O IRÃ AINDA PODE TER A BOMBA: LIÇÕES DA HISTÓRIA E O EXEMPLO IRAQUIANO I Professor HOC

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Olá, pessoal. Talvez uma das grandes perguntas ou uma das perguntas mais feitas na geopolítica do mundo hoje é: quanto tempo vai levar para o Irã reconstruir o seu programa nuclear? Depois do ataque israelense seguido da participação dos Estados Unidos, todo mundo tá questionando se o programa nuclear foi destruído ou não. E se não foi destruído, ou mesmo que tenha sido destruído, quanto tempo o Irã vai demorar para reconstruir esse programa? Ele vai reconstruir? É isso que eu quero falar com vocês no vídeo de hoje e vou usar exemplos históricos para contar para vocês como a gente pode avaliar isso. Pessoal, vamos fazer uma pausa no importante do que quanto tempo o Irã pode levar para ter a bomba ou não, é a gente pensar as dinâmicas de poder internas do Irã que foram alteradas pelo ataque israelense e americano. Ou seja, na verdade, o modo de como o país vai pensar a sua segurança nacional daqui pra frente. essas dinâmicas de poder interna e essa preocupação com a segurança nacional vai alterar a forma como o Irã vai lidar com a questão nuclear. Então, em vez de apagar as ambições nucleares iranianas, a operação ela pode ter incentivado o regime a romper qualquer forma de cooperação internacional e intensificar o seu programa. Ao forçar o Irã a agir sozinho, os ataques criaram uma perigosa incerteza quanto aos próximos passos do país. Um cenário que lhe lembra fortemente o que ocorreu depois do ataque israelense ao reator no Iraque em 1981. Bom, vamos voltar no tempo então para contar essa história. No final da década de 1970, durante um período de bonanza petrolífera e crescimento econômico, o Iraque decidiu lançar seu próprio programa nuclear. Em 1976, o governo comprou da França um reator de pesquisa civil batizado de Ozirak como primeiro passo do projeto. O reator, junto com o fato de que a França forneceu o urânio enriquecido a 93%, despertou temores de que o Iraque pretendia desviar o plutônio gerado na instalação para fabricar uma arma nuclear. No entanto, o projeto do reator, ele tornava essa possibilidade tecnicamente difícil, além do equipamento ser pequeno e altamente monitorado. O programa nuclear iraquiano, ele era na prática de caráter exploratório e os cientistas eles não tinham um mandato político pro desenvolvimento de armas atômicas. Mas em um ataque surpresa, caças israelenses no dia 7 de junho de 1981 destruíram o reator antes que ele pudesse ser abastecido e começasse a funcionar. Israel celebrou a missão com um sucesso retumbante e logo passou a ser considerado um modelo de ação preventiva contra ameaças nucleares emergentes. As vésperas da invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, as autoridades do governo Bush chegaram a afirmar publicamente que o ataque de Oziraque havia impedido o Saddã Hussein de obter armas nucleares antes da Guerra do Golfo de 1991. Mas essa narrativa de sucesso ofuscou outras consequências do ataque, em vez de sufocar as ambições nucleares iraquianas, o bombardeio, na verdade acelerou drasticamente o desejo do Saddã Hussein obter uma arma atômica. O regime do Sadã, obsecado com a sua própria segurança, concluiu que precisava desenvolver uma capacidade de dissuasão nuclear e que isso só seria possível por meio de um programa secreto. O ataque israelense também galvanizou engenheiros e funcionários de escalão médio, agora engajados numa missão nacional de defesa urgente. Poucos meses depois do bombardeio israelense, o Saddão Hussein aprovou o lançamento de um programa clandestino de armas nucleares com grande financiamento estatal. Apesar da guerra em andamento com o Irã, o que antes era um esforço tímido e politicamente inconsistente tornou-se uma prioridade nacional. De 1983 a 1991, o número de cientistas iraquianos cresceu de 400 para 7.000 1000 e o orçamento anual do programa saltou de 400 milhões de dólares para 10 bilhões de dólares. Os cientistas agora empoderados mudaram o foco da produção de plutônio pro enriquecimento de urânio. Um processo bem mais complexo, caro e demorado, mas menos dependentes dos insumos estrangeiros e, portanto, mais fácil de ser ocultado. Para obter a tecnologia necessária, o Iraque construiu uma rede de aquisição clandestina usando empresas de fachada e diplomatas para comprar equipamentos de fornecedores da Alemanha, Áustria e o Japão. No final dos anos de 1980, o programa já se aproximava da maturidade e as autoridades iraquianas previam realizar testes frios de um artefato nuclear até 1993 e produzir urânio altamente enriquecido suficiente para uma bomba por ano a partir de 1994. Mas aqui foi não só o ataque israelense, mas a imprudência do Saddã Hussein que impediu o Iraque de ter a bomba. Ou seja, tivemos a invasão do Iraque ao Kuite em 1990 e ele lançou um programa emergencial para construir uma arma em 6 meses, uma meta que a comunidade nuclear sabia ser inviável. E depois da Guerra do Golfo de 1991, que foi feita para libertar o Kuit da invasão do Saddam Hussein, o Iraque foi obrigado a aceitar a entrada de inspetores internacionais e pouco depois os inspetores descobriram o programa Beira da capacidade nuclear. De forma semelhante, os bombardeios que Israel e os Estados Unidos fizeram contra o programa nuclear iraniano podem fazer o país se aprofundar ou, né, escolher a clandestinidade e, na verdade, intensificar os esforços para ter uma bomba e não fazer eles mudarem de ideia. Vocês terem uma ideia, os radicais linhadura em Terã, a lição é clara. Só uma arma nuclear pode evitar futuros ataques. Ou seja, nessa hipótese, os bombardeios podem mudar a forma como Irã busca esse objetivo, mas provavelmente reforçam a sua determinação de cruzar essa linha. É evidente que o Irã de hoje não é o Iraque de 1981, mas é difícil a gente ignorar os paralelos ou as semelhanças aqui. Assim como o ataque de Ozirak criou um consenso político no Iraque e alinhou o regime com ambiciosos empreendedores nucleares, declarações recentes de líderes iranianos indicam que os ataques encorajaram os radicais do governo. Muitos analistas observam que a guerra acelerou uma mudança de poder em Terã dos clérigos para os generais, ou seja, tirando o poder dos clérigos, os religiosos, e dando mais poder pros generais. Esses novos líderes, eles podem ser mais racionais, mas eles também são mais agressivos, céticos quanto a diplomacia e mais inclinados a priorizar a sobrevivência por meio da dissuasão, né, ou seja, da força e não da negociação. Os ataques também podem provocar uma nova sensação de urgência entre cientistas e engenheiros nucleares iranianos. Exatamente como ocorreu com os engenheiros iraquianos depois do Oz Iraque. O regime iraniano vai tá provavelmente muito menos disposto a buscar um acordo nuclear e com razão. Ou seja, ele não tem muitos incentivos para fazer isso. Agora, para regimes autoritários da região, a diplomacia nuclear muitas vezes terminou mal. Como por exemplo, o ditador Líbio Kaddaf, quando desmontou seu programa de armas de destruição e massa, acabou sendo bombardeado pelo OTAN. No Iraque, o Sadã já não tinha um programativo quando foi derrubado, julgado e enforcado depois da invasão americana de 2003. Esses precedentes, eles pesam fortemente sobre as decisões no Irã e até mesmo as figuras moderadas, né, dentro do Irã se sentiram traídas. Porque Israel, os Estados Unidos, eles agendaram ou marcaram uma nova rodada de negociações pro dia 15 de junho, passando, né, a sensação, uma falsa sensação de segurança justamente antes de iniciar os ataques. Ou seja, eh eles criaram uma falsa negociação, uma falsa espaço para negociação, só para poder mascarar um ataque que tava por vir. Vocês imaginam o que aconteceu com eh as autoridades iranianas, inclusive os mais moderados? Isso vai tornar tudo muito mais difícil quando se discutir, retomar a conversa, eh, ou fortalecer ou acabar fortalecendo os radicais que há muito tempo alegam que o Ocidente nunca agiu de boa fé. Os ataques aéreos também trocaram problemas conhecidos por problemas desconhecidos. Assim como o programa clandestino iraquiano floresceu sem ser detectado após os Iraq, a retirada do Irã, da supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica, ou seja, a expulsão, né, o Irã expulsou os inspetores da agência internacional, vai dificultar muito os esforços para localizar futuras instalações secretas. E vale a gente lembrar que a instalação de Fordo, que era aquela mais profunda de todas, ela foi descoberta, ela já era uma instalação secreta que foi descoberta pelo Obama, né, ou pelo serviço de inteligência americano na época do Obama. É importante lembrar também que o antigo acordo nuclear, ele foi abandonado por medo de que o Irã tivesse construindo centros secretos. Agora, esse medo só vai se intensificar depois dos ataques militares. O fim da cooperação iraniana com a agência internacional atômica é um prenúncio do que está por vir. Quando a gente olha pro resultado da operação israelense, independentemente dos danos causado às instalações e ao assassinato dos cientistas, o Irã detém todo o conhecimento técnico necessário para retomar o seu programa caso ele deseje, mas ao mesmo tempo, claro, o Iran também sofre com fraquezas estruturais que vão dificultar a reconstrução. A campanha israelense expôs a profunda infiltração eh dos israelenses nas instituições. O ataque israelense expôs uma fragilidade do regime iraniano e uma capacidade de infiltração por parte do Mossades dentro do governo do Irã. e que o Irã agora vai tentar conter com uma onda de prisões e execuções e, enfim, uma caça às bruxas. O Irã também tá mais isolado do que nos últimos anos, com seus aliados tradicionais como a Rússia, até mesmo seus proxis como Resbolá, oferecendo pouco mais do que um apoio retórico. Ainda assim, no longo prazo, até essas desvantagens podem reforçar a lógica da busca pela dissuasão nuclear. E mais, os líderes em Terã certamente perceberam que o regime da Coreia do Norte continua de pé, apesar de todas as dificuldades, mas em posse de uma arma atômica. Ataques militares, eles podem parecer decisivos no seu impacto imediato, mas os seus efeitos secundários muitas vezes se desdobram lentamente. E a resposta iraniana pode não vir hoje, mas ela vai se manifestar em decisões silenciosas de abandonar a diplomacia, reconstruir instalações na clandestinidade e buscar o que talvez agora alguns considerem o único caminho viável pra sua sobrevivência, que é a construção mais do que nunca de uma bomba atômica. Resumindo, pessoal, eu não tô querendo dizer que não deveria ter atacado ou que o ataque não serviu para nada. O que eu tô explicando aqui são as consequências do ataque. Nada é estático na geopolítica e nada é definitivo. Por mais que o ataque fosse bem-sucedido, se você não derruba o regime, eles estão lá pensando agora como é que eles vão eh garantir a sua sobrevivência de uma forma mais segura do que antes. E a conclusão lógica que eles chegam é que mais do que nunca eles precisam da bomba atômica. Então é importante a gente entender os desdobramentos disso. O ataque pode ter sido bem-sucedido, pode certamente certamente atrasou o programa nuclear iraniano, mas o regime está no poder, intacto, e eles acordam todos os dias pensando e olhando o que eles têm que fazer para estarem seguros. E a própria história mostra, como eu mostrei aqui no vídeo para vocês, o que aconteceu nas dinâmicas internas de poder dentro do Iraque e que vão se repetir dentro do Irã. Aliás, já estão se repetindo, porque as poucas informações eh e o pouco tempo que passou depois do ataque israelense e americano, a gente já sabe que o regime iraniano tem tomado posturas e atitudes de enrijecer ou de tá mais certo do que nunca a solução é seguir em direção à construção da bomba atômica. Claro que isso não é garantia que vai dar certo, mas essa é uma parte da história do desdobramento geopolítico que todos que estão acompanhando esse esse pedaço, essa confusão, esse conflito, precisam entender, eh, porque daqui a pouco, daqui um ano ou talvez menos ou daqui ou daqui 5 anos, o problema tá de volta na mesa. E aí muitos vão olhar e falar: “Ué, mas não tinha resolvido a ataque não serve para nada não.” O Iran tava na eminência de construir a bomba. Hoje o Irã não está na eminência, mas a resolutividade, né, ou a certeza do regime hoje, talvez é maior do que antes. E isso que eu queria mostrar aqui para vocês. Espero que vocês tenham gostado. Não esquece de dar like no vídeo, segue o canal, compartilha esse vídeo para quem tá tentando entender o que que pode acontecer no futuro com o programa nuclear iraniano, baseado e em episódios históricos, como que aconteceu no Iraque nos anos 80. E não esquece de ativar o sininho para você receber a notificação. Até mais. M.

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