O INCEL BRASILEIRO DO DISCORD E COMO SE PROTEGER | Ft. Vitória Okida

Existem alguns cantos da internet aqui no Brasil que são tão sombrios que às vezes seria melhor nem ficar sabendo do que acontece. Isso se não fosse tão importante a gente saber. Bem-vindos a mais um vídeo no canal. Se você gosta de conteúdo assustador, bizarro e misterioso, você tá no lugar certo. Toda semana tem pelo menos três vídeos longos. Todo dia tem vídeo curto, então tem muito conteúdo para vocês. Se você gosta desse tipo de conteúdo, não esquece de deixar seu like, se inscrever no canal, comentar outros temas que vocês querem ver aqui. As fontes e os créditos estão sempre na descrição do vídeo. E gente, o vídeo de hoje eu vou dar um uma introdução assim um pouco diferente, porque esse aqui é um tema que eu já tô querendo falar há algum tempo. Primeiro começou essa ideia quando eu fiquei sabendo de umas coisas que estavam rolando aqui e também saiu aquela série Adolescência na Netflix. Vocês devem ter assistido a série, ela fala de um adolescente que tinha matado uma colega da sala dele e teve toda uma discussão sobre incelentes que nem todo mundo já tinha ouvido falar. E nessa mesma época eu conheci uma pessoa que trabalhava com casos parecidos aqui no Brasil, então já me acendeu a alerta ali para eu falar desse tema no canal. E aí foi passando o tempo, as coisas foram acontecendo e a gente teve toda essa repercussão do vídeo do Felkaa falando sobre o caso do Italo Santos, que a gente já tinha até mencionado no canal há algum tempo atrás e tá todo mundo falando, né, sobre essa questão de menores. E um pouco antes do Felka expor esse caso, eu participei de um tipo um seminário que rolou em Brasília. Eu fui convidada para falar um pouco sobre o meu trabalho em um seminário que tratava de dois temas, o tráfico humano e também o abuso sexual infantil de crianças e adolescentes, é claro. Nesse seminário tinham duas organizações muito grandes aqui no Brasil, que é a Dexodos Road, que trata de casos de tráfico humano, e também o Instituto Liberta, que fala muito sobre essas questões de abusos. Inclusive, foi a Deso dos Rad Brasil que conseguiu trazer aqueles homens que estavam presos em Myanmar, que saiu bastante nas notícias, vocês lembram? Então, foi muito importante para mim tá ali falando sobre esses temas e também conhecer um pouco mais sobre o trabalho deles. E nesse dia, alguns delegados de diversas regiões do Brasil que estavam na palestra vieram conversar comigo sobre alguns crimes cibernéticos, algumas denúncias que eles têm recebido de redes sociais e me passaram algumas informações também do que tá acontecendo. Como eu já tinha esse roteiro e eu já estava pensando em falar sobre esse caso, eu acho que esse tá sendo um momento perfeito. E esse vídeo é um grande alerta também, principalmente para pais que tem filhos adolescentes, pros próprios adolescentes que estão assistindo esse vídeo. Eu acho que nesse caso e em diversos outros tipos de caso, o essencial é a informação. Eu também trouxe aqui no vídeo a Vitória Okida que eu conheci esse ano, que foi a primeira pessoa que conversou um pouco mais comigo sobre esses casos. Ela é tipo uma hacker ética. Ela ajuda em recuperação de conta e esse tipo de coisa, mas ela também tem um trabalho bem legal ajudando a polícia a encontrar essas pessoas que estão cometendo esses crimes na internet. Então, vão ter alguns trechos aqui no vídeo também que ela vai falar um pouco sobre o trabalho dela. Então, sem mais enrolação, bora pra história. [Música] Primeiro, a gente vai falar sobre o Discord. Principalmente a comunidade gamer já deve saber o que o Discord é ou deve usar todos os dias. Inclusive, eu mesma tinha um canal no Discord numa época que eu jogava mais e que fazia umas lives de jogos aqui no canal. A ideia do Discord quando ele foi lançado era uma coisa bem simples, resolver o problema da comunicação online enquanto você tá jogando. O Discord chegou com essa proposta de ser rápido, gratuito, o som era limpo, não travava o computador e logo se tornou um dos preferidos dos gamers. Depois, o Discord se popularizou e ele é usado para outras coisas além de jogos. Quando você entra lá, você pode criar um servidor, que são como grupos privados de pessoas que têm os mesmos interesses. Nesses servidores tem canais de texto, canais de voz, de vídeo, transmissão ao vivo e também tem algumas ferramentas de moderação. Não é como se você criasse a sua própria comunidade lá dentro. O servidor também pode ser personalizado. Você pode colocar rankings, hierarquias nos membros. Tem salas temáticas, tem usuários que podem acessar determinadas salas, outros não. Então é como se fosse uma mistura do Reddit com o WhatsApp, com o Zoom, tudo no mesmo lugar. é uma plataforma muito boa. E aqui eu quero deixar claro que a gente não tá falando mal do Discord, das pessoas que usam o Discord e muito menos dos gamers, mas a gente sabe que todo lugar dá para ter pessoas muito boas e pessoas com intenções muito ruins. E é aí que tá o problema. O Discord já foi alvo de diversas operações ilegais. Algumas dessas atividades incluem pirataria, golpes financeiros, discursos de ódio, abuso psicológico, aliciamento de menores e outras práticas criminosas que tão escondidas ali dentro dessa aparência de um grupo fechado. E vocês devem estar se perguntando, tá, mas por que que você tá falando tanto do Discord? Porque nesse vídeo eu vou tratar de um caso específico que vinha acontecendo lá dentro e que a polícia conseguiu pegar o responsável através da plataforma. Em julho de 2023, a polícia do Rio de Janeiro fez uma operação chamada Dark Room. Um garoto de 19 anos chamado Pedro Conceição da Rocha foi capturado dentro da casa dele. E a gente tem os áudios do momento em que ele foi capturado, porque ele tava online no Discord conversando ali com uma galera. Eu vou deixar o áudio aqui, mas basicamente quando a polícia chega eles falam que ele tá preso e aí ele fica meio que fingindo que não tava nem aí, sabe? Eu já sabia do mandato de busca pensão que ia levar. Mas vocês vão conduzir até delegacia? Tá preso. Tem mandar de prisão contra você. Eu tô preso. Por quê? Não faz sentido. A gente vai te levar pra delegacia. A gente vai conversar, vai explicar toda sua situação lá. [ __ ] o King tá preso, mano. Ele é muito debochado. Ele fala que já sabia que eles estavam vindo. E a gente também consegue ouvir de fundo um choro. Esse choro era de um dos familiares do Pedro, que estava ali na casa no momento da captura dele e estava completamente em choque com as alegações contra ele. O Pedro criou e gerenciou um servidor no Discord chamado System X. Esse servidor durou de agosto de 2021 a março de 2023 e junto com ele, gerenciando tudo aquilo, tinham outros quatro adolescentes. Ele também era conhecido dentro do servidor como king, ou seja, rei. Os grupos ali atuavam em três servidores diferentes, todos com código de convite, que eram altamente restritos e também monitorados por líderes que se apresentavam com esse apelido King. Então, não só o Pedro se autodenominava King, a gente tinha esses outros membros também. Só que o Pedro, ele era o mais influente e ele era considerado o cérebro por trás da organização. Ele controlava a permissão dos usuários. Ele decidia quem entrava, quem saía. Ele distribuía vídeos lá dentro e determinava missões que as vítimas tinham que cumprir. Mas de novo, essa história tá muito confusa. O que exatamente ele estava fazendo ali dentro? Essa parte que é importante deixar o alerta. O alvo do King eram crianças de 9 a 14 anos. A maioria dessas vítimas eram meninas, mas também tinham meninos envolvidos. Que que eles faziam? Eles tinham usuários em redes sociais ou até mesmo dentro de jogos que não tinham um nome específico, não tinham uma foto, mas eles procuravam perfis de garotas que pareciam ter mais vulnerabilidade ali. Eu vou falar garotas, mas vocês sabem que também tinham vítimas que eram garotos. Então, a gente tinha garotas que às vezes sofriam com depressão, com ansiedade, elas tinham algum conflito familiar ou até tinham uma sensação de abandono. Eles iam abordar elas nas redes sociais, no começo com um papo leve. Eles falavam de filmes, de jogos, de séries e ganhavam a confiança da pessoa que às vezes só queria estar conversando com alguém. Inclusive, muitas das vítimas diziam que ele realmente parecia se importar com elas. Essa tática é chamada de grooming. É quando o agressor estabelece uma relação de confiança com a vítima para depois levar ela a situações abusivas depois que ela já tá isolada. Quando Pedro sentia que essa vítima já tava emocionalmente ligada a ele, ele começava a inverter a situação. Ele falava coisas como: “Ai, ninguém mais vai se importar com você além de mim. A sua família te ignora, mas eu tô aqui. Você precisa confiar em mim”. E nesse ponto ele convidava a vítima para participar desse servidor do Discord. Eu não sei como funcionava o esquema deles de conseguir diversas informações pessoais das vítimas, mas ele usava essas informações pessoais para ameaçá-las. Enquanto ainda estava nesse momento delas confiarem no agressor, ele pedia para elas mandarem nudes. E aí o Pedro e até esses outros agressores que cometem esse tipo de crime, eles também mandam nudes para elas para mostrar que, tipo, ah, eu tô te mandando, você me manda, a gente faz essa troca. Só que os nudes que eles mandavam não eram de verdade. Eles procuravam imagens na internet, por exemplo. Então, imagina depois que eles têm o nude da pessoa, eles começavam a ameaçar a vazar aquilo, não só a vazar nas redes sociais, como também mostrar pros pais das vítimas. Para que ele não fizesse essa divulgação, ele exigia que as meninas fizessem coisas terríveis. E aqui eu vou deixar um grande alerta de gatilho, porque é um conteúdo muito pesado. Quando eu fiquei sabendo, eu não queria acreditar, eu queria chorar ali na hora. A polícia conseguiu descobrir exemplos de automutilação, exposição sexual, humilhação, zoofilia. Era muito comum que eles pedissem para as crianças machucarem os próprios animais de estimação e aí elas tinham que filmar e mandar aqueles vídeos. Esses vídeos eram compartilhados em alguns grupos dentro do Discord, onde as pessoas ficavam assistindo e dando risada. Eles já encontraram diversas garotas que estavam cheia de hematomas. Uma delas, em um dos casos, no próprio vídeo, implorava para ela poder tirar a própria vida, porque ela não aguentava mais. Até um dos delegados que eu conversei lá em Brasília, ele falou que a séria adolescência é muito leve, que os casos que eles recebem são muito piores. Eles exigiam, por exemplo, que elas tirassem fotos íntimas com o nome do grupo no corpo. Aí, mesmo que a garota, por exemplo, não tivesse compartilhado um nude, eles falavam que eles iam fazer um deep fake ali com inteligência artificial, fingindo que era menina. e também iam espalhar aquilo. Então, era uma grande manipulação psicológica que elas não sabiam como sair. E aí vocês devem estar pensando, tá, mas por que que elas não avisaram os pais, algum primo, alguém que isso estava acontecendo? Eu admiro muito famílias que a criança tem um adulto de confiança em que eles podem compartilhar isso, mas a grande maioria tem muita vergonha de expor que algo assim tá acontecendo. Por isso que é tão importante que os adultos tenham um diálogo com a criança para que ela se sinta confortável para ver algo estranho e conseguir falar. Tanto que a maioria dessas denúncias não chegam pra polícia porque alguém ficou sabendo de algo e denunciou. Não, pelo que o delegado tava me explicando no dia, ele disse que as próprias plataformas, as redes sociais conseguem monitorar algumas atividades estranhas e mandar diretamente para eles. Então eles me contaram alguns exemplos de tipo, ah, o Facebook viu que tem uma conversa em que duas pessoas estão compartilhando fotos íntimas, vamos supor, a plataforma consegue ver a diferença de idade entre essas pessoas e aí se eles notam algo estranho, eles denunciam. É claro que tem várias formas de burlar esse sistema, mas eles dizem que tem melhorado e que eles têm recebido mais coisa. Eles até falaram que teve um caso em que eles receberam a denúncia e eles tiveram que ir correndo paraa casa da família. Quando eles entraram no quarto, a garota tava prestes a tirar a própria vida e os pais estavam no cômodo do lado, achando que ela só tava dentro do quarto usando o computador. O King também era bem inteligente para não ser detectado. Ele usava perfis falsos, linguagem cifrada e o Discord também. agora passou a colaborar mais, mas como é uma plataforma um pouquinho difícil de você encontrar quem é a verdadeira pessoa, isso ajudava nos crimes. A polícia precisou de muita inteligência cibernética, se eu posso falar assim, e também muita paciência. Eles trabalharam com rastreamentos de IPs, análises de logs de rede e de conexão para identificar quem tava por trás dos perfis anônimos. O ponto crucial foi a monitoria constante do servidor do Discord. Então, alguns investigadores se infiltraram lá dentro. Eles foram catalogando mensagens, vídeos e interações, inclusive com troca de material sensível. Tudo isso foi armazenado e mapeado, respeitando todos os trâmites legais para que as provas não fossem descartadas judicialmente depois. Para que isso fosse possível, eles precisaram de uma cooperação internacional, principalmente com a própria plataforma do Discord. Depois que eles tinham informações suficientes do Pedro, eles montaram essa operação de cerco e fizeram uma busca e apreensão na casa dele. Lá dentro, eles encontraram computadores, HDs e celulares contendo material que comprovava tanto o abuso quanto o aliceamento das vítimas. Para vocês terem noção, foi encontrado um notebook com mais de 1700 arquivos contendo pornografia infantil. Muitos deles estavam ali com cenas explícitas. Também tinha algumas conversas arquivadas no Discord com detalhamento das tarefas que as vítimas eram obrigadas a cumprir. Também tinha uma planilha com os nomes de usuários, as idades e o nível de submissão das vítimas, como se fosse uma espécie de ranking. O computador também tinha um documento PDF com um tipo de manual de como recrutar novos membros. Então, tinha como abordar menores de idade, quais perfis procurar, como convencê-los a participar das atividades do servidor. Até o momento que a gente fez essa pesquisa, a polícia já tinha identificado mais de 30 suspeitos no Brasil e em outros países da América Latina, mas eu suspeito que o número real seja bem maior. Muitas meninas relataram que mesmo querendo sair, elas não conseguiam por medo das consequências. E vocês imaginam, a grande maioria vive até hoje com ansiedade, com síndrome do pânico, com depressão profunda e até com fobia social. Imagina uma garota numa situação de vulnerabilidade que já tá se sentindo mal, abandonada, chega uma pessoa que ela finalmente consegue confiar de novo e descobre que era uma coisa muito pior, que era só uma pessoa sádica ali. Como eu mencionei, o Pedro quando foi preso, ele pareceu muito cínico. Ele chegou a bocejar. O alguns repórteres foram acompanhando enquanto ele tava entrando na delegacia e aí perguntavam o que que ele tava fazendo no Discord e ele só respondia. Tipo coisas. Ai gente, juro, essa entrevista me deu uma raiva. Eu não consigo olhar na cara desse menino. Esse grupo, você que fez toda essa operação. Não. Hum. Você tem feismo criança? Não. Você é um pedófilo? Não. Meu Deus. Cruzes. Você cometia estupro virtual? Nope. E aí ele ficou negando que ele tinha feito qualquer coisa. Ele falou que ele só era um dos donos do Discord, mas que não era ele que fazia aquilo e que o máximo que ele tinha feito era xingar pessoas. Além do Pedro, outros membros do grupo do Discord foram identificados e foram prestar depoimento. Esses membros também negaram ter participado e disseram que eles eram só espectadores, apesar da polícia ter diversas provas deles falando ali, dando instruções e participando ativamente. Alguns desses membros tinham até cargos definidos, como de recrutadores e até uma pessoa que era responsável para apagar mensagens que fossem mais sensíveis para tentar encobrir o que eles estavam fazendo. Mas a gente também tem relatos de usuários que estavam dentro do servidor que decidiram colaborar com as investigações. Um deles, inclusive saiu e disse que ficou muito abalado com o teor conversas e por isso ele decidiu fazer uma denúncia anônima. Essa denúncia foi crucial pro início da operação policial. Essa mesma testemunha foi protegida e aí ele conseguiu mostrar um panorama geral de como funcionava o servidor. Ele falou que tinha até um ranking de submissão. Nesse ranking, eles premiavam com elogios ou atenção especial quem cumpria os desafios mais extremos. Em paralelo, quem recusava as ordens era humilhado publicamente no grupo e ameaçado de ter os seus dados expostos na internet. O caso do King, do Pedro tomou grande relevância e até voltou à tona depois da série adolescência. Ele já é um caso bem recente que voltou, mas a gente tem alguns outros. Pouco tempo atrás a gente teve o caso do Vittor Hugo Souza Rocha, conhecido online como verdadeiro Víor. O Víor foi preso em junho de 2023 em Bauruquia, no interior de São Paulo, depois de uma intensa investigação que também foi conduzida pela Polícia Civil. Inclusive o Víor e o Pedro se conheciam. Segundo os investigadores, no computador do Víor foi encontrada uma pasta chamada Backup das [ __ ] estupráveis, contendo vídeos e imagens de, enfim, abuso sexual de adolescentes. Um dos casos mais chocantes relacionados a ele envolveu uma garota de 13 anos que morava em Joinville. Ela foi aliciada online, dopada e levada até São Paulo, onde ela foi violentada por membros do grupo. Tudo isso sob planejamento e execução dos integrantes, incluindo o Víor. A polícia descobriu que parte da violência foi transmitida ao vivo no Discord. Algumas reportagens que inclusive saíram no Fantástico revelaram alguns áudios compartilhados entre os criminosos que mostravam que eles estavam orgulhosos do que eles tinham feito. Inclusive tinha até um vídeo de um dos integrantes esfaqueando uma pessoa em situação de rua. Em um depoimento dado pro Fantástico, o delegado Fábio Pinheiro Lopes afirmou que os membros da rede tinham traços sádicos, misógenos e se viam como superiores, tratando suas ações como um jogo perverso. De acordo com as nossas pesquisas, o Víor já teria sido solto esse ano depois de cumprir do anos de pena e sair por bom comportamento. O processo ainda tá em andamento. Lá em abril, quando eu ouvi falar primeiro sobre esses casos, eu tinha a informação de que o Discord não estava sendo uma plataforma muito colaborativa com as investigações, mas agora com essa nova atualização de eu ter conversado com os delegados em Brasília, eles falaram que eles estão com contato direto e que eles estão colaborando bastante. Então acho que isso foi um avanço. Na série adolescência a gente também tem o termo incel. Em inglês, esse termo significa um celibato involuntário, ou seja, significa muito uma pessoa que quer ter relações sexuais, mas não consegue. Esse termo ganhou muito mais popularidade durante a pandemia, porque era aquela questão de você querer se relacionar com pessoas e encontrar pessoas, mas não conseguir porque a gente estava todo mundo dentro de casa. Não são todas as pessoas da comunidade em céu que cometem crimes e cometem abusos e odeiam as mulheres, mas existe parte dessa comunidade que acabou colocando a culpa nas mulheres por não conseguir ter relações sexuais. A série fala muito como os adolescentes são alvos de crimes virtuais, manipulações, aliciamentos e até abusos. Tudo isso acontecendo enquanto eles estão na internet. Foi exatamente em 2020, no ano em que começou a pandemia, que o número de usuários no Discord explodiu. O site disparou de 100 milhões de usuários ativos por mês para 150 milhões. Segundo o delegado Luís Henrique Marques, que é titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, é importante que os pais mantenham um diálogo permanente com seus filhos. Caso eles descubram que o jovem foi vítima de algum dos crimes, ele tem que comparecer à delegacia mais próxima e denunciar. Não, não, sem brigar. Eu vou deixar aqui para vocês os vídeos da Vitória contando um pouquinho sobre o trabalho dela e como tudo isso funciona. Primeiro ela conta um pouco pra gente como funciona o trabalho dela e também essa colaboração nas investigações. O Discord é uma plataforma de comunicação que ficou muito conhecida durante a pandemia. Já que o regime de trabalho foi migrado para o home office, o Discord possuía diversas funcionalidades e as pessoas passaram a utilizá-lo para trabalhar, estudar e também para outras coisas. O objetivo principal do Discord, na realidade era conectar pessoas durante partidas de jogos, já que é possível fazer chamadas de áudio e vídeo, transmissão de tela e também é possível criar servidores, que são espécies de grupos onde várias pessoas podem utilizar das funcionalidades do Discord em chamadas em grupo. O que acontece é que a partir daí várias crianças e adolescentes começaram a utilizar do discorde para cometerem crimes, como maus tratos aos animais, organização de ataques a escolas, desafios extremos. As meninas que são vítimas são torturadas, humilhadas, expostas, obrigadas a se automilar, dentre outros. Eu trabalho com a parte de tecnologia da informação já fazem cerca de 8 anos. A minha especialidade principal é a parte de recuperações. Porém, durante esse período já recebi diversas mensagens de pedidos de ajuda e também denúncias em casos como stalking, crimes sexuais contra as crianças, pedofilia e extremismo. Já auxiliei em diversos casos criminais e de grande repercussão. O meu trabalho nessas investigações consiste em coletar materiais e fazer denúncias. O que qualquer pessoa pode fazer? Atualmente existe um node, que é um núcleo de observação digital, onde é possível você enviar as suas denúncias diretamente para a Polícia Civil para que sejam apuradas. Além disso, também é possível fazer denúncias através do Ministério Público, onde você coleta esses materiais e também envia em forma de denúncia. De maneira geral, eu sempre presto auxílio, principalmente diretamente para as famílias, onde eu recolho os materiais ou até mesmo faço identificação dos criminosos, repasso as famílias que através da família é repassado para a polícia. Ela também contou um pouquinho de como essas pessoas abordam as vítimas. Bom, basicamente eles fazem os servidores que são chamados de panelas. As panelas, cada uma tem o seu nome específico, como dequis, segregação. E os administradores dessas panelas são chamados de paneleiros. Inicialmente, essas vítimas são convidadas a entrar nesses servidores com pretexto de que é um grupo de conversa para fazer amizades ou chamado de web namoro. Depois que elas entram nesse grupo, os paneleiros começam a ganhar a confiança das vítimas, até mesmo possuindo um relacionamento virtual, onde essas meninas, em determinado momento, acabam compartilhando informações e até mesmo conteúdo íntimo. A partir desse momento, elas são vítimas de chantagem e extorção. E a partir daí elas são chantageadas e obrigadas a cumprir desafios e ordens, senão tem esses conteúdos vazados para familiares, pessoas de suas escolas, amigos e entre outros. E o que nós vemos é esse show de horror. Meninas colocando fogo em seus próprios móveis de suas casas, crianças batendo animais dentro de liquidificadores. adolescentes ateiando fogo e moradores de rua, meninas se mutilando e aparecendo em transmissões ao vivo nuas e até crimes que são mais extremos, como por exemplo o ataque à escola de Sapopemba e também o assassinato da Gamer Sol. Quando nós falamos sobre a internet, na internet existem as camadas. Nós temos a Surface, a Deep Web e a Dark Web. A surface é internet que pessoas como você e eu normalmente utilizam. os mecanismos de buscas comum, como Google, YouTube, redes sociais, eh serviços de streaming. Quando a gente desce um pouquinho mais e acessa a Deep Web, nós encontramos os chans, que na verdade são como se fossem fóruns. Ali, como todos estão possivelmente anônimos, não existe um filtro e as pessoas discorrem sobre qualquer tipo de assunto naquele ambiente, coisas que para nós seria um grande absurdo ali dentro. é normal. E eles se tratam como amigos e como se fossem uma verdadeira comunidade. E esses adolescentes pegaram essa ideologia, principalmente extremista e de abuso infantil e transformaram numa mistura extremamente perigosa. Nós vemos adolescentes propagando essas ideologias de purificação e, ao mesmo tempo, construindo bombas e armas caseiras para entrarem em escolas e fazerem ataques e assassinatos em massa. E por fim, como evitar esse tipo de crime? Mas o que pode ser feito para que esse tipo de crime não aconteça? A principal função é dos pais. Os pais devem monitorar todo o conteúdo que os seus filhos acessam. Vocês imaginam uma criança com 100% de acesso a qualquer tipo de conteúdo sem supervisão? É isso que tem acontecido com essas crianças e adolescentes dentro da internet. Por se eu não encontro essa orientação em casa e também não encontro na escola, em algum lugar eu vou procurar saber. Só que às vezes essa fonte de informação não é tão interessante assim. Em casos como esse, se você presenciar, é fundamental que você recolha esses materiais, faça gravações e faça denúncias. Infelizmente é um assunto que é pouquíssimo abordado e poucas pessoas falam sobre isso. Então é interessante que mais pessoas tenham acesso a essas informações para que casos como esse sejam evitados. E a minha orientação para vocês que são pais e responsáveis, sempre monitorem o que os seus filhos acessam e consomem na internet. E além disso também mantenham um diálogo 100% aberto. O diálogo é o que separa do seu filho se tornar uma vítima ou não. É muito importante deixar aqui que se você tá sendo vítima de grooming ou se você conhece alguém que pode estar sendo vítima, ou se você tem alguma suspeita, não deixe de denunciar. É sempre importante a gente não apagar mensagens, não apagar áudios, deixa os prints lá. Tudo que a gente puder guardar de links, de perfis, de nomes de usuários pode ajudar em eventuais investigações. Eu vou deixar aqui na descrição do vídeo alguns canais em que essas denúncias podem ser feitas. Também quero agradecer a Vitória pelas informações e por ter participado aqui do vídeo. Vou deixar as redes sociais dela para vocês acompanharem e também para ser um canal aberto caso vocês precisem de alguma coisa. Acho que esse é um tema muito importante. Eu quero trazer mais informações sobre esses casos aqui para vocês. E de novo, sempre tentem manter um canal de conversa com algum parente, com algum pai, os pais com os próprios filhos, de ter essa confiança de conversar sobre esses assuntos e também notando qualquer comportamento estranho e errado. É bom a gente ficar sempre de olho. Bom, esse foi o vídeo de hoje. Comentem aí se vocês já tinham ouvido falar sobre esses casos. E até a próxima. [Música]