O Aterrorizante Apocalipse das Estrelas | O CAIR DA NOITE de ISAAC ASIMOV
0Em pouco menos de 4 horas, a civilização, como conhecemos, vai chegar ao fim. No Observatório da Universidade de Saro, o diretor Aton 77 e seus colegas astrônomos se preparavam para um momento decisivo, a chegada de um fenômeno que traria consigo um apocalipse. Lá estava também Theremon 762, um repórter que questionava aquela afirmação dos cientistas. E se as 4 horas se passassem e nada acontecesse depois de tanto alarmar a população, os cientistas certamente virariam motivo de piada. Magnatas ficariam irados por aqueles excêntricos terem prejudicado a prosperidade do país a troco de nada. Mas afinal, que evento era esse que poderia exterminar uma civilização? É com esse tom de tensão e muitas incertezas que se inicia o cair da noite. Conto de Isaac Azimov publicado na Astoning Science Fiction em 1941. Uma história que não só foi responsável por estabelecer como o escritor que nós conhecemos hoje, mas também é considerada um tipo de terror cósmico existencial escrito pelo autor, algo que você definitivamente não espera de Azimov. De cara, não é muito difícil adivinhar o que vem no fim do conto, mas esquece isso de plot twist. Você já pode até ter lido ou ouvido por aí como termina o cair da noite, mas saiba, jovem gafanhoto, que existe muito mais por trás dessas 13.000 1 palavras do que um simples cair da noite. Se as estrelas aparecessem uma noite em 1000 anos, como os seres humanos acreditariam e adorariam e preservariam por muitas gerações, a lembrança da cidade de Deus? A ideia nasceu de uma troca de ideias entre Azimov e John Campbell, na época editor da Astoning. Kbell trouxe para Azimov essa citação do ensaio natureza e fez para ele a seguinte pergunta: “O que achas que aconteceria, Carlos Azimov, se os homens vissem as estrelas pela primeira vez em 1000 anos?” Instigada por aquela pergunta, a mente de escritor Worka Holic Jazimov logo começou a bolar narrativas. E foi assim que nasceu essa trama tão brilhante. O Cair da Noite nos leva para Lagash, um planeta muito, muito distante, parte de um sistema complexo com seis sóis. Por conta dessa característica, pelo menos um dos seis só sempre estava no céu e por isso o planeta sempre estava iluminado. Essa configuração astronômica tão peculiar foi a forma que Azimov encontrou de montar esse cenário proposto por Emerson. E não tinha nada melhor do que um cenário de ficção científica. Aqui um planeta fictício que funciona de forma diferente da Terra. Em Lag não existia o conceito de dia e noite como nós conhecemos, mas a diferença acaba basicamente nessa particularidade daquele sistema solar. No quesito social, a civilização de Lag não é muito diferente da nossa. Repara que eles têm universidades, astrônomos, repórteres, conceitos que não parecem nada alienígenas. Aqui o verdadeiro alien vai aparecer na forma das descobertas que virão ao longo da história. E por isso o autor optou por estender esse tempo de 1000 anos para algo um pouco maior, um tempo que permitisse a essa civilização crescer, desenvolver tecnologias, crenças e até mesmo passar a ter uma certa curiosidade sobre o universo. É importante ressaltar que o nível tecnológico de lagcha ainda está bem atrás do nosso e até mesmo do tempo em queimóve escreveu essa história. É como se fosse algo passado no meio do caminho que nós trilhamos até aqui. Por isso, não são feitas menções a coisas como lâmpadas elétricas, naves espaciais e as roupas da Insider. Pois evento crítico, o jornalista Teremon tinha ido até o observatório para conseguir a permissão de Atom para registrar os eventos das horas seguintes e escrever uma matéria. Se tudo corresse como os cientistas estavam prevendo, não haveria amanhã nem matéria. Mas caso eles estivessem errados, Teremon usaria o seu papel de comunicador para expor aquela situação de uma forma ridícula. Mas por que ridícula? Bom, ele argumenta que falando sobre os cientistas como um bando de idiotas, ele faria as pessoas rirem. E rindo, talvez as pessoas se esquecessem de ficar bravas. Esse argumento convence o diretor a aceitar a proposta do repórter e a que então chega ali uma figura que ninguém esperava, o psicólogo Shirin 501. Shiren tinha sido enviado pro refúgio, um local onde cerca de 300 pessoas ficariam abrigadas durante o grande colapso. Essas pessoas seriam as responsáveis por restabelecer a civilização quando já não existisse mais aquele mundo. Para isso, eles teriam suprimentos, um mecanismo de luz artificial temporária criado pela universidade e também o que Aton considerava o mais importante. todos os registros científicos feitos até aquele dia. Mas aquele ambiente seguro e parado deixa Sherenediado. Ele não se via muito útil nesse recomeço e buscava uma experiência mais animada. Então ele vai até o observatório, onde ele talvez tivesse uma chance de ver as tais estrelas das quais o culto tanto falava. E é Sharing que conta ao repórter o motivo de toda aquela agitação dos cientistas. Ao estudar o passado do seu planeta, arqueólogos de Lag perceberam que a civilização ali parecia ter um caráter cíclico. Eles localizaram vestígios de pelo menos nove civilizações passadas que tinham atingido aes comparáveis ao daquele momento. Porém, todas elas acabaram destruídas pelo fogo no seu ápice. E o que levava essas civilizações à extinção permaneceu por muito tempo como um mistério, já que todos os centros de cultura também eram destruídos pelo fogo. Durante muitos anos, houve especulações. Alguns diziam que eram chuvas de fogo periódicas, outros que lagás atravessavam sol de tempos em tempos. Eram todas coisas que soavam absurdas pra maioria. Porém, existia uma teoria que já vinha sobrevivendo há séculos. Existia em Lagulto antigo que tinha em seu livro das revelações O mito das estrelas. Segundo esse livro, a cada 2050 anos, Lagas entrava em uma caverna enorme que ocultava todos os sóis e fazia com que uma escuridão cobrisse o mundo inteiro. Em meio a essa escuridão, apareciam coisas chamadas estrelas, que roubavam as almas dos homens e os transformava em criaturas irracionais que acabavam por destruir a civilização que eles mesmos tinham construído. Porém, apesar de muito difundida naquele planeta, aquela explicação não convencia os cientistas. No momento, o principal foco da ciência era a chamada teoria da gravitação universal. Sher conta que há 400 anos no passado, um cientista chamado G941 descobriu que Lag girava ao redor de Alfa, um dos seus sóis, e não o contrário. Com base nessa informação, os cientistas passaram a estudar e tentar compreender os movimentos desses sóis por muito tempo sem muito sucesso. Até que há 20 anos foi demonstrada a lei universal da gravitação, que finalmente conseguiu explicar com precisão os movimentos dos seis sóis. Acontece que na última década algumas variações incomuns tinham sido observadas, o que acabou colocando essa lei em questão. E foi então que Aton decidiu procurar o líder do culto, Sor 5. No seu livro das revelações, Sor tinha alguns dados que levaram o astrônomo a uma conclusão simples para aquele problema. Deveria haver ali outro corpo não lo, como lag, que teria permanecido todo esse tempo oculto por conta da iluminação dos sóis. Foi assim, na mosca, Atom descobriu que existia uma lua orbitando lag que eventualmente entraria na frente de um sol. E o único sol que se encontrava no seu plano de rotação era Beta, que estava naquele momento sombriamente sozinho no céu. Ele percebe que haveria um momento em que a distância relativa entre beta e essa lua seria tamanha, que a lua acabaria por bloquear completamente a luz de beta por mais do que metade de um dia. Ou seja, nenhuma parte do planeta escaparia. da escuridão. Esse eclipse aconteceria a cada 2049 anos e a sua próxima ocorrência seria em algumas horas. Mas então, ouvindo toda essa história de eclipse, Teremon que existe na escuridão para me deixar louco? Quando houve aquela pergunta, o psicólogo propõe um experimento. Ele pede ao jornalista que feche as cortinas da sala onde eles estavam. Com pouca luz solar, o Breu logo toma conta do ambiente e então eles começam a sentir como se as paredes estivessem se fechando sobre eles. Uma experiência que Shellen descreve como um tipo de claustrofobia. Isso significa que em Lag não existia escuridão em lugar nenhum? Então tinha, mas ninguém ousava entrar em uma caverna, por exemplo. É mencionada até mesmo a atração de uma exposição chamada Túnel do Mistério, onde os visitantes entravam em um carrinho e experimentavam um passeio de 15 minutos por um túnel totalmente escuro. Por ser algo que atiçava os medos instintivos das pessoas, a atração logo se tornou um sucesso. Pras pessoas de lag entrar naquela atração, era como se fosse um passeio numa montanha russa. Elas saíam trêmulas, ofegantes, a adrenalina lá em cima. Acontece que o contato tão prolongado com a escuridão era demais para alguns. Houve casos de visitantes que morreram ou que enlouqueceram. se recusando a entrar em qualquer tipo de lugar fechado que tivesse o mínimo de sombra. E após uma análise de viabilidade feita por psicólogos, acabou que o túnel do mistério foi fechado. Mesmo aqui na Terra, onde a escuridão é parte dos nossos dias, principalmente das noites, a ausência de luz é capaz de incitar o terror, estar em uma sala totalmente escura e ouvir algo se movendo, ir parar numa estrada maluminada durante a noite, a sensação de não conseguir ver o que está à nossa volta pode ser bastante aterradora. Isso porque a escuridão é algo que remete ao desconhecido, uma região onde permanecem justamente aqueles que não querem ser vistos. Porém, para o povo de Lag, a escuridão da noite traria algo ainda mais desconcertante. Imagine a escuridão em toda parte. Nenhuma luz até onde você consegue ver. As casas, as árvores, os campos, a terra. o céu, escuros e até onde sei, estrelas por toda parte, o que quer que elas sejam. Consegue imaginar? Ninguém ali conseguia. Afinal, para aquelas pessoas, tentar imaginar as estrelas era algo tão impossível quanto você tentar mensurar o infinito ou a eternidade. Se tratava de um fenômeno fora dos limites da compreensão. Mas haveria alguém naquele mundo imune a essa loucura das estrelas? Teremon traz à tona essa questão quando pensa no livro das revelações dos cultistas. Afinal, se tratava de um conhecimento que tinha passado por diferentes ciclos, mas segundo Sharing, os únicos que eram capazes de não enlouquecerem ao contemplar as estrelas eram os jácidos, os completamente bêbados, as crianças pequenas e os insensíveis de mente rude demais para ser afetada, como os velhos camponeses aqur fim, os cientistas não se importavam tanto com essa questão do livro das revelações, já que eles viam aquelas palavras como algo incoerente, coisas escritas a partir das lembranças de indivíduos chamados por eles de desqualificados e talvez até reeditadas para servir aos interesses do culto. Eis que as vésperas do tão aguardado e algo inesperado acontece. Um cultista chamado Latmer 25 invade o observatório e tenta destruir todos os equipamentos que fariam as evidências fotográficas desse fenômeno vindouro. Aton inicialmente fica confuso porque ele tinha feito um acordo com o líder do culto. Em troca das informações, ele provaria a verdade essencial do credo do culto. Acontece que ao encontrar uma explicação para aqueles eventos, Aton tinha sim sustentado as crenças do culto, mas também tinha tirado delas o aspecto místico. Ele tinha transformado a escuridão e as estrelas em um fenômeno natural e tentar expor isso pro público foi visto pelos cultistas como uma blasfêmia. Enfim, no meio de toda essa confusão, o eclipse começa com Lmer sob vigia, os astrônomos correm paraas suas posições. Enquanto isso, na cidade de Saro, o pânico se instaurava. Ao se depararem com aquele fenômeno desconhecido, uma multidão apavorada começa a procurar pelo culto. E os cultistas, se aproveitando daquele momento de poder, incitam as pessoas a invadirem o observatório em troca de salvação ou qualquer outra coisa. No observatório, os cientistas começam a especular enquanto observam extremamente tensos aquele fenômeno. Será que as estrelas eram nada mais do que uma ilusão, uma tentativa desesperada da mente de criar luz diante da total escuridão? Ou será que elas eram sós distantes, localizados tão longe, que a luz deles nunca tinha se revelado à laggaz? Muitas eram as especulações naquele momento. Logo, o ar, de alguma forma começou a ficar mais denso. O crepúsculo, como uma entidade palpável entrou na sala e o círculo dançante de luz amarela ao redor das tochas se tornou cada vez mais nítido contra o cinza crescente mais além. Mas enquanto o horizonte se perdia na escuridão e os cientistas lutavam para manter a serenidade, uma massa obscura e infinitamente ameaçadora se aproximava. Se tratava da multidão ensandecida, comandada pelos cultistas. Felizmente, o observatório era uma estrutura bem resistente que foi erguida colocando a durabilidade acima da estética. Por isso, Sharing e Teremon não tm dificuldades para reforçar a sua já pesada porta e as outras entradas. Enlouquecidas pelo medo, aquelas pessoas não tinham nem se preocupado em buscar veículos ou armas para invadir o local. Elas estavam tentando arrebentar a porta com as próprias mãos. Quando a dupla retorna pra cúpula, os cientistas estavam lá apostos nas suas câmeras. A respiração cada vez mais difícil por conta do pânico. Aton lembra seus colegas de que para fazer o registro bastava que eles conseguissem fotografar uma única das estrelas. Então, Teremon ouve Sharing soltar uma risada histérica que acaba num somo. Na porta do observatório, os cultistas agora olhavam para o alto e quando olhou pra janela, o repórter viu não uma ou duas, mas 30.000 mil delas, só poderosos, brilhando em um esplendor frio e indiferente. Nesse momento, Teremon tomou consciência de que estava enlouquecendo sua essência afogando naquela vertigem existencial, pois esse era o escuro, o escuro e o frio e a perdição. As paredes brilhantes do universo estavam despedaçadas e seus horríveis fragmentos pretos caíam para esmagá-lo e comprimi-lo e obliterá-lo. Como uma criança apavorada, Aton gritava ao perceber que o universo era muito mais do que seis estrelas. Havia uma infinidade delas e Lagash era apenas um pequeno ponto no meio de uma imensidão de dimensões inimagináveis. Quando a última tocha no observatório caiu e se apagou, o terrível esplendor das estrelas indiferentes saltou para mais perto deles. Um brilho carmesin tomou os céus de Saro. A longa noite voltara. [Música] Como fica bem claro, a noite a que as mve se refere não é uma noite propriamente dita, mas sim uma metáfora pro colapso daquela sociedade. Colapso esse que vem quando essas pessoas se deparam com um terror profundo e adentram uma onda de barbárie, queimando absolutamente tudo que eles encontram para obter luz. Um dos pontos levantados na história é que as civilizações de lag tá cíclico e a ausência da memória histórica é o que faz com que cada nova civilização comece no escuro em relação à anterior. E o resultado disso são várias civilizações fadas a repetir os mesmos erros, fazendo dos seus avanços uma coisa superficial. Se trata de um mundo onde a razão tem prazo de validade e é usando dessa extrapolação que Azimov fala da importância dos registros históricos e científicos sobre como nós podemos acabar em um ciclo de ignorância quando deixamos de lado esse conhecimento, algo que depois ele traz de volta em fundação através de Harry Seldon e a sua psicoistória. Outro tema presente na trama são as questões de perspectiva. Quando os cientistas tentam alertar a população trazendo ideias que pareciam complexas demais, envolvendo cálculos de astronomia e satélites invisíveis, aquilo é recebido como alarmismo. Depois de tantos anos sem presenciar algo desse tipo, por aconteceria logo agora? E enquanto a ciência falhava em ter registros anteriores, do outro lado há o culto que conseguiu preservar certas informações. O problema é que essas informações não eram tratadas de uma forma construtiva, mas sim superficial e alienante. Eram fatos corretos, porém passados a partir de uma perspectiva distorcida. Até mesmo entre os cientistas, nós vemos como por vezes, mesmo que não intencionalmente, uma perspectiva pode ser limitadora. No final da história, quando os cientistas estão lá no observatório especulando sobre o universo e as estrelas, o fotógrafo Ben imagina um universo onde existisse um planeta com um único sol. Segundo ele, a vida seria impossível em um planeta desses, já que ele não receberia luz e calor suficientes. E se girasse, esse planeta ainda teria escuridão em metade de todos os dias. Então, como poderia a vida, que depende fundamentalmente da luz, se desenvolver nessas condições? Pois estamos nós aqui do planeta Terra de prova. Por não compreender a escuridão, o fotógrafo acaba se limitando, se baseando naquilo que ele acreditava e não no que se sabia de fato. E foi muito boa a escolha de Azimov de colocar essa história de uma perspectiva de outro planeta, mas com seres que não se diferenciam de nós humanos. Porque assim fica fácil entender que a escuridão não era de forma alguma ameaça. A ameaça estava justamente na incapacidade de compreender aquele fenômeno, já que todo mundo endoidava antes de chegar a qualquer conclusão. Como um toque de esperança, afinal Asimov. No fim, nós temos o refúgio, a possibilidade de um ressurgimento daquela civilização agora com mais conhecimento sobre o seu planeta. Mas será que estariam eles prontos para contemplar as estrelas quando elas aparecessem? Ou ainda haveria mais ciclos de escuridão? Esse foi nosso vídeo sobre o cair da noite de Isaac Asmov. Antes de encerrar, um agradecimento especial aos primeiros imediatos no Stromo, Víor Procópio, André Oliveira, Joel Melo, Marco Marcos e Alexandre Husen. O pessoal da Ponte de Comando Guilherme Yan, oitavo, Saren e Emily. E os oficiais de ciências William França Costa, Alexandre de Leon, José Daniel Mesquita e Evandro Araújo, pessoas essenciais na nossa missão de levar a ficção científica por todas as galáxias. [Música]