceanos, onde novas crostras são geradas. A fenda Etíope foi identificada na fronteira de três placas tectônicas, a africana Núbia, a africana Somali e a Arábica, que já apresentavam movimentos de separação. Apesar de ser um processo geológico contínuo, a potencial divisão da África ganhou o destaque global em 2018, impulsionada pela formação de uma grande fenda no Vale do Rift, no Kenia. Esse evento visível trouxe a dinâmica das placas tectônicas para o centro das atenções. Isso mostra que ou a Terra ainda está em processo de formação, mesmo que um tanto mais lento que no passado, ou pode ser um eco do que ocorreu há milhões de anos, ou ainda tais processos são inerentes à sua própria biologia, como é o mais correto a se pensar atualmente, levando em consideração os vulcões e os terremotos praticamente frequentes. Contudo, é crucial que se entenda a separação completa do continente como não iminente, mas muitos espetáculos naturais deverão ser presenciados por várias gerações até que isso aconteça e o novo oceano tenha início. Isso porque durante todo o processo e a cada nova etapa vencida, novas paisagens estarão sendo formadas ou modificadas, deixando uma dúvida para as futuras gerações. Como isso aqui deveria ser num passado distante. E quando olharem para os mapas de hoje, terão uma confirmação de que a Terra é viva e mutante.