O Fascinante Mundo da História Alternativa
0[Música] Dentre os diversos gêneros que podem serem encontrados dentro da ficção especulativa. Um dos mais interessantes, com certeza, é o gênero da história alternativa. Nele, os seus autores fazem uma simples pergunta: “E se algum evento acontecesse de forma diferente do que ele realmente aconteceu, que mundo esse resultado diferente geraria? O quão diferente seria esse mundo em comparação ao nosso? Esse conceito pode ser usado em diversos cenários diferentes, até mesmo em decisões e rumos da sua própria vida. No entanto, o gênero ficou popular por especular sobre cenários alternativos em grandes eventos na história, como resultados diferentes de guerras, mortes de figuras importantes na história e outros eventos que moldaram a nossa sociedade de forma considerável. Dando alguns exemplos nessas histórias, podemos ver cenários como: “E se os alemães tivessem ganhado a Segunda Guerra Mundial? Se os alemães tivessem ganhado a Primeira Guerra Mundial, se o Brasil tivesse sido colonizado pela Inglaterra ou pela Espanha? ou se a Holanda mantivesse sua colônia no Nordeste, ou se o Neymar hipotético realmente fosse real, o quão diferente seria a história nesses universos alternativos que podem ser encontrados tanto em livros, filmes e, é claro, jogos. Então, sem mais explicações, vamos conhecer o fascinante mundo da história [Música] alternativa. E começando do início, a primeira peça de literatura que pode ser considerada a história alternativa é bastante antiga, sendo uma história encontrada na obra Arb Urbe condita libre, escrita entre 27 a 9 anos antes de Cristo historiador romano Tito Lívio, que em grande parte é uma obra que descreve a história de Roma desde a sua fundação até a época em que a obra foi escrita. Mas existe uma parte dela que chama bastante atenção. Em um certo momento, o autor especula um cenário alternativo onde Alexandre Grande, o rei da Macedônia, tivesse vivido por mais tempo, já que Alexandre, na nossa linha do tempo, digamos assim, apesar de ter conquistado muitos territórios e criado um dos maiores impérios da história, ele viveu bem pouco, vindo a falecer em 323 anos antes de Cristos 32 anos. Tito Lívio descreve que por não ter morrido aos 32 anos, Alexandre decidiu voltar a sua expansão da Macedônia para o oeste e conquistar outras partes da Europa. Logo, nessa linha do tempo, Alexandre em algum momento iria entrar em conflito com a República Romana para conquistar a península italiana. E Tito Lívio puxou uma sardinha pro lado dele, especulando que se isso acontecesse, os romanos iriam ganhar do exército de Alexandre Grande, o que provavelmente não iria acontecer de fato, já que lá no século Ies de. Cristo. Roma ainda era uma república que se limitava praticamente à região central da península italiana, não tendo o poder militar que eles teriam durante o auge do império, já que essa hipotética guerra com a Macedônia aconteceria praticamente um século antes da Primeira Guerra Púnica, onde Roma bateu de frente com Cartago. E alguns séculos mais tarde, no século X, um doutor da Igreja Católica chamado São Pedro Damião escreveu uma carta dissertando sobre a onipotência de Deus e os limites do seu poder. Carta essa é encontrada em uma obra escrita por ele chamada Deivina Onipotência. Nessa carta, ele levanta a ideia de que se Deus é onipotente, ele teria o poder de apagar o passado e modificar a história ao seu bel prazer. E para exemplificar essa ideia, ele fala sobre a possibilidade de Deus fazer com que o Império Romano seja apagado do passado. E por fim, já no século XV, o cavaleiro e escritor de Valência, Joanor Martorel, escreveu um romance de cavalaria chamado Tirante LBlan, que é por muitos considerado a real primeira peça de história alternativa já escrita, já que no romance Martorel conta a história de um cavaleiro bretão chamado Tirante, o Branco, que vai até a cidade de Constantinopla durante o cerco da cidade ade pelos turco-otomanos. Lá ele reuniu o que restou do império bizantino, se tornando o comandante do exército, repelindo assim o ataque turco e impedindo que o império bizantino caia, criando uma história que vai contra o que realmente aconteceu, já que na vida real os turcos realmente conquistaram Constantinopla colocando um fim ao Império Bizantino ou o Império Romano do Oriente em 1453. E o mais interessante disso é que esse romance que descreve essa história alternativa foi escrita apenas 40 anos depois da queda da capital bizantina. Ou seja, a memória da queda de Constantinopla ainda estava fresca na memória de parte da Europa, com a obra podendo ser um reflexo de como o autor gostaria de como o circo de Constantinopla acontecesse. Inclusive, a título de curiosidade, o Tiran L Blan é um livro considerado parte da história da literatura espanhola e ele é mencionado no livro que é talvez um dos mais importantes dessa literatura, sendo ele o Don Quichot de Miguel de Cervantes, escrito em 1605. [Música] E histórias que podem se encaixar no gênero só voltaram a aparecer lá no século XIX, onde também se consolidou o gênero da ficção histórica, que tem algumas diferenças em comparação à história alternativa, já que na ficção histórica é contada uma história fictícia, geralmente com personagens fictícios que se passam em um cenário histórico, com a história alternativa criando cenários alternativos a esses eventos históricos, mesmo que em algumas histórias exista a presença de personagens ficcionais. E no início do século XIX, uma história pioneira do gênero que se destaca é a obra História da Monarquia Universal Napoleão e a Conquista do Mundo, escrita pelo autor francês Luis de Fris em 1836, que imaginou um mundo onde Napoleão Bonaparte venceu as guerras napoleônicas. Graças a uma bem-sucedida invasão da Rússia, na história, Napoleão consegue unificar todo o planeta sob seu governo. Posteriormente, inclusive, a ideia de se Napoleão ganhasse a guerra irá ser muito abordada no gênero em diversos cenários diferentes. Mas definitivamente o marco mais importante para a história alternativa veio mais de 100 anos depois, lá nos anos 60, com o lançamento do livro O homem do Castelo Alto, escrito pelo autor americano Philip Keick, o mesmo autor do livro que foi adaptado no filme Blade Runner de 1982. No homem do Castelo Alto, Felipe Kedick imagina um mundo onde o eixo venceu a Segunda Guerra Mundial, com os Estados Unidos sendo divididos em domínios controlados pela Alemanha no Leste e o Oeste sendo controlado pelos japoneses, tendo como ponto de divergência o assassinato do presidente americano Frank Roosevelt pelo Giuseppe Zangara em 1933, que desencadeou uma sucessão de eventos que possibilitou a vitória alemã na Segunda Guerra Mundial, criando o mundo onde a Alemanha e o Japão eram as grandes potências mundiais, criando assim uma distopia mundial. Com a história do livro se passando nos anos 60, o homem do Castelo Alto foi bem influente para as histórias do gênero, com também a ideia de um resultado diferente da Segunda Guerra Mundial, sendo um cenário muito usado em outras histórias. E foi mais ou menos nessa época que também surgiu histórias que vão além da mera especulação sobre o que aconteceria ser. E além disso colocam nas histórias personagens fictícios e até elementos de ficção científica, como tecnologias que poderiam ser criadas em um futuro alternativo, com visto no próprio Homem do Castelo Alto, onde existe até a colonização da Lua. Mas além disso, alguns consideram até histórias retrofuturistas dentro do gênero de história alternativa, sendo o retrofuturismo a ideia de um futuro pensado no passado, imaginando um futuro onde uma tecnologia ultrapassada se desenvolveu muito mais, com o principal exemplo de retofuturismo sendo o steampunk, subgênero, onde é imaginado o mundo, onde a tecnologia a vapor da era vitoriana se tornou a força motriz da sociedade, podendo criar com a tecnologia a vapor coisas como robôs, próteses humanas e veículos avançados, como foguetes. [Aplausos] [Música] E agora falando de outros trabalhos que eu encontrei, que eu achei a premissa bem interessante, temos exemplos como o livro The Rears of Rise and Salt, lançado em 2002 pelo autor King Stanley Robinson, que vai bem mais longe do que é a Segunda Guerra Mundial ou as guerras napoleônicas. E imagina um mundo onde a peste bumônica que assolou a Europa durante o século XIV fosse bem pior do que na nossa linha do tempo, matando 99% da população do continente, ao contrário dos 30 a 50% da população europeia que de fato morreu da doença na vida real. Com praticamente toda a população da Europa aniquilada, sociedades foras do continente ganharam protagonismo no mundo, com um continente europeu sendo posteriormente repopulado pelos muçulmanos, com o mundo árabe se tornando uma grande potência. E também países asiáticos como a China e o Japão ganharam forças com a China, os países muçulmanos e a Índia sendo as nações que de fato nesse universo colonizaram as Américas. Mas nessa realidade, os povos nativos das Américas, principalmente os incas, conseguiram montar uma resistência contra os colonizadores, posteriormente conseguindo montar uma nação própria, além da formação de outras nações independentes formadas nas Américas com a cultura dos colonizadores. Outra obra de história alternativa bem diferente é o livro Roma Eterna, escrito pelo autor americano Robert Silverberg, que explora uma realidade alternativa onde o êxodo hebreu do Egito, liderado por Moisés, falhou com ele e seus seguidores, morrendo afogados no Mar Vermelho. Isso fez com que os hebreus, agora liderados pelo irmão de Moisés, Arão, permanecessem escravos no Egito. Com isso, as religiões abraâmicas não se espalharam para fora do Egito, com os hebreus posteriormente se tornando uma minoria étnica religiosa limitada apenas àquela região, que seguiam uma versão alternativa da Bíblia, conhecida nesse universo como o livro de Arão, que justamente conta a história do êxodo fracassado de Moisés. E sem esse expansionismo, tanto o cristianismo quanto o islamismo nunca se desenvolveram. E o Império Romano em específico nunca foi cristianizado. E também nesse universo, o lado ocidental e o lado oriental do império permaneceram fortes aliados, fazendo com que o Império Romano não caísse. Na verdade, nesse universo, ele durou até o século XX ou o século X7, segundo o calendário romano. Daí que vem o nome Roma Eterna. O livro se passa em várias eras dessa história alternativa, mostrando como Roma se comportaria ao passar dos séculos, indo à modernidade. E até mesmo o ex-preiro ministro inglês Won Churchill, que era primeiro ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, também escreveu uma história alternativa, por incrível que pareça. Essa história foi escrita em 1930, quando ele tinha 56 anos e se chama E se Lee não tivesse ganhado a batalha de Gatsbury? História é essa que está relacionada à guerra civil americana? Essa história do Churchill é um pouco confusa de se explicar, mas em resumo ele escreve a história do ponto de vista de um historiador que vive em uma realidade onde o general Robert E Lee do Exército Confederado americano foi vitorioso na batalha de Gatsbury, uma batalha decisiva da guerra de secessão que aconteceu em 1863, dando a vitória para os confederados na guerra. Esse historiador personificado por Churchill especula como seria o mundo se o general Lee perdesse a batalha de Gatsburry, basicamente especulando como seria a nossa realidade, já que foi isso que aconteceu na vida real com o general Lee perdendo a batalha de Gatsbury, dando assim uma grande vantagem para o exército da União. Essa história apareceu em uma antologia chamada If Happened Authorize, lançada em 1931. E obviamente o gênero da história alternativa aparece também na literatura brasileira com a considerada primeira obra dentro do gênero, sendo escrita por um dos autores mais relevantes do realismo mágico brasileiro, o José Jacinto Veiga, que em 1989 publicou a novela A casca da Serpente, que conta uma história alternativa relacionada a Antônio Conselheiro e a comunidade de Canudos. Em sua história, Antônio Conselheiro não morreu ao fim da guerra de Canudos, em 1897, fugindo com alguns dos seus seguidores para posteriormente formar uma nova Canudos, que ainda assim, mesmo nessa versão alternativa da história, essa nova comunidade não durou tanto tempo assim, sendo destruída alguns anos depois, durante o início da ditadura militar. E outro escritor que abraça esse gênero aqui no Brasil é o autor contemporâneo Gerson Lod Ribeiro, que escreve histórias que geralmente apresentam versões alternativas da história do Brasil e de outros países da América do Sul, como é o caso do seu livro A ética da traição, que explora um Brasil alternativo que tem um território bem menor graças à derrota do país na guerra do Paraguai. O Ética da Traição é um livro que é considerado por muitos um clássico da ficção científica nacional. [Música] E chegando na modernidade, hoje em dia, muitas dessas histórias são contadas através da internet, já que aqui existe uma forte comunidade de pessoas interessadas em história alternativa, tendo um subhe redit dedicado a esse tema e diversos canais no YouTube que tem como principal conteúdo falar sobre história alternativa, como é o caso do talvez o maior deles. o Alternative History Hub. Mas além disso, um dos lugares onde se pode encontrar histórias alternativas escritas por fãs na internet é o fórum alternative.com, onde qualquer um pode escrever sua própria história alternativa. E lá podemos encontrar histórias como A World of Louter Award of Tears, uma história criada pelo usuário Static Chaos no alternatehistory.com com em 2009, onde ele imagina um mundo onde ninguém mais, ninguém menos do que o Walt Disney. Sim, o Walt Disney se torna nos anos 50 o presidente dos Estados Unidos. Sim, isso mesmo que você ouviu. Nesta linha do tempo, o candidato republicano Eisenhauer realmente virou presidente dos Estados Unidos. Teve em 1952 um ataque cardíaco que o afastou da corrida presidencial. Logo, os republicanos resolveram colocar como candidato do partido apenas Walt Disney. Dado a sua popularidade, Walt Disney vence as eleições e se torna presidente. Em seu governo acontece um aumento do anticomunismo e a guerra da Coreia é reforçada. No seu governo, o Disney controla completamente a mídia, mesclando as produções da Disney com política e transformando instituições da empresa como o Clube do Mickey, onde crianças eram afiliadas em centros de doutrinação, basicamente transformando o Zea no futuro em uma distopia fascista com a estética da Disney. E como dito antes, muitas histórias alternativas se utilizam do conceito da ficção científica e um dos elementos mais usados é a da viagem do tempo, onde geralmente uma pessoa do presente ou do futuro viaja até o passado, alterando assim algum evento histórico. Esse artifício pode ser visto em obras como o livro A Connect Cut Yankee em Kings Arthur Kurt, escrito pelo Mark Ten em 1889, que conta a história de um engenheiro americano chamado Hank Morgan, que um certo dia leva um golpe na cabeça e é misteriosamente transportado para a Inglaterra durante o reinado do rei Arthur ou a série de livros 1632 escrito por Eric Flint, que conta sobre uma fic cidade da Virgínia Ocidental chamada Grandville do ano 2000, que também é teletransportada para o passado, caindo no meio do Sacro Império Romano durante o século X7, no meio da guerra dos 30 anos. E também na internet existe uma linha do tempo criada pelo David Kinutsen chamada ICO American 2002, que descreve um cenário onde os Estados Unidos continental de 2002 é transportado no tempo para o ano de 1942 e os Estados Unidos de 1942 é transportado para o ano de 2002. Logo nessa história, os Estados Unidos de 2002, que tinha acabado de passar pelo 11 de setembro, ainda liderados por George W. Bush, tem que novamente lutar na Segunda Guerra Mundial, agora com tecnologias modernas, enquanto o país de 1942 deve coexistir com o mundo moderno de 2002. [Música] Mais além da literatura, é possível encontrar cenários de história alternativa em outras mídias, como nos jogos. E quando falamos dos jogos, um jogo que é muito relacionado a esse mundo é o game de estratégia Hearts of Iron 4, lançado em 2016 pela Paradox, sendo um jogo que te coloca no cenário da Segunda Guerra Mundial, te permitindo controlar qualquer país que existia na época, dando a você a possibilidade de recriar o que aconteceu na história ou de criar uma linha do tempo completamente diferente. Dado a grande quantidade de cenários que você pode criar no jogo, muita coisa bizarra dá para acontecer na sua campanha. Mas além do jogo base, o Hearts of Iron 4 possui diversos mods que criam cenários alternativos para o período da Segunda Guerra Mundial ou períodos anteriores ou períodos até posteriores, como é o caso do Kaiser Heich, que se passa em uma realidade onde o império alemão e as potências centrais venceram a primeira guerra mundial. ou mod AP Moa Ledeluge, onde o Napoleão e a França venceram as guerras napoleônicas, havendo até mesmo um mod chamado a House Divided, em que cria uma linha do tempo onde o Brasil não conseguiu se manter unido e foi dividido em oito nações que permaneceram independentes até a metade dos anos 30, onde o jogo começa com você podendo pegar qualquer uma dessas nações que vão desde uma São Paulo independente até até a confederação do Equador para tentar unificar novamente o Brasil. Mas ainda falando de jogos da Paradox, algo bem interessante que pode ser feito não só com Hearts of Iron, mas com outros jogos da desenvolvedora é algo que os jogadores chamam de mega campain, que é basicamente jogar os jogos da desenvolvedora de forma cronológica e ir transferindo os saves para o jogo seguinte até criar uma linha do tempo completamente diferente nos últimos jogos, já que quando você zera um dos jogos, você acaba no período onde onde o jogo seguinte começa. Então você pode transferir esse save e continuar aquela linha do tempo no jogo seguinte. Os jogos que geralmente são vistos nessa mega campain são, em ordem cronológica, o jogo Imperal Home, que se passa na época da ascensão de Roma, o Crusaders Kings 3, que se passa na Idade Média, o Europa Universalis 4, que se passa no início da era moderna e na era das colonizações, o Victoria 3, que se passa na era vitoriana até os anos 30, e o RS of 4, que se passa na Segunda Guerra Mundial. Alguns até incluem o jogo Estelares, que se passa no futuro distante durante o período do imperialismo [Música] galático. Então eu acho que é isso. Essa foi a nossa exploração do gênero da história alternativa. É claro que eu não consegui falar de tudo, já que tem muita coisa para ser explorada nesse conceito, mas eu acredito que já tenha dado para entender o por esse gênero tem um grande potencial. Mas de qualquer forma, eu espero que vocês tenham gostado do vídeo. Se sim, não se esqueça de comentar aí embaixo, deixar o seu like e se inscrever no canal, caso não tenha feito isso ainda. E no mais, é isso. Eu espero todos vocês em um próximo vídeo. Até mais. Ah. [Música]