O Esquema Bilionário dos Planos de Saúde

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Tem plano de saúde no Brasil que até aceita a sua 
sogra — mas só até 67 anos, 11 meses e 29 dias. Se passou disso, tá fora, mesmo pagando.
Esse tipo de regra escondida mostra como funciona o sistema — e quem ele tá tentando deixar de fora.
Enquanto isso, as mensalidades viram um segundo aluguel, com um aumento de 55% desde 2020, por 
isso, sete em cada dez usuários comprometem até um terço da sua renda mensal com despesas médicas.
Tudo isso com a bênção de uma agência reguladora que parece mais preocupada em não incomodar 
as empresas do que em proteger quem paga. Os planos de saúde viraram uma espécie de 
“imposto privado obrigatório” que só aumenta, mas entrega cada vez menos. O que surgiu como 
uma alternativa pra quem não quer depender da ineficiência do SUS, parece ter se 
tornado uma versão premium do mesmo. Indo mais a fundo nesse assunto, eu descobri 
que o verdadeiro problema dos planos de saúde não é o valor que você paga — mas sim 
que o sistema todo é insustentável. Então, o que acontece quando seu plano de 
saúde quebra no meio do seu tratamento? E quem realmente protege você quando 
a própria agência reguladora falha? Antes de entrar nos problemas atuais, precisamos 
entender o que é a saúde suplementar. É o sistema paralelo ao SUS, que atende quem paga para ter 
acesso mais rápido a médicos, exames e hospitais. É o que chamamos de planos de saúde particulares.
Este sistema funciona com base em três atores principais: as operadoras, empresas que vendem e 
administram os planos; os prestadores de serviço, hospitais, clínicas, laboratórios e 
profissionais da saúde; e os usuários, pacientes que pagam pelo serviço. Na teoria, esse 
tripé deveria funcionar de forma equilibrada, com cada parte cumprindo seu papel.
Mas a realidade é outra. Existe um clima constante de desconfiança entre esses três 
atores. As operadoras acham que os médicos e hospitais cobram demais. Os prestadores reclamam 
que os planos pagam pouco. E o paciente fica no meio desse jogo de empurra, muitas vezes ouvindo 
que o tratamento que precisa não está coberto. O pior é que essa confusão toda não é por 
acaso. “As operadoras também nem sempre têm parâmetros seguros para suas posições e essa 
ignorância generalizada provoca resultados prejudiciais aos usuários”, conforme 
aponta texto de Natanael Soares. Ou seja, muitas vezes as decisões sobre o que cobrir 
ou não são tomadas sem base técnica clara. O mercado de saúde suplementar no Brasil surgiu e 
cresceu em paralelo ao SUS. Estudos apontam que, quando o SUS foi criado em 1990, o empresariado 
da medicina já articulava para oferecer planos simplificados ao Estado. O setor privado cresceu 
rapidamente, aproveitando as falhas do sistema público e a demanda por atendimento mais ágil.
Mas nos últimos anos, uma transformação vem acontecendo: a concentração de mercado. O 
que antes era um setor com diversas empresas competindo entre si, hoje é dominado 
por alguns poucos grupos gigantes, que estão engolindo os concorrentes menores.
A estratégia é clara: verticalização. Isso significa controlar toda a cadeia, desde 
a operadora do plano até os hospitais, clínicas, laboratórios e farmácias. É uma 
“cadeia societária interligada, gerando uma oligopolização do setor de saúde privado no 
Brasil”, como descreve o advogado Antônio Campos. Isso afeta diretamente o usuário. Segundo 
dados recentes, “sete em cada dez usuários de saúde suplementar comprometem até um terço 
com despesas médicas da sua renda mensal”. A saúde privada virou um boleto fixo 
com peso de aluguel para muita gente. Mas como esse sistema se transformou num esquema 
bilionário que parece beneficiar a todos, menos o paciente? E por que os preços só aumentam 
enquanto o atendimento parece piorar a cada ano? Em 2024, os usuários dos planos de saúde foram 
surpreendidos por reajustes que parecem ter saído do controle. Segundo o advogado Antônio 
Campos, “o foco das operadoras de planos de saúde em 2024 é reajustar os planos, mesmo 
que perca clientes. Privilegiar rentabilidade, mesmo que implique em perder segurados”.
Para se ter uma ideia, “em 2023, os planos tiveram reajustes em torno 
de 25%, bem superior a uma inflação que fechou em 4,62%.” Uma diferença gritante 
que pesa no bolso de milhões de brasileiros. E não é só nos planos de saúde que vemos 
aumentos muito maiores que a inflação oficial. Isso acontece em praticamente 
todos os serviços essenciais no Brasil. Quando a sua moeda se desvaloriza 21,8% 
em um único ano como aconteceu em 2024, não adianta economizar ou investir em reais, porque em pouco tempo seu dinheiro 
guardado já não compra a mesma coisa. Com o aumento dos custos e a negação de 
coberturas, cresceu também a judicialização da saúde – quando o paciente vai à Justiça para 
ter acesso a algo que o plano deveria oferecer e não oferece. “A realidade da judicialização 
da saúde, em razão de várias práticas abusivas dos planos de saúde é uma realidade, 
infelizmente”, confirma Antônio Campos. A criação da Atlântica Hospitais, fruto da união 
entre Rede D’Or, Sulamérica e Bradesco Seguros, é o exemplo mais recente dessa concentração. Como 
alerta Antônio Campos, “é a Saúde Suplementar cada vez mais nas mãos de poucos”.
Essa concentração não é apenas uma fusão de empresas. É um modelo que busca 
dominar verticalmente toda a cadeia – da farmácia ao hospital. Isso favorece uma prática 
questionável: o alinhamento de preços. Na prática, essas poucas empresas combinam os preços entre si, 
mesmo sem admitir. Todas seguem valores parecidos, como se usassem a mesma tabela. 
“É um cartel”, afirma Campos. O CADE, Conselho Administrativo de 
Defesa Econômica, órgão responsável por investigar e punir esse tipo de conduta, 
já abriu diversos processos administrativos justamente para apurar a existência de 
cartel entre prestadores e operadoras. Parece que a gente está bem representado, 
mas no Brasil nada é o que parece. O mesmo CADE, aprovou a fusão da Rede D’Or com 
a Sulamérica. A justificativa foi que a união representaria “apenas 20%” de participação 
no mercado. Mas como aponta Antônio Campos, “de 20% para 30% é um pulo”. O problema não é 
só o percentual, mas o precedente que isso abre. Essas fusões criam um ambiente onde a 
livre concorrência deixa de existir, e o consumidor se torna refém de poucas 
operadoras com enorme poder de barganha. Isso não só impacta nos valores cobrados, mas 
afeta diretamente a qualidade do serviço prestado. E esse parece ser o padrão que se repete em outros 
setores essenciais no Brasil. Assim como aconteceu com a telefonia, que depois da privatização 
viu a concentração em poucas operadoras e o consequente alinhamento de preços, o mercado de 
planos de saúde segue o mesmo caminho. É mais um exemplo de como a falta de uma regulação 
eficiente, que garanta a concorrência real, acaba prejudicando quem mais importa: o 
consumidor que paga a conta mês após mês. E o contato com os planos de 
saúde também está prejudicado. A digitalização dos serviços, que poderia 
facilitar o atendimento, virou uma barreira. “Não há mais humanos a quem se possa fazer uma 
única pergunta. É tudo digital, via aplicativos e mensagens de redes sociais.” Para quem não 
domina a tecnologia – especialmente idosos – o acesso ao suporte se tornou quase impossível.
E é justamente esse público que sofre ainda mais. O Estatuto do Idoso é claro: “É vedada a 
discriminação da pessoa idosa nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão 
da idade”. Mas a realidade mostra outra coisa. Em tabela recente de valores de planos de uma 
dessas seguradoras constava a seguinte informação: “Promoção para empresas de 03 a 09 vidas – válida 
até 30/06/2023: Serão aceitos titulares, cônjuge, filhos, pai, mãe, sogro e sogra 
até 67 anos 11 meses e 29 dias”. A exclusão não acontece só por meio de 
valores abusivos. Ela é arquitetada nos critérios de entrada, nas regras 
ocultas e na burocracia digital, empurrando quem mais precisa para fora do sistema.
Mas como esse sistema todo é controlado? A ANS, Agência Nacional de Saúde Suplementar, 
foi criada para equilibrar esse jogo. É dela a responsabilidade de fiscalizar as operadoras, 
aprovar os reajustes, intervir em casos de abuso e garantir os direitos dos usuários. Mas o que 
se vê na prática é um órgão distante e lento. “A atuação da ANS está extremamente 
deficiente, prejudicando os usuários e os hospitais independentes”.
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa falha foi o colapso da Unimed Paulistana, 
que quebrou e deixou mais de um milhão de pessoas sem cobertura de uma hora para outra. A 
ANS aprovou um acordo “vergonhosamente desfavorável aos antigos clientes”, 
retirando direitos e serviços adquiridos. Em outras fusões polêmicas, como a união da 
Rede D’Or com a Sulamérica, a ANS ficou em silêncio. Mesmo com alertas de concentração e 
de possíveis riscos à concorrência, a agência não impôs restrições nem exigiu contrapartidas.
A ANS também não tem sido eficaz na fiscalização dos reajustes abusivos. Em vez de limitar 
os aumentos, a agência apenas homologa os números apresentados pelas operadoras – 
muitas vezes baseados em critérios que os próprios usuários não têm acesso.
Mas enquanto grandes grupos de saúde anunciam fusões bilionárias, existe o outro 
lado dessa moeda: o modelo de negócios é supostamente insustentável. Apesar de elas terem 
registrado um lucro recorde durante a pandemia, quando houve o isolamento social e os 
pacientes cancelaram procedimentos médicos, as “Operadoras registraram prejuízo operacional 
de R$ 18 bilhões entre 2021 e setembro de 2023”. E com isso, as operadoras estão redesenhando 
seus produtos para serem mais restritivos, especialmente nas modalidades de adesão e 
para pequenas e médias empresas – justamente as que atendem à pessoa física.
Em uma declaração, Maurício Lopes, presidente da Qualicorp, deixou claro o futuro dos planos 
de saúde: “Esse modelo de produto com rede muito ampla, reembolsos elevados e sem coparticipação, 
não vai ser de longo prazo para o varejo”. Traduzindo do corporativês para o português 
claro: se você é pessoa física ou dono de pequena empresa, pode esquecer aquele plano de 
saúde que cobria tudo, em qualquer hospital, sem taxas extras. Esses benefícios agora 
serão exclusivos para quem trabalha em grandes corporações ou tem dinheiro de sobra. 
Para o restante de nós, o futuro são planos cada vez mais básicos, com redes reduzidas e 
cheios de “pegadinhas” como coparticipação, onde você paga uma parte de cada procedimento.
A resposta das operadoras à crise tem sido o chamado “downgrade” – basicamente uma 
redução de benefícios. Nos últimos anos, os planos com coparticipação aumentaram 
4,58%, chegando a 60% do mercado. Além disso, cresce o número de planos com cobertura apenas 
regional, que já representam 43,5% do total. Enquanto as mensalidades dos planos aumentaram 
quase 55% desde 2020 – praticamente o dobro da inflação – a qualidade do serviço despencou. 
Com isso, o número de queixas disparou. Em 2020, o IGR, índice geral de reclamações, 
junto à ANS era de 21,8. No ano passado, saltou para 55,3 e agora está em 58,2. Muitas 
das queixas dizem respeito à rede credenciada e ao valor reembolsado – ambos cada vez menores.
Mas então, se o modelo atual já não é sustentável nem para as operadoras nem para os usuários, para 
onde caminha o sistema privado de saúde no Brasil? E quando um plano de saúde quebra, quem paga 
a conta? O que acontece com os milhares de pacientes que confiaram suas vidas a uma 
empresa que simplesmente deixa de existir? É justamente o que está acontecendo neste momento 
com uma das mais tradicionais operadoras do país. A Golden Cross é um dos nomes mais tradicionais 
do mercado de planos de saúde no Brasil, e também o mais novo exemplo de um sistema em colapso.
Em março de 2025, a ANS anunciou que mais de 290 mil usuários da Golden Cross teriam que 
migrar para outras operadoras até 11 de maio, após identificar “graves anormalidades 
administrativas e econômico-financeiras” na empresa. Na prática, isso representa a 
falência operacional da operadora, que terá seu registro cancelado junto à agência reguladora.
Essa decisão da ANS é uma das mais sérias que podem ser tomadas contra uma operadora. 
Ela tem como objetivo evitar que os clientes fiquem sem atendimento, permitindo 
o que se chama de portabilidade especial. A portabilidade especial é o direito que o 
cliente tem de mudar de plano sem precisar cumprir de novo o período de carência, 
aquele tempo que o plano exige para começar a oferecer certos atendimentos, como 
internações ou cirurgias. Com essa medida, os usuários da Golden Cross podem trocar de plano 
mantendo o tempo de carência que já cumpriram. Mas tem um detalhe importante, como alerta 
o advogado Rafael Robba: “as operadoras não são obrigadas a manter as mesmas condições e 
valores oferecidos pela Golden Cross”. Isso significa que os pacientes podem enfrentar 
reajustes ao migrar para novos planos. A Golden Cross contesta a decisão da 
ANS e tenta revertê-la na Justiça, alegando que sua situação é reversível. Mesmo 
que obtenha uma liminar, a incerteza para os beneficiários já está estabelecida – especialmente 
para idosos e pessoas com doenças pré-existentes, que são justamente os que mais enfrentam 
obstáculos para serem aceitos em novos planos. Como aponta o advogado sanitarista Silvio 
Guidi, “A perda da carteira é a medida mais drástica a ser tomada, pois significa, 
na prática, a falência da operadora. Isso porque, ao contrário de empresas comuns, que 
podem pedir falência ao Sistema Judiciário, as operadoras de planos de saúde estão sujeitas a um 
regime especial de liquidação conduzido pela ANS”. Essa falência disfarçada mostra como 
a falta de fiscalização constante, combinada com a fragilidade econômica de algumas 
operadoras, cria uma bomba-relógio silenciosa que explode nas mãos do consumidor.
O problema dos planos de saúde não é uma falha pontual, mas um sistema que foi se 
desbalanceando aos poucos, até chegar num ponto onde quem paga mais, muitas vezes, recebe menos.
A concentração do mercado, os reajustes abusivos, a falta de fiscalização da ANS e agora 
o colapso da Golden Cross mostram as grandes falhas do sistema privado de saúde.
Uma solução de mercado seria estimular a entrada de novos players e modelos de negócio mais 
inovadores e centrados no paciente. Quando há mais concorrência, naturalmente os preços tendem 
a cair e a qualidade dos serviços a melhorar. Mas ao mesmo tempo é um mercado complexo, amplo e 
que mexe com algo sensível, a saúde das pessoas. O fortalecimento de órgãos de fiscalização, como 
o CADE e a própria ANS, também seria fundamental para coibir práticas abusivas e garantir que o 
mercado funcione de forma justa e transparente. O SUS é uma ótima ideia. Saúde para todos, ponto. 
Mas na prática tem inúmeras coisas para melhorar e não é tão simples quanto “jogar mais dinheiro”.
E no privado a coisa não melhora muito, por que as operadoras jogam dos dois lados: 
“assumem duplo papel no que tange aos preços: o de comprador, na relação com os seus prestadores 
credenciados e o de fornecedor, na relação com os seus beneficiários”​. Isso cria um conflito 
de interesses enorme. Enquanto brigam para pagar menos aos hospitais, aumentam as mensalidades 
dos clientes alegando aumento de custos. No final, o que vemos é um 
reflexo do Brasil como um todo: um país onde o acesso a serviços essenciais 
como saúde depende se você é rico ou não. Nem o governo resolve tudo sozinho com o 
SUS, nem o mercado privado oferece solução. E você concorda comigo? E o que 
acha desse verdadeiro “imposto privado obrigatório” que a gente chama de 
plano de saúde? Comenta aqui embaixo e não esquece de me dizer o que achou desse vídeo.
Agora, se quiser entender o que eu chamo de

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