O Homem do Saco: HISTÓRIA INFANTIL ou CASO REAL?
1Um sorriso maroto, ele te chama agora. Coisas bem doces e a você. [Música] Se você tem mais de 20 anos e passou a infância no Brasil, com toda a certeza você já ouviu a seguinte frase: “Se você continuar fazendo bagunça, eu vou chamar o homem do saco para te levar”. E essa frase ingênua, usada pelos pais e avós para ensinar uma lição, carrega uma criatura e uma história extremamente perturbadora. Meu nome é Mr. Sandman e esse é o te secando o homem do saco. [Música] Em 16 de janeiro de 2025, chega no Brasil o filme Pacman, que apesar de ser um filme extremamente duvidoso em questão de qualidade, serviu para trazer de volta um interesse sobre a figura do homem do saco. Mas se você vive numa caverna e não sabe do que eu tô falando, eu vou te contar brevemente do que se trata a lenda do homem do saco. [Música] O homem do saco, também conhecido como velho do saco e papa figo, é uma das figuras mais conhecidas do folclore brasileiro. E segundo a história mais famosa, o papa figo se alimenta do fígado das crianças, dá aí o seu nome. E ele faz isso porque tem uma doença no próprio fígado e acredita que se alimentar do sangue do fígado das crianças irá curá-lo. E por ele tinha esse pensamento tão grotesco? Basicamente, nessa época existia uma crença geral de que o fígado das crianças era mais puro devido à idade. E em algumas versões da lenda, ele possuía ajudantes que sequestravam essas crianças para ele. Mas na grande maioria das narrativas, ele sempre agia sozinho, oferecendo doces e brinquedos para atraí-las até seu destino cruel. Depois de se alimentar, a criatura tinha um costume no mínimo intrigante. Ele deixava ao lado do corpo uma grande quantia em dinheiro para ajudar a família com despesas do funeral. Quando falamos da aparência do Papa Figo, o antropólogo Luís da Câmara Cascudo, no livro Geografia dos mitos brasileiros descreve o seguinte: O Papa Figo é como lobisomem da cidade que não muda de forma sendo alto e magro. disse que é um velho negro vestido de farrapos com saco ou sem ele, ocupando-se em raptar crianças para comer-les o fígado ou vendê-los aos leprosos ricos. Em outras regiões é muito pálido, sujo, esquálido, com barba sempre por fazer. Sai à noite, às tardes ou ao crepúsculo. Aproveita as saídas das escolas, os jardins onde as amas se distraem com os namorados e os parques abandonados. atrai as crianças com disfarces ou mostrando brinquedos, dando falsos secados ou prometendo levá-las para um local onde há muita coisa bonita. Essa lenda é contada em todos os estados do Brasil, em especial nas zonas rurais. E o intuito com isso era evitar que as crianças falassem com estranhos. E quando falamos de origem da lenda, os estudiosos sobre o tema dizem que provavelmente surgiu em meados do século XX devido ao surto da doença de chagas na região do Nordeste. Porque quando ocorria a morte das pessoas durante a necrópsia era retirada os fígados para uma análise. E devido à falta de conhecimento da população na época, surgiu essa lenda para justificar o sumisso dos órgãos. Mas e se eu te falar que isso é mais uma historinha do que qualquer outra coisa? E se eu te falar que essa criatura é bem mais antiga do que isso? [Música] Ele te chama agora. Europa, América Latina, África e Ásia. O que esses continentes têm em comum? Todos eles têm uma variação regional do velho do Saco, com algumas diferenças, mas mantendo a mesma essência. Na Espanha, o hombre del saco é descrito como um velho assustador, magro e grotesco, que carrega um saco nas costas para raptar crianças mal comportadas e devorá-las. E a origem do termo está ligada ao famoso crime de Gador, onde sequestradores usavam sacos de estopa para transportar suas vítimas. Mas esses crimes reais vão ser tratados mais para frente no vídeo. Agora na América Latina como um todo, o mito ganhou outras versões. No Chile e na Argentina, ele é chamado de Viero del Saco ou hombre de la bolsa e aparece sempre no horário do jantar. E ao contrário de uma criatura sobrenatural, aqui ele é visto como um assassino humano. Um assassino que foi aceito pela própria sociedade e deixa ele levar as crianças. E essas crianças são entregues de livre e espontânea vontade por pais decepcionados ou simplesmente foram encontradas fora de casa após o pô do sol. Agora em Honduras e no México, a lenda recebe o nome de El Robaticos, o ladrão de crianças, que é praticamente uma variação direta do homem do saco BR. E além de países hispânicos, a lenda do Se também existe na região da Europa oriental. Na Armênia e na Geórgia, ele é descrito como sequestrador que carrega uma sacola para levar embora aqueles que não se comportam. Na Hungria existe o mumus, conhecido como zessa zem, que significa literalmente o homem com saco. Agora na região da Polônia, as crianças são amedrontadas pelo bebque, também chamado de baboke ou boboc, que mais uma vez é retratado como uma figura carregando um saco. Na República Teca e na Islováquia existe o Bubak, uma criatura sem forma definida associada à escuridão e a lugares assustadores e abandonados. Ele não costuma atacar diretamente, mas sua presença gera um medo profundo das crianças antes de elas desaparecerem misteriosamente. E essa criatura é como se fosse uma fusão do velho do saco com o bicho papão. E nesses dois países também se usa a figura de Sergio o diabo, para assustar crianças. Agora na Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, a versão é chamada de buca, babai ou babaiká. E o nome babai vem do idioma tártaro e significa literalmente velho. E essa entidade é retratada às vezes como homem velho com a bolsa e outras vezes escondido como um monstro debaixo da cama, sempre pronto para levar embora os pequenos que não obedecem aos pais. [Música] E ainda temos variações na Ásia e África. No norte da Índia existe a figura do Borapa, que é conhecido como pai saco. E ele é descrito como alguém que carrega um grande saco para capturar crianças desobedientes. No Líbano, uma entidade semelhante é chamada de Abuquis, que significa literalmente o homem com uma bolsa. Já na Turquia, a lenda fala de kakati, também chamado de Oku, boku ou torbau. E ele é novamente retratado como um homem que leva um saco nas costas e sequestra crianças para comê-las ou vendê-las. Agora, na Coreia existe o Maguetá e o Ganan, um velho que carrega um saco de rede usado para colocar crianças que se comportam mal. Já no Vietnã, as crianças são advertidas sobre o on babi, que significa senhor dos três sacos, descrito mais uma vez como uma figura que aparece para levar embora os pequenos que desobedecem, mudando de continente mais uma vez, no folclore do Cabo Ocidental, na África do Sul existe a figura de Antiomers, um tipo de bicho papão usado para assustar crianças desobedientes. Ele é descrito como alguém que carrega uma bolsa pendurada no ombro com o mesmo propósito de sempre: capturar e levar embora os pequenos que não se comportam. E curiosamente, em países mais frios, a figura do homem do saco é muito ligada ao período de Natal. Isso é muito surreal pra gente, porque não tem nada a ver. No Brasil é só uma lenda urbana padrão, mas se ficou confuso para alguém, eu vou explicar. Em vários países, a figura do homem do saco é contrastada com o lado bondoso do Papai Noel e isso cria um equilíbrio entre recompensa e punição. Na Holanda, em Flanderes, por exemplo, existe o Zard de Piet, que é um servo de Cterclass. Ele entrega presentes no dia 5 de dezembro, mas também carrega sacos para levar embora as crianças mal comportadas. E algumas versões da lenda dizem que essas criaturas foram no passado crianças raptadas, formando assim uma nova geração de ajudantes de forma cíclica. Agora na Suíça, a tradição do país traz o Schumatizzil, que tem a mesma função de punir os desobedientes. No Leste Europeu, histórias bem semelhantes também aparecem. Na Bulgária tem a figura do Thorbalan, que seu nome significa saco. E ele é descrito como uma criatura sombria que sequestra crianças em seu enorme saco e é visto como completo oposto do Papai Noel. Agora no Caribe, mais especificamente no Haiti, existe o Tom Tom Ma coach, que significa tio do saco. Ele é um gigante que funciona mais uma vez como versão sombria do Papai Noel, conhecido por raptar crianças dentro do saco. E na região dos Alpes tem o famoso Crampus, a criatura demoníaca que acompanha o Natal e muitas vezes é representada com saco ou matina para carregar crianças desobedientes. E além dessa expansão geográfica da lenda do velho do saco, ainda tem uma expansão temporal. Cara, a lenda do homem do saco é uma coisa muito antiga. A gente tá falando de idade média. Na idade média, os pais já falavam de uma criatura mística com saco nas costas que levava as crianças embora. E com isso surge uma pergunta. Durante todos esses anos, em todos esses países, sempre a mesma história. Um homem velho, com aspecto sujo, raptor de crianças desobedientes e sempre com maldito saco nas suas costas. Será que realmente não tem algo aí? Será que tudo isso é apenas coincidência? [Música] E nessa parte do vídeo eu vou fazer algumas menções a casos reais envolvendo o homem do saco. É claro que eu vou ter que censurar alguns termos por conta do YouTube, mas vocês podem achar os casos completos se pesquisarem bem pela internet. Aa, em 28 de junho de 1910 acontecia um dos crimes mais bárbaros da humanidade. Crime esse que rendeu ao criminoso a alcunha de velho do saco do mundo real. O crime de Gador ocorreu na Espanha, na pequena localidade de Gador, na Alméria. E a vítima desse crime perverso foi Bernardo González Parra, um menino de apenas 7 anos que foi sequestrado e brutalmente eliminado para que seu sangue e sua gordura fossem usados como suposto remédio contra a tuberculose. Naquela época ainda circulavam crenças de que beber o sangue humano e usar a gordura infantil como cataplasma poderia curar doenças. E foi nesse contexto que Francisco Ortega, apelitado de Elmoruno, diagnosticado com tuberculose, que na época era uma doença 100% mortal, buscou a ajuda da curandeira Agostina Rodrigues. E ela, por sua vez, o encaminhou barbeiro, também curandeiro, Francisco Leona, um homem com uma grande ficha de antecedentes criminais. E o homem aceitou realizar o tratamento por 3.000 na moeda da época. E para executar o plano, Leona contou com a ajuda de Júlio Hernandes, conhecido como El Tonto, e também era filho de Agostina, que se ofereceu para encontrar uma criança. E na fatídica noite de 27 de junho, Leona sequestrou o pequeno Bernardo, ele com clorifórmio e colocou dentro de um saco. No dia seguinte, no cortiço de São Patrício, o menino foi colocado sobre uma mesa e perfurado na Aila por Leona. Enquanto Agostina recolhia seu sangue e uma panela e entregava a Orteca que o bebeu misturado com açúcar. Em seguida, a vítima foi levada a Las Possicas, onde Leona esmagou seu crânio com uma pedra, extraindo a gordura para preparar uma compressa que seria colocado no peito do doente. E após toda essa brutalidade, o corpo foi deixado em uma fenda coberto apenas com pedras e ervas. E esse crime tão terrível deu origem a duas expressões populares no imaginário espanhol, hombre del saco e saca mantecas. Pois a criança foi transportada em um saco de estopa e morta para extração de gordura. E esse episódio ficou marcado como um crime médico, já que estava ligado a crenças populares de cura pela ingestão de sangue humano. E o principal motivo desse caso ter ficado tão famoso foi a forma extremamente brutal que foram realizados todos os atos. Há quem diga que a lenda do velho do saco não veio de um ser mitológico, mas surgiu a partir desse crime real. E fazendo valer a frase, nenhum filme de terror é tão assustador quanto a vida real. Temos outros casos de velhos do saco. O crime de gador é algo bem antigo, algo perdido no tempo, com pouquíssimos registros históricos. Mas um caso criminal desse século tão perturbador quanto foi o de Laert Patrocínio Orpinelli, também conhecido como Maníaco da Bicicleta, O homem do Sco Monstro de Rio Claro. Nascido em Araras, em São Paulo, em 1952, Laert confessou ter cometido mais de 100 extermínios, sendo mais de 10 deles confirmados pela polícia e praticado contra crianças. E os seus crimes aconteceram entre o início da década de 1970 e o final da década de 1990, especialmente no interior de São Paulo. A cidade de Rio Claro viveu um período infernal e foi marcada por uma onda de assassinatos. Para praticar os crimes, ele se locomovia utilizando de uma bicicleta vermelha, daí o nome maníaco da bicicleta. A sua forma de agir era meticulosa, manipuladora e extremamente grotesca. Ao chegar em uma cidade nova, ele observava os hábitos locais, identificava crianças vulneráveis e muitas vezes até fazia amizade com os pais. De acordo com ele, isso facilitava a sua abordagem, já que os pequenos confiavam nele por acharem que era um conhecido da família. Laert oferecia balas e doces, prometendo muito mais se o acompanhassem. E ele levava as crianças em sua bicicleta até locais isolados, como bosques ou casas abandonadas, e lá cometia seus crimes. Cara, por conta do YouTube, eu não posso nem falar o que esse fdp fazia, mas se você quiser procurar, as notícias da época estão bem detalhada. Mas para resumir bem, ele praticava atos desumanos e depois eliminava a vítima quando estava satisfeito. E os seus métodos de extermínio variavam entre agressões físicas, estrangulamento e até o uso de pedras. E após a prática dos atos, ele muitas vezes deixava os corpos expostos ou apenas parcialmente enterrados. E em certos depoimentos, chegou até a afirmar que bebia o sangue das vítimas. E quando perguntado pelo motivo de eliminar crianças, Laert declarou que apenas gostava de vê-las aterrorizadas. As vítimas eram sempre crianças de 3 a 11 anos de idade e de famílias humildes, tanto meninos quanto meninas. E todos os crimes se concentraram em cidades próximas, Rio Claro, Monte Alto, Piraçunca e Franca. E ele também afirmou ter matado em outros municípios, mas nunca revelou detalhes. E depois de uma longa investigação, finalmente em janeiro de 2000, Laer de Patrocínio Orpinelli foi preso. Durante o julgamento. Foi condenado a mais de 100 anos de prisão por homicídio, abuso e ocultação de cadáver. Mas o seu fim aconteceu em 3 de janeiro de 2013, quando foi encontrado falecido em sua cela. O monstro do Rio Claro entrou pra história como dos mais perversos assassinos em série brasileiros, responsável por encarnar o mito popular do homem do Saco. [Música] Agora, para finalizar os casos, vamos voltar ao século XV, no coração da França medieval, para conhecer a história de um dos personagens mais sombrios da história europeia, Giles G. Rais, um dos homens que inspirou a lenda do homem do saco. Para contextualizar, Gilles não era qualquer homem. Ele não era um doente à procura de uma cura ou um maníaco de cidadezinha. Ele foi um nobre de alta posição, companheiro de armas da Santa Joana Dark. E durante toda sua juventude, Gilles foi celebrado como um guerreiro valente e bondoso. Mas após a morte de Joana, a sua vida tomou um rumo obscuro e macabro. Ele mergulhou em práticas ocultistas e acabou sendo acusado de sequestrar, abusar e eliminar dezenas de crianças. Crianças essas que em sua maioria eram meninos. E tudo começou em 1440, quando moradores da região começaram a notar que crianças estavam desaparecendo misteriosamente e as suspeitas logo recaíram sobre os castelos de Giles de Rais. Testemunhas relatavam ter visto meninos entrando em suas propriedades, mas nunca saíam de lá. E isso levou a igreja e o estado a iniciarem uma investigação. O caso foi tão grande que juntou autoridades seculares e eclesiásticas na mesma investigação. E no mesmo ano, Guilha foi levado a julgamento e ele enfrentou acusações pesadíssimas: sequestro, abuso, assassinato, bruxaria e até heresia. E durante o processo, testemunhos horríveis vieram à tona. Relatos detalhavam práticas sádicas e rituais macabros realizados pelo nobre. E a confissão do próprio Guill chocou a todos e não deixou dúvidas sobre sua culpa. No dia 26 de outubro de 1440, Guilis foi condenado à morte. Ele foi enforcado e queimado logo em seguida, dando um fim no primeiro homem do saco da história da humanidade. E seu julgamento entrou pra história como um dos mais infames da Idade Média, símbolo de corrupção, decadência e maldade humana. Se você me acompanha no YouTube há algum tempo, você sabe muito bem da minha relação de amor e ódio com a Fundação SCP. Mas no vídeo de hoje não vai ter crítica alguma. E sim, eu vou falar desse velho decrépito aqui. Sintto, esse aqui é o SCP 106. E eu vou traçar um paralelo da história dele, da lore dele com a história do homem do Saco. Então, pega a visão. Mas caso alguém não conheça, eu vou fazer uma breve descrição. O SCP 106 é uma das entidades mais temidas do universo da Fundação SCP. Ele é classificado como objeto de classe kitter, ou seja, extremamente agressivo e perigoso. Ele se apresenta como um homem extremamente velho e de aparência cadavérica, com uma pele necrosada e constantemente coberta por um muco preto corrosivo, capaz de dissolver qualquer material sólido. E esse líquido permite ele atravessar paredes e serve de arma contra suas vítimas. Mas a sua principal habilidade é o controle sobre uma dimensão de bolso, um espaço distorcido, onde ele arrasta suas presas para torturá-las de forma lenta e sádica. E dentro dessa dimensão, ele detém controle absoluto sobre o espaço e o tempo, tornando impossível qualquer tentativa de fuga. Tem bem mais histórias sobre o SCP, mas como o intuito do vídeo é traçar um paralelo com o homem do Saco, eu não vou me aprofundar. É innegável como essa criatura é muito parecida com o velho do saco. Primeiramente em questão de aparência. Dá uma olhada nessas duas imagens. A semelhança, agora a descrição dos comportamentos. Ambos sequestram pessoas e têm uma preferência por crianças e usam elas para se alimentar ou praticar atos abomináveis. E por fim, a forma de captura. Um utiliza um saco e o outro uma dimensão de bolso. Em primeira vista, isso pode parecer até um grande diferencial, mas ambos têm funções idênticas. Deixar a vítima presa até que a criatura faça o que tem vontade. Mas é isso, eu só trouxe essa menção final porque eu achei bem interessante o paralelo. [Música] Concluímos então que o Papa Fico Barravelho do Saco, de forma mitológica ou real é uma das poucas lendas folclóricas que realmente tem raízes verdadeiras. Então, quando for andar à noite na rua sozinho, tome cuidado, pois ele pode estar à espreita.