o DIA que a TERRA VIROU uma BATERIA

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“Desligue suas baterias por quinze minutos.”
Disse um operador de telégrafo em Boston, na costa leste dos Estados Unidos.
“Farei isso. Pronto, está desconectada.” Respondeu o outro operador em Portland 
do outro lado do país, na costa oeste. “A minha está desconectada também, e 
estamos trabalhando com a corrente da aurora. Como você recebe minha escrita?”
“Melhor do que com nossas baterias ligadas.”
(pausa) -O que está acontecendo aqui?!
Basicamente dois telégrafos, que precisam de eletricidade pra funcionar, 
estavam se comunicando sem baterias. -Baterias não eram necessárias, mas só naquele 
dia em que a própria terra virou uma bateria. Vinheta
As dramatizações presentes neste vídeo são ficcionais e inspiradas em fatos reais.
-No início da história do telégrafo tentaram incorporar a eletricidade ao dispositivo, 
porém isso acabou não dando tão certo porque a perda de sinal entre emissor e o receptor 
era grande, principalmente em dias de clima ruim. Foi então que em mil oitocentos e trinta e 
um que surgiu na história o americano Joseph Henry, conhecido por desenvolver 
eletroímãs incrivelmente fortes. Eletroímã é um dispositivo que converte a corrente 
elétrica em um campo magnético. E Henry foi capaz de ligar um por um fio de cobre de um quilômetro 
de distância a uma bateria e assim controlá-lo para tocar uma campainha lá de longe.
(pausa) -Foi mais ou menos assim que em mil oitocentos 
e trinta e dois, ele transmitiu mensagens de seu laboratório para sua casa por meio 
dessa forma primitiva de telégrafo. Porém foi Samuel Morse quem 
comercializou o telégrafo para outras pessoas em todo os Estados Unidos.
-Ele mais tarde aperfeiçoou o telégrafo, criando um código envolvendo combinações de sons
curtos e longos que representavam cada caractere da escrita. Esse era o código morse.
Foi através desse código que os operadores de Boston e Portland se comunicavam.
-Certo, mas se pro código morse ser transmitido através dos telégrafos, era necessário energia 
elétrica, então como os operadores conseguiram se comunicar com as baterias desligadas?
– Seria como se você pudesse usar seu 
computador desconectado da energia. E você nem precisa ter feito todos os cursos 
da Alura pra saber que isso é impossível. porém isso aconteceu uma vez graças a coisas 
estranhas que ocorreram no planeta num certo dia. – Naquele mesmo dia, as pessoas viram auroras 
intensas, mas não só no extremo norte ou sul do planeta, mas também em lugares 
mais próximos da linha do equador. -E não só os avistamentos eram em lugares 
inesperados, mas o fenômeno da aurora naquele dia estava tão intenso que em algumas latitudes 
mais ao norte que alguns relatos impressionantes surgiram.
(pausa) Segundo alguns relatos, o céu estava tão brilhante 
com as auroras que os pássaros começaram a cantar achando que o dia já havia raiado.
Estava tão claro que era possível ler um livro. Era como se no meio da noite o sol 
estivesse prestes a nascer, a escuridão completa da madrugada virou a penumbra de início de manhã.
Além disso, surgiram diversos relatos de pessoas recebendo choques de maçanetas e outros objetos 
de metal, devido à indução de correntes elétricas. Em Nova York, São Francisco, Boston e Chicago, 
multidões de pessoas se reuniram nas ruas, admirando e comentando sobre o espetáculo 
singular que viam no céu noturno. -Em alguns lugares dos Estados Unidos, como Ohio 
por exemplo, as auroras, ao invés de ser de tons azuis e verdes, estavam vermelhas como sangue, 
um tom carmesim como se fosse do sol se pondo. -O evento produziu algumas das auroras mais 
brilhantes já registradas na história. Elas foram tão fortes que foram claramente observadas
no Caribe, México, Havaí, sul do Japão, sul da China e perto do equador na América do Sul.
-Pessoas que passaram suas vidas inteiras longe dos polos puderam presenciar o 
espetáculo que só uma aurora pode dar. O show de luzes até possivelmente inspirou 
anos depois o artista Frederic Edwin Church a representar esse momento único 
em um quadro de pintura à óleo. -Porém além do belo show de luzes, houve um 
lado negativo que deixou muita gente em alerta! Longe da terra firme, as bússolas 
no mar deixaram de funcionar, fazendo com que alguns navios se perdessem.
E as redes de telégrafo sofreram interrupções, com algumas linhas de telégrafo 
até pegando fogo, devida tamanha carga elétrica que estavam recebendo.
-Mas qual seria o motivo responsável por tudo isso estar acontecendo? O que teria 
transformado a Terra em uma bateria gigante? (pausa)
No dia primeiro de setembro de mil oitocentos e cinquenta e nove, os cientistas Richard Carrington 
e Richard Hodgson viram algo estranho no sol. Enquanto observavam um grande grupo de 
manchas solares, foram as primeiras pessoas a testemunhar e registrar… uma certa explosão solar.
-Carrington descreveu o evento como uma “explosão de luz branca”, e a explosão foi observada do 
início ao fim, durando apenas cinco minutos. Mas a intensidade da explosão e sua curta duração foram 
o suficiente para causar efeitos na vida na Terra. Após isso, cerca de dezessete horas 
depois, a Terra experimentou uma massiva exibição auroral. Esse dia entrou 
pra história como o Evento Carrington. Naquela época, a ligação entre as auroras e o Sol 
ainda não era conhecida, e seria o esse evento que consolidaria essa conexão para os cientistas.
As Ejeções de Massa Coronal são grandes expulsões de plasma e campo magnético de uma parte do 
sol conhecida como corona, essa é a camada mais externa da estrela. Elas podem ejetar bilhões 
de toneladas de material coronal e carregar um campo magnético muito forte.
-Essencialmente é como se fosse uma nuvem cheia de partículas com cargas.
-Elas viajam para fora do Sol a velocidades que podem chegar até cerca de três mil quilômetros 
por segundo e podem alcançar nosso planeta em até quinze horas depois de se soltarem do sol.
O grande evento de ejeção de massa coronal de mil oitocentos e cinquenta e nove percorreu 
a distância de cento e cinquenta milhões de quilômetros entre o Sol e a Terra 
em apenas dezessete horas e meia. -Ainda no espaço, ao se aproximar do nosso 
planeta, a ejeção de massa coronal encontrou sua primeira barreira, o campo magnético terrestre.
Em condições normais, o nosso campo magnético é forte o suficiente pra nos proteger 
de basicamente tudo que vem no sol, porém dessa fez foi um pouco diferente.
O material solar era tão grande e com um campo magnético próprio tão intenso, que ele 
foi capaz de acertar especialmente forte o nosso planeta. E isso gerou consequências incomuns.
-Após acertar o campo magnético terrestre e ser redirecionado para o polo norte e polo 
sul, as partículas energéticas da ejeção de massa coronal caíram na atmosfera, 
fazendo ela brilhar com belas auroras. Além disso, esse evento interferiu nos sistemas 
de telégrafo em toda a Europa e América do Norte, que falharam em sua grande maioria.
Em alguns casos, os telégrafos deram choques elétricos nos operadores, em 
outros, suas linhas soltaram faíscas e, em alguns lugares, causaram incêndios.
Além disso, em todo os Estados Unidos e Europa, os operadores de telégrafo lutavam para 
manter o serviço funcionando enquanto as rajadas eletromagnéticas vindas das 
ejeções de massa coronal envolviam a Terra. -Porém, no meio desse caos, 
segundo alguns operadores, algumas linhas operaram por cerca de duas horas 
sem as baterias usuais, funcionando melhor do que com as baterias conectadas. Aqueles 
aparelhos sem baterias estavam funcionando apenas com força das partículas carregadas da 
aurora mais intensa que já tivemos notícia.

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