O calor europeu é pior que o do Brasil?

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Na Europa, o calor mata. Este ano, já matou 
mais de mil pessoas. A maioria idosos. Mas a gente que é brasileiro 
logo se pergunta: por quê? Afinal, algumas regiões do Brasil 
também são castigadas pelas altas temperaturas – às vezes quase o ano todo – 
e não é sempre que se vê notícia de gente morrendo por causa disso. Especialmente em 
um curto espaço de tempo, como na Europa. O que será que tem de tão infernal 
e único nesse calor europeu? Um dos principais motivos para a ciência: 
mudanças climáticas. Segundo este artigo publicado recentemente na revista Nature, 
alterações atmosféricas resultaram em ondas de calor na Europa de três a quatro vezes mais 
frequentes – e mais intensas nos últimos 40 anos. E o continente, de maneira geral, não é o mais bem preparado para esse tipo de situação. 
Mas pode ter que ser obrigado a ficar. Vamos começar entendendo de forma bem 
simplificada – portanto sem considerar fenômenos meteorológicos associados 
a uma onda de calor – que verão na Europa e verão no Brasil são coisas 
muito diferentes. E calor também. Neste modelo 3D, dá para ter uma ideia. Em dezembro no solstício de verão do 
Brasil, que é o dia mais longo do ano, quem está na capital mineira, Belo Horizonte, vê o sol nascer por volta de cinco da 
manhã e se pôr às seis e meia da tarde. Quando a gente troca a localização geográfica para 
Berlim, na Alemanha, muda tudo. O solstício ocorre em junho. Desconsiderando o horário de verão 
europeu, o sol nasce antes das quatro da manhã e só começa a se pôr oito e meia da noite. 
Ou seja, a trajetória solar é bem maior. São mais ou menos três horas e meia a mais de sol. 
Tem menos tempo para as paredes se resfriarem. Agora combine essa alta incidência de luz e 
energia com o fato de que, historicamente, as casas no norte da Europa foram preparadas 
para reter calor. Ar-condicionado? Coisa rara. Olha… é difícil. Até brasileiros acostumados 
ao calorão acham insuportável! É preciso toda uma ginástica na rotina para 
refrescar o ambiente – e o corpo, porque a sensação de calor em 
si pode não ser nada agradável. O calor europeu é mais seco. O brasileiro, mais úmido. Tanto é assim que 
chove bastante em alguns locais. Mas isso é suficiente para matar? 
Por que se morre de calor na Europa? Bom, em princípio, o corpo humano é feito 
para se adaptar às temperaturas quentes. E ele consegue fazer isso bem – pelo menos 
dentro de uma certa, digamos, normalidade. Quando o calor é excessivo, segundo a Organização 
Mundial da Saúde, ele pode ter efeitos fisiológicos e agravar doenças existentes, o que 
dependendo do caso leva a uma morte prematura. Ou seja, a pessoa nem sempre 
morre literalmente de calor, como aliás a gente fala, mas sim 
por causa de uma condição de saúde piorada pelo calor. Pode ser um problema 
cardiovascular, respiratório… enfim. Mas também ocorrem mortes relacionadas a 
desidratação e insolação. Os mais vulneráveis costumam ser os idosos. Em 2019, um quinto da 
população na União Europeia tinha 65 anos ou mais. O problema é que é bastante complicado 
e raro que médicos atestem uma morte por calor. Os números que vemos nos 
estudos e na imprensa, de modo geral, são estimativas feitas com 
base em modelos estatísticos. Os especialistas combinam dados 
epidemiológicos e meteorológicos e analisam quantas pessoas morreram acima 
da média em um determinado período. De acordo com a OMS, as ondas de 
calor podem sim gerar um excesso de mortalidade. No chamado “verão do século” 
na Europa, entre junho e agosto de 2003, cerca de 70 mil pessoas morreram por causa das 
altas temperaturas no continente. No mundo todo, estima-se que 356 mil mortes tenham sido 
provocadas em 2019 pelo calor extremo. Embora a gente esteja falando de 
projeções, números aproximados, essas estatísticas demonstram como a temperatura 
é um fator de risco para a nossa saúde. Melhor que o aumento da temperatura média global provocado pelas mudanças climáticas 
fosse controlado o quanto antes. Não que esse controle evitaria ondas de 
calor. Até porque, segundo cientistas, elas são fenômenos naturais do planeta e 
sempre existiram. Mas nos ajudaria a não piorar essas ondas, que é o que está acontecendo. Pesquisas indicam, por exemplo, que a Europa está 
se tornando o epicentro do calor no Hemisfério Norte. Este estudo publicado recentemente 
pela revista Nature concluiu que as ondas de calor na Europa aumentaram de três a 
quatro vezes nos últimos quarenta anos. E as estimativas são de que deve piorar. 
Uma onda de calor que ocorria uma vez por década no período pré-industrial, 
pode ocorrer quatro vezes caso a temperatura média do planeta suba em 1,5 
°C, que é o que se projeta para o século. Bom… É o que se projetava, porque já 
há alertas de que pode passar disso em poucos anos. Se chegar a 2 graus, 
podem ser mais de cinco ondas de calor a cada década, segundo o IPCC, Painel 
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O Brasil não escapa desse futuro sufocante. Este estudo de 2018 indica um aumento de até 75% 
nas mortes relacionadas a ondas de calor, caso a frequência desses fenômenos 
seja alta. E os autores consideram que são grandes as chances de eventos assim 
aumentarem em frequência e intensidade. A Alemanha vem estimulando as cidades 
a se armarem contra o calor com mais vegetação. Mas para a raiz do problema, o 
aquecimento global, a solução é coletiva. Para mais vídeos como este, não 
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